Qual a conseqüência de uma mentira?

Narradora

Todos sorriram enquanto Kauã jogava Ness pra cima e ambos sorriam muito. Eles subiram no palco junto com os outros da banda e receberam o troféu de primeiro lugar.

- Vamos comemorar! – Alice sugeriu sorrindo, ela sabia que todos queriam ficar mais tempo perto da pequena Ness. Todos concordaram e Guto e Mel chamaram suas famílias pra irem também.

Edward, mesmo sem querer ser indiscreto, ouve os pensamentos de Ness: “Eu queria tanto poder ir até onde ele está.” Na mente dela ele vê um rapaz, aparentando uns dezenove ou vinte anos, cabelo cacheado loiro, olhos azuis. Edward segue o seu olhar pra ver o rapaz que sua neta gosta e quando olha pra frente só vê o espaço em branco. Ele concentra novamente nos pensamento de Ness, pensando que o rapaz havia saído, mas ele ainda esta lá.

- Algum problema? – Bella pergunta, baixo, quando todos começam a se dirigir ao estacionamento.

- Não sei, ainda, vai indo com os outros, já alcanço vocês. – Bella mesmo relutante seguiu sua família. Edward caminhou na direção em que Ness via o rapaz e quando se aproximou o ouviu pensando. “Ela foi perfeita.”

- Quem é você? – Edward perguntou parado próximo a Arthur. Arthur por sua vez olha o homem a sua frente.

- Você pode me ver?

- Não. Mas posso ouvir seus pensamentos.

- Como? – Arthur respira fundo e então percebe que cheiro do homem era diferente, vampiro. Ele se lembra de vê-lo perto da Duda provavelmente é algum dos parentes de quem ela havia lhe falado.

- Sim. Sou o bisavô dela. – Arthur quase não acredita que o rapaz, com aparência de um rapaz de dezessete anos, na sua frente poderia ser bisavô de alguém.  

- Quem é você? Como você conhece a Duda e minha neta Ness? – Arthur o olha em completo choque.

- Neta? – Mas antes que Edward responda Arthur se dá conta que Edward poderia lhe ajudar.

♥♥♥

Edward caminha pensativo até onde sua família o está esperando.

“O que aconteceu?” Alice pergunta ao irmão e ele faz um sinal de negativo com a cabeça. Bella olha preocupada para Edward, mas decide deixar pra perguntar o que aconteceu quando eles estiverem sozinhos. Eles se dividem nos carros e vão pra uma pizzaria na redondeza. Todos estão felizes e ninguém percebe que os Cullen fingem comer.

A comemoração se estende por toda a tarde e logo anoitece. Um rapaz começa a cantar ao vivo e todos dançam e brincam. Edward e Jake olham para a família se confraternizando.

“Eu sempre quis vê-los assim.” Jake comenta com Edward olhando pros quatro filhos rindo juntos. Edward se permite festejar esse momento único e deixa tudo o que conversou com Arthur em um canto de sua memória, resolveria isso depois.

Enquanto todos dançam, cantam e bebem, Nanda passa o dedo na borda do seu copo, onde tem um pedaço trincado. – Merda. - Ela xinga quando corta a ponta do dedo. Ela nem imagina o quanto esta pondo sua vida em risco, enquanto um filete de sangue escorre por seu dedo. Ela leva o dedo à boca sugando o sangue, e olha pro seu dedo. O corte havia sido maior do que ela imaginava, e no corte mais sangue já escorria. Jake olha desesperado para os Cullen sem saber o que fazer, mas todos parecem estar sob controle.

- Calma. – Duda fala indo até ela. Ela olha o corte e faz uma careta. – Vai precisar dar pontos. – Duda comenta. Todos estavam prestando tanta atenção na Nanda e em seu dedo cortado que não perceberam o que estava acontecendo.

Ness

Só mesmo a desastrada da Nanda pra se cortar em um copo. Revirei os olhos e fui na direção dela, sabia que ela faria um drama enorme. Quando me aproximei da Nanda eu senti o cheiro do seu sangue, mas o cheiro era diferente, era um cheiro doce e minha boca se encheu de água. Para com isso Ness, é sangue. Senti minha garganta arder como se eu tivesse bebido algo muito quente e a queimado. Meus olhos estavam encarando hipnoticamente o sangue que descia do machucado da Nanda. Eu caminhei ofegante na sua direção, eu queria muito provar aquele sangue, queria mais que tudo o que eu já quis na minha vida.

Luly’s

Eu fiquei preocupada quando a Nanda se machucou, pois o Henri já havia me explicado muita coisa do seu mundo, sobre os lobos e os vampiros, mas pelo visto eles não estavam tendo problemas com isso. Percebi que a Ness caminhava hipnotizada olhando pra Nanda e então eu me lembrei das palavras da Duda pouco depois que eu fiquei sabendo de tudo.

“Ela esta mudando, o cheiro, a temperatura. Temos que ficar de olho, pois a qualquer momento o seu lado vampiresco ou transmorfo pode se manifestar.”

Eu sabia que era isso que estava acontecendo. Dei um passo à frente e puxei seu braço a virando pra mim, no mesmo instante todos os vampiros e transmorfos presentes olharam pra gente.

- O que você pensa que esta fazendo? – Perguntei um pouco acima do que eu esperava. Ness rosnou para mim, seus olhos estavam desfocados. Henri deu um pulo tentando se colocar a minha frente, mas eu me afastei e puxei o outro braço da Ness.

- Me solta. – Ela falou, sua voz fria como o gelo.

- Não. – E então falei mais baixo, pois já estávamos chamando atenção demais. – É a Nanda.

Narradora

Edward, assim que percebeu o que estava acontecendo, sussurrou no ouvido do JP.

- Tira as meninas daqui. – JP foi até a Nanda e a Bia e falou sorrindo.

- Ei Nanda, vamos logo ao hospital. Bia, vem com a gente.

- E as... – Bia estava preocupada com a Ness, que estava estranha.

- É melhor olharmos logo o dedo da Nanda, antes que pegue uma infecção. – Isso convenceu as duas e JP as tirou dali.

Todos olharam horrorizados quando a Luly’s segurou a Ness, tentando a trazer de volta a razão. Mas eles sabiam que um vampiro com sede era irracional e Edward sabia que Ness estava com sede.

Quando Luly’s a sacudiu, Ness sentiu a razão voltando pra ela e então ela não acreditou no que estava acontecendo. Um soluço alto escapou de sua boca, por tudo que era mais sagrado, ela queria beber o sangue do dedo da Nanda, que bicho asqueroso ela estava se tornando. E aquela queimação na garganta que apareceu do nada? Ness olha para os lados procurando um copo de água, mas o que ela vê é todos a olhando. Ela sente espasmos percorrer seus braços. Ness olha nos olhos do seu pai e de sua mãe e vê pavor dentro deles.

“Uma aberração” era isso que ela achava que era.

- Filha. – Jake fala, mas Ness não espera pra ouvir o que ele vai dizer. Ela sai correndo de dentro da pizzaria, as lágrimas rolam no seu rosto. Os espasmos se espalham por todo o seu corpo e Ness percebe que outra vez esta fervendo.

“Por Deus! O que esta acontecendo comigo?” Ness se pergunta enquanto corre sem perceber pra onde esta correndo. A cena dela vidrada no sangue de Nanda passa e repassa na sua mente, e o pior é que toda a vez que ela revê a cena, novamente sua boca enche de água e sua garganta queima de um jeito estranho. Ness balança a cabeça violentamente tentando tirar esses pensamentos dela. Seu coração está disparado devido à corrida e os tremores se tornam violentos. Ness encosta-se a uma árvore, ela tinha entrado em uma das reservas próxima ao campus, e segura o peito que parece que vai explodir. Ela sente uma dor muito forte, como se seu peito estivesse sendo rasgado e solta um grito alto e agudo.

Mais um grito escapa pela boca de Ness e então ela sente todo o seu corpo explodir. “Eu tô morrendo”, ela pensa. Seu corpo fica pesado e ela percebe que o ângulo do chão esta diferente, quando Ness vai dar um passo percebe que no lugar de suas pernas estavam patas cheias de pelos brancos. Ness sente o ar acabar e tudo escurecer.

♥♥♥

Enquanto Ness sai correndo da pizzaria todos se olham sem saber o que fazer. Bella olha pro Jake e pra Nessie com um olhar acusatório.

- Isso não deveria ter ido tão longe. – Nessie olha para a mãe dentre lágrimas.

- Cada vez que íamos contar algo acontecia, e a mentira cada vez ficava maior. – Emmy vai até a mãe e a envolve em um abraço apertado.

- Tudo vai se resolver mamãe. – Era a primeira vez que ela abraçava a mãe depois de dezessete anos. Nessie chora ainda mais envolvendo a filha com os braços. Edd e Jason se juntam ao abraço, ambos reafirmam com o olhar o que a irmã falou.

- É melhor irmos atrás dela. – Henri fala e todos concordam. Quando Duda abre a porta ela ouve o grito agoniado da tia.

- Ela esta se transformando. – Duda grita pra dentro da pizzaria. Sem se importar com ninguém, ela corre em direção à reserva onde Ness havia entrado. Quando Duda entra na reserva ela vê uma linda loba branca desacordada.

- O que vamos fazer? – Kauã pergunta parando ao lado da prima, Duda vai até Ness e constata que ela esta desacordada.

Ness

Senti a consciência voltando a mim, eu havia tido um sonho muito louco, o mais doido de todos que eu já tive, onde depois de quase atacar uma das minhas melhores amigas eu virava um monstro. Sacudi a cabeça lentamente e ela estava pesada e doendo. Meus sentidos estavam aguçados e eu senti a presença de alguém ao meu lado, quando eu abri os olhos tinham dois lobos abaixados perto de mim.

Puta merda, não era sonho! Levantei-me meio cambaleando sem saber governar esse corpo cheio de pelos e pesado.

“Você vai se acostumar.” Ouvi a voz da Duda na minha cabeça. Céus, agora eu ouvia vozes na minha cabeça!

“Você precisa se acalmar pra poder voltar ao normal.” Kauã me falou, também em minha cabeça. Olhei para os lados e não vi os dois próximos a mim, mas todos os demais estavam, toda a família dos meninos, até meu pai e minha mãe e Luly’s. O que será que eles estão pensando de mim.

“Não se preocupe com isso.” Novamente a voz da Duda. Mas que merda, sai da minha cabeça e aparece!

“Eu estou aqui.” O lobo cinza com branco deu um passo à frente e um rosnado assustador se fez ouvir, pelos olhos do lobo cinza vi, um lindo lobo branco rugindo.

“Se acalma Ness.” Kauã pediu com a voz calma, e o lobo caramelo também deu um passo à frente. No mesmo instante eu percebi duas coisas: Primeiro, os lobos caramelo e cinza eram Kauã e Duda, respectivamente; e segundo, o lobo branco que eu via pelos olhos deles era eu. Balancei a cabeça furiosamente, era loucura, loucura demais pra que eu aguentasse.

- Ela não consegue se acalmar. – O tal de Edward falou. Me acalmar, como eles querem me acalmar, se eu descobri que eu sou um... um... Eu nem sei o que eu sou!

“Uma transmorfa.” Kauã falou novamente, sua voz muito calma, tão calma que me irritava. “Desculpa Ness, é normal você estar nervosa.” Ele deu alguns passos em minha direção e eu recuei rosnado furiosamente e minha pata dianteira cortando o ar na minha frente. Eu sabia que ele era o meu amigo, mas meu corpo e meu instinto reagiam sozinhos.

