Série Pacto - Sacrifício escrita por LadySpohr


Capítulo 2
Os Aliados da Terra Fria


Notas iniciais do capítulo

LIVRO I - SALVAÇÃO

“Frio é seu silêncio, negando o que é real
Ainda me pergunto o porquê continuo chamando seu nome
E eu me pergunto, oh eu me pergunto...
Em meu coração ainda tenho a esperança que você abrirá a porta
Você pode purificar isso tudo, responda meu chamado”


The Cross
Within Temptation



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Nós somos os irmãos Thomas, nas nossas veias há magia dos nossos ancestrais Saint Germain.

O fogo e o ar nos dão sua benção.

E com eles, nós somos guiados para o fim.

Destruição? Redenção?

Não sabemos.

Seja como for, estaremos juntos, porque qualquer um sabe, que dois é melhor que um.

E fogo e ar são cúmplices nesta terra.

***

A casa era muitas vezes maior que a minha. Na verdade, eu apostava que minha casa cabia na sala. Era onde eu estava. Com Jefferson ao meu lado. Ele observava todo o luxo do ambiente, desde o tapete que ocupava quase o cômodo inteiro, até as cortinas finas e elegantes nas janelas altas, finalizando com móveis antigos caros e um único candelabro gigantesco, que pendia a alguns metros acima de nós.

Vampiros realmente gostavam de candelabros. A mansão onde meu namorado desaparecido morava era cheio deles. Ou pelo menos os que tinham dinheiro. Eu não conhecia mais nenhum.

Além dos D'Crécy, somente os Drácul, e isso porque eu e Jeffe tínhamos ralado muito pra achá-los nesse mundo tão grande. Pode-se dizer que a sorte estava envolvida.

Nós estávamos em Moscou, Rússia.

Sim, inacreditável.

  • Cara, esse retrato é assustador – murmurou Jefferson encarando um quadro pintado à óleo na parede em nossa frente.

Era uma mulher linda e altiva. Vestida com a mais pura seda bege, os cabelos escuros amontoados numa pilha alta de cachos em sua cabeça. Um colar com uma única pedra de ônix, do tamanho de uma bola de tênis, pendia sobre seu colo alvo.

Seu rosto era de um oval suave, e sua boca era vermelha como um morango, no formato de coração. Não pude ver nada de assustador em uma pessoa tão graciosa.

  • Do que está falando? - encarei Jeffe confusa – Ela é bonita. Deve ter sido alguém importante, olha a pedrona no colar dela.

Jefferson balançou a cabeça, seus olhos castanho-claro me observando incrédulos.

  • Esse não é o problema, são os olhos dela. Tenho certeza de que ela não era uma pessoa boa quando era viva – o pomo-de-adão em seu pescoço subiu e desceu – Se é que ela foi humana.

  • Desencana – abanei a mão, e relanceei a vista pros lados. O mordomo que nos recebera dissera que logo o dono da casa desceria, mas ainda não havia sinal dele em parte nenhuma. Estava ficando impaciente – Logo seremos recebidos.

Ele se limitou a dar de ombros e apoiar o queixo em uma das mãos.

Me virei de novo para o retrato. Ela tinha olhos azuis. Um azul-claro tão gélido que senti minha pele se eriçar. Não era a cor, e sim a expressão. Eram perversos e cruéis, essa mulher tinha a morte nos olhos.

Agarrei a mão do meu companheiro de viagem.

  • Merda, você tem razão. Ela não era uma pessoa legal.

  • Eu disse.

  • Quem será que ela foi?

  • Elisabeth  Bathory.

Eu e Jeffe pulamos e abafamos os gritos com as mãos. Giramos no sofá ao mesmo tempo. Ali, diante de nós estava uma figura masculina de estatura média, e um magnifíco cabelo de ébano encaracolado. Chegava a refletir a luz do candelabro. Seus olhos eram de um tom profundo de musgo, e seu rosto estava atento aos dois convidados momentaneamente apavorados. Meu coração ia romper minha pele e sair quicanco pelo tapete, juro.

  • Perdoem-me. Não era meu desejo deixá-los assustados – seu timbre, era claro, mas brando, e ele falou em português. Entendido, vampiros eram bilíngues ou até mais. Suas passadas foram tão mansas quanto a voz quando se encaminhou até onde estávamos – Há muito não recebo visitas inesperadas, ainda mais relacionados aos meus amigos D'Crécy.

  • Ahm, é um prazer conhecê-lo – Jeffe teve sua mão estendida apertada.

  • O prazer é meu. Seu nome?

  • Jefferson.

  • Nome de herói revolucinário americano.

