The Oc: Pecados no Paraíso escrita por The Escapist


Capítulo 5
Capítulo 5: Changes




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Kirsten entregou um bagle recheado com requeijão ao marido e nem com isso conseguiu arrancar um sorriso de Sandy; ele estava de mau humor desde o incidente da festa dos Nichol, mesmo que ela tenha insistido que não era tão grave, Julie, pelo menos não tinha achado tão grave.

- Nosso filho agrediu um colega, duas vezes, que por acaso é filho do meu chefe. Isso não é grave? Kirsten, a quem nós queremos enganar? É claro que nós falhamos em alguma coisa.

- Nós não falhamos, Sandy, isso acontece porque eles são, adolescentes.

Mas Sandy continuava aborrecido, porque o Sr. Nichol, embora não tivesse tocado no assunto, estava aborrecido; agora ele teria que trabalhar muito mais, portanto, seria muito bom que ninguém reclamasse que ele não tinha tempo pra fazer nada com a família, e estava cansado de fazer sacrifícios por aquela família e ninguém demonstrar o mínimo de compreensão e apoio.

Ryan e Seth entraram juntos na cozinha, sentaram-se à mesa e se serviram de torradas e leite; estavam conversando sobre o filme que tinham assistido. Uma coisa Seth tinha que admitir, o sermão que ouviu do pai tinha deixado Ryan realmente balançado e o castigo estava reaproximando os irmãos, talvez Ryan estivesse no caminho de se tornar uma pessoa melhor.

- E nunca mais me chame pra ver filme de gay.

- Oh, Ryan, não apague a chama de humanidade que eu vi acender.

- Você é maluco, cara. – Ryan mordeu a torrada.

- Que filme vocês viram?

- Brokebreck mountain.

- Oh, aquele filme dos gays? Eu gosto do Heath Leadger.

- Ele morre, mãe. E o Ryan chorou.

- Eu dormi.

- Hoje nós vamos assistir “A walk to remember”. – Ryan fez uma careta e tomou um gole de leite. – Mas, talvez você prefira “O diário de uma paixão”, ou “O clube da luta”. – Sandy e Ryan olharam com cara feia para Seth. – Ok, desculpe.

- Eu acho que eu vou ver a Marissa, o pai dela vai sair pra procurar emprego... – Ryan nem terminou sua tentativa de conseguir permissão pra sair de casa porque, pela cara de Sandy não a ganharia. – Porque eu fico de castigo e o Seth não?

- Eu só consigo pensar num motivo. – Ryan desistiu de insistir pra não deixar o pai ainda mais chateado, ia mesmo ter que ficar em casa no sábado; poderia chamar Marissa para vir à sua casa, mas preferiu não pedir permissão ao pai pra isso, quando Marissa já estivesse lá, Sandy não a mandaria embora.

***

            Marissa ajudou o pai com o nó da gravata que ela também tinha ajudado a escolher; Jimmy estava um pouco nervoso; não era como se estivesse prestes a ir par primeira entrevista de emprego da vida, mas era igualmente importante, já estava há muito tempo sem emprego. Há dois anos as coisas estavam bem diferentes, era dono de uma corretora, casado, e passava as férias em Sain-tropez. A crise econômica mundial lhe deixou falido e a ex-esposa casou-se com o dono de Newport. Tudo que Jimmy Cooper possuía agora era um apartamento minúsculo e uma pilha de contas atrasadas. Mas, também tinha sua querida filha Marissa, que abriu mão de morar na mansão dos Nichol para ficar com o pai.

- Você está ótimo, pai, com certeza vai conseguir esse emprego.

- É, eu estou sentindo que hoje é o meu dia de sorte.

- É assim que se fala. Bom, você pode me dá uma carona até a casa do Ryan?

- Então ele continua de castigo? – Marissa balançou a cabeça e foi buscar a bolsa. – O Ryan é um bom garoto, mas não se pode dizer que ele não mereceu esse castigo.

- Sim, o Ryan errou, mas todo mundo concorda que o Caleb mereceu levar aquela surra. – Marissa defendeu Ryan, não era justo todo mundo condená-lo, claro que ele tinha exagerado, mas todos sabiam que Caleb Nichol não era nenhum santo. – Bem, vamos?

- Vamos, claro. – Jimmy tentou repassar mentalmente o que faria na entrevista, estava mais acostumado em contratar do que ser contratado, sabia quais atitudes que um candidato a um emprego não deveria ter, e precisava se certificar de que não estava cometendo nenhum erro. Quando parou o carro em frente aos Cohen, viu um Porsche estacionado. – Algum dos garotos ganhou um Porsche? – Marissa franziu o cenho.

- Não que eu saiba; espero que não seja de quem eu estou pensando. – Bom, obrigada, pai. Boa sorte.

- Obrigado, querida, a gente se vê. – Marissa desceu do carro e Jimmy foi embora; no mesmo instante Cal batia a porta do próprio carro. Ele tirou os óculos escuros e abriu um daqueles sorrisos debochados.

- Marissa, hey!

- O que você tá fazendo aqui?

- Porque você é tão mal humorada, ham? – Cal repôs os óculos e tocou a campainha. – E mal educada, também.

- Desculpe, eu só não esperava te encontrar aqui; bem, você sabe. – Marissa deu de ombros, Cal também; Kirsten abriu a porta e os convidou pra entrar. – Olá, Sra. Cohen.

- Marissa, oi; Caleb Nichol.

- Cal, por favor, Sra. Cohen. Eu combinei de estudar com o Seth.

- Claro; o Seth está na casa da piscina. – Kirsten apontou para a porta lateral de onde Cal viu a piscina e mais à frente, uma sala. – O Ryan está no quarto. – acrescentou para Marissa; enquanto ela subia a escada, Cal atravessou o jardim e bateu na porta da casa da piscina.

- Hey, cara, hoje é sábado, o que você tá fazendo? – disse, ao ver Seth sentado na cama, rodeado por livros de Matemática.

- Hey, Cal, você veio, não pensei que você estivesse falando sério.

- Eu é que não pensei que você estivesse falando sério, quando disse que ia estudar.

- Você acha que alguma coisa pode ser mais divertida do que estudar Matemática com a Summer?

- Com a Summer. Ham? – mal Cal se calou, Summer entrou porta adentro, falando qualquer coisa que eles não entenderam, mas parou assim que viu Cal sentado na cama folheando um livro.

- Cal, o que você tá fazendo?

- Essa é a nova saudação da Califórnia?

- O Cal vai estudar com a gente. – Summer deu uma risada, não achou que Seth falava sério, nem gostou da ideia; ele não sabia que seria impossível estudar com Cal por perto? – Eu pensei em começar com Trigonometria.

- Por mim tudo bem. – disse Cal; Summer ainda não estava acreditando que ia estudar com o “dono da bunda mais gostosa do mundo”, quando sentou ao pé da cama e abriu o livro. É claro que era difícil se concentrar nos cálculos, sentindo o cheiro dele tão perto e certamente nunca na vida tinha visto coisa tão sexy quanto a boca perfeita de Cal dizendo “teorema de Pitágoras”.

- Summer? Summer?

- Hum? – Summer piscou os olhos, Cal e Seth estavam olhando pra ela como quem não entende nada, aparentemente ela estivera meio em transe; “e Cal ainda pergunta porque?” a falta de concentração da garota, entretanto,não foi o motivo de não terem estudado; menos de meia hora tinha passado quando Cal encontrou o controle do Playstation.

            Marissa ouviu a voz de Seth ainda no jardim, ele ficava sempre muito animado quando jogava vídeo game; depois ouviu a risada de Summer. Um pouco de animação era o que ela precisava; se Ryan queria passar o dia inteiro trancado no quarto, ela não o impediria, mas não ia parar a sua vida por causa de Cal.

- Marissa, hey!

- Pensei que você ia estudar hoje.

- É... – Summer deu de ombros; chamou Marissa pra sentar com ela; os dois garotos pareciam ocupados demais com o jogo pra falar com ela. – Uh, cuidado, Cohen, OH, NÃO! ARGH! Você venceu de novo! – disse dando socos nas costas de Cal. – Sai pra lá, Cohen, é a minha vez. – Summer arrebatou o controle das mãos de Seth e ocupou o lugar dele ao lado de Cal. – Vou mostrar como é que se faz! – Cal olhou pra ela com a sobrancelha arqueada. “Respira, Summer, respira”.

- Eu posso te vencer de olhos fechados.

- Veremos. – Cal, obviamente não achou que Summer fosse uma adversária perigosa, mas ela estava decididamente levando a melhor. – É só isso que você sabe fazer, Baby Nichol, ham? – de repente Cal pausou o jogo e olhou sério pra Summer.

- Fica calma, está bem? E, não me chama de, disso que você falou.

- Desculpa. Podemos voltar? – quando Summer estava muito próximo de derrotar Cal, a partida foi interrompida novamente, dessa vez por Ryan; ele entrou e pareceu se arrepender logo, quis voltar, mas resolveu ficar; os quatro ficaram olhando em silêncio como se aguardassem sua decisão.

- Hey, ahm, cara, então, eu, queria me desculpar, ah, você sabe. – Ryan gaguejou e dessa vez todos viraram pra Cal; ele nem parecia entender que era com ele, ou estava fazendo aquela cara de desentendido de propósito. – Então, ahm, me desculpa?

- Ah, por me encher de porrada ou por não perguntar meu nome antes? “esse cara é bom”, pensou Seth; Marissa pensou que ele poderia ser legal, já que Ryan também estava sendo.

- Por não perguntar seu nome antes. – Ryan respondeu secamente, não estava mesmo arrependido dos socos que deu naquela cara nojenta, e se não estivesse de castigo por causa disso, nunca pediria desculpas. Cal sorriu com uma dose de sarcasmo e deu de ombros.

- Tá, ok, tudo bem, desculpas aceitas.

- Ok, obrigado.

- Só me faz um favor. – Ryan esperou. – Não tenta ser meu amigo.

- Não se preocupe, não há esse risco.

***

Kirsten estava dirigindo com cuidado pra não exceder o limite de velocidade. Sandy estava no escritório em pleno sábado; os garotos estavam com os amigos, o almoço estava no micro-ondas, ela não precisava se preocupar. Ainda não tinha muita certeza a respeito do que estava fazendo, estava se sentido culpada, mas não aguentava ficar sem vê-lo. Se lhe perguntassem quando começou a trair o marido, ela poderia dizer que foi quando Sandy começou a não ter mais uma vida além do trabalho. Eles não eram mais um casal, não eram nem mesmo irmãos, eram dois estranhos vivendo sob o mesmo teto. Há alguns anos Kirsten não poderia imaginar a si mesma tendo um relacionamento extra- conjugal, mas depois de meses em que a palavra mais carinhosa de Sandy era “me passa a geleia”, as coisas mudaram. Ele vivia tanto em função do trabalho que não reparava mais nela, a não ser quando não encontrava a camisa de vestir para ir ao escritório. Ela ainda tinha consciência de que estava cometendo um erro, e chegava a sentir-se péssima quando pegava o carro e saia, deixando sua casa e sua família pra se encontrar com um amante. Mas ele era maravilhoso, tinha sido maravilhoso desde a primeira vez que se viram, no clube, quando Kirsten estava de saída e o pneu do carro estava furado.

- Você é um rapaz bom pra se ter por perto. – Kirsten dissera quando ele acabou de trocar o pneu.

- Ok, eu posso ficar perto sempre que você quiser. – ele tinha sorrido de um jeito sensual, e passou a mão nos cabelos rebeldes. – Desculpe, ahm...

- Kirsten.

- Kirsten. Então, a gente se vê por aí.

- A gente se vê por aí.

            E estavam se vendo há três meses, pelo menos uma vez por semana. Não era só sexo. Kirsten pensava, mas não sabia até que ponto considerava isso positivo. Afinal, o que poderia ser pior, fazer sexo com outro homem já que seu marido não parecia disposto, ou se envolver sentimentalmente com um rapaz que tinha idade pra ser seu filho? As duvidas que perturbavam sua cabeça durante a semana inteira perderam o sentido quando chegou ao hotel Mermaid onde normalmente se encontrava com Trey, quando ele deixava o trabalho para passar o fim de semana em Newport. Ela pegou chave com o gerente, e entrou decidida a fazer uma surpresa. A prancha de surf de Trey estava encostada na parede, a camiseta jogada no sofá e os sapatos espalhados no chão; Kirsten juntou o par de sapatos perto do sofá; a cama estava cheia de livros abertos, ela sabia que ele tinha passado a noite estudando. Ouviu o som do chuveiro no banheiro; pra não cair na tentação de entrar, voltou pra sala e ficou esperando, enquanto tentava arrumar um pouco o pequeno quarto.

- Que mania de arrumação essa que você tem, heim? – ele estava de pé, encostado na porta, a toalha enrolada na cintura, e a água pingando dos cabelos, os grandes olhos castanhos brilhando.

- Oh, você está ai há muito tempo?

- Não. Estava com saudade. – Trey eliminou a distância entre eles, pegou os livros que Kirsten estava arrumando e deixou de lado. – Não precisa fazer isso, você não é minha faxineira. – ele sorriu com um jeito jocoso, e beijou os cabelos dela; o que restava de culpa na consciência de Kirsten parecia sumir quando Trey a beijava daquele jeito, e pelo menos durante o tempo que estava com ele não se preocupava com absolutamente nada; se sentia como se ainda fosse uma adolescente. – Tenho uma coisa pra te falar, Kirsten. – disse ele, enrolando uma mecha dos cabelos dela no dedo, enquanto Kirsten descansava a cabeça no seu peito.

- Hum, então fala.

- Você conhece aquela firma de advogados, Khan, Smith e Bolger?

- Acho que já ouvi falar, eles processaram a empresa onde meu marido trabalha. Mas o que é que tem eles?

- Eu consegui um emprego com eles.

- Sério? Isso é ótimo, não é?

- É realmente ótimo; trabalhe um ano nesse escritório e você pode ser um advogado de alto nível. Além disso, posso me mudar para Newport definitivamente.

***

            Jimmy foi convidado a entra na sala por uma secretária que lembrava a diretora da escola; era uma sala espaçosa, com móveis de estilo moderno, a mesa de tampo de vidro e os quadros na parede sugeriam que aquele escritório pertencia a alguém jovem; Jimmy imaginou a situação de ter que receber ordens de um daqueles garotos que acabaram de se formar em Berkeley e acham que sabem de tudo só porque sabem usar o Ipod; mas, não deveria se preocupar com isso agora, primeiro precisava convencer o recém-formado a contratá-lo.

- A Sra. Williams virá em um instante. O senhor pode ficar à vontade. Com licença. – a secretária saiu fechando a porta atrás de si; Jimmy teve a impressão de ter entendido mal, ouviu ela dizer Senhora Williams. Mas, voltou a pensar nas possíveis perguntas que o futuro chefe lhe faria; falaria de experiência; em relação a hotéis, ele poderia falar do verão que passou na Austrália trabalhando como carregador num hotel de Melbourne.

- Eu peço desculpas pela demora, Sr. Cooper. – Jimmy se esforçou, mas não conseguiu disfarçar a expressão de abobalhado ao ver que o Sr. Williams era de fato Sra. Williams; e também era jovem e linda, tinha um sorriso profundo e encantador.

- Ah, ok, sem problemas, Sra. Williams.

- Primeiro, vamos combinar que você me chama de Halley. Ou eu tenho cara de senhora?

- Não, absolutamente, ok, Halley.

- Eu posso chamá-lo de James?

- Jimmy. – uma voz na cabeça de Jimmy dizia para ele que a coisa certa a fazer era desistir. Desistir. Ele não poderia trabalhar tendo como chefe uma mulher. Aquela mulher. Mas, a entrevista foi ótima, mais que ótima, foi perfeita e quando Jimmy apertou a mão de Halley Williams ao se despedir, tinha sido contratado para o cargo de gerente. Passada a surpresa de ter uma mulher mais jovem e linda como chefe, ele disse a si mesmo que poderia fazer isso. Depois de tanto tempo desempregado, não deixaria que o orgulho sem sentido atrapalhasse uma oportunidade tão boa.

***

            Pelas caras de espanto e incredulidade que Ryan e Sandy estavam, Seth poderia apostar que estavam pensando a mesma coisa: aquela era certamente a primeira vez que entrava na cozinha e sentia aquele cheiro, enquanto Kirsten jogava a comida queimada no lixo.

- Receita nova, ham? – disse ele torcendo o nariz.

- Desculpem, acho que é melhor fazer uma salada.

- Uma salada é ótimo, claro. – Sandy na sala, com o notebook no colo, a TV ligada naquele canal insuportável que só falava sobre o mercado de ações. Kirsten esperou que ele perguntasse se alguma coisa tinha acontecido, se talvez ela estava com  algum problema; porque não pergunta se ela esta preocupada com alguma coisa ao invés de simplesmente dizer que uma salada era ótimo?

- Mãe, você deve estar mesmo brava com essa pobre alface. – Seth disse, trazendo Kirsten de volta do mundo particular dos seus pensamentos; ela estava cortando a alface com tanta violência que aprecia mais estar estrangulando-a.

