- Esse livro é totalmente babaca, Rosie – Um exemplar do Pequeno Príncipe foi jogado em cima do pergaminho em que Rose estava escrevendo seu dever de casa de transfiguração e ela levantou os olhos para encarar o amigo. 

- Babaca? – Ela ecoou incrédula – Pelo amor de Merlin, Scorpius, esse livro é um clássico.

- Não muda o que eu disse. O cara que escreveu isso aí devia estar tendo algum relacionamento afetivo com cogumelos alucinógenos.

A ruiva fechou a cara e apertou o livro contra o peito protetoramente.

- Cala a boca, Scorpius, você é que não conseguiu entender as metáforas.

O loiro riu ironicamente, fazendo Rose ainda mais irritada.

- As metáforas? Quantas metáforas podem existir em um menino que mora em um asteróide e passa o dia inteiro falando com uma flor?

- O valor da amizade, gênio.

- Com uma flor?! Ora, Rose, nem com magia as flores falam.

- Scorpius, é uma metáfora! Podia ser uma pedra, continuaria a ser uma metáfora sobre amizade!

- Mas não faz o menor sentido! – Exclamou teimosamente -  Mas vamos fingir que isso está ok; qual é o grande e misterioso duplo sentido em ele viajar com um bando de pássaros no universo?!

A ruiva revirou os olhos.

- Eu me recuso a responder isso.

- Porque você sabe que não tem argumentos – Constatou o loiro, com ar prepotente

- Não, porque você está se apegando em detalhes menores! É um livro fantástico, Malfoy, você só não quer admitir isso.

- Não, não é. É um livro completamente sem sentido, você é que vê metáforas em tudo.

- Scorpius, isso é...

- Por que vocês estão discutindo? – Perguntou Albus, se jogando em uma cadeira.

- Ah, nada, Scorpius só estava me mostrando sua grande capacidade de ser limitado. – Disse Rose, levantando as sobrancelhas ironicamente para o amigo.

O loiro refletiu o gesto, embora este parecesse mais irritado quando no rosto dele. Albus suspirou cansado, já longamente acostumado aos conflitinhos em que Rose e Scorpius se metiam.

- O que aconteceu dessa vez?

- Só sua prima tentando me convencer que é a rainha da verdade de novo. - revidou.

- Não é minha culpa se a sua mente é tão fechada que não consegue reconhecer nem uma metáfora.

- E você só quer me obrigar a gostar dessa porcaria para que eu te diga que você está certa!

- É claro que não! Eu só...

- Os dois, chega! – Exclamou o moreno - Qual é o motivo dessa vez?

- Rose praticamente me obrigou a ler esse livro estúpido e ficou brava quando eu disse que não gostei. – Explicou Scorpius, olhando acusadoramente para Rose.

- Eu não fiquei brava porque você disse que não gostou, mas porque seus motivos estão longe de ser válidos. – Retrucou a menina, cruzando os braços.

Ambos se encararam diretamente nos olhos por um momento, em completo silêncio, um desafiando o outro a apresentar o próximo argumento. Então, explodiram em uma gargalhada.

- Queria entender. Mesmo. – Resmungou Albus revirando os olhos. Já, mais de uma vez, tinha ouvido a explicação de que olhar diretamente nos olhos de alguém dava uma vontade imensa de dar risada, embora só tivesse visto isso na pratica quando se tratava de Rose e Scorpius.

- Qual é a graça? – Perguntou uma voz suave, vinda de trás de Scorpius. O loiro se virou e deu de cara com o rosto bonito e naturalmente provocante de Jamie Camber. A moça tinha as madeixas negras presas em um rabo de cavalo desleixado, deixando escapar algumas poucas mexas que balançavam em frente aos seus olhos cor de carvão, escondidos por detrás dos óculos de leitura. Nos lábios cor de abóbora, um sorriso sarcástico.

- Oi, eu nem te vi aí. – Cumprimentou o loiro, passando um braço ao redor da cintura da quartanista. Ela devolveu o cumprimento com um beijo provocante no canto da boca do garoto Malfoy.

- Oi, Al – Disse despenteando os fios negros do garoto com a mão e ganhando um sorriso alegre do outro em resposta. – Weasley. – o tom de voz de Jamie endureceu consideravelmente. Por alguma razão, aos outros dois, desconhecida, a relação de Rose e Jamie já nascera ruim e forçada.

- Camber.

Jamie desviou os olhos e voltou a contemplar o namorado.

- Então, qual é a graça?

- Você já leu O Pequeno Príncipe?

- Aquele livro trouxa? – Perguntou a morena e Scorpius assentiu – Ah, já sim.

- O que você achou dele? – Uma expressão de expectativa cobriu as características do loiro.

- Ah... Não sei, não é ruim.

- Não é ruim?! – Exclamou Rose. – Por Merlin, Camber, esse livro é mais do que bom.

A morena levantou uma sobrancelha sarcasticamente.

- Não que eu tenha pedido a sua opinião, Weasley, mas eu acho o livro razoável, não mais do que bom.

Scorpius e Albus se entreolharam, prevendo o que estava por vir.

- Ah é? E por quê? Por que o autor tinha um relacionamento afetivo com cogumelos alucinógenos? – Scorpius fechou a cara quando Rose citou suas palavras e Jamie franziu as sobrancelhas, confusa.

- Não era bem assim que eu ia falar, mas sim, é mais ou menos isso.

- Olha, quer saber? – Disse a ruiva, prensando o exemplar do Pequeno Príncipe contra o peito do loiro – Vocês dois são cabeça-fechada e se merecem. Eu desisto.

E com isso, a ruiva virou de costas e subiu as escadas para o dormitório pisando duro e deixando para trás dois garotos chocados e uma garota assistindo suas costas se afastarem com um olhar astuto.

Jamie: