Do I Know You From Somewhere?

Rose olhou para o garoto parado ao lado do enorme trem de Hogwarts, se perguntando onde já o havia visto. Ele parecia ter mais ou menos a idade dela e sua postura elegante era estranhamente familiar à garota Weasley, tal como seu cabelo, seus olhos e até o sorriso discreto que ele enviou à mãe.

- Então aquele é o pequeno Scorpius. – a voz de seu tio cortou seu raciocínio e aquele nome agitou o cérebro de Rose. Era impossível que não se conhecessem! Rose sabia que a memória estava ali, mas não conseguia fazê-la vir à tona de jeito nenhum.

Os olhos cinzentos do garoto se conectaram aos dela e ele franziu as sobrancelhas, como se os dois estivessem fazendo exatamente a mesma pergunta naquele momento: De onde eu conheço você?

Uma mão pálida pousou, então, no ombro dele, guiando-o para longe, e, logo antes de desaparecer na grossa neblina produzida pelo trem, o loiro se virou a tempo de lhe lançar um último olhar curioso.

Flores. Cupcake. Homem do Saco.

- Puta que o pariu – externou, fazendo Hugo (provavelmente o único que a ouviu) a repreender com os olhos. – Por Merlin, isso não pode estar acontecendo.

- Isso o que? – Perguntou Albus, olhando-a um tanto preocupado.

- Eu só... Nada, esquece. – respondeu distraída, se perguntando qual era o problema de Merlin com ela; De todas as pessoas que podiam ter presenciado aquela cena infantil e constrangedora em que Rose quase se cagou de medo do Homem do Saco, tinha que ser ele, um bruxo que freqüentaria Hogwarts com ela.

Será que ele se lembrava dela? Rose rezava pra que a resposta fosse não.

-... Não deixe de superá-lo em todos os exames, Rosie. Graças a Deus você herdou a inteligência da sua mãe. – A voz do pai chegou aos seus ouvidos e a menina olhou para ele, se perguntando de quem diabos ele estava falando.

Com só metade da atenção, a menina Weasley ouviu a mãe reprimir o pai, dizendo alguma coisa sobre não indispor os dois antes mesmo que se conhecessem. Humph, se ela soubesse.

Então ocorreu à Rose: Não havia muitas pessoas que tinham a antipatia de seu pai, não a ponto de ele não querer que seus filhos se relacionassem pelo menos. A ruiva bateu a palma na testa, se amaldiçoando por não ter percebido aquele detalhe óbvio antes. Scorpius era, afinal, muito parecido com o pai, o Sr Malfoy.

Ótimo, pensou, outro motivo pra eu não falar com ele.

Um apito alto foi produzido pelo trem e Rose se despediu rapidamente da família antes de saltar para dentro.

                                     -X-

Rose encarou o primo, totalmente boquiaberta.

- Isso é sério, Al? – ele acenou afirmativamente com a cabeça.

- Meu pai que me disse. Dá pra acreditar que a gente pode escolher em que casa vai cair?

- Cara, isso é ... – A ruiva se calou, sem palavras. Desde pequena, Rose tinha medo que o Chapéu Seletor a colocasse na Sonserina, pois sabia que seu pai provavelmente faria picadinho dela se isso acontecesse. E agora Albus estava dizendo que eles podiam escolher a casa em que ficariam. Aquilo não estava mais nas mãos do destino. – Isso é ótimo! Nós dois podemos escolher ficar na Grifinória.

- É – Respondeu animado – Pelo menos eu ia conhecer alguém da minha casa.

Rose sorriu maliciosamente.

- James está lá.

- James não conta – Retrucou o moreno – Já é o suficiente ter que aturá-lo em casa.

A ruiva respondeu com um sorriso astuto. Sabia perfeitamente que, embora Albus e James implicassem um com o outro o tempo inteiro, eles amavam ficar juntos. Al tinha até dito que era divertido brigar com James, uma vez.

A porta da cabine se abriu e Rose viu os olhos cor de tempestade de Scorpius pela segunda vez naquele dia. Em reação àquilo, ela corou e virou o rosto para a janela.

- Oi, eu posso ficar aqui? – Pediu. – as outras cabines estão cheias.

Diga que não, diga que não, diga que não...

- Claro, entra ai. – Rose quase bufou. Sabia que o primo nunca seria grosseiro com alguém gratuitamente. – Eu sou Albus Potter e essa é minha prima, Rose Weasley.

Ela se virou timidamente para ele e viu a expressão que mais temia contornar sua face; Reconhecimento.

- Rose... Como a flor? – Sussurrou ele, um sorrisinho lentamente envergando seu rosto.

- Olá, garoto do cupcake. – revidou, corando loucamente. Scorpius riu.

- Você lembra! – Exclamou.

- Vocês se conhecem? – Perguntou Al, com as sobrancelhas franzidas.

- Haham, eu salvei Rose de ser raptada pelo Homem do Saco uma vez – provocou o loiro, sorrindo maliciosamente.

- Cale a boca – Rose não pode se impedir de rir.

Scorpius Malfoy sorriu e se pois para dentro da cabine, fechando a porta logo atrás de si. Rose não conseguiu se impedir de pensar que talvez conviver com o garoto Malfoy não fosse tão ruim assim.

