Sobre Inícios e Fins escrita por Mayumi Sato


Capítulo 2
Sobre fins...


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários! Eu realmente espero que vocês tenham gostado da fanfic! Foi divertido escrevê-la! Por favor, continuem lendo minhas histórias "harukyon" e apoiando o casal! Ah! Eu gostaria de passar um "jogo" para vocês! Eu estou aceitando até três temas de fics "desafio" - não por pessoa, pois eu sou humana, mas no total - harukyon ou koiharu! Mandem suas sugestões, tá?^^



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- Eu não gosto desse tipo de piada... – comentei, enquanto enxugava meu nariz, usando meu braço.

- Não é uma piada. – disse ele, mas o seu sorriso impedia-me de acreditar nisso. Na verdade, dezenas de fatores me impediam de acreditar nisso.

- Como se eu pudesse acreditar em algo assim. Eu o conheço há três anos. Você nunca demonstrou interesse na Haruhi. – antes que ele me corrigisse, adiantei-me – Nenhum interesse além do que Nagato e Asahina-san possuem por ela.

- Você me parece bastante confiante do que diz. – ele ainda sorria.

- É a confiança daqueles que dizem a verdade. Você não a compreenderia. – comentei, aborrecido com aquele diálogo. Por quanto tempo ele insistiria, naquela mentira sem sentido? Eu queria dormir e ele não estava me permitindo ter o sono dos justos, apenas para falar de assuntos que não eram relevantes e nem sequer reais!

- Apesar de aparentar confiança, você não se sente seguro, não é?

- O que você quer dizer? – Koizumi realmente estava conseguindo me irritar.

- Você realmente não se lembra de um momento em que eu tivesse aparentado sentir algo pela Suzumiya-san?

- Por que você, Nagato e Asahina-san gostam tanto da Haruhi?

-Acho que ela é uma pessoa charmosa, mas deixaremos isso de lado.

- Eu a considero alguém atraente.

- Então, eu deveria tentar?

Além disso, ele era o único com ela, no mundo da Nagato, não era? Mesmo sem ser um esper, ele se manteve perto dela. Ele era diferente das outras duas. Ele simplesmente gostava da natureza excêntrica da Haruhi. Ele simplesmente gostava de Haruhi...

- Espere. Eu não serei ludibriado tão facilmente.

- Ah, você ainda não está convencido? Que pena.

- Você sempre pareceu incentivar que eu agarrasse Haruhi para a solução de todos os problemas que ela provocava. Não espere que eu acredite tão facilmente que você realmente a ama. Suas ações são contraditórias.

- O Koizumi-esper, de fato, deseja que você perca a sua covardia, teimosia ou qualquer que seja o motivo que o detêm, e se declare para a Suzumiya-san. Você é um fator de equilíbrio para a Suzumiya-san. Caso se mantenha perto dela e a faça feliz, poderemos manter o mundo em equilíbrio. Como escolhido dela você é o único que pode desempenhar esse papel. 

Parecia-me uma resposta simples de entender, já que uma Haruhi feliz significaria menos esforço para Koizumi. Ele complementou o seu raciocínio, com outra colocação, sendo esta acompanhada por um olhar melancólico, apesar do sorriso que ele insistia em manter:

- No entanto, o Koizumi Itsuki, uma pessoa, deseja poder tocar nela, ficar perto dela e fazê-la feliz.

- Você tem dupla personalidade?

- É irônico, não é? – ele disse, ignorando minha ofensa - Os meus poderes como espers somente eram disponíveis em espaços restritos. Agora, em sonhos. Sempre nesses espaços limitados, onde eu nunca estou com ela. O que significa que o Koizumi que serve a brigada lealmente, convive com ela e tenta animá-la é o Koizumi, humano. A minha parte que pode aproximar-se dela é justamente a parte que a ama. Como é sádica, a pessoa por quem me apaixonei.

 - Eu não entendi muito do que você disse.

- Ah, mesmo? Isso era um pouco esperado, na verdade. Perdoe-me se acabei o confundindo. Eu estava apenas divagando. – ele comentou, sorrindo. Dessa vez, eu não seria enganado pelos modos de Koizumi. Eu havia compreendido.

- No entanto, eu entendi que você realmente a ama.

Ele olhou para mim, sério. Nós dois nos encaramos em silêncio. O que poderia ser dito? E por quem? Que tipo de ação as pessoas esperavam de mim? O que eu desejava fazer?

Ele começou a rir. Uma risada discreta, mas ainda assim uma risada.

- O que foi? Eu tenho uma irmã pequena e ela irá se assustar se lhe vir assim.

- Desculpe-me. – disse ele, ainda sem terminar de rir – Eu apenas estava pensando que nosso relacionamento também é bastante irônico.

- Por favor, não se declare para mim.

- Como meu aliado para controlar a Suzumiya-san, você é meu melhor amigo. No entanto, como Koizumi Itsuki, eu sinto um verdadeiro sentimento de raiva, por você.

Eu nem sequer tive ânimo para reclamar, fazer um comentário sarcástico ou expulsá-lo da minha casa, como seria adequado a ser feito. Por alguma razão, senti que não era melhor dizer nada. Algo poderia despedaçar.

- Eu estava apenas brincando. – ele disse, sorrindo e levantando-se para pegar seu casaco.

- A respeito de que parte? – perguntei, com certo sarcasmo.

- Eu realmente quero manter a brigada em sua forma original, tanto quanto quero manter esse mundo em sua forma original. Eu espero o seu apoio, caso isso seja possível. 

- Entendi. – comentei, o deixando na porta, entendendo que ele sairia sem fazer comentários sobre a conversa que tínhamos acabado de ter.

- Ah. Outra coisa.

- O quê?

- A Suzumiya-san é sempre direta em relação aos seus desejos, mas seus sentimentos não são tão diretos. Às vezes, a raiva pode ser tristeza e a decisão pode ser confusão. Pense nisso e tente animá-la.

- Não há qualquer razão para animá-la, se não há espaços restritos.

- Sempre há uma razão para animá-la. – ele comentou, e detectei em seu olhar, certo brilho desafiador – Você ainda não entendeu isso? Nesse caso, darei duas respostas.

- Você não pode unir ambas em uma única resposta simples? Há um princípio da física que defende algo assim.

- Sinto muito. Nesse caso, são necessárias duas respostas, completamente individuais. A primeira: você deve animar Suzumiya-san, pois apesar da carência de espaços restritos, ela ainda influencia o espaço de forma direta. Eu não gostaria de ver um céu cinzento com chuva de carvões ou qualquer que seja o espaço que expressaria a tristeza dela. A segunda razão é essa: você não pode garantir que sempre será o escolhido dela.

-...

- Eu estou indo. Desculpe-me por incomodá-lo até tão tarde, com um diálogo tão monótono.

Assim que a porta foi fechada, senti a compreensão dos fatos espalhar-se pelo meu corpo de modo frio e pesado, como água sendo absorvida pelo algodão. Koizumi amava Haruhi. E ele nunca estava brincando, quando dizia que estava.

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Como você deve reagir quando descobre que uma pessoa próxima a você sente algo por outra pessoa de quem você é próximo? Eu deveria tê-lo parabenizado? Feito perguntas? Eu não sabia. Entretanto, acredito que qualquer reação, excetuando algumas raras exceções como gritar “Eu sabia!” apontando para ele, seria melhor do que a que tive. Eu não fiz nada.

Eu deveria me sentir feliz pelos dois ou pelo menos por Haruhi que finalmente havia encontrado um cara que a amava pelo que ela realmente era? Eu não me sentia feliz. Eu não sentia vontade de parabenizá-lo, de incentivá-lo ou de fazer perguntas sobre o assunto. Se possível, eu gostaria de colocar a conversa que tive com Koizumi em alguma região em meu cérebro que a ciência e minha consciência ainda não tivessem descoberto. Eu queria ignorá-la. Esquecê-la.

- Kyon.

Era Haruhi. Eu havia acabado de chegar à faculdade, mas ela já havia segurado minha gravata com firmeza, com um olhar preenchido de intenções malignas.

- O que você quer? – perguntei, com minha voz mesclada a um pesado suspiro. Eu estava exausto.

- Que expressão desanimada é essa?! Realmente me irrita vê-lo assim! As pessoas pensarão que as pessoas de nossa brigada são seres fracos e lesos como você!

- Eu não sabia que você importava-se com o que as pessoas pensam.

- É claro que me importo. Precisamos de novos membros para a brigada, lembra?!

- Deixando isso de lado, nós temos aula. Se você pretende faltá-la, eu não a deterei, mas, ao menos, me deixe ir para a minha. – além de desanimado, eu não tinha a menor intenção de falar com Haruhi, por algum tempo. Somente ao vê-la, as lembranças da noite anterior vinham como fogos de artifício, não podendo ser ignoradas. Eu ainda me sentia desconfortável para pensar sobre aquilo.

- Você está realmente exausto, não está?

- Será que você tem poderes mediúnicos? – perguntei, com sarcasmo, revirando os olhos.

- Deixe-me transferir energia para você.

- Hã?

Antes que eu pudesse reagir, ela usou minha gravata para aproximar meu rosto do dela, em um rápido e intenso movimento. A minha primeira sensação foi de terrível dor em meu pescoço. A minha segunda sensação foi de não sentir nada. Os olhos dela estavam perto demais e me encaravam, incessantemente. Eu podia ver-me refletido neles. Eu realmente não conseguia sentir nada, nem pensar em nada. Eu apenas tinha uma estranha consciência do quanto ela estava excessivamente perto de mim, sem ter, no entanto, a menor vontade de afastá-la.

“Eu sou um estudante universitário” – comecei a pensar, meu raciocínio seguia uma lógica inevitável, mas indesejável – “Quando uma garota age de uma forma assim, seria apenas natural que eu reagisse.”

Meu rosto estava prestes a fazer um movimento que foi interrompido com o súbito afastamento de Haruhi.

- Então, então? – ela perguntou, animada, com seus olhos brilhando – O seu corpo está quente, não está? O seu coração está acelerado, não é?

Eu me perguntava como ela havia conseguido acertar com tanta precisão os meus sentimentos. Seria possível que a Haruhi realmente estivesse mal intencionada? Nesse caso, ela não deveria ter se afastado de mim, antes que eu... Não. Aquela era uma má idéia. Má idéia. O Oyashiro-sama deve ter me possuído e feito meu corpo agir de maneira tão horrível. Aquela definitivamente era uma péssima idéia.

- Não. – respondi, pateticamente.

- Ah, mesmo? Estranho. A minha transfusão de energia normalmente funciona.

- Isso não é uma transfusão de energia, é simplesmente um assédio.

- Você está banalizando a grandiosidade da sua chefe de brigada? Que ousado da sua parte, Kyon. Você perderá pontos por isso.

- Haruhi, você já fez essa transfusão de energia com alguém, não foi?

- Eu não sei. Provavelmente. – ela disse, dando de ombros.

- Foi com o Koizumi, não foi?

- Hã?

- Esqueça.

