Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte escrita por H Lounie


Capítulo 12
As rosas


Notas iniciais do capítulo

Hei, o jardim dos deuses realmente existe em Colorado Springs, só que Charles Elliot Perkins não era um semideus, ou talvez fosse. rs



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– Então é melhor irmos logo, você ainda terá que levar o carro a Yuma. – Disse Luke, depois de eu ter explicado a eles o plano.

– Sim, temos dez horas até as 4 AM.

Agora podia-se dizer que eu tinha problemas. O primeiro, claro, consistia basicamente em guiar o carro. Não era um carro comum, era o carro do sol e eu ainda não tinha bem certeza sobre os efeitos do seu uso a noite, mas a julgar pela atitude de meu pai de pedir para que eu usasse a madrugada, só poderia supor que não era a mesma coisa que durante o dia.

– Sabe dirigir isso, não sabe? – Perguntou Annabeth.

– Acho que é uma boa hora para descobrir isso. – admiti. – Não deve ser tão diferente de um carro normal, esse apenas... Voa. E o percurso só vai em um sentido, oeste. Mas fora isso...

– Ele pode incendiar cidades, se eu bem me lembro. – Disse Nico.

– Já andou no carro de meu pai?

– Uma vez. – Concluiu sombrio.

– Certo. – Interrompeu Annabeth. – Velocidade é igual a calor. Esse é o carro solar, você deve começar devagar.

– Mas é noite. – Bom, mesmo sendo obvio, achei válido dizer.

Subimos no carro, eu e Annabeth na frente, Luke e Nico atrás. Havia poucas pessoas no parque, então joguei meu casaco de pele de leão em Luke e comecei a acelerar.

– Mais devagar Lyra – Advertiu Annabeth.

– Certo.

O carro seguia suavemente, então dei um puxão no volante e ele começou a subir.

– Ará! Tenho tudo sob controle, viram? – comentei, satisfeita comigo mesma. – Então Luke, para onde?

– Para oeste, toda vida. – Riu ele.

Não foi difícil, na verdade, foi como dirigir um carro normal, exceto que se houvesse um acidente ficaríamos como passageiros de um avião desgovernado.

Apenas seguia as instruções de Luke, até ele me mandar descer. Daí para frente, seguimos por uma estrada escura e deserta.

– Sabe mesmo para onde ir? Quer dizer, especificamente. – Perguntei a Luke.

– Estou apenas seguindo as instruções de Leto. – Respondeu.

Devíamos estar andando – ou voando – há umas cinco horas. Tínhamos no máximo outras cinco para fazer o que quer que fosse.

– Acho que conheço um lugar. – Disse Annabeth. Oh, é claro que ela conhece um lugar. Ela sempre conhece. – É chamado de Jardim dos deuses. Coincidência, não? Ele foi construído por Charles Elliot Perkins, em 1879. Ele era um semideus, filho de Deméter. Hoje esse jardim é um parque municipal.

– Acho que é para lá que devemos ir. – comentei.

Depois de uma hora vagando pelas ruas vazias, finalmente avistamos uma placa onde com muito esforço pudemos ler ‘ garden of the gods’. Entramos por uma rua mais estreita, até estarmos cercados de pedras altas. A nossa frente, uma estranha construção, baixa e feita de pedras cinzas, em frente a ela uma placa: Double E jardim e Cia.

– Double E jardim e Cia? Não vamos mesmo entrar em uma loja de jardim, vamos? – perguntou Luke. – Isso não me parece muito um bom lugar para procurar um amuleto.

– Chegou mesmo a achar que seria fácil como entrar em uma loja de jardim? – disparou Annabeth, olhando feio para Luke.

– É exatamente onde vamos entrar. – Disse a eles, desligando o carro.

– Por que? – Annabeth perguntou.

– Porque estou certa de que é aqui.

– E porque devemos confiar em você? – Perguntou Nico, descendo do carro. – É a dona da verdade agora?

– Não sou a dona da verdade, mas sou filha do dono. Sabe, profecias, futuro, eu sei sobre as coisas. – Respondi com um sorriso cínico para ele, coisa que nunca imaginei ser capaz de fazer.

– E eu sei que esse é seu defeito mortal. Não Lyra, você não é a dona da verdade. Mas vamos torcer para você estar certa dessa vez.

– Meu defeito mortal? Acho que isso ainda me torna melhor que você. Sempre fechado em seu mundinho de rancor.

Ele não respondeu nada. E aquilo me fez sentir muito mal, mas como se nada houvesse acontecido, rumei em direção a construção baixa, bati na porta e ninguém atendeu.

– Oi? Alguém?

Nada.

– Eu vou entrar. Algo me diz que... Bem, algo me diz alguma coisa.

Sem mais cerimônias, entrei. Senti que Luke me seguia e logo atrás dele, Annabeth. Nico entrou depois, parecia... Triste.

– Lugar estranho.

Tinha flores, e pequenas estátuas e um balcão de vidro com miniaturas de pedra expostas.