                                      -X-

- Peter Jackson.

A voz da diretora Mcgonagall ecoou pelo Salão Principal, fazendo Rose estremecer nervosamente. Nem ela, nem Albus e nem Scorpius tinham sido chamado ainda e a menina sentia onda após onda de incerteza acertá-la; Não seria melhor deixar que o Chapéu Seletor escolhesse em que casa colocá-la? Essa era a função dele, afinal, ele tinha sido criado especialmente para isso. Não, era melhor deixá-lo escolher. Com toda a certeza, a escolha dele seria melhor que a dela.

Por outro lado, Rose estava morrendo de medo de ser colocada na Sonserina, ou em qualquer outra casa em que não se ajustasse bem. Apesar de tudo, o Chapéu somente conheceria sua cabeça agora, diferente dela, que a conhecia há onze anos. Talvez fosse melhor que ela escolhesse.

- Albus Potter – Ela e o primo trocaram um olhar nervoso antes de Al caminhar em direção ao banquinho de três pernas, onde a diretora poria o Chapéu Seletor sobre a sua cabeça.

Um segundo, dois segundos, três segundo, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze...

- Corvinal! – Rose olhou para frente, surpresa, e viu o primo ir se sentar com a massa de estudantes vestidos em azul e prata. Seus olhos se encontraram e Al deu de ombros, deixando claro que aquela decisão tinha sido do Chapéu.

- Rose Weasley.

A ruiva mordeu o lábio nervosamente e se encaminhou para frente, sentando no banco logo em seguida. Sua visão escureceu quando o Chapéu Seletor afundou em sua cabeça e cobriu seus olhos.

Hm, o que é que nós temos aqui? Um pouco de sensibilidade, uma pitada de senso de humor e inteligência, ah sim, uma vontade enorme de aprender. Eu vejo coragem também, e vontade de deixar uma marca no mundo, nem que seja uma cicatriz, sim. Então, onde é que eu vou colocá-la, Srta Weasley?

Rose apertou as bordas do assento nervosamente. Era agora: Escolhia ou deixava o Chapéu escolher?

Saber ponderar todos os lados antes de tomar uma decisão, Srta Weasley, é uma das melhores qualidades da... Corvinal!

A última palavra foi gritada para todo o salão e Rose, debaixo de aplausos, foi se sentar ao lado de Albus na mesa de sua recém-adquirida casa.

- Você também deixou ele escolher? – Perguntou Al sorrindo nervosamente quando eles estavam lado a lado.

- Haham, e você?

- Mais ou menos. Ele tentou me mandar para a Lufa-Lufa, mas eu sabia que você nunca ia entrar lá.

A ruiva riu. Ela sabia que Al morria de medo de não fazer amigos na casa dele.

- Você mudou de casa para ficar junto comigo?

O garoto Potter corou intensamente.

- Não, é só que... Ah, você sabe, eu achei que ia ser legal, sabe, se nós, quer dizer, se nós pudéssemos ficar na mesma casa porque se tudo desse errado, nós pelo menos não ficaríamos sozinho e...

A risada da ruiva cortou o discurso engasgado do primo.

- Ei, Al, está tudo bem. Eu não ia querer ficar sozinha também.

- Ah, é, ok. – Albus ficou ainda mais vermelho e deu um meio sorriso hesitante para Rose, que o retribuiu.

A garota Weasley desviou os olhos para a fila de seleção, onde Scorpius ainda aguardava, tão pálido que chegava a assustar. O loiro a olhou e Rose pode ver pânico bruto preencher seus olhos cor de tempestade.

Ela lhe ofereceu um sorriso confortador.

- Seja forte e eu te pago um cupcake – Disse só com o movimento dos lábios, ganhando um sorriso nervoso de Scorpius. Seria bom ter o garoto com eles na Corvinal, pensou. Rose sabia que eles provavelmente seriam amigos, estivesse ele na casa que fosse, apenas pelo tempo em que eles passaram no trem. O loiro era tudo o que a ruiva pediria em um melhor amigo.

Mas talvez Rose pudesse ...Ponderar todos os lados antes de tomar uma decisão... Não haviam lados para serem ponderados naquela situação. A decisão era óbvia.

- Ei – Scorpius fez um pequeno aceno com a cabeça, sinalizando que estava ouvindo. – Peça para o Chapéu Seletor te colocar na Corvinal. - Ele fez uma careta confusa e Rose se perguntou se ele não tinha entendido a leitura labial ou se não achava possível fazer o que ela tinha dito.

- Scorpius Malfoy – O loiro lhe enviou um último olhar confuso, antes de ir para frente. Rose percebeu que os aplausos que o recém-adquirido amigo tinha recebido eram substancialmente mais fracos do que os dela e os de Albus. Babacas preconceituosos, pensou irritada.

A garota estava começando a ficar nervosa; E se Scorpius não tivesse entendido o que ela tinha dito? Se ele fosse para outra casa, eles só poderiam se ver nos horários vagos e nas aulas conjuntas.

- Corvinal!

Rose soltou um suspiro de alívio e, junto com o primo, bateu palmas enquanto Scorpius cambaleava até eles, com um enorme sorriso estampado no rosto.

- Você... Me deve... Um cupcake – Riu ele, totalmente sem fôlego