Ela não conseguia dormir. Sandy estava no sétimo sono, roncando tranquilamente enquanto Kirsten tentava se concentrar no livro, lendo pela quinta vez a mesma página, até desistir de continuar lendo, aquela história de triângulo amoroso não estava ajudando. Não podia evitar pensar em Trey. Ele conseguiu o emprego dos sonhos e ia se mudar pra Newport, a cidade dos sonhos. Pra um garoto que cresceu em Chino, onde não havia muitas expectativas, Trey chegara mais alto do que podia imaginar e ainda tinha muito a alcançar, era um rapaz talentoso, competente, seria um advogado brilhante em pouco tempo, principalmente tendo a chance de trabalhar na Khan, Smith and Bolger. Kirsten queria ficar feliz por ele, ainda mais por ele ter levado em consideração sua opinião na hora de decidir; estava profundamente arrependida do modo frio como recebeu a notícia, mas estava assustada com a forma repentina que aconteceu. Se fosse julgar pelos momentos que passava com ele, não poderia haver anda melhor que Trey morando definitivamente em Newport, poderiam se ver mais, ele teria um apartamento maior, eles poderiam sair juntos, jantar fora, passear no píer. “Não, não, isso seria impossível”, pensou Kirsten. Ela era casada e continuaria casada, ela não abriria mão da vida confortável e socialmente aceita que levava com o marido em nome de um romance com um homem mais jovem, trocaria? Será que era isso que Trey queria? Testá-la, pra ver até que ponto poderia levar aquele relacionamento? Ou será que ele estava mais envolvido sentimentalmente que ela? Ela estava envolvida sentimentalmente ou só gostava de fazer sexo com ele? Kirsten não sabia como responder a nenhuma dessas perguntas e o dia começava a clarear quando ela conseguiu dormir um pouco.

***

            Nada poderia ter sido mais catastrófico que Ryan e Cal serem obrigados a estudar juntos; o professor de Literatura não estava inteiramente a par de como os dois tinham se conhecido quando dividiu os grupos e colocou-os juntos pra fazer o seminário sobre Romeu e Julieta de Shakespeare, e pra completar o grupo, Marissa ficou no meio dos dois.

- Talvez seja melhor eu desistir de Literatura. – Ryan bateu a porta do armário; tinha praticamente implorado ao Sr. Smay para trocá-lo de grupo, mas o professor foi irredutível; mas, Ryan estava pouco, ou nada disposto a sentar na biblioteca com Cal e discutir Shakespeare.

- Ryan, você não pode simplesmente decidir ser reprovado em Literatura.

- Essa droga de seminário vai valer oitenta por cento da nota, Marissa, oitenta por cento, o Sr. Smay quer mesmo me ferrar.

- Quem disse que nós não vamos tirar um dez?

- Você acha isso?

- Sim, tenho certeza. Vamos falar com o Caleb e combinar de nos encontrar pra começar a estudar? – Ryan fez uma careta.

- Acho que eu prefiro ficar reprovado. Marissa, você sabe que eu...

- Você detesta esse cara, eu sei. Ryan, eu também, mas o que nós podemos fazer?

- Ficar reprovado?

- Nós somos dois, Ryan. – Marissa passou os braços em volta do pescoço de Ryan e deu um beijo na bochecha dele, os dois foram juntos procurar Cal, que estava numa conversa animada com Summer; como sempre, Marissa teve que reparar em como Summer parecia encantada por Cal; mesmo que ela afirmasse que não sentia nada, era difícil acreditar quando a via falar com o garoto com aquele ar sonhador; Cal estava encarnando o papel de príncipe encantado e Summer se recusava a ver os defeitos dele.

- Summer, hey!

- Hey, Coop!

- Ah, Cal, o que você acha da gente se reunir pra começar o trabalho de Literatura? – Cal fez uma careta. – Quanto mais cedo a gente começar, melhor, acaba mais rápido.

- Ok, certo, “Romeu e Julieta” é tudo que eu preciso. Tudo bem, Marissa, vamos nos reunir.

- Na biblioteca, depois da aula.

- Vocês vão estudar Shakespeare? – Summer perguntou empolgada.

- É. Não é incrível que as pessoas não se cansem dessa baboseira de “Romeu e Julieta”? – Cal falou com sarcasmo, pela primeira vez Ryan pensou que deveria concordar com ele, mas preferiu não verbalizar. Já Summer, definitivamente não concordou.

- Espere, do que você tá falando? “Romeu e Julieta” é a maior e mais bonita história de amor de todos os tempos.

