Autora narra:

Ela olhava tudo com uma fúria evidente nos olhos. Seu corpo rígido estava tentando se controlar ao máximo para não ser dominado completamente pelo ódio que percorria em suas veias.

Como ela ousava? Ela, uma “plebéia” - como a garota chamava as pessoas não populares - havia ganhado uma música romântica em sua homenagem? E ainda por cima de Sieghart, a pessoa que a rosada lutava tanto para conseguir a séculos. 

Bufou, descruzando um dos braços rígidos e jogando os cabelos longos e sedosos para trás. Isso não iria ficar assim.

Quando Sieghart se aproximou da ruiva, parecendo beijar seus cabelos, a furiosa espectadora não conseguiu se conter. Ela não iria ficar assistindo seu orgulho ser esmagado dentro de seu peito. Girou em um movimento rápido e brusco, lançando os fios cor de rosa para todas as direções, acertando os rostos de alguns ao redor. Eles reclamaram, mas ela não ligou.

Enfiou-se naquela multidão de corpos tentando encontrar a porta por onde entrara. O aperto era realmente frustrante, deixando sua saída mais demorada. A garota tentava empurrar as pessoas ao lado, sem se importar com os bons modos ou mesmo com a gentileza, isso era a última coisa que passava em sua mente agora.

- Saiam do meu caminho seus idiotas! – exigiu, mal sendo ouvida por causa dos gritos estridentes da platéia enlouquecida. Irritou-se. O centro das atenções pela primeira vez não era ela.

Empurrou mais forte, com brutalidade todos em seu caminho. Espremeu-se contra os espectadores ali presentes, andando em passos lentos e cheios de esforços até seu destino.

Passo a passo, e finalmente saíra daquele local amontoado de gente, atravessando a porta da arquibancada do teatro e entrando no corredor da escola. Sua mandíbula estava rígida e seus dentes trincados. Ela ainda tentava manter o orgulho em pé, erguendo o queixo e andando rápido, sua coluna impecavelmente ereta. Jogou os cabelos para trás novamente e ajeitou a franja perfeita, mais por capricho do que por necessidade.

Estava atravessando o corredor vermelho e vazio, indo aleatoriamente em qualquer direção que a levasse para longe daquele lugar irritante, quando um riso baixo antecedido de uma bufada sem jeito a fez olhar para o lado. O menino, encostado na parede, estava de braços cruzados. Seu pé direito apoiava-se na parede atrás de si e seu sorriso brincalhão, com um leve toque de ironia, tomava conta de seu rosto.

- Legal a música, não? – disse o ruivo, olhando maliciosamente dentro dos olhos da rosada, irritando-a.

Ela o fuzilou com o olhar, fazendo o sorriso do garoto aumentar. Todos na escola sabiam que a rosada corria atrás de Sieghart e isso pela primeira vez era um problema para ela.

- Não fale comigo, idiota. – virou o rosto novamente, dando mais um passo determinado.

- Não fique chateada, senhorita número um, até você leva foras...

Amy trincou os dentes, apertando as mãos em punho. Ela pôde sentir suas próprias unhas machucarem as palmas. Respirou fundo, engolindo o máximo possível de raiva que pôde e respondeu, com um sorriso evidentemente falso.

- Não sei se você percebeu, seu plebeuzinho irritante, mas minha popularidade está caindo drasticamente só por eu estar ao seu lado... – ele revirou os olhos, ainda sorrindo. Amy não gostou de sua reação, mas tentou ignorar – E eu não estou a fim de decair até seu nível, então... Me dê licença...

- Toda. – Jin descruzou os braços, fazendo uma reverencia improvisada para a passagem de Amy.

Ela ergueu novamente o queixo e voltou a andar no mesmo passo de antes, rápido e brusco, fazendo um eco forte naquele corredor desabitado e vazio.

- Só tome cuidado para não atropelar as pessoas no seu caminho. – murmurou ele para si mesmo, fingindo coçar o cabelo ao olhar para o lado oposto que a garota andava.

- O que? – a rosada virou furiosamente para trás, juntando as sobrancelhas e fuzilando o ruivo. Uma aura maligna percorria seu corpo.

- Ah, o que? Você disse alguma coisa? – ele se fingiu de desentendido, voltando o olhar para a menor, que deu dois passos pesados na direção dele, deixando somente um passo separando os dois.

- Ora você... Repita o que você disse agora! – exigiu ela, esticando as mãos em punho para baixo e inclinando-se levemente para frente, em um movimento superior e autoritário.

Jin, por estar recostado na parede, estava na mesma altura que a menor, mas ela não havia percebido, fazendo com que a altura dele não a intimidasse. Ao sair de sua posição, ele virou, ficando de frente para ela e usou seu antebraço inteiro para apoiar-se na parede, agora, ao seu lado.

