Não tenho orgulho do que fiz, o gosto amargo do arrependimento comprovava isso quando o sentia na boca do meu estômago.

Encolhida na parede suja de um beco deserto, meu corpo tremia. Queria poder chorar, para pelo menos, algumas lágrimas pudessem levar consigo parte da minha culpa. Mas não conseguia. A única coisa que saía de mim eram soluços. Soluços torturados, dolorosos, que faziam meu corpo ter espasmos de tão fortes. Porém, as malditas lágrimas não apareciam.

Apertei minhas pálpebras forte, minha vontade era de ser engolida pelo chão e nunca mais voltar. Tentei normalizar minha respiração, os soluços me matavam. Eles eram evidências que comprovavam minha nova natureza. Minha abominável nova natureza.

Minha boca estava entreaberta, respirando sofregamente, mesmo que eu não precisasse mais. Meus lábios encostaram-se aos meus joelhos que estavam colados ao meu peito. Abraçava minhas pernas ficando o menor possível, a maldita vontade de desaparecer...

Existe alguma maneira de alguém chegar ao fundo do poço de sua vida, mas, sem perceber, que aquilo seria só o começo? Era isso que tinha acontecido comigo. Não bastou Edward ter me abandonado, meu melhor amigo e meu pai também o fizeram. Nunca na minha vida, quis tanto o colo aconchegante e seguro da minha mãe.

 -A senhorita precisa de ajuda?- Consegui sentir a aproximação vinda pela esquerd - O que aconteceu moça?- A pessoa se ajoelhou na minha frente.

Eu sabia o que ele via: uma adolescente com os cabelos emaranhados, sentada num beco escuro e deserto, descalça apesar da temperatura relativamente fria, com um corpo morto e totalmente drenado a alguns metros.

-Precisa de ajuda para encontrar sua casa?- Indagou naquele humor doentio - O que foi? Você não tem casa? Oh, coitadinha... - Engoli o bolo que tinha se formado na minha garganta e levantei meus olhos para o meu visitante.

-O que você quer?- Perguntei com a voz fraca, na mesma posição. Pude der o meu reflexo do seu olhar, o mais assustador foi constatar que nosso olhos eram iguais agora.

-Eu fiquei te procurando Bella... - Sua expressão mudou, se tornando mais séria –Não era para aquilo ter acontecido daquele jeito...- Murmurou.

Fiquei encarando o vampiro na minha frente por algum tempo. Riste franzida, boca meio entreaberta quase formando um biquinho, tentando passar uma imagem de vitima de um terrível engano. Porque era isso que Demetri fazia, mentia.

-Era para ter acontecido de qualquer jeito... - Disse com a voz mais firme –Você já sabia quem eu era no momento em que pus o pé naquele castelo- Sua face demonstrava a culpa evidente, não era preciso de palavras para saber que tudo que falava era verdade – Foi tudo armado, Aro queria se vingar dos Cullen...- Parei minimamente o olhando cínica –Era tudo um jogo doentio.

Demetri restestou, se afastando de mim. Ele tinha me dito as mesmas palavras naquele dia em que me contou sua história na floresta.

-Eu... – Ele não conseguia terminar a frase, não tinha como fugir, era a mais pura verdade.

-Não precisa dizer nada- Sussurrei voltando a encostar minhas costas na parede e fechando os olhos –O que está feito, está feito- Citei.

Passaram se alguns segundos de silêncio, achei que depois disso, ele iria embora. Me surpreendeu quando senti seu calor ao meu lado.

-Quando se junta aos Volturi, cedo ou tarde, você acaba ficando igual a eles- Disse com a voz amargurada, mas não cai na sua desculpa, nunca mais cairia- Estou tão cansado disso... - Confessou suspirando – Mas... Já se tornou parte de mim. Sinto prazer em matar, ouvir os gritos de desespero agonizados de dor... –Fiquei mais que surpresa quando um soluço cortou sua garganta– Deus, eu virei meu próprio pesadelo...

Fiquei parada por um tempo, senti alguma coisa no meu peito depois disso. Pena? Compaixão? Ou talvez seja o fato de que em ambos, tudo que sempre quisemos foram destruídos e massacrados? Talvez fosse o sentimento de solidariedade que me preencheu, o reconhecimento que tinha da sua situação ao se parecer tanto com a minha. Mas, hesitante, minha mão foi em direção ao seu braço, fazendo uma leve caricia de conforto.

-Sinto o mesmo- Sussurrei evitando seus olhos – O passado nunca me pareceu tão distante... –Falei com um fio de voz.

Senti quando seus dedos mornos tocaram na minha face, me obrigando a  encará-lo. Demetri lambeu os lábios seco e limpou com o dedão a mancha de sangue da minha bochecha. Seus olhos me encaravam intensamente, só fui me dar conta de que seu rosto estava perto demais quando estávamos a centímetro de distância.

Sua face transmitia algo, mas não pude identificar, estava muito confuso. Porém soube exatamente o que estava prestes a fazer

-Bella... –Murmurou, segurando um de minhas mãos com seus dedos livres – Posso te beijar?- Perguntou engolindo seco.

Fiquei em silêncio durante algum tempo só o encarando. Meu coração queria dizer que sim, estava tão carente de carinho e conforto que nem se importava que fosse Demetri. Mas minha mente não concordava completamente, dizia que iria me arrepender no futuro. Além do mais ainda existia o buraco que Jacob tinha acabado de cravar. Ele via no vampiro a minha frente a mesma situação de quando Edward me deixou pela primeira vez. Eu sozinha e magoada e um ‘amigo’ tenta me ajudar. Deus, não conseguia confiar em nada!

-Não- Disse por fim.  Demetri se afastou devagar, como se tivesse processando o que tinha acabado de dizer. Quando já estava de novo com as costas na parede que ele soltou um breve riso.

-Eu deveria ter previsto isso- Murmurou.

-Tudo bem- Abaixei a cabeça –Todos se enganam. Principalmente eu- Disse com um fio de voz.

-Eu não vou perguntar o que aconteceu. Além de você nunca iria me contar, sei que não quer se lembrar agora- Disse.

-Obrigada- Agradeci.

Foi nesse momento em que senti o cheiro de algo se aproximando.

-Joe?- Puro instinto me levantei do chão a avancei na jugular do homem.

4 dias atrás...