Chuva, Sombras E... Luz escrita por Virants


Capítulo 1
Chuva, sombras e... Luz




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Chuva, sombras e... Luz.

            Meu dia amanheceu como sempre. Com aquele céu acinzentado, demonstrando que iria chover e muito forte. E, como de costume, em meio aquele céu negro, havia um ponto azul solitário. Eu não podia ir em frente... Já estava insuportável.

            Vultos rápidos esbarravam em mim na tentativa de me derrubar. Todos sussurravam coisas quase que inaudíveis. Tentei correr, mas um deles me derrubou. Enquanto me levantava eles se amontoaram em minha frente e começaram a falar...  

- Você não presta. Você é um inútil. Você não passa de uma criancinha com medo do escuro. Você chora como um bebê. Você é digno de pena!

            Todos os vultos gritavam em meus ouvidos. Não queria ouvir aquelas coisas. Levantei e continuei meu caminho. Avançando poucos passos tropecei e cai numa poça de lama. Típico de um completo desastrado. Aquelas sombras... Estavam me seguindo e gritando cada vez mais alto... Os gritos eram tão altos que chegavam a estremecer o chão.

            Não aguentava mais, finalmente cai. Aquele ponto azul solitário no céu nublado extinguiu-se como a chama de uma vela.

A melancolia me tomou por completo. Não sabia o que fazer ou pensar. Tudo para mim dava errado, tudo. Levantei e continuei seguindo aquela estrada interminável que me levaria a lugar algum. Álias, começou a chover... Minha tristeza aumentou seguindo os pingos rápidos que caiam. Logo aquilo havