Hoje eu tinha acordado cedo, meu pai estava trancado no quarto como sempre, mas eu acho que ele estava conversando com o Jimmy, sua unha de estimação que ele guarda em um pote. É que um dia ele cortou a unha do pé e falou que ela tinha um formato de um cachorro, mas eu não acho. No dia que ele me mostrou eu quase vomitei, porque o Jimmy estava fedendo e todo podre.

Eu fui dar uma volta pelo bairro, faltava muito tempo antes da aula começar, eu adorava andar na rua, pois ninguém fica te chamando de esquisita ou fica te olhando torto, lá eu me sentia como uma pessoa normal.

Pelo menos até aquela mulher esquisita ficar me encarando, ela estava cuidando de seu jardim da frente. Seus cabelos eram curtos e castanhos, seus olhos eram azuis, seu rosto era fino, e seu nariz era empinado. Ela me olhava, estreitando os olhos, como se estivesse com raiva de mim.

Eu achei que ela soubesse que eu tenho um pai problemático, mas ninguém sabe só os alunos da Learning and Growing. Eu apressei o passo, e passei pela casa dela, tentando não prestar atenção.

Chegando em casa eu me arrumei e fui para a escola a pé, mas tive que dar uma volta mais longa para chegar a escola, pois não queria passar na frente daquela casa. Eu cheguei à escola um pouco atrasada, mas ainda estava no começo da aula. Quando entrei na classe todos estavam rindo de mim, até uma menina que eu acho entrou na escola há pouco tempo.

Eu sentei na minha carteira meio confusa, não sabia qual era a graça, até que o Henry, que senta ao me lado, chegou bem perto de mim, com uma cara séria não achando nada engraçado e sussurrou no meu ouvido:

- Annie, seu sapato está sujo.

Eu olhei para o meu sapato, e vi que nele estava preso uma caca de cachorro. Eu fiquei vermelha de vergonha então sai correndo para o banheiro, dava para ouvir as risadas aumentando quando eu saí da classe, também ouvi uns passos me seguindo, provavelmente era um dos alunos querendo me irritar.

Eu entrei no banheiro bem rápido peguei um pedaço de papel higiênico e limpei meu sapato. Eu acho que estava tão aflita na hora em que vinha para escola, pois eu não queria passar na frente da casa daquela mulher de novo, que nem percebi quando pisei naquela coisa gosmenta.

Eu estava tentando limpar o mais rápido possível, pois a aula já havia começado, então comecei a pensar:

Como um coco de cachorro estaria lá se ninguém da vizinhança tinha cachorro?

Como isso não está fedendo? Pelo o que eu saiba cocos fedem.

Quando eu terminei, joguei o papel sujo no lixo, e sai do banheiro, de repente eu dei de cara com o Henry, encostado na parede enfrente a porta, ele olhou pra mim com uma cara de “sei de tudo” e depois falou:

-Era falso.

Eu não fazia a mínima idéia do que ele estava falando então respondi:

-Então ta.

Virei-me, dei as costas para ele, e fui em direção a sala de aula, como se eu não quisesse conversa, apesar de eu estar super curiosa para saber do que ele havia falado. Ele me seguiu e resolveu explicar:

-O coco era falso, você pode comprar em uma loja de 1,99.

-Como você sabe?

Eu falei séria, tentando não mostrar interesse.

-Eu já comprei um desses, eles são da mesma cor que uma caca real, do mesmo jeito, apenas uma coisa mostra que isso é falso, o cheiro, ele não tem o mesmo cheiro do que o real, ele tem cheiro de mercadoria.

Ele falava sério como se tentasse ajudar, nós estávamos quase chegando à classe quando eu parei de andar, ele parou também, olhei em seus olhos, eu continuava séria e respondi:

-Porque você está tentando me ajudar?

-Você não quer ajuda?

Ele respondeu confuso, eu fiquei parada, olhando para ele ainda séria, mas dentro eu estava totalmente confusa. Eu queria a ajuda dele, mas ao mesmo tempo, eu não queria, pois ele já brigara comigo antes.

Eu fui até a porta da classe sem falar nada e ele veio atrás de mim, logo que entramos a professora olhou para nós, brava, ela era loira com os cabelos longos e lisos, seus olhos eram castanhos e sua pele era bem clara:

-Vão se sentar, não precisam explicar o atraso. Eu já fui informada.

  Ainda dava para ouvir uns risinhos, e alguns olhos tortos para mim, mas eu fingia não prestar atenção, sentei em minha carteira e passei o resto da aula com uma cara séria.