Eu saí inexplicavelmente mal-humorado. Eu me perguntava o que havia de errado comigo, nesses dias. A carência das atividades do clube, com seus jogos, com a presença da confiável Nagato, da adorável Asahina-san e de chás e a convivência forçada com Suzumiya Haruhi, deviam estar destruindo a minha luz interior, que desde o início não era o suficiente para iluminar sequer uma sala.

Fui assistir às aulas, determinado a não ir para a sala da brigada, após elas. No entanto, acabei indo. Eu sempre ia.

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Minha determinação de não ir à sala da brigada fez com que eu demorasse mais do que o normal para ir até lá. Normalmente, eu iria assim que minhas aulas tivessem terminado, mas pensei em algo como “Por que eu faria algo tão inútil? Minha vida é finita demais para que eu a desperdice em algo assim.” e saí para comer algo em uma lanchonete próxima. Quando estava comendo tranquilamente, algumas garotas aproximaram-se. Devia ser meu dia de sorte, pois elas sentaram-se na mesa e começaram a conversar comigo. Eram duas. Eram bonitas. Por que elas estavam falando comigo? Garotas comuns não se interessavam por mim. Elas seriam espers, alienígenas ou viajantes do tempo? Eu gostaria de verificar se elas estavam naquelas fichas.

“As fichas!”

A lembrança das fichas fez com que eu me lembrasse do motivo principal pelo qual Koizumi, Nagato e Asahina-san haviam ido a minha casa, na noite anterior. Eles não foram lá discutir a vida amorosa de Koizumi. Esse é um motivo idiota demais para se incomodar alguém no meio da noite. A razão da presença deles lá era para me mandar ajudar a selecionar os novos membros. Eu tinha que ir para a sala da brigada, antes que ela terminasse de escolher todos, por seus critérios totalmente aleatórios.  

Quando finalmente cheguei à sala, vi um cenário bastante diferente do que eu previa. Imaginei que quando chegasse, haveria três novos membros, cada um deles com uma personalidade visivelmente estranha, enquanto ela estaria em um discurso animado sobre as atividades da brigada. Ela estava sozinha. Haruhi estava sentada em cima de uma mesa. Estava de costas e seu cabelo parecia um pouco mais comprido do que eu me lembrava. Não vi seu rosto, mas ela não me parecia bem.

- Onde estão os candidatos a membros da brigada? – perguntei, sem saber o que exatamente dizer a ela, e tentando avaliar o que havia acontecido.

- Não há novos membros.

“Todos desistiram. Nem mesmo aliens, espers e viajantes do tempo, possuem coragem para enfrentá-la.”

- Diferente do que você pensa, vieram candidatos. Um número grande. Por que as pessoas não iriam querer associar-se a brigada?

“Eu vejo várias razões para isso.”

- Nenhuma delas era boa o suficiente? Iremos esperar outras pessoas?

- Não. Seremos apenas nós dois.

Pisquei os olhos, atônito. Não faço idéia da expressão que meu rosto assumiu naquele momento, mas posso dizer que estava completamente pasmo.

- Haruhi, o que você quer dizer com isso?

Ela voltou-se para mim, de repente. Seus olhos castanhos refletiam certa frieza.

- Eu não estou me declarando para você ou algo assim. Pare de ser tão narcisista. Eu não gosto da idéia de tão poucas pessoas, nessa sala. Eu a detesto, na verdade. De que adianta uma sala tão grande para um clube de duas pessoas? É um completo desperdício de espaço.

Não era por narcisismo que eu havia chegado a conclusões erradas. Qualquer cara teria se confundido, caso uma garota dissesse que gostaria de ficar sozinha com ele. Não, ela não disse exatamente dessa forma, mas... Espere. Não é isso que é relevante.  

- Nesse caso, por que você não escolheu ninguém?

Ela novamente virou-se, de modo que eu não poderia enxergar seu rosto. Eu me perguntava se ela fazia isso de propósito.

- Porque eu não quis.

Eu havia ficado ansioso demais para uma resposta tão prática. Haruhi parecia uma daquelas crianças que rejeitam verduras, pelo simples fato delas serem verduras, sem ter nenhuma explicação mais elaborada. Eu não conseguia entendê-la. Por que eu deveria consolar uma pessoa que sequer triste estava? Haruhi estava apenas agindo com seu rotineiro egoísmo. Decidi esquecer o sentimentalismo a que Koizumi tentava me arrastar, e voltar a ações práticas. Eu sabia que seria muito arriscado, para mim e para o universo, se apenas eu e Haruhi estivéssemos naquele clube. Eu deveria convencê-la a chamar mais pessoas.

- Se você não quer um clube com poucas pessoas, você precisa selecionar algumas. É impossível que você não convoque ninguém, mas tenha uma sala lotada de pessoas. Eu, particularmente, não gostaria de participar de um clube em que o vice-presidente não tivesse ninguém abaixo dele na hierarquia.

- Eu não escolherei ninguém. – ela repetiu, decidida. Novamente, o meu bom-humor havia sido desafiado.

- Eu conheço alguns alunos, que estão interessados, e que poderiam... – eu comecei a blefar, mas fui interrompido.

- Eu não escolherei ninguém! – ela gritou aquilo de forma agressiva, o que me fez ir até ela e segurar seus ombros, fazendo-a voltar-se para mim. Eu iria gritar com ela. Ela precisava entender que o mundo adulto não era terno como o colegial, onde atitudes como a dela, apenas geravam boatos maldosos. Ninguém estava disposto a aceitar a arrogância dela. Eu também não. Eu faria um discurso assim, mas perdi completamente qualquer idéia do que ia dizer, quando percebi que nos olhos dela havia lágrimas.