- Uma história de amor linda que nunca existiu de verdade, mas sim nos devaneios de um pirado.

- EI! Você tá falando de Shakespeare! Ele era um gênio!

- Todo gênio é louco, Summer, mas enfim, você nunca deve ter se apaixonado. Então, vejo vocês na biblioteca. – Cal saiu e deixou Summer ainda tentando entender o que ele quis dizer com “você nunca deve ter se apaixonado”.

- Olha, vou falar uma coisa, esse cara consegue ser mais pirado que o Seth, ou Shakespeare. Vou pra aula. – Ryan também saiu.

- O que ele quis dizer? – Summer falou meio pensativa.

- Quem?

- Coop! O Cal, ele disse “você nunca deve ter se apaixonado”. O que ele quis dizer?

- Na... nada, eu acho. O Ryan tem razão, ele é meio pirado.

- Você achaque o Cal já tentou se matar?

- Summer?!

- Quer dize, talvez ele queira dizer que não sei como é gostar tanto de alguém que não fazia sentido viver sem ela, mas ele já se sentiu assim.

- Summer, ele não quis dizer nada.

- Ele tem razão, Coop, eu nunca me apaixonei de verdade, quer dizer, até agora eu nunca gostei de nenhum cara, pra valer mesmo.

- Você vai se apaixonar, Sum, quando conhecer o cara certo. – “que, obviamente não é o Cal”, Marissa pensou – Vamos pra aula?

- Vamos. É mesmo uma pena eu não estar nessa aula de Literatura, quer dizer “Romeu, Romeu, onde estás meu Romeu?”

Marissa e Ryan esperaram Cal por mais de trinta minutos na biblioteca, mas ele não deu as caras e Marissa ainda teve que aguentar Ryan resmungar e dizer que avisou que não ia dar certo estudar com aquele cara, que seria melhor ficar reprovado do que passar cinco minutos estudando com aquele idiota. Ryan reclamava tanto que Marissa acabou irritada também, como se fosse culpa dela que o professor tivesse mandado que eles fizessem grupo com Caleb. Ela tentou reunir-se outra vez, mas, mesmo quando Cal decidiu comparecer à reunião, ele e Ryan preferiram ficar discutindo feito dois moleques, e eles não adiantaram nada o trabalho.

Nem voltaram a se preocupar com isso antes do fim dos feriados de Natal e Ano Novo; a essa altura, o prazo dado pelo Sr. Smay e a paciência de Marissa estavam acabando; numa última tentativa de fazer aquilo dar certo, porque afinal não queria ficar reprovada, disse a Cal que eles se encontrariam no seu apartamento para fazer o trabalho e se ele não fosse, que procurasse outro grupo; pela cara cínica que ele fez, poderia apostar que ele não iria mais uma vez. “Ok, o problema é todo dele”.

Jimmy ainda estava no trabalho, ele agora só voltava pra casa tarde da noite; Ryan chegou cedo e jantou cupnoodles com a namorada, sentados no chão da sala, rodeados por livros; Ryan logo perdeu o interesse em estudar Shakespeare estava muito pouco incomodado por Cal não ter chegado, com certeza ficar sozinho com Marissa era muito melhor.

- Ryan, a gente precisa estudar. – Marissa disse afastando a “mão boba” de Ryan que escorregava insistentemente pra debaixo da sua blusa.

- Quem precisa de literatura, Marissa? – Ryan beijou o pescoço de Marissa e começou a puxar a alça da blusa dela, beijando seu ombro e antes que pudesse ter o clima cortado por mais uma negativa da garota, a campainha tocou e Marissa levantou-se pra abrir a porta. Ainda estava recompondo as alças da blusa, quando deu de cara com um dos sorrisos debochados de Cal.

- Oh, parece que eu cheguei numa hora, imprópria. – ele entrou sem esperar o convite, e Marissa sentiu que estava vermelha; pediu licença e foi ao quarto trocar de roupa; quando voltou, Cal estava jogado na poltrona, tirando os livros da mochila; ela voltou a sentar ao lado de Ryan no chão. – Então, por onde nós começamos?

- Bom, a gente vai precisar ler “Romeu e Julieta” e...

- Eu já li. – Cal interrompeu. – Vocês não leram ainda? A gente tem uma semana pra fazer essa porcaria e vocês ainda não leram?

- Eu já, bem, estou terminando; o Ryan também, não é?

