Subitamente, ao ver o seu salvador, o coração de Mari deu um pulo, e ela percebeu que estava ficando vermelha.

     -Entre Hiroshi-kun. – encorajou Mizuki. – Vocês precisam se conhecer.

     Ele limpou a garganta e, olhando para Mari, deu um sorrisinho.

     -Olá Mari-chan.

     Seu cabelo era castanho claro, com mechas douradas. Era liso e arrumado de modo desalinhado, mas que tinha certo charme. Usava uma camisa branca, calça jeans e coturno pretos. E, para completar o visual, uma jaqueta de couro, que lhe dava um jeito de garoto rebelde.

     Apressada para dizer algo, Mari pegou o caderno e escreveu: “É um prazer te conhecer.”

     Hiroshi se aproximou e, quando leu, disse:

     -Para mim também Mari-chan. Como você se sente?

     “Melhorando aos poucos. Só não consigo falar ainda.”

     -Tudo bem, a Mizuki-san me explicou a situação. – ele deu uma risada rouca. – Estou com um pouco de vergonha.

     “Eu também.” Mari mostrou a mensagem a ele e escreveu embaixo: “Mas eu gostaria de ser sua amiga. Você me salvou.”

     Hiroshi sorriu:

     -Seremos bons amigos Mari-chan, tenho certeza!

     Passaram algumas horas conversando, e Mari usou três páginas do caderno. Foi aquela típica primeira conversa: filmes, livros, comidas e lugares que gostavam.

     -É hora dos remédios Mari-chan! – a enfermeira disse, sem notar Hiroshi. Quando o viu, falou: - O horário de visitas acabou faz tempo! O que ainda faz aqui? – mas antes que ele pudesse responder, ela falou: - Ah, não importa. A Mari-chan precisa descansar agora. Amanhã você volta para namorarem mais.

     Tentando conter o riso, Hiroshi se levantou da cadeira e foi até Mari. Deu um beijo na bochecha dela e disse baixo:

     -Então até amanhã Mari-chan! – e piscou, saindo logo depois.

     Depois de conhecer Hiroshi, os dias de Mari no hospital não eram tão difíceis. Todos os dias Yuka ia lá para estudar, e logo soube de toda a visita dele.

     -E como ele é de aparência? - ela perguntou curiosa.

     "Bonito, muito mesmo. Acho que é o garoto mais lindo que já conheci!", Mari escreveu, sorrindo com vergonha.

     -Outro dia eu o conheço. Agora eu já tenho que ir Mari-chan. Tenho um compromisso. - vendo a expressão desconfiada da amiga, Yuka confessou: - É um encontro. Lembra do Yuri, o garçom da lanchonete? Pois é, ele me ligou e vamos sair.

     "Que menina de bom gosto você é! Bom sorte com ele, espero que dê tudo certo!"

     -Obrigada Mari-chan! Amanhã eu voltarei e te conto tudo!

     Enquanto arrumava as coisas para sair, alguém bateu à porta:

     -Posso entrar?

     Hiroshi estava com a mesma roupa que antes, só havia trocado a camiseta por uma azul, e não usava a jaqueta. Segurava um pequeno buquê de rosas.

     -Quis trazer um pequeno presente. - olhando para Yuka, ele sorriu: - Desculpe, não me apresentei. Sou Mamoru Hiroshi. - e fez uma pequena reverência.

     -E-eu sou Keiko Yuka. - ela engasgou e repetiu o gesto. - Muito obrigada por ter salvado minha amiga.

     -Não foi nada. Seria muito triste perder alguém como Mari. - ele falava cmo se a mesma não estivesse ali. - Você já vai sair?

     -Sim, tenho um compromisso. Até mais! E amanhã a gente se vê Mari-chan! - e saiu apressada.

     Hiroshi de aproximou e deu um beijo na testa da garota.

     -Como se sente hoje? Vou colocar as flores ali na mesinha.

     Enquanto ele estava de costas, Mari ajeitou o cabelo, tentando disfarçar o desalinho.

     -Está lindo desse jeito, não há o que arrumar. - o comentário fez Mari enrubescer. - Trouxe um filme para vermos. Você gosta de comédia? - ela concordou. - Que bom! Então vai gostar desse. É um pouco antigo, mas é um dos melhores que eu já vi. O nome é "Drácula morto mas feliz".