Os olhos de Amy batiam no pescoço do ruivo, obrigando-a a olhar para cima. Ela deu um passo para trás, engolindo em seco, mas sem desfazer o rosto irritado e a pose autoritária. O ruivo cruzou as pernas e deu um sorriso torto. Seu sorriso era sarcástico e, no mesmo tempo, atraente, chamando a atenção da menina. Ela tentou não prestar atenção nisso.

- Acho que a senhorita número um está ouvindo coisas...

- Não me venha com essas, plebeu, eu ouvi muito bem o que você disse.

- Se você ouviu, porque quer que eu repita?

- Há! Então você admite? – ela apontou para ele, sorrindo de forma acusadora.

- Admitiria... se eu soubesse do que você está falando.

- Você é muito irritante... pare de se fingir de desentendido!

- Pararia... se eu soubesse do que eu estou fingindo me desentender.

A garota ficou mais irritada do que já estava, principalmente com o sorriso exibido do rapaz. Ele estava a fazendo de idiota? Ela não poderia deixar um simples plebeu se sentir superior a ela deste jeito.

- Olha aqui garoto...

- Jin, por favor. – interrompeu-a, sorrindo de lado. Mesmo que o próprio não percebesse, este sorriso a deixava atraída. Era tão lindo, mesmo ela tentando inutilmente negar para si mesma.

Ele estendeu a mão no pequeno espaço que havia entre os dois, esperando o cumprimento da rosada, que não foi respondido.

- Olha aqui burro de carga – repetiu ela zangada, fazendo o rapaz rir. – Se você acha que eu tenho vontade e tempo para gastar aqui com você, eu sinto muito, mas você está muito enganado. Tenho que voltar para casa e ter meu magnífico sono de beleza, coisa que você provavelmente não deve ter já que sua pele está um horror. – ela colocou a mão na cintura, apontando para várias partes do rosto de Jin. Ele tentava prender um sorriso, fingindo concordar com as palavras dela, balançando a cabeça verticalmente para cima e para baixo – Sei que neste exato momento você deve estar invejando meus cabelos sedosos e lindos e pensando: “Nossa! Como o cabelo dela é perfeito e brilhoso!”, e aí eu digo meu segredo: Eu não gasto meu tempo com plebeus insignificantes feito você. E se você não tiver mais nada de importante a tratar comigo, eu já vou indo.

Ela virou rapidamente, ignorando a mão que Jin ainda mantinha erguida, mas que agora ele recolhera, já sabendo que não teria uma resposta ao cumprimento.

Amy girou tão rápido que seus cabelos, como sempre, voaram perfeitamente para os lados, acertando as pontas macias e lisas no rosto do ruivo que apenas sorriu ao sentir o cheiro doce dos cabelos da menor.

Ela não ligou se o acertou ou não, até desejara que isso acontecesse, esperando ter sido uma chicotada bem dolorosa naquele rosto lindo que a irritava.

- Pequena e “doce”. – murmurou ele para si mesmo em um sorriso brincalhão, olhando Amy se afastar em passos rápidos – Combina exatamente com seu aroma...

Desencostou-se da parede vermelha e colocou as mãos no bolso, virando para onde a multidão agora estava. Caminhou até lá em passos lentos, procurando algo novo para lhe entreter.

- Um aroma delicioso de cereja...

                                               ~~*~~

   O dia amanhecera ensolarado naquela manhã. Já era começo de tarde e faltava um pouco mais que meia hora para as aulas começarem para o pessoal que estudava à tarde.

   Nem todos haviam dormido muito bem naquela noite cansativa e uma dessas pessoas era a rosada, cuja raiva tomara conta de tudo substituindo o sono por inteiro.

   - Aquela maldita... Droga! Sieghart seu idiota, não chegue tão perto! – a menina de cabelos rosa espionava de longe o casal que se encontrava na quadra de tênis. Ela usava uma árvore para se esconder enquanto deixava só os olhos à espreita de novos movimentos comprometedores. – Mas que porcaria! Pare de chegar perto!

   Amy grunhiu de raiva quando Elesis tentou fugir de Sieghart. Mesmo que ela quisesse distância entre os dois, não conseguia aguentar ver a ruiva jogando fora aquilo que ela tanto queria: o menino mais popular da escola.

   A procura de algo para liberar sua raiva, ela começou a socar a árvore de casca grossa violentamente sem pensar, algumas vezes antes de se arrepender.

   - Maldição... – gemeu, apertando a parte dolorida de seus dedos contra sua saia.

   - Muito esperto de sua parte... – comentou sarcasticamente uma voz atrás da garota, fazendo-a arregalar os olhos.

   - Kyaaaaaaaah!!! – gritou ela, quase pulando. Tampou a boca instantaneamente e se pôs perfeitamente de pé atrás da árvore, temendo que as pessoas espionadas a descobrissem. – Você de novo? – resmungou baixo, para que Jin ouvisse.