- Hum. – Ryan murmurou lembrando que tinha lido duas páginas do livro. Cal continuou e de repente ele aprecia mais nerd do que a Summer, pensou Marissa.

- Eu pensei que nós poderíamos organizar nossa apresentação...

- Apresentação? – Ryan disse meio só pra si.

- Apresentação, Ryan, é um seminário, o que significa que nós temos que fazer uma apresentação oral na frente da nossa turma.

- EU SEI O QUE É UM SEMINÁRIO.

- Porque tá fazendo essa cara?

- Olha aqui...

- Ok, eu não preciso que vocês comecem a agir feito crianças. O que vocês acham de uma apresentação em PowerPoint?

- Não, isso é o óbvio. Nós podemos fazer um teatro, encenar um ato da peça.

- Teatro?

- É, vocês já repararam como o Sr. Smay é dramático? Pra mim ele é meio gay, mas isso ano vem o caso, aposto que le vai adorar uma encenação de Romeu e Julieta.

- Não fica muito parecido com um seminário, fica?

- Eu já fiz uma vez, só que foi Hamlet, a professora adorou.

- Você interpretou Hamlet? – Cal apanhou o cinzeiro no meio da mesa.

- Ser ou não ser, eis a questão. – Marissa não pôde evitar ficar impressionada; e se Summer descobrisse que ele gostava de Shakespeare? – Acho que não precisamos fazer um ato todo, uma cena marcante, famosa.

- A cena do balcão.

- Pode ser, mas o cenário, as roupas, tudo isso dá um clima, e claro, os nossos comentários sobre a valiosa importância de Shakespeare para a Literatura mundial.

- Realmente parece uma ótima ideia.

- E eu realmente odeio Shakespeare, estava sendo sarcástico, sabe, sobre a importância.

- Você realmente consegue me surpreender. Não que isso seja um elogio.

- Essa ideia não vai dar certo – Ryan falou um pouco irritado por ter sido praticamente deixado de fora da conversa.

- Do que você esta falando? A ideia é ótima, o Sr. Smay vai adorar, eu aposto que ele vai chorar. – Cal rebateu.

- Mas... teatro... não... quer dizer, quem vai fazer o Romeu? – Ryan quase gaguejou; Marissa entendeu o que ele queria dizer e talvez tivesse razão; ela era a única pra ser Julieta e não seria uma ideia ruim.

- Pensei que fosse óbvio. – disse Cal. – Marissa é Julieta, você é Romeu; vocês fazem a cena do balcão, eu apresento o resto do trabalho, e eu faço a parte de pesquisa e escrita.

- Romeu, eu?! Não, não, isso é... isso não é... possível.

- Porque Ryan? Por acaso você tem medo de falar na frente da turma? – Ryan virou a cara, apertando a caneta na mão. – Eu não acredito! É sério?

- Não é medo, ok, eu só...

- Ok, então, eu faço, você pode ficar com a parte escrita, e alugar cenário e figurino.

- Você deve tá brincando! Você não vai brincar de Romeu e Julita com a minha namorada.

- Ah! Por favor! Você consegue ser um pouco mais irritante? Você acha que eu estou achando divertido essa besteira toda?

- Então vai embora, ninguém vai sentir sua falta.

- Ryan!

- Ok, você tem razão, vocês podem ficar namorando, eu vou embora. – Cal começou a guardar os livros da mochila. – Eu não ligo pra essa porcaria mesmo.

- Cal, ei, espera, você não pode ir...

- Qual é, Marissa? A gente não precisa desse idiota.

- Idiota? Quem tem medo de falar na frente das pessoas? – Ryan e Cal ficaram de pé, um de frente para o outro, encarando-se como se fossem tigres prestes a se atacarem.

- AHH! CHEGA! Vocês podem parar de agir feito homem das cavernas? Ryan, essa ideia é boa.

- Não, Marissa, não.

- Você precisa dessa nota, Ryan.

- Ok, ahm, vocês resolvem o que fazer, eu vou embora. – Cal arrancou uma folha do caderno e deu a Marissa, depois enfiou  o caderno na mochila. – É um roteiro. – disse e foi embora sem mais conversa.

- Ryan, a gente precisa de boas notas.

- Pelo visto você quer mesmo brincar de Romeu e Julieta com o Cal.

- O Cal quer tirar você do sério, Ryan, e você tá caindo na onda dele.