     Ele foi até a televisão do quarto e colocou o filme no aparelho de DVD. E quando foi se sentar, derrubou o caderno de Mari no chão. Ela tentou pegá-lo, mas Hiroshi foi mais rápido, e não pôde evitar ler o que estava escrito.

     -Quem é o garoto mais bonito que já conheceu? - percorrendo os olhos pela página, ele riu baixinho. - Ah, sou eu.

     Se pudesse, Mari estaria gritando de vergonha. Mas tudo que pôde fazer foi esconder o rosto com o travesseiro.

     -Me desculpa. Eu não devia ter lido. Olha, o filme começou.

     Aos poucos ela foi relaxando. A atuação de Leslie Nielsen era ótima, e arrancava risos da garota. Até que uma hora ela deu uma gargalhada curta.

     -Ei, sua voz saiu! - Hiroshi disse. - Foi um bom começo, daqui a pouco estará falando. Mal posso esperar para te ouvir.

     Mari sorriu em resposta, e depois o filme passou rápido demais. O que Hiroshi falara ficou em sua mente, e ela estava muito feliz. Assim que os créditos finais apareceram, a enfermeira entrou no quarto.

     -Já está pronta Mari-chan? E você está aqui de novo! - disse para Hiroshi, que estava tirando o filme. - Estavam assistindo televisão? Bom, reconheço que você é um namorado muito atencioso, mas vou ter que conversar com Mizuki-sama. Sabe, Mari-chan precisa descansar.

     -Peço desculpas, devo ter demorado demais. - Hiroshi se curvou para a mulher. - Mari-chan, amanhã eu trarei algum livro. Gosta de romance? Ok, vou procurar um para você. - e beijou o rosto de Mari, saindo logo em seguida.

     -Que gracinha esse rapaz! Tem um ótimo namorado Mari-chan! - comentou a enfermeira quando estavam sozinhas.

     Seus pensamentos estavam tão confusos que Mari não conseguiu negá-la. Ou talvez não quisesse.

     No dia seguinte Yuka quase não conseguia se conter de tanta alegria. Falara um monte sobre o encontro que tivera com Yuri, e mal deixava Mari comentar. Quando terminou de falar, praticamente sem fôlego, perguntou:

     -O Hiroshi-kun não vem hoje?

     Mari escreveu no caderno: "Já veio. Só passou para me emprestar um livro." E apontou para o exemplar de "Orgulho e Preconceito" que estava ao lado das rosas.

     -Romance é? Que lindo! -zombou Yuka. - Mas agora, falando sério: ele é mesmo muito lindo! Que super-heroi incrível você tem hein Mari-chan!

     "A minha enfermeira diz que ele é meu namorado. Já falou isso na frente dele!"

     -E você não disse nada a ela?

     "Não... Nem ele."

     -Bom, se ele também não discordou é porque a ideia o agrada.

     Realmente, aquilo fazia sentido. Mari havia prometido a si que, depois da desilusão com Kyo, iria pensar melhor antes de gostar de outra pessoa. Só que era difícil manter essa promessa com Hiroshi por perto. O garoto a hipnotizava,

não saía de seus pensamentos. Mari teve que se esforçar para acompanhar os estudos com Yuka.

     Logo que a amiga foi embora, Mari foi para a sessão de fono. A médica pediu mais exercícios que o normal, e Mari conseguiu realizar todos. Ficou um pouco mais cansada, mas sentiu que valera a pena.

     Foi para o quarto e tomou um longo banho, ainda praticando a voz. Estava exausta, pronta para dormir, quando viu Hiroshi sentado na cadeira.

     -Mari-chan! Oi! Já vai dormir? - ele parecia ansioso. - Desculpa, eu não devia ter vindo. Ele vai brigar comigo de novo, já está tarde, você deve estar cansada... Mas eu precisava vir. Não sei, senti que devia vir te dar boa noite. - respirou ofegante, olhando para o chão. - Então... Boa noite.

     Antes que ele saísse do quarto, Mari o segurou pelo pulso. Hiroshi a olhou confuso, enquanto ela tossia fraco.

     -Você engasgou? Quer água?

     Ela fez que não com a cabeça e, segurando a mão de Hiroshi com força, disse:

    -Obri-obrigada... Por tudo... Hiroshi-chan.

*