   - Jogando maldições na sua rival, senhorita número um? – comentou ele sorrindo, irritando Amy. Ela juntou as sobrancelhas.

   - Eu não preciso de maldições nem encantamentos para ganhar daquela plebéia feiosa! – respondeu em um sussurro, ainda cautelosa, não querendo que Sieghart notasse sua presença. Mesmo saindo baixo sua fala, ainda dava para notar a fúria que suas palavras transmitiam.

   Jin franziu o cenho. Ele estava com as mãos preguiçosamente nos bolsos, de frente para a rosada que agora dava as costas à árvore.

  - Sabe... – ele segurou o riso – Esse negócio de “plebeu” e coisa do tipo...

  - O que é que tem? – ela fez um biquinho irritado.

  - Não é meio estranho de se falar? – ele arqueou uma sobrancelha – Até mesmo muito clichê, na verdade, e sem contar que muito preconceituoso...

  O queixo de Amy caiu. Como ele ousava falar mal dos termos usados por ela? Cruzou os braços, deixando sua testa ainda mais enrugada.

  - Você só pode ser muito corajoso mesmo... Um jumentinho de carga querendo falar comigo... Ora, onde já se viu.    

  - Bem, senhorita número um...

  - Pare de me chamar assim, idiota!

  - Você não gosta? – ele fingiu ficar surpreso. Ela revirou os olhos.

  - Não!

  - Sério?

  - Sério! – esbravejou. Jin sorriu superiormente.

  - Por quê?

  - Grrr, porque não!

  Ele riu, satisfeito em ver o rosto levemente avermelhado da garota. Percebera que quando ela enfurecia ou brigava com ele, suas bochechas tinham tendência a corar levemente de raiva. Ele gostava disso.

  O ruivo passou a mão nos cabelos avermelhados para tirá-los de seus olhos, levando-os temporariamente para trás. Os fios não demoraram muito a voltar para o lugar de onde haviam partido.

  Amy não pode deixar de notar que até mesmo sem franja o garoto era incrivelmente lindo aos seus olhos.   

  - Então a partir de agora este vai ser seu apelidinho carinhoso – ele sorriu amigavelmente. Isso a deixou mais furiosa do que já estava.

  - Não ouse. – seus olhos se estreitaram.

  - Então, senhorita número um...

  - Grr, plebeu idiota!

  Ele riu.

  - ...Gostaria de pedir sua licença, por favor. – continuou.

  - NÃO! – mesmo não sabendo do que ele falava, ela estava disposta a negar tudo o que ele queria, só para irritá-lo, o que não acontecia facilmente, para a frustração da mesma.

  - Sabe, eu venho a esta árvore às vezes, na maioria da vezes que tenho tempo livre, na verdade, e fico olhando suas folhas enquanto penso. Gostaria que você fosse um pouco mais para o lado para eu me sentar aqui como faço todos os dias.

  - Sinto muito, mas eu cheguei primeiro, então não vou sair. – ela sorriu falsamente. Sentindo um pouco de satisfação ao negar o desejo do ruivo.

  Ele revirou os olhos dando de ombros. O sorriso de seus lábios nunca sumia. Aproximou-se da rosada vagarosamente. Ela arregalou os olhos ao perceber que a distancia dos dois estava encurtando. O que ele estava fazendo? Seu rosto corou quando viu que não conseguia empurrar-se para trás.

  Antes que qualquer coisa acontecesse, o garoto jogou-se na grama, de costas para ela, sentando encima de seus pés e recostando-se nas pernas macias da rosada. Colocou de forma acomodada e relaxada os braços atrás da cabeça e cruzou os pés esticados, respirando fundo e fechando os olhos, ignorando a garota atrás de si.

  - Vo-você é idiota?! – disse ela envergonhadamente. Como usava saia, suas pernas conseguiam sentir cada traço forte das costas do ruivo por trás da camisa branca e fina. Fios rebeldes movidos pelo vento forte acariciavam as coxas da menor, fazendo cócegas na mesma. Seu rosto ficou ainda mais vermelho depois disto. – Saia daí agora!

  - Claro... se você sair daí antes. – sorriu de lado, deixando Amy contra parede. Nos dois sentidos da palavra.

  Sabia que seu orgulho excessivamente grande era intenso demais para ela dar o braço a torcer. Afinal, não era ela quem havia chegado ali primeiro?

  - Grr, eu não vou sair daqui, plebeu atrevido! – esbravejou, balançando furiosamente as pernas.

  - E eu não vou sair daqui, senhorita numero um. – ele mais cantarolava do que falava. Sua forma superior e brincalhona de agir não agradava a menina.

  - Saia!

  - Você primeiro.

  - SAIA AGORA.

  - Não antes de você.

  Jin riu satisfatoriamente. Pelo visto os dois iriam se atrasar para a aula de hoje.