Vamos nos separar e olhar por aí. Nós nos encontramos em cinco minutos, certo? – Errado, mas eu não queria parecer medrosa, então apenas concordei com Luke.

Segui por um corredor estreito ao lado direito, Annabeth pelo esquerdo, Luke para frente e Nico em direção ao balcão.

Eu sentia algo próximo, como um encontro com o destino ou um enigma. Sentia-me como Édipo em frente à esfinge. Só que quando Édipo teve seu encontro com o destino, o destino o devorou. E na verdade, há pouco tempo atrás eu também estava prestes a ser devorada pelo destino, assim como Édipo, eu ia provocar minha própria ruína e acabar por destruir minha própria família.

Então percebi que não são os homens que fazem seus próprios destinos, não promovem mudanças e nem revoluções. Isso simplesmente acontece enquanto cada um tenta encontrar seu rumo. De tempos em tempos há uma convocação, uma oportunidade em que alguém é chamado para realizar uma missão, é chamado a assumir a liderança. Esses privilegiados fazem a história, enquanto pensam que eles próprios estão conduzindo os acontecimentos. Então percebem que não estão a altura desses acontecimentos. E acabam tragados por eles. Eu fui uma líder, revelada pelas circunstâncias. E eu ainda acho que falhei miseravelmente, esse sempre foi meu maior medo e eu de certa forma estive esperando por isso e acho que realmente aconteceu. Então com essa nova oportunidade, eu não posso simplesmente deixar de sentir que algo está próximo e que dessa vez eu não posso falhar. Eu não terei outra chance.

Seguindo pelo corredor estreito, me deparei com uma figurada parada a minha frente, observando rosas vermelhas.

– Nico! Você me... AI!

Lancei a mão para o lado e acabei por passar minha mão pelas rosas. Os espinhos machucaram mais isso não era o que importava agora. Eu apenas observava o garoto.

Ele havia mudado um pouco. O cabelo estava ainda mais longo, com mais pontas desiguais e caiam mais sobre seus olhos, a desordem cuidadosamente feita dava a ele um ar rebelde. A pele pálida contrastava com o escuro do cabelo e dos olhos. Um jeans, uma camiseta preta que mostrava os músculos e tênis. E isso o fazia perfeito.

E eu o amo com cada fibra de meu ser. Cada parte de mim, cada parte que é música, que é poesia, que é cura, que é beleza, cada uma dessas partes, cada uma pertence única e exclusivamente a ele. Senti uma lágrima escorrer por meus olhos.

– O que aconteceu?

– Eu me cortei – Disse a ele, tentando esconder meus olhos, sem obter sucesso.

Olhei em seus olhos escuros e frios, neles vi os meus azulados e chorosos. Como queria que ele soubesse que eu não chorava pelos cortes que faziam meus dedos sangrarem.

– Onde?

– Nas rosas. Eu odeio rosas. Elas têm espinhos.

Nico sorriu. Fazia tanto tempo que eu não o via sorrir assim para mim.

– Ei sunshine, não diga isso muito alto. Se elas te ouvirem, vão continuar a te machucar. Aprenda a gostar delas e elas não vão machucar outra vez. Aprendi isso de tanto freqüentar o jardim de Perséfone para... Bem...

Tão doce, tão diferente. Mas assim como aquela cena começou, ela se desfez e uma mascara cobriu seu rosto e ele se afastou, concentrado em algo que eu não podia dizer.

– O que foi? – Perguntei.

– Percebe? Não importa o quão bom tenha sido um dia, ele sempre vai acabar.

– Mas basta se ter em mente que o amanhã vai chegar logo. O sol logo vai nascer. – Respondi, sem realmente entender o que ele quis dizer.

– Sabe que o amanhã pode não chegar nunca. Basta se estar vivo para morrer. Você mais do que ninguém sabe disso. Você morreu.

Não sei explicar o porquê mais aquilo me irritou. Eu já tinha entendido que na concepção dele eu estava morta, mas ouvi-lo verbalizar isso me deixou irritada.

– E eu que pensei que você me amasse. – Disse por fim, depois de minutos calada, me afastando dele.

– Você morreu! – Gritou, lançando um olhar furioso e triste em minha direção.

– Por que nos apaixonamos por uma pessoa mesmo sabendo que ela é errada? – Disse baixinho, lembrando-me de um filme que assisti uma vez. - Essa eu sei a resposta. Porque você espera estar enganado, e sempre que ela faz uma coisa que mostra que ela não é boa, você ignora, e sempre que ela age bem e te surpreende, ela te reconquista. E aí você esquece a idéia de que ela não serve pra você.

Respirei fundo, várias vezes, parando de andar.

– Então me explique, como eu estou aqui?

Ele suspirou, derrotado, enquanto as lágrimas que eu lutava para esconder insistiam em rolar por meu rosto. Se aproximou de mim, levantando meu rosto e me olhando nos olhos.

– Como isso é possível? – Perguntou se afastando novamente.

Senti que desmoronava aos poucos, por um momento cheguei a pensar que voltaria a tê-lo para mim.