  Eu nunca havia visto Haruhi chorando. Uma vez, nós fomos invadir a propriedade de alguém, pois havia boatos de que alienígenas passavam por lá, e ela caiu de lá, ferindo-se com arame farpado, e tendo que ficar com a mão enfaixada por semanas, mas ainda assim, ela não chorou. Ela estava com um ferimento terrivelmente doloroso e havia levado um susto horrível, mas não chorou. Asahina-san chorou, ela não. Quando ela teve a idéia de cuidar de um cachorro, pois ela havia dito que cachorros tinham sensibilidade para fenômenos sobrenaturais, e ele morreu, depois de alguns meses, atropelado, ela não chorou, mesmo que fosse óbvio para qualquer um, o quanto ela sentiu a perda dele. Quando nós nos formamos e o clube que ela tanto amava foi desfeito, ela não chorou. Asahina-san também estava chorando, nesse caso. Na verdade, Asahina-san também chorou no caso do cachorro. Pensando melhor, acho que Asahina-san estava chorando sempre. Bem, não importa. O fato é que eu conhecia Haruhi há três anos e ela não chorava. Mesmo assim, naquele momento, Suzumiya Haruhi mostrava para mim, um desconhecido lado vulnerável. Olhos de ébano que deixavam escapar várias lágrimas, mesmo que ela tentasse parecer ofendida pela minha ação.

Eu não tive coragem de soltar os ombros dela.

- O que houve?

- Cale a boca.

- Você precisa me dizer.

- Por quê? – ela perguntou, aborrecida, mas ainda sem conseguir deter as lágrimas.

- Porque eu sairei da brigada, se você não me disser.

Era uma mentira, óbvio. Eu não sairia dali. Não me distanciaria de Haruhi. Não daria a ela, sequer uma chance de escapar de mim. Todavia, eu precisava mentir, ou ela apenas continuaria agindo de forma inexplicável e ferindo-se, sem contar com ninguém. Ela continuaria sozinha.

Mesmo que fosse uma mentira, senti-me uma pessoa terrível, quando vi a maneira como Haruhi olhou para mim, quando eu disse aquilo. Parecia que ela iria desmanchar-se de dor.

- Você faria isso? – ela perguntou em uma voz calma, muito diferente do que seu rosto me mostrava.

- Sim, eu faria. – afirmei, tentando passar confiança – Se eu irei ficar em um clube de apenas duas pessoas, quero saber a razão disso.

Ela, dessa vez, começou a chorar, de verdade. Eu podia sentir, através das minhas mãos, que ainda estavam nela, o corpo dela soluçar convulsivamente. O seu cabelo negro caia por cima de seu rosto, mas era impossível não ver as rápidas lágrimas que desciam com desespero. Eu achei que havia exagerado. Não era justo ser tão cruel com ela, não importando as razões para isso. Se o equilíbrio do mundo tinha um preço assim, não seria eu a pagá-lo. Já ia pedir a Haruhi que esquecesse o que eu havia dito, quando a ouvi dizer:

- Eu não quero outros membros! – ela disse isso, com uma sinceridade forte e triste – Eu não quero! Eu quero brincar com a Asahina-san, tomar o chá dela e fazer mais cosplays para ela! Eu quero ver a Nagato demonstrar pouco a pouco seus interesses, e fazer coisas incríveis nas atividades da nossa brigada! Eu quero poder saber que posso contar com o Koizumi-kun, conversar com ele e me divertir com ele! Eu sinto falta deles! De cada um deles! Eles são meus insubstituíveis colegas de brigada!

- Haruhi. – eu apertei os ombros dela, foi um gesto inconsciente, ou assim penso – Por que você não diz isso a eles? Por que você os expulsou da sala? Se você tivesse pedido a eles que ficassem aqui, eles certamente teriam atendido.

- Eu não posso! – ela gritou, parecendo ofendida. É válido constar que ela ainda chorava. – Kyon, você não entende?!

- É óbvio que eu não entendo!

- Se eles queriam ficar ao meu lado... Se eles queriam permanecer na brigada... Por que eles foram a uma faculdade diferente da minha!?!

Eu não havia pensado nisso, mesmo sendo essa, uma relevante questão. Por que diabos Nagato, Asahina-san e Koizumi haviam ido a universidades diferentes, se todos eles eram favoráveis a manter a unidade original?! A prova de admissão daquela faculdade não era tão difícil. Eu havia passado. Para Nagato, aquela prova não deveria ser muito diferente de um jogo de ligar os pontos, para um adulto. Koizumi também tinha inteligência o suficiente para concorrer a qualquer curso, naquela faculdade. A sensação de incompreensão que os diálogos dele transmitiam, provavam isso. Realmente, a dedução mais provável seria a de que eles não queriam manter-se no clube de Haruhi.

“Droga. Isso faz todo o sentido. Como eu posso argumentar contra algo assim?”

Eu nunca conseguia pensar bem sobre pressão, e eu estava claramente sendo pressionado, naquela situação. O universo dependia da resposta que eu daria. Essa dependência do universo sempre me deixou exausto. E não era apenas aquilo. O simples fato de Haruhi estar chorando daquele jeito, já me deixava completamente confuso. Eu sabia que tinha que animá-la, mas como!?! Eu não fazia idéia do que ela queria ouvir! Ela estava bem há apenas algumas horas, não estava? O que havia acontecido?

- A Suzumiya-san é sempre direta em relação aos seus desejos, mas seus sentimentos não são tão diretos. Às vezes, a raiva pode ser tristeza e a decisão pode ser confusão. Pense nisso e tente animá-la.

