Série Pacto - Sacrifício escrita por LadySpohr


Capítulo 4
Suposta Verdade


Notas iniciais do capítulo

Aeeeeeeeeeee, eles voltaram! Fãs, podem fazer a dancinha da vitória!!!! ;)
Aí está Bruna e Carol!



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Enfim, se passou no minimo três dias para conseguirmos achar um rumo concreto.

  • - Droga!         - reclamei, batendo o telefone, sozinha em meu quarto, e riscando         outro endereço e outro telefone na agenda de Marc – Como esses         Drácul são esquivos! -eu estava com uma das cartas também, mas         claro que não tinha adiantado muita coisa, afinal, ela tinha sido         escrita no século XIX, se nem os D'Crécy ficaram no mesmo lugar,         imagina os outros!

Me levantei, saindo da cama e resolvi ir encontrar o Jefferson de uma vez, pra ver qual tinham sido os avanços dele, se é que tinha algum, visto que ele estava mais limitado que eu, não era como se ele pudesse sair fazendo telefonemas internacionais. Mas bem, a esperança é a última que morre.

Ele estava no Pastelão, como combinamos, e parecia satisfeito com alguma coisa. Epa.

  • - Não         me diga que você os achou?! - me joguei na cadeira de plástico e         tirei os cabelos do rosto e me abanei, nem era verão, e o calor já         estava de matar.

Jefferson olhou pra mim com certa imparcialidade.

  • - Achei         e não achei – foi sua resposta ambígua, que me fez revirar os         olhos.

  • - Não         existe “achar e não achei”, somente “eu achei” ou “não         achei”.

  • - Na         verdade, essa expressão acaba de se tornar real, porque é         exatamente isso que aconteceu – retomou ele, calmamente, colocando         a cópia da parte dele na agenda – Está vendo esse endereço? -         ele apontou uma das várias linhas preenchidas com a letra inclinada         de Marc.

  • - Sim,         estou, e o que tem isso?

Ele sorriu e sacou uma carta de Amelie do bolso.

  • - Pode         estar em francês antigo, e numa letra péssima de ler, mas vou         traduzir as linhas importantes pra você – ele pigarreou -         “...creio que sua preocupação seja não saber pra onde mandar a         resposta a essa carta, porque é fato que nos mudamos muito e não         nos agrada ficar no mesmo lugar sempre, portando direcione o correio         para a empresa em Viena, ela certamente é ainda pequena, mas em         pouco tempo será um titã em seu ramo, e suas cartas chegarão às         minhas mãos em segurança por um de meus fiéis empregados” -         Jefferson fez uma pausa pra lamber os lábios e então continuou -         “Viena, Rua Stressener, número 1034, Cia de Tecido Weber”, bem,         até aqui poderíamos dizer que talvez a companhia não tenha dado         certo, mas não é o que diz a agenda de Marc, está anotada ali, e         com uma nota, veja por si mesma.

Eu me inclinei, e notei que havia mesmo algo escrito, espremido, mas legível e em português:

Escrever aos nossos amigos ainda este mês.

  • - Meu         Deus! - eu murmurei, não contendo o sorriso emocionado que         despontou pouco a pouco em meu rosto – Isto é fantástico, Jeffe!

  • - Sim,         é mesmo, e ainda posso dizer mais uma coisa – ele guardou a carta         no bolso e seus olhos brilharam – Dei uma pesquisada na internet,         e a empresa existe realmente, e pelo que me parece é a número um         em toda a Áustria. E então? Acho que isso compensa meus dois dias         gastando mesada em cartão telefônico, gastando meu péssimo inglês         tentando me comunicar e também meus nervos soltando fumaça de         tensão – ele olhou pra mim de um jeito exausto e satisfeito ao         mesmo tempo, e eu não pude deixar de rir.