– Eu não faço a menor idéia. – Não era totalmente verdade, mas não era mentira.

– Ei! Vocês estão aqui! Annabeth acha que descobriu uma coisa, mas precisamos ser rápido. Vamos.

Luke voltou de onde veio e Nico balançou negativamente a cabeça.

– Ele sempre está cercando você.

E saiu, seguindo Luke.

Annabeth estava no balcão, debruçada sobre papéis. Luke estava ao lado dela, olhando por sobre seus ombros.

– Como não percebi isso antes? É tão obvio! – Falou.

– O que é obvio?

– Estamos no país da noite eterna. Estamos no esconderijo das górgonas.

– Górgonas? Não existe apenas uma? Medusa? – Perguntou Nico.

– Não são três górgonas. Personificações da corrupção do próprio ego que ao se encontrar diante de si mesmo não resiste e sucumbe à própria monstruosidade antes oculta pela beleza. – Disse a ele o que eu sabia.

– As outras górgonas são amaldiçoadas assim como medusa, Esteno e Euríale também eram desregradas e sem escrúpulos, e isso irritou muito os deuses. Esteno personifica a opressão e a dúvida que assolam o espírito ignorante, isto é, sem a Sabedoria, sem Atena, minha mãe foi a deusa mais ofendida. Euríale personifica aquilo que é desconhecido e sempre é colocado à margem da vida, porque o próprio espírito não aceita, o que é rejeitado. – Falou Annabeth, olhando tudo a sua volta. – Como não percebi antes?

As estátuas, as flores. O escuro, o lugar. Coisas quebradas pelo chão. O que ela queria perceber ali?

– Tem alguma idéia? – Perguntei.

– Bom, temos que encontrá-las, antes que nos encontrem. Elas podem petrificar, assim como medusa. Precisamos encontrar um jeito de perguntar a elas.

– Perguntar o que? – Luke perguntou.

– Ora, não é obvio? Elas devem saber sobre o amuleto, afinal, Leto nos mandou aqui.

– Então precisamos de um plano. E rápido. Temos três horas.

Não precisamos discutir muito, pois uma voz seca e insuportável se fez ouvir.

– Semideuses aqui? – Disse uma voz. - Será possível?

Annabeth falou seu plano tão rápido que eu quase não o entendi.

– Não olhem nos olhos dela. Luke e Nico, sejam rápidos.

Na metade de um minuto eu estava em pé atrás de uma mulher horrenda e alta com Annabeth ao meu lado. E na outra metade a mulher estava no chão, com a cabeça coberta por um saco de adubo para plantas, sendo segurada por Nico e Luke.

– Annabeth, você é brilhante. – Disse

– Obrigada. Então, Euríale ou Esteno? Precisamos de ajuda. Ei fiquem atentos, a outra pode aparecer.

– ELA NÃO VAI APARECER! MALDITOS SEJAM OS DEUSES! MALDITOS SEJAM SUAS CRIAS IMUNDAS. – Berrou ela.

– Isso é jeito de tratar as visitas? – Disse Luke, levando sua nova espada até o pescoço da górgona. – Um passarinho me contou que você sabe onde está o amuleto de Hera.

– NÃO ESTÁ MAIS AQUI! UM HOMEM O LEVOU! E MATOU ESTENO! EU COMO SEMPRE SOU A REJEITADA. PODEM ME MATAR TAMBÉM!

– Um homem, que homem?

– Um herói, como vocês. A única diferença é que ele não deveria estar vivo. – Disse ela.

– uou, muita gente aqui não deveria estar viva. – Nico estava me dando nos nervos.

– O herói da guerra de Tróia. – Riu Euríale, sem humor algum.

– Paris? – Arrisquei.

– Tente outra vez. – Disse a górgona.

– Aquiles.

A mulher horrenda soltou uma gargalhada e com sua mão longa apontou para o balcão. Corri até ele e notei um papel que antes não estava lá.

– A chave está dentro, com a criança traidora o amuleto. – Lutei com as palavras mais por fim consegui ler.

– Aquiles roubou o amuleto, mas agora ele está com um traidor? – Luke parecia confuso. – Confesso que não entendi.

– O que isso quer dizer Euríale?

Eu temia já saber a resposta.

– Hécate está pronta para cobrar o favor que você deve a ela criança.

Olhei para Nico e o vi assustado. O trato com Hécate feito há tanto tempo, eu temia que o dia de cumpri-lo chegasse.

– Que favor? – Perguntou Annabeth

– Não é nada. – Menti. – Luke, ela não vai servir para mais nada.

Luke assentiu, puxou sua espada e cortou a cabeça da górgorna.

– Aquiles, de alguma forma, está com o nosso amuleto.

– Isso é impossível, Aquiles está...

– Morto Annabeth? Isso não é mais um problema. Gaia está abrindo as portas da morte. Vem, conto a vocês no caminho, precisamos levar o carro até Yuma.

Eu não poderia contar a história completa, não ainda, não sem me incriminar e por o plano de Leto a perder, mas era mais que necessário que eles soubessem quem era nosso maior inimigo agora.


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