Entendi. Ela não estava bem. Ela certamente havia me dado alguns sinais, mas eu os ignorei. Koizumi disse que ela havia aprendido a lidar melhor com suas perdas, não era? Vendo-a assim, eu entendi o que ele queria dizer. Ela apenas apreendeu a controlar seus sentimentos, mas isso não queria dizer que eles tivessem se esvaído. Sentimentos dolorosos ainda seriam dolorosos, mesmo que ela conseguisse manter-se forte em relação a eles.

Por que ela tinha que ser tão complexa? Eu odiava o fato de entendê-la tão pouco. Odiava o fato de ter que depender de outras pessoas, incluindo Koizumi, para fazê-la feliz. Por que eu não poderia ser o suficiente para deixá-la alegre?

“Eu não tenho tempo para pensar em algo assim!”

- Haruhi!

Ela olhou para mim. O susto pela intensidade da minha seriedade, fez com que suas lágrimas parassem um pouco.

- O que foi?

Eu não perderia para a brigada, para Koizumi, para a entidade de dados integrados, para a agência de viajantes do tempo, para a agência de espers, nem para qualquer um que por acaso se interessasse por ela.

- Eles possuem seus próprios objetivos de vida, mas isso não quer dizer que eles quisessem sair da brigada! Afinal, todos eles vieram aqui por conta própria, não é!?! Por que eles fariam isso se quisessem sair da brigada!?! Não faz sentido!

- Eu acho que eles estavam com pena de mim ou algo desse gênero... – ela murmurou, irritada, desviando seu olhar. Eu a fiz olhar para mim novamente.

- Acorde! Quem teria pena de você!?! Você é o ser menos digno de pena, da Terra! Se eu estou aqui e se eles vieram aqui, não foi por ter pena de você, e sim, porque nós gostamos dessa brigada! Por mais que você seja uma líder sádica, e que nossas atividades nos matem de exaustão, todos nós nos divertimos muito, no colegial! A nossa adolescência teria sido bem menos interessante, sem essa brigada, e é por isso que queremos nos manter nela!

- Nesse caso, por que eles iriam para outras faculdades, mesmo percebendo que não poderiam voltar a fazer parte do clube, se fizessem isso!?!

- Eles não estão pensando na brigada, como um clube de colégio! Essa brigada é universal! Algo como faculdades diferentes não significa nada em relação a ela!

Eu não sabia de onde havia tirado forças para mentir e elogiar a brigada tão efusivamente. Nagato e Mikuru queriam permanecer na brigada, por motivos que eu não podia contar a Haruhi. Koizumi queria permanecer na brigada por motivos que eu não queria contar a Haruhi. O resultado final foi uma grande defesa de algo completamente improvável, motivado provavelmente pelos meus próprios sentimentos. Eu não sentia pena de Haruhi. O motivo pelo qual eu estava naquela brigada, era porque, apesar dos pesares, eu nunca tive dias tão interessantes quanto os que eu tive, quando estava lá. E o motivo pelo qual eu estava a consolando não era pena.

Ela abaixou os olhos e os ergueu novamente, mostrando neles nítidas suspeitas. Ela parecia uma testemunha tentando reconhecer um réu. Eu não fazia idéia se minhas palavras seriam suficientes. Eu gostaria de acreditar que sim, mas ela era imprevisível. Somente pude me acalmar, quando vi aquele terrível sorriso surgindo no rosto dela, novamente:

- Você tem razão. Como eu pude pensar que alguém rejeitaria a minha brigada? Eu definitivamente não cometerei mais esse tipo de erro!

“Que pessoa simples. Além disso, há outros erros com os quais você poderia se preocupar, sabia?”

- É bom ver que você está animada novamente. – eu comentei, sem energia. Eu sabia que o fato dela ter se animado novamente, traria terríveis conseqüências a longo prazo.

Ela sorriu para mim, alegremente. Era um sorriso genuíno. Exclusivo para membros da brigada.

Eu me perguntava por quanto tempo ele seria exclusivo.

Haruhi estava mudando. Mesmo conservando sua natureza excêntrica, ela estava mudando, e a uma velocidade assustadora que eu não conseguia acompanhar. Se ela continuasse a mudar tanto, eu deixaria de ser necessário para ela.

E a verdade é que não eu queria isso.

Eu estava cansado de ignorar o que eu sentia desde o colegial, apenas porque ela era uma garota excêntrica. Se ela fosse diferente do que era, eu nunca teria me submetido a tanto, apenas para permanecer ao lado dela. O que eu sentia era algo simples e clichê. No entanto, o fato de sentir isso justamente por ela, talvez me tornasse mais excêntrico do que a própria Haruhi. Sigh. Eu já havia chegado ao meu limite.

- Ei, Haruhi.

- O que é?

Sem dizer nada, nem dar tempo para que ela reagisse, puxei-a pelos ombros firmemente e a beijei. Assim que senti a minha boca encostar-se a dela, aquele calor familiar e aquela estranha noção do quanto ela era macia, espalharam-se como uma corrente elétrica por meu corpo. O que havia se originado de uma decisão racional, começava a ganhar as características de um impulso, já que eu simplesmente não conseguia deixá-la ir. Mesmo que meu fôlego estivesse em seu limite e que meu coração estivesse exausto, eu simplesmente não conseguia soltá-la. Por que diabos eu não havia feito aquilo antes!?! Era visível o quanto eu queria! O meu corpo sabia melhor do que eu, o quanto eu estava desesperado. A brigada inteira provavelmente sabia o quanto eu estava desesperado. O Taniguchi sabia! Apenas eu e Haruhi não havíamos percebido aquilo. Céus! A Haruhi! De repente, percebi que fiz algo sem consentimento, sem ter nenhum motivo aparente, e que não havia parado para dar nenhuma explicação. Essa súbita realização me fez empurrar Haruhi para longe.

Eu não tinha coragem para encará-la. Ainda estava muito agitado. A verdade é que não imaginei que teria uma reação assim, quando fizesse aquilo. Eu não tinha nada específico para dizer a ela. Pelo menos, nada que eu desejasse dizer.

- Kyon, você...

- Não fale sobre isso! – eu praticamente implorei – Por enquanto, não fale sobre isso!

Ela pareceu irritada.

- E quando eu supostamente devo falar sobre isso!?!

- No meu leito de morte. – respondi, sem hesitação, seriamente.

Ela franziu as sobrancelhas e cruzou os braços, encarando-me com impaciência. Diferente de mim, que não mal conseguia olhar para ela, ela não parecia alguém que havia acabado de receber um beijo. Na verdade, parecia que eu havia feito algo irritante. É claro que eu não esperava que ela ficasse completamente vermelha e começasse a gaguejar algo como “O-O que eu sinto por você...”, mas ela pelo menos podia agir como se algo incomum tivesse ocorrido, não? O fato dela sequer se mostrar surpresa, me deixava um tanto frustrado.

“O que eu fiz?” – me perguntei, colocando a minha mão sobre meu rosto. Eu me deixei influenciar pelas palavras daquele esper pouco confiável e não agi de maneira racional. O que eu estava pensando? Eu realmente tinha alguma expectativa? Eu não me via como alguém tão ingênuo.

Levantei o rosto para tentar falar sobre algum assunto qualquer para tentar ignorar o que havia acabado de acontecer, e me surpreendi ao ver que ela havia posto um rabo-de-cavalo. Ele não era tão comprido. Provavelmente seria visto como um aprendiz entre os rabos-de-cavalo, mas ainda assim...

- Isso... é uma autorização? – perguntei, piscando os olhos, surpreso demais para sequer ficar feliz.

- Não fale sobre isso, agora. – ela comentou, aborrecida.

- Então, quando?

- No meu leito de morte!

Nesse ponto, não consegui mais me deter e aproximei meu rosto do dela. A verdade é que eu ainda hesitava um tanto. Aquela situação era estranha e havia a possibilidade que eu houvesse compreendido mal alguma coisa ou que a própria Haruhi tivesse entendido mal, e que eu fosse golpeado pelo que tentava fazer, por isso, senti-me aliviado, quando a ouvi dizer: 

- Se essa for uma piada derivada de um estranho tipo de humor, saiba que eu o punirei até que seu corpo e mente se tornem totalmente inutilizáveis!

Ela disse essa frase, fechando os olhos, com força, em uma expressão aborrecida quase tímida. O que indicava que apesar de andar em trajes de bunny-gail ela não era tão ingênua assim. Felizmente.

Eu estava a poucos centímetros de realizar meu objetivo, quando a porta foi aberta por aberta por Koizumi.

- Olá. Eu não estou atrapalhando algo, estou? – ele perguntou, sorridente. Maldito esper. Não era bastante óbvio que ele estava atrapalhando algo!?! Além disso, aquele timing havia sido excessivamente perfeito! Há quanto tempo você estava nos observando, seu voyer!?!

- Koizumi-kun!

Diferente de mim, Haruhi parecia consideravelmente feliz em ver Koizumi. Ela afastou-se de mim e foi imediatamente na direção dele. Embora eu entendesse os motivos dela, aquilo ainda me chateava um pouco.

- Eu disse que continuaria a vir. – ele comentou, como se tentasse se explicar para mim – De qualquer forma, eu vim solicitar a Suzumiya-san que me permita continuar na brigada.

Ela deu um sorriso vitorioso e um pouco maligno como Dalila, após receber o dinheiro por ter entregado a fraqueza de Sansão. O que havia na mente dela?

- Tudo bem! Você está autorizado a permanecer, Koizumi-kun, mas, é claro, haverá um teste para as suas aptidões, antes que você possa se firmar como membro de nossa brigada, novamente!

“Essa é a mesma pessoa que estava chorando para que os membros da brigada permanecessem? Por alguma razão, um teste dela me parece similar aos doze desafios enfrentados por Hércules. Não permita uma armadilha assim, Koizumi! A Asahina-san provavelmente não seria capaz de sobreviver!”

- Um teste? Compreendo. A idéia é verificar se nosso desejo de voltar ao clube é verdadeiro a ponto de nos permitir nos manter nele e verificar de que forma nossas habilidades pessoais podem ser úteis a ele, não é? Como o esperado da Suzumiya-san.

Não a elogie em uma situação como essa!

- Muito bem! Espere aqui, Koizumi-kun! Eu irei contatar a Yuki e a Mikuru-chan! Elas precisam vir imediatamente para que vocês possam iniciar seus testes em conjunto!

Enquanto Haruhi berrava no celular coisas como “O quê!?! Mikuru-chan, pare de chorar e venha logo para cá!” decidi falar com Koizumi sobre algo que me incomodava.

- Ah, você não gostou que eu tivesse interrompido vocês dois? Desculpe-me. Eu apenas achei que seria divertido irritá-lo um pouco.

“Isso também me incomoda, mas não é esse o ponto. Além disso, não assuma coisas assim como se elas fossem completamente naturais.”

- Se vocês queriam permanecer na brigada, desde o início, por que não entraram na mesma faculdade que a Haruhi, desde o início?