- Jake, ela precisa de ajuda. – Edward falou novamente, era como se ele ouvisse o que pensávamos também. Uma coisa tirou minha concentração, a intimidade com que ele falou com meu pai. Meu pai o olhou com pânico? – Sua filha precisa de você Jake, chegou a hora de acabar com as mentiras.

Suas palavras eram enigmas para mim. Percebi que Duda deu um passo em minha direção e me virei rosnado. Chega! Eu disse a mim mesma, eu quero voltar a ser eu mesma, quero voltar a ser a Ness preocupada com as unhas, o cabelo e a maquiagem.

- Filha. – Papai me chamou e eu o olhei. – Respira fundo, assim você vai se acalmar. – Fácil falar, pensei.

- Ela não consegue, Jacob. – Edward agora falava com autoridade, tanta que eu não gostei, rosnei mostrando os dentes pra ele, quem ele pensa que é pra falar assim com meu pai? Papai me olhou com um olhar intenso e então tirou a blusa. OMG! O que o papai pretendia fazer? E então na frente dos meus olhos descrentes papai se transformou em um enorme logo avermelhado.

Não, não, não, não! Comecei a gritar na minha cabeça, balançando a cabeça e me afastando.

“Filha, fica calma.”

“O que está acontecendo aqui, papai?” Perguntei minha voz denunciando meu desespero. Lágrimas grossas escorreram por meu rosto lupino.

“Eu tenho muitas explicação pra te dar, mas agora eu preciso que você se acalme, e volte a sua forma humana.”

“Explicação, que explicação? Que você é um monstro? Que eu sou um monstro? O que mais você vai dizer, papai?” Enquanto eu falava andava inconscientemente na direção do meu pai e rosnados altos saiam da minha boca, eu sentia algo fervilhando dentro de mim, e a mesma ardência de quando eu vi o sangue da Nanda retornou pra minha garganta.

“Cuidado vovô, ela esta perdendo o controle.” Todo o meu corpo congelou no lugar. Virei-me lentamente e olhei pra Duda.

“De que você o chamou?”

“Ness.”

“Filha.” Os dois chamaram juntos.

“Responde.” Eu gritei e inacreditavelmente um rosnado ainda mais alto que os outros escapou da minha boca. Duda olhou pro papai e depois pros demais que nos olhavam.

“Vovô.” Minha mente raciocinou rápido, muitas informações rodado por ela. Meu pai avô da Duda, ou seja, eu sou tia dela. E se a Duda e os meninos são primos, filhos de três irmãos gêmeos, como eu já tinha ficado sabendo. – Minha respiração saia com dificuldade e minha cabeça parecia que iria explodir. – Então, os pais deles eram meus irmãos? Olhei pro homem ruivo e perguntei aos lobos que me ouviam.

“O que e quem ele é?” desta vez foi Kauã que me respondeu.

“Um vampiro, e... Ele é nosso bisavô e seu avô.” Olhei para todos ali, todos tão parecidos, olhei da mamãe pro homem ruivo e pra mulher que agora abraçava minha mãe e ali eu vi os traços da minha mãe.

“Filha desculpe, era tudo pro seu bem.”

“Bem?”

“Você era quase cem por cento humana quando nasceu, não conseguiria resistir no nosso mundo.”

“E então o que você fez? Me colocou numa bolha de cristal, em um mundo falso, e simplesmente mentiu pra mim a  minha vida toda.”

Percebi que novamente eu chorava e os rosnados saíam entrem as lágrimas. Meu corpo ficava cada vez mais quente e minha cabeça latejava.

- Filha. – Mamãe chamou. – Nós te amamos querida. – Do lado dela estava Henri e a Luly’s, minha amiga humana olhava pra tudo como se eu não fosse um lobo enorme e peludo.

“Querida olha...”

“Não me chame de querida, Jacob.” Falei rosnando e caminhando pra trás. Sem dizer mais uma palavra eu virei e corri mata adentro.