            Marissa conseguiu convencer Ryan, mas ele acabou não fazendo quase nada, nem reclamou por isso; ela conseguiu o cenário e as roupas com o grupo de teatro e Cal descartou praticamente tudo que ele tinha escrito. Depois de muitas brigas sem motivo, chegou o dia da apresentação; Ryan não estava gostando, Cal estava agindo como se fosse algum astro de cinema com aquela roupa ridícula, enquanto ele teve que arrumar o cenário. O Sr. Smay estava sério, olhando pra Cal e Marissa fantasiados de Romeu  Julieta;Ryan desejou que aquilo fosse um bom sinal

- Cohen, Cooper e Nichol vão apresentar Romeu e Julieta. Vocês tem 40 minutos. – Marissa e Cal foram pra frente do quadro negro, Ryan seguiu-os sem vontade; foi ele quem introduziu o trabalho, falando brevemente e meio gaguejando sobre o período literário do qual Shakespeare foi um dos principais expoentes; então Cal começou a falar e, pra quem detestava Shakespeare, ele expressou muito bem as principais características e estilo do dramaturgo; Marissa finalizou falando especificamente sobre Romeu e Julieta. Depois foram para a parte dois da apresentação, a encenação da mais famosa cena da peça. Eles foram perfeitos, Marissa olhou de relance e viu que o professor estava pensando exatamente isso, e a sala esperava o desfecho da cena, inclusive Ryan, que cerrou o punho, afundando as unhas na própria carne, como se pretendesse se ferir; tinha vontade de acabar com aquilo, porque obviamente, Cal estava passando dos limites. Marissa também achou que ele pretendia esquecer o acordo que tinham feito de não ter beijo na cena, Cal ia estragar tudo, ela pensou, porque se ele a beijasse, Ryan não ia pensar na nota de Literatura. Cal subiu no balcão, pegou na mão de Marissa, e a fitou; eles ficaram se olhando, como na primeira vez que tinham se visto, Marissa tinha certeza que ele ia beijá-la. Ela tentou se desconcentrar daquele rosto e continuou a cena.

- “Como chegastes até aqui? Diz-me e por quê? As paredes do pomar são altas e difíceis de escalar, e poderás, considerando quem tu és, se algum dos meus parentes te encontrar aqui. – Marissa viu Cal tentar controlar o sorriso no canto da boca; ele também estava pensando em Ryan, mas Cal conseguiu continuar sério.

- “Que pena, há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas! Sê apenas doce e eu estarei protegido da ira dos seus”. – Marissa sentiu as bochechas queimarem.

- “Por qual direção achastes este lugar?

- “Pela direção do amor” – Marissa tirou a mão que Cal segurava, juntando as duas dramaticamente.

- “Oh, gentil Romeu! Se realmente amas, dize-o com fervor”.

- “Devo jurar?”

- “Não jures por nada! Embora esteja contente contigo aqui, eu não tenho a alegria do amor esta noite. É muito audacioso, muito repentino; boa noite, boa noite. Que os sentimentos que apareceram em teu coração sejam como esses do meu peito”. – Marissa se afastou um pouco.

- “Oh, partirás assim, deixando-me tão insatisfeito?” – Marissa pôde sentir a zombaria na voz dele.

- “Que satisfação podes ter esta noite?”

- “A troca das nossas juras de amor!” – Marissa se aproximou novamente, meio debruçada na janela cenográfica.

- “Se este teu amor é verdadeiro, com a finalidade de casamento, manda-me uma mensagem amanhã, e aos teus pés, toda minha virtude depositarei, e te seguirei, meu senhor, pelo mundo afora. – Cal tocou o rosto de Marissa, e aproximou o seu; “não beija, não beija”, Marissa pensava, sentindo a respiração dele;

- “Meu amor”. – Cal deu um beijo suave na testa de Marissa; ele pulou de volta para o chão. – “Partirei agora, levando essa doce lembrança. Boa noite”.

- “Boa noite, boa noite! Partir é uma dor tão doce que eu ficaria dizendo boa noite até amanhã”. – Cal pegou na mão de Marissa, ao mesmo tempo que ia se afastando, dando passos pra trás, até os dedos se separarem; os colegas aplaudiram enquanto os dois voltaram pra frente do quadro, e até o professor estava batendo palmas.

- Eu não falei que seria perfeito?!

- Hum, cadê o Ryan? – Marissa procurou Ryan, mas ele já tinha saído da sala, sem nem esperar pra ouvir os elogios do Sr. Smay.


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