- Isso não foi decidido pela nossa vontade. – ele falou em um tom baixo o suficiente para que Haruhi, que berrava ao telefone, não nos ouvisse – A corporação e os grupos responsáveis pelas duas damas acreditaram que algo como nos colocar na mesma faculdade que a Suzumiya-san seria como forçar nosso grupo a permanecer unido e se essa não fosse a real vontade de Suzumiya-san, isso poderia ter conseqüências negativas futuramente. Em resumo, queriam testar se o que ela queria era apenas uma brigada ou a nossa brigada em sua forma original.

- Que diferença isso faz?

- Ah, você não vê? – ele disse, aproximando o rosto do meu, para o meu total desgosto – O grupo de Nagato defende que a Suzumiya-san deve apenas ser observada, portanto, uma interferência seria algo inaceitável. O meu grupo apenas deseja agradá-la, então nós não a forçaríamos a permanecer em um mesmo grupo, caso ela desejasse outro. Eu não sei bem os motivos da Asahina-san, mas acredito que ela simplesmente foi incapaz de passar na prova de seleção dessa faculdade.

“Por que você tem uma opinião tão ofensiva a respeito da Asahina-san?”

- O que você quer dizer é que se Haruhi desde o início tivesse dito que queria que vocês permanecessem na brigada, nada disso teria ocorrido?

- Exatamente. – ele disse, dando de ombros, parecendo divertir-se com aquela idéia.

- Eu irei matá-la. Peço humildemente a você que testemunhe a meu favor, no tribunal.

- A verdade é que também tive meus próprios motivos para concordar em ir para outra universidade.

- Ah, mesmo?

“Eu não estou interessado em ouvir sobre sua vida pessoal.”

- Por alguma razão, eu achei que seria interessante ouvir a Suzumiya-san dizer que sentia minha falta.

- Ah, sei.

- Eu estava apenas brincando. Você não precisa ficar tão aborrecido.

Eu me surpreendi com aquele comentário.

- Eu não estou aborrecido.

- Claro. – ele disse, dando uma pequena risada que me deixou convencido que eu estava aborrecido com ele, embora talvez os motivos que imaginávamos fossem diferentes. – Ah. Venha aqui. Eu gostaria de lhe mostrar algo.

Ele me levou até a janela. O que diabos ele queria me mostrar? O pôr-do-sol japonês? Ele diria alguma frase profunda para concluir aquela cena?

Ele nem precisou apontar para o que eu precisava ver. Era algo óbvio e eu fechei a cortina imediatamente, com medo que Haruhi visse. O fato que Koizumi provavelmente queria me mostrar aquilo indicava que eu provavelmente não estava alucinando, mas eu quis confirmar, pois, mesmo para mim, aquela situação era absurda demais.

- Você viu aquilo? – perguntei, encostado na janela como se quisesse impedir que ela fosse derrubada pelos bárbaros.

- Sim. Pessoas como eu, Nagato-san e Asahina-san somos capaz de enxergá-las. Começou há alguns minutos. Já haviam aparecido algumas, nos últimos dias, no horário em que a Suzumiya-san volta para casa, mas nunca haviam sido tantas. Nós tememos que elas tornem-se visíveis para as outras pessoas, portanto, tente acalmar a Suzumiya-san, sim?

- Como assim? O que você espera que eu faça?

- Eu tenho uma teoria.

- Quando você não tiver uma, ficarei convencido da vinda do fim dos tempos.

- Ah, você tem tanta confiança assim em mim?

Ele certamente sabia ser desagradável.

- Seja breve. Por que isso está acontecendo?

- Atenderei ao seu pedido. Nos últimos dias, conforme eu disse antes, a Suzumiya Haruhi provocava esse evento, sem perceber, no seu horário de retorno para casa. Você consegue imaginar por quê?

- Não faço idéia. Eu me conformo com o fato que ela é simplesmente estranha.

- Eu vou tentar lhe dar uma dica: você não se lembra de nada acontecendo no horário de retorno da Suzumiya-san?

- Não, não aconteceu nada anormal.

- Você pode afirmar isso?

- Sim, eu estive voltando com ela, durante todos esses di...

De repente, a realização. Foi algo como uma pancada. Eu estava feliz, mas estava realmente constrangido pelo fato de Koizumi ter percebido aquilo e estar claramente me olhando com deboche, portanto, minha expressão não era exatamente o reflexo da alegria. Além disso, a súbita percepção da relevância da minha influência em Haruhi era perturbadora.

- Sério? – eu perguntei, um tanto incrédulo.

- Sério. – ele disse, divertindo-se com aquilo – Na verdade, a Suzumiya-san até pouco tempo não estava tendo essa manifestação, mas depois de algum tempo, desde a sua entrada, esse evento começou a ocorrer de modo incontrolável. Eu não sei o que aconteceria se eu não tivesse interrompido vocês.

- Eu sei bem o que aconteceria.

- É por culpa sua que a Suzumiya-san está instável novamente. Você se responsabilizará por isso? – aparentemente, ele havia se irritado com a minha provocação, mesmo que ele ainda sorrisse placidamente.

Tínhamos sorte que Haruhi estava ocupada falando no telefone, com alguém que ela chamava de “patrocinador”, enquanto planejava sabe-se lá que tipo de evento estranho. Ela estava distraída demais para reparar em meu diálogo com Koizumi e isso me deu a oportunidade de tirar minhas dúvidas e concluir o assunto de forma precisa.

- O que eu devo fazer? Eu não entendo de que forma o que eu fiz, provocou isso!

- Um evento assim ocorre sempre que a Suzumiya-san contém seus sentimentos.

- Como assim?

- Que tipo de sentimento você acha que ela estava tentando esconder?