  • - Com         certeza compensa também o ataque histérico do meu pai ao ver o         preço da conta de telefone esse mês, e meu bom inglês         desperdiçado em todas essas chamadas internacionais. Em falar         nisso, parece que terei de viajar...

  • - Por         quê? - indagou Jefferson ingenuamente – É só ligar pra lá e         pedir, sei lá, que seja passado um recado, de que somos amigos dos         D'Crécy...

  • - Ah,         tá, e você faria isso se um estranho te ligasse? - ergui as         sobrancelhas pra ele, cortando aquela ideia que obviamente não         teria retorno.

Ele parou, com a boca aberta, e piscou os cílios, então suspirou.

  • - Merda,         você tem razão, e agora? O que faremos?

  • - Deixe         isso comigo, é pra isso que tenho um passaporte – dei uma         piscadela, que Jefferson devolveu com um arregalar de seus olhos         castanho-claro.

  • - Você         vai viajar até lá?

  • - Lógico,         achei que era óbvio, pelo meu comentário sobre passaporte.

  • - Mas         isso não quer dizer que vai ter mais sucesso que o telefonema –         ele contestou, mas eu estiquei a mão direita pra ele, onde no meu         dedo médio, estava o anel que Marc estava prestes a me dar.

  • - Sou         uma simples humana, mas isso é prova suficiente de que falarei a         verdade.

Jefferson estalou os olhos de novo.

  • - É,         você tem uma prova bem concreta aí – então ele murchou na sua         cadeira – Pena eu não poderei ir junto, é impossível.

  • - Não         se preocupe, a sua viagem irá chegar, creio que esse é apenas o         início da jornada – me levantei e apanhei a bolsa, estava na hora         de agir, e isso significava marcar um voô imediatamente, e embarcar         naquela mesma noite.

  • - E         se eu não puder embarcar na segunda parte da viagem, se você         voltar com os louros da primeira? - Jefferson parecia mesmo         apreensivo, sua expressão dizia claramente que ele não estava         confiante de que me acompanharia e que participaria ele mesmo das         negociações com os Drácul, se fosse esse o caso.

Eu apertei seu ombro e sorri.

  • - Tenho         certeza de que você arranjará um meio, sei que não vai desistir         de Amelie, e nem desse plano, te conheço o suficiente pra saber         disso.

Demorou uns segundos, mas enfim, ele voltou a sorrir, de leve, mas sorriu.

  • - Vá         para Viena, e quando você voltar com as boas novas, eu darei um         jeito.

  • - Esse         é meu garoto! - exclamei, e espalhei os cabelos dele – Eu         manterei contato, fique atento ao seu celular.

  • - Tá         certo, boa viagem, Alê.

  • - Obrigada.

Não esperei muito tempo, marquei a passagem por telefone, e depois de quatro horas de viagem até a capital, eu finalmente cheguei no aeroporto. Uma hora depois, meu avião decolou rumo às respostas que eu mais procurava, rumo aos Drácul.

Jefferson

Quando Alê viajou coloquei meu cérebro imediatamente pra funcionar. O que faria meus pais aceitarem que seu filho viajasse de uma hora pra outra até outro país????

Era nessa ideia que me mantive preso, todos os segundos, minutos e horas, pensando, pensando, pensando...até a exaustão do sono e cansaço me vencer.

  • - Você         compareceu na sua aula de francês ontem? - perguntou minha mãe, no         dia seguinte à partida de Alexandra pra Áustria, na mesa do café         da manhã. Minha avó permaneceria mais um tempo, não que eu         tivesse pedido algo a ela, como me ensinar mais sobre magia, e eu         sabia que se tivesse que enfrentar um perigo eminente ao resgate de         Amelie precisaria saber mais do que formar chamas com as mãos e         fazer madeira pegar fogo só de olhar, isso não seria suficiente.         Mas como eu iria pedir umas aulas sem ela desconfiar das minhas         intenções, até porque tinha certeza de que ela já desconfiava de         alguma coisa, se havia uma coisa que funcionava perfeitamente em         Dona Silvia, era seu radar de detectar atividades ilícitas.