Jefferson conseguiu dar um sorrisinho pesaroso.

  • Tenho um pai professor de História.

Então, Mikail Drácul sorriu. E que sorriso. Ao mesmo tempo educado e radiante. Séculos de prática, hem?

  • Explica a situação. E você senhorita? - ele revistou cada linha do meu rosto minunciosamente.

  • Sou Alexandra. É um prazer conhecer você.

Em vez de apertar minha mão, ele se inclinou e a beijou.

  • Uma honra, senhorita – ele fez uma mesura ao voltar a sua posição – Alexandros, traga um vinho aos meus convidados.

Como se tivesse atravessado a parede, o mordomo reapareceu. Abafei outro grito trincando os dentes. Cassete! Será que eles não podiam bater os pés antes de aparecer?

Ele acenou e se retirou tão sinistramente quanto entrara. E então ele sabia português também, o que me fez torcer a boca. Eu tinha dado tudo do meu inglês quando ele abriu a porta pra nos receber.

Mikail se alojou numa poltrona larga e estampada de cetim florido, a alguns passos de nós. Parecia um móvel saído de Versalhes. Bom, provavelmente era.

  • E então? Quais são as notícias dos D'Crécy? Não os vejo desde 1825, em Viena – ele sorriu novamente, com mais alegria – Lembro-me que dancei com Amelie a noite inteira, ela era linda como uma noite de estrelas.

Uau. Nem mesmo Marc tinha dito algo do tipo pra mim.

  • Ainda é – respondeu Jefferson, com a cara fechada.

Mikail reparou, mas ignorou com um leve levantar de sobrancelhas.

  • Sim, eu sei. Eu a pedi em casamento na mesma ocasião – ele riu e me encarou - Mas fui delicadamente rejeitado.

Era um desperdício sem dúvidas. Mikail pareceu ler minha mente, porque deu uma piscadela matreira pra mim.

Jefferson estava de punhos fechados. Dei uma cotovelada nele assim que Alexandros retornou com uma bandeja de prata, onde haviam três cálices e uma garrafa. Com um floreio ele retirou a rolha e serviu o líquido tão vermelho quanto sangue nos cálices.

Empurrei o primeiro recipiente pro Jefferson, dizendo claramente através dos olhos pra ele engolir aquilo e parar de ser um idiota ciumento. Não era uma boa hora.

Alexandros se retirou e depois de dar um gole, Mikail voltou seus olhos musgo de novo pra nós.

  • E então? - era uma continuação da pergunta anterior.

  • Os D'Crécy desapareceram. Sumiram. Puff! - respondi, sem hesitar – A casa está fechada.

  • Sabe se há mobília? - ele lançou em seguida, eficiente.

  • Sim, o que...

  • …  é estranho – Mikail completou minha centença com precisão – Algum movimento estranho pelo lugar antes do desaparecimento?

  • Não – foi Jeffe que respondeu – Por isso viemos até aqui, precisamos de ajuda. Sei que não foram por conta própria.

  • Como tem tanta certeza? - Mikail colocou as mãos em frente ao rosto, formando uma casinha.

  • Amelie não faria isso comigo – Jefferson respondeu, simplesmente.

  • Sim,  ela não faria – concordou Mikail desfazendo sua casinha e cruzando os dedos – Nenhum deles deixaria de dizer adeus a pessoas queridas, os conheço o suficiente pra dizer tal coisa. Eles sempre foram muito sociáveis, fazendo amizade onde iam. Apenas Hugo e Jacques eram mais fechados. Desde quando eles estão desaparecidos?

  • Três semanas atrás – falei – Por acaso sabe de alguém que pudesse, sei lá, sequestrá-los?

  • É verdade, lembro que Amelie me disse sobra a aliança que vocês fizeram contra uma outra família.

  • Clã – corrigiu o vampiro, em tom frio.

  • Hãm, é, clã – continuou Jeffe aparentando nervosismo – Mas não lembro mais quem eram. Ela me contou rapidamente.

  • Marc também falou alguma coisa, sobre uma fam... - cortei o que estava dizendo quando recebi um olhar verde nada amistoso - ...clã perigoso. Mas não disse nada sobre alianças, nem nada disso.

Mikail girou o cálice nas mãos, e ficou em silêncio por vários segundos.

  • Nós fizemos uma aliança uma vez, numa questão grave de reivindicação de território de caçada.

  • De humanos? - engasgou, Jefferson, tossindo.

  • Por quê está surpreso? - o vampiro deu uma fungadela – É disso que vivemos.

  • Por favor, continue – pedi, lançando ao irmão da minha melhor amiga um olhar macabro.

  • Este clã roubara territórios tanto habitáveis quanto de alimentação da minha família. Por direito de sangue era nosso, herança. Mas os inimigos não acataram nosso pedido de sair. Então, como os D'Crécy habitavam o lugar junto com eles, resolveram falar comigo. Não  preciso dizer que Julian é um homem justo – ele deu um sorriso de lábios suave – Só que isso acarretou a fúria do clã. E o que houve foi sangue e massacre. Nada fora do comum em nosso meio. Mas tanto nós, os Drácul, quando os D'Crécy fomos jurados de vingança.

Ele parou de falar.

Houve um silêncio pensativo no sofá.

Perigosos. Marc me dissera que eram perigosos. E perigo se juntou muito bem a vingança.

  • Stuart -sussurrou Jefferson.

  • Hã?

  • Stuart. É o sobrenome deles - repetiu ele, erguendo a cabeça – É isso não é?

  • Sim. Stuart.

  • E por quê não nos disse de uma vez? - ralhei, do jeito mais educado que pude.

Acho que consegui porque Mikail riu.

  • Eu sabia que iriam lembrar. É interessante ver humanos resolvendo charadas.

  • Não teve graça pra mim, mas não importa – comentou Jefferson ainda perdido em pensamentos – São americanos?

  • Ingleses. Mas como ainda há garantias de que estejam lá na Inglaterra? Corremos bastante pelo globo.

  • Acharemos os filhos da mãe, não importa onde. Quero Marc de volta – declarei, sentindo a raiva me pinicar. Só voltei a mim quando percebi que Mikail me avaliava de maneira peculiar. Como se tentasse ver o que havia dentro de mim.

  • Marc era um verdadeiro guerreiro. Cabeça no lugar e um cérebro feito pra guerras. Escolha excelente a dele. Parece-me que a senhorita é muito corajosa e impetuosa, temperamento forte. Ótima companhia ao meu caro Marc.

Eu abri o maior dos meus sorrisos. Que eu e Marc éramos uma dupla dos diabos eu já sabia.

  • Não poderia haver outra melhor – completei, me remexendo no meu espaço.

Mikail fez uma mesura com a cabeça.

  • Tenho certeza que não. Assim como não poderia haver pessoa melhor para Amelie – ele tirou Jeffe dos devaneios, que escancarou os olhos.

  • Devo ser, ela gosta de mim – ele finalmente parecia mais tranquilo.

  • Ama, meu jovem, ama. Se ela não o amasse teria casado comigo – Mikail disse, mas Jefferson já não parecia mais incomodado com a informação – Sinto que é uma pessoa gentil, e o mais valioso, há bondade e determinação em você. Irá até o inferno atrás de Amelie, estou certo?

  • Completamente – confirmou Jefferson, dando um sorriso confiante.

  • Bom saber que tenho aliados com essas qualidades. Quanto tempo podem ficar?

  • No máximo duas semanas – respondi – Eu e Jefferson não podemos perder muitas aulas.

Mikail acenou a cabeça lentamente, compreensivo.

  • Entendo. Eu farei alguns contatos durante este tempo. Tenho bons amigos na Inglaterra. Nosso único problema é que os Stuart são bons em desaparecer sem deixar rastros – então ele abriu os lábios num  sorriso que me deu medo de verdade – E caso eles sejam os responsáveis por tal ato, minha família e outros amigos que conhecem os D'Crécy terão prazer em provar nossa amizade.

Pude sentir pelo movimento de aproximação que Jeffe ficara tão perturbado quanto eu. Mikail estava muito semelhante ao retrato de Elisabeth Bathory – sei quem foi ela e dispenso apresentações, a mulher era uma louca sanguinária – com os olhos de morte.

  • É-é, b-bom – gaguejei, quando ele se levantou da poltrona, arrastando o roupão de veludo vermelho. Eu não disse que ele estava de roupão? Tá, agora está sabendo – Por acaso sua família m-mora aqui também?

  • Moram, mas no momento estão fora, provavelmente em alguma festa, procurando comida. Irão conhecê-los brevemente. Aliás, estão em algum hotel?

  • Estamos, e temos... - me ergui do sofá, seguida por Jeffe, que parecia tão ansioso quanto eu pra dar o fora.

  • Dêem o nome do local e meu motorista irá buscar seus pertences. Ficarão melhor instalados aqui – cortou, Mikail gentilmente. Mas aquele olhar ainda estava ali. Controlei a vontade de sair correndo. Mesmo que eu soubesse que a ameaça não era dirigida a mim.

  • Mas... - tentei argumentar.

  • Eu insisto – ele penetrou seus olhos verdes dentro dos meus. Nesse momento senti um calor fraco formigar pelo meu corpo. Por quê não ficar? A casa era linda. E faria uma desfeita a alguém tão requintado e bonito.

  • Não use isso nela – as mãos de Jefferson estavam frias, assim como sua voz – Nós ficaremos – o calor formigante tinha sumido, e minha tensão voltara aos músculos do meu corpo.

A expressão de Mikail foi de espanto.

  • Você cortou a persuassão? Como o fez?

  • Se  você não usá-la mais talvez eu te conte – respondeu Jefferson de rosto sério.

  • O que você é? - sussurrou, Mikail, imerso no rosto do meu aliado.

  • Já disse. Talvez eu conte, mas não nesse minuto – repetiu ele, agora mais secamente – Onde vamos ficar?

Antes que o anfitrião respondesse, ouviu-se risos masculinos em unissono a femininos. Em menos de um segundo a sala tinha mais de três. Agora eram oito, contando os três rapazes e as duas moças que pararam pra nos olhar.

Um dos rapazes acenou pra mim, dizendo algo em russo.

  • Eles não são daqui – avisou o chefe da família – São amigos da bela família D'Crécy.

  • Ah! Seja bem-vindos, quem é amigo de Alienor é amigo meu! - o rapaz do aceno se aproximou animado – Vocês cheiram bem. Aliás, eu sou Dimitri! - ele fez gesto pro restante do grupo, que ainda nos olhavam surpresos – Deêm boas-vindas à eles! Vão ficar aqui, Mikail?

  • Sim, temos uma situação problemática nas mãos relacionada aos nosso amigos amaldiçoados.

  • Mesmo? - a moça mais próxima de Dimitri não pareceu feliz – Bem, teremos que nos meter, temos uma dívida muito grande com eles – Olá, eu sou Catarina Bathóry.

Antes que pudesse me conter, eu estava dando um passo atrás e caindo de volta no sofá, com o coração na mão. Jeffe não se mexeu, mas estava horrorizado.

Então todos eles riram. Menos Catarina.

  • Depois de três séculos ainda não tem graça alguma – ela brigou com o restante – Eu era prima de Elisabeth. Mas não me banhava em  sangue, não se amedrontem. Ela me transformou antes de ser pega por um grupo de fanáticos e virar poeira – ela tinha os mesmos olhos, mas eles eram amistosos e quentes, e seus cabelos eram louros e era mais baixa – Sinceramente, fiquei feliz com isso. Ela era medonha.

Uma morena alta e de porte gracioso se aproximou de mim.

  • Ela está falando sério. Sou Lena. Espero que fiquem tempo suficiente para conhecerem Moscou – a mão dela era fria, mas macia, e seu sorriso era grande e amigável. Ela me lembrou de alguma maneira de Amelie, e senti vontade de chorar. Eu faria o possível e impossível pra recuperar todos eles.

  • Não sei se haverá tempo para isso, querida Lena – declarou um dos caras atrás de Dimitri, ele era mais baixo que o outro, mas seu tom de cabelo louro e seus olhos castanhos com pontos dourados, já valiam por si só – Se trata de aliados. Não se pode ficar de turismo em uma situação assim.

L           Lena piscou os olhos castanhos.

  • Acho que tem razão. Este é Belenus. E aquele ali – ela acenou na direção do último vampiro, que se mantivera calado – É Thor.

      Ele fez uma saudação discreta com a cabeça. Seu cabelos eram castanhos-chocolate, e caiam por seus ombros com delicadeza. Seus olhos eram da cor de avelã. Assim como o líder, ele tinha alguma coisa, uma autoridade que era palpável. A sensação só era mais intensa da parte de Mikail. Não havia dúvidas de quem era o segundo em comando.

  • Nós somos...

  • Alexandra e Jefferson – completou o vampiro silencioso, Thor.

  • Como...? - crocitou Jeffe, boquiaberto.

O anfitrião sorriu pra nós, misteriosamente.

  • Ossos do ofício – ele se dirigiu a Thor – Onde estão Ejnar e Kolinka?

Meu Deus. Tinha mais deles?

Foi Lena quem respondeu.

  • Ficaram no clube. Eles tem muita sede. Logo voltarão.

  • Sim, irão – disse Mikail em um tom estranho, meio ameaçador – Alexandros.

Dessa vez não morri do coração. Parece que ia ter de me acostumar ao mordomo fantasma, entrando e saindo das paredes.

  • Ordene ao motorista para ir buscar as bagagens de nossos convidados e trazê-las pra cá. Diga a Roza para guiá-los até seus quartos – com um sorriso totalmente diferente, Mikail girou a cabeça pra mim e Jefferson, que estava muito ocupado de olhos escancarados, observando os outros vampiros – Eu irei sair meus jovens, trazer para casa o resto da minha família. Sintam-se em sua própria casa, peçam o que quiserem a Alexandros e Roza – uma mulhar esguia, vestida com um uniforme preto e branco, surgiu próxima de Mikail –  Aqui está ela. Trate-os com a honra que lhes é merecida.

Ela fez um “sim” formal com a cabeça.

  • Thor, Dimitri, Belenus – Mikail saiu imperiosamente da sala, seguido dos outros três homens.

Eu e Jefferson ficamos na companhia das mulheres. Sem saber o que falar. Mas isso não pareceu incomodá-las.

  • Roza – chamou Catarina sem olhar para a empregada, muito concentrada em tirar o pesado casaco de lã escura e cara do corpo – Prepare o jantar para nossos convidados. Nós já estamos alimentados, mas creio que Jefferson e Alexandra não – ela sorriu pra nós e se retirou, com o andar preguiçoso, na direção do corredor da esquerda.

  • Faça (ainda to decidindo que sopa russa vou colocar aqui). Eles gostarão da sopa mais famosa da Rússia – complementou Lena, com entusiasmo – Com licença.

Ela girou o longo cabelo liso e também se foi, sumindo pela entrada do corredor à direita, seu vestido longo e preto sussurando no ar.

Então estávamos nós e Roza, parecendo esperar mais alguma ordem.

  • Você fala português? - indagou Jefferson, com praticidade.

  • Sim, senhor – ela respondeu, limpidamente.

Rolei os olhos.

  • Todos devem falar umas duzentas mil línguas – murmurei.

Roza me encarou e depois deu um sorriso de lábios.

  • Na verdade, madame, todos nesta casa falam quase todas as línguas usadas no mundo. Temos muito tempo sobrando.

  • Quantos anos você tem? - Jefferson atacou, de sobrancelhas cerradas. Dei um olhar de aviso à ele. Eu podia ter dado um soco naquele rosto. Ela podia ser vampira, mas ainda era uma mulher, não se pode ficar perguntando a idade desse jeito!

Só que Roza não pareceu ofendida, na verdade, seu sorriso se abriu.

  • Tenho cento e dez anos.

  • E os outros? - continuei. Foi a vez do meu companheiro me olhar com estranheza. Ah, vamos lá, só ele podia questionar as coisas por ali?

E de novo Roza foi prestativa. Notei que na aparência ela poderia ser apenas um ou dois anos mais velha que eu. Seu cabelo escuro e ondulado estava preso num coque severo, que em vez de deixá-la mais velha, apenas mostrava como seu rosto redondo era juvenil.

  • Meu mestre, Mikail Drácul, tem duzentos e mais alguns anos, nunca soube exatamente. Thor tem duzentos também, mas é mais jovem que o mestre Mikail. Ejnar e Kolinka tem ambos seiscentos e cinquenta, Catarina trezentos e quinze, Lena trezentos e nove, Alexandros trezentos e quatro, mas o mais velho mesmo é Belenus. Acho que tem mil, mas não com certeza, ele nunca disse.

  • Uau – sussurrou, Jeffe, piscando e de boca aberta.

Eu fiquei confusa. Então não podia ser a hierarquia do mais velho.

Como se lesse minha cabeça, Roza interrompeu meu raciocínio.

  • Não é como pensa. A família pertence ao mestre Mikail. Belenus foi adotado algum tempo depois de Thor. Não esqueçam de quem meu mestre foi ancestral e de quem é seu nome.

  • Meu Deus. Ele é mesmo...? - Jefferson não conseguiu terminar.

  • Sim, primos – confirmou, Roza, como se não fosse nada demais seu chefe ter sido consanguíneo de Vlad Tepes.

Estava na hora de irmos descançar. Precisava de tempo pra assimilar.

- Quero ir pro meu quarto, Roza. Por gentileza.

  • Mas... - começou a protestar Jeffe, mas um olhar fumegante de minha parte o fez calar.

  • Ele também quer conhecer onde vai dormir.

  • Madame, senhor – ela se inclinou polidamente – Por favor, me sigam.

Foi o que fizemos. E enquanto eu acompanhava os passos ágeis de Roza, pensava em como tudo nos levara a uma das terras mais geladas do mundo...



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Notas finais do capítulo

não resisti gente! Tive que postar!

Bruna, Carol, Anna...nosso retorno é na Rússia! p.s: favor ouvir Divano, do ERA. ;) agora sim, é ate semana que vem!



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