Novamente, aquilo era terrivelmente desconfortável.

- Que tsundere...

- Eu acredito que você seja mais resistente aos seus sentimentos do que ela. Seria fatídico se você transformasse em alguma força os seus sentimentos contidos. De qualquer modo, parece que vocês ainda precisarão de mim, por algum tempo.

- Não há nenhum modo de mudar isso?

- Se a Suzumiya-san sentir-se confortável o suficiente para expressar claramente o que sente por você, isso não acontecerá.

Sentir-se confortável o suficiente, huh?

- No meu leito de morte!

Certamente demoraria.

- Enquanto isso, será necessário que eu permaneça ao lado dela.

- Tudo bem.

- Mesmo?

- Conviver com você é menos desagradável do que você pensa.

Ele pareceu momentaneamente surpreso, mas rapidamente voltou a sorrir, dessa vez de um modo um tanto irônico, mas sincero.

- Nós voltamos a ser amigos?

- Nós alguma vez já fomos amigos?

Ele deu uma risada. Ele era alguém irritante, mas não era exatamente uma má pessoa. Depois de tantos assuntos pendentes esclarecidos, era impossível que tivéssemos o mesmo relacionamento de antes, mas, quem sabe, fosse divertido tê-lo como rival. Eu não poderia mais ter o mesmo tipo de relacionamento com Haruhi. Com a Asahina-san. Quem sabe, até com a Nagato. Naquele ano, o meu primeiro ano na minha vida como universitário, eu percebi que muitas coisas haviam sido encerradas.

- Koizumi-kun, Kyon! Venham depressa! Nós temos que pegar a roupa de batalha da Mikuru-chan!

- Roupa de batalha? Você não disse que faria uma prova para ver se ela seria admitida novamente na brigada?

- Estúpido. A história de Atalanta é a prova absoluta de que competições não podem ser vencidas apenas com o nudismo.

Então, era isso. O patrocinador era alguém que por motivos suspeitos disponibilizou algum cosplay bizarro com conotações eróticas, que seria usado por Asahina-san, e agora, eu e Koizumi, que tecnicamente ainda nem era membro da brigada, teríamos que ir buscá-lo. Além disso, era normal ela chamar de “estúpido” um cara que havia acabado de beijá-la?

- Eu não estava sugerindo que a Asahina-san tivesse que ficar nua. Além disso, não foi a nudez dela que fez Atalanta perder. Não use a mitologia clássica como desculpa para vesti-la com roupas absurdas.

- Detalhes assim são insignificantes. – ela disse, me lançando um olhar de desprezo.

“Você não acabou de dizer que era uma prova absoluta!?!”

Ela, de repente, pegou minha mão e começou a me carregar para fora da sala. Pensando bem, aquilo era bem comum. Ela sempre fazia isso, quando não usava técnicas mais violentas, para me fazer ir aonde ela quisesse. No entanto, se eu simplesmente permitisse que ela me carregasse aonde ela queria, ela veria aquilo, portanto...

- Haruhi.

Eu apertei a mão dela. Ela olhou para mim, como se eu segurasse um revólver.

- O que foi?

- Nada. Vamos.

Ela olhou para a minha mão, depois olhou para mim. Fez isso cerca de três vezes, até berrar, parecendo aborrecida:

- Você é idiota!?!

Mesmo gritando algo assim, como se estivesse aborrecida, ela não soltou a minha mão. Apesar de muitas coisas terem terminado, muitas haviam acabado de começar, naquela brigada. Não eram exatamente melhores ou piores que as anteriores. Simplesmente novas. Com todas as suas qualidades e defeitos. Haveria momentos em que aquelas mudanças fariam com que eu me arrependesse de todas as minhas decisões até então, assim como haveria momentos em que eu me sentiria satisfeito com as minhas escolhas. Depois, provavelmente a brigada mudaria, assim como o meu relacionamento com todos, mas isso não era realmente relevante. O mundo trata-se disso, afinal. De inícios e fins. No entanto, eu tinha razões para ser otimista em relação ao meu incerto futuro. Afinal, no céu que eu gostaria de impedir que ela visse até que ela se acalmasse um pouco, centenas de bolhas coloridas voavam, brilhando, refletindo os sentimentos dela e os meus futuros problemas.

- Você é tão agressiva assim como modo de disfarçar os seus profundos sentimentos por mim, não é?

- O aumento de temperatura da Terra está lhe afetando diretamente?

- Você não precisa reagir assim, afinal...

- Você estava dizendo algo estúpido. Era óbvio que eu precisava responder de maneira impiedosa. - ela me interrompeu, mas eu a ignorei e prossegui:

-...eu provavelmente faço algo parecido com isso.

Aquilo talvez fizesse o número de bolhas impedirem a chegada da luz solar a crosta terrestre, mas esse seria um problema que Koizumi e os outros resolveriam. Afinal, como o escolhido dela, eu tinha esse privilégio. O direito de enxergá-la simplesmente como Suzumiya Haruhi. E dessa vez, eu não desperdiçaria isso.

- P-Por que você está dizendo coisas tão bregas!?! Seu idiota!

Ainda que eu tivesse uma longa jornada, pela frente, nós ao menos a percorreriamos de mãos dadas.

FIM

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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem essa one-shot. Ela foi um pouco mais complicada do que a média - para a autora, claro - e fico feliz por finalmente conclui-la. Eu agradeço pelos comentários e egoistamente peço por outros.XD
Como eu disse, eu irei aceitar três desafios de fics "harukyon" ou "koiharu", portanto, mandem suas sugestões.^^
Por favor, continuem acompanhando minhas one-shots e torcendo pelo casal!^_^



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