Ergui os olhos do meu prato de bacon e queijo.

  • - Sim,         eu fui – era mentira, eu fora ver Alexandra no horário de francês         – Por quê a pergunta?

  • - Apenas         pra saber, filho, nada demais – quem respondeu foi meu pai,         distraidamente, atento demais ao jornal matinal.

  • - Não         se preocupem, voltei a ser o nerd exemplar de sempre – revirei os         olhos e minha mãe riu.

  • - Será         mesmo? - Elisabete me encarou na sua cadeira ao lado da vovó, seus         olhos azuis perfurando os meus, desconfiados. Aquela moça nem         parecia mais minha irmã de sempre. Elisabete tinha se transformado         num espécie de robô acadêmico, comentava só sobre sua faculdade         e projeto, qualquer outro assunto a fazia calar-se e seu olhar ficar         distante...Era nesses olhares perdidos, sonhadores que ainda podia         ver a antiga Elisabete, a minha irmã meio atrapalhada, mas sempre         com o rosto sorridente e resistente aos perigos e decepções.

Aquela que me encarava ali era um fantasma dela, o maldito robô acadêmico...Se pelo menos ela ainda acreditasse na inocência dos D'Crécy...

  • - Bem,         vai querer verificar? Pode ligar pra escola se quiser – retruquei         rispidamente – E por quê está se importando tanto? Você tem sua         faculdade e …

  • - Chega,         Jefferson - o tom do meu pai foi de aviso.

Abandonei meu café e me levantei da cadeira.

  • - Estou         indo pra escola.

  • - Não         vai nos esperar? - indagou minha mãe surpresa. Eu sempre ia com ela         ou o papai.

Tentei sorrir, mas o que saiu foi mais um esgar. Elisabete me irritava, por sua teimosia, sua falta de confiança, sua falta de coragem de procurar as respostas, pela simples inércia, de aceitar a versão que recebera em forma de um bilhete e um anel. Havia tantos meios de se fazer uma pessoa escrever o que não queria, de roubar um anel...

  • - Não,         desculpe mãe, preciso caminhar, preciso...pensar... - abanei a         cabeça e deixei a frase no ar, apanhando a mochila ao meu lado e         saindo.

O clima estava bom, logo o cerão ia chegar. Mas eu não queria saber do tempo, precisava pensar em soluções, qualquer coisa que pudesse me fazer viajar com Alexandra pra uma segunda viagem, se ela tivesse sucesso na primeira.

A resposta me pegou de surpresa no meio da aula de Matemática. Qual o único motivo pra meus pais me deixarem viajar em plena reta final na escola?

Minha educação. Eram professores, valorizavam isso acima de tudo, jamais negariam uma viagem que me traria benefícios culturais. Era isso! Eu podia ganhar esse tipo de viagem em qualquer concurso, podia até inventar se fosse necessário.

Só precisava que minha cúmplice voltasse agora, e faria minha parte.

Ela deu sinal de vida no dia seguinte.

Jefferson, espero que esteja tudo resolvido! Vamos para a Rússia!”, ela teve que berrar no telefone, por causa da estática, “É lá que os Drácul residem, conseguimos, conseguimos!”

  • - Ah,         Deus! - exclamei baixo, porque era meia-noite, e todos já dormiam         na casa, menos eu, com minha ansiedade martelando meus nervos, não         me dando a paz necessária pra dormir – Não acredito! Graças a         Deus!

Não, não, graças a nós e nossa inteligência!”, contestou Alexandra rindo, “Estou em casa amanhã, me aguarde!”

Eu desliguei o celular e enfiei a cabeça entre os joelhos. Não era aflição, nem nervosismo, e sim alívio. Os Drácul estavam na Rússia, tudo acabaria bem. Amelie voltaria pro lugar que era seu: ao meu lado.

***

Foi algo surreal como tudo aconteceu. Eu e Alê tivemos que forjar uma promoção de viagem, e ela até pagou pra uma moça ligar pra minha casa, confirmando minha mentira, pra haver mais credibilidade e nenhume desconfiança.

Claro que meus pais, como sempre, cegos diante de tudo que poderia me trazer mais experiência e saber me liberaram pra viagem sem encrencar.

Mas o fato mais marcante, aconteceu uma hora antes de eu me encaminhar para o aeroporto. Minha avó entrou em meu quarto, em passos suaves, quase sem tocar o chão.

  • - Algumas         coisas devem permanecer como são, meu neto – ouvi a voz dela         perto de mim, mas não me virei, continuei de costas, com as mãos         sobre minha mala de viagem – Meu filho e minha nora podem estar         com a visão nublada, mas não a minha.

  • - Não         sei do que está falando, vó.

  • - Oh,         você sabe, Jefferson, sabe muito bem – senti que ela se         aproximava – O que esta viagem vai lhe trazer além de mais dor         meu querido? Você sabe que eles podem ter sumido por conta própria,         e também deixado um assassinato pra trás, por suas próprias         mãos...

  • - Eles         não fizeram isso - minha voz saiu num silvo ofegante, porque eu         falara entre dentes, o queixo tenso – Você pode duvidar de todas         as formas vó, mas eu só busco a verdade, e isso que aconteceu me         cheira a mentira.

  • - Mas         quem mais poderia ter feito isso, Jefferson, além deles?

Relaxei, e me voltei pra ela lentamente. Ela me encarava com preocupação tão intensa que por um momento vacilei na minha decisão, mas a certeza em mim, de que algo não estava certo desde a noite do desaparecimento dos D'Crécy, serviu pra vencer a incerteza momentânea.

  • - Eles         não são os únicos vampiros do mundo, e também não são         desprovidos de inimigos vó, como qualquer pessoa. Às vezes uma         armadilha é tão bem articulada, que acabamos acreditando nela. Eu         só acredito na verdade.

  • - Então         é isso? Acha que foi armadilha de algum inimigo? - ela estava         cética, os olhos duros.

  • - Eu         irei descobrir se não foi, vó, poupe suas energias tentando me         convencer – balancei a cabeça e dei um sorriso torto – Se você         tiver razão em sua teoria, eu pedirei humildes desculpas por não         crer nela vó, mas enquanto eu não descobrir o que houve, é o         benefício da dúvida que conta – passei por ela, me dirigindo a         porta, carregando minha mala de rodas e a mochila grande de viagem.

  • - E         se for a verdade que não quis ver, aquela que encontrar na Rússia?

Eu parei à soleira da porta, as paalvras me atingindo como adagas afiadas.

Se fosse assim...engoli em seco.

  • - Eu         encararei como puder, não se pode negar uma verdade, não?

Ela não me respondeu, e assim, com as palavras dela em minha cabeça, parti para minha viagem. Alexandra já partira horas antes, me esperaria no aeroporto de Moscou.

A mesma moça que ela pagara pra confirmar a falsa viagem por telefone me esperaria no aeroporto, pra meus pais não terem a mínima dúvida.

O resto, é o que já foi contado.

Agora estávamos ali, com a faca e o queijo na mão. Os Drácul eram aliados, sem dúvida alguma.

Andei de um lado pro outro no quarto de hóspedes e fitei a paisagem lá fora, pelo vidro da janela.

Estava caindo neve, coisa que eu nunca vira, e isso me fez sorrir.

Pensei nas palavras da minha avó. O que ela diria agora, se soubesse que sua suposta verdade estava aos pedaços e a que eu acreditava ser sempre a certa, e a qual segui, era a correta?

É, nem sempre idade e magia avançada querem dizer melhor julgamento, e muito menos a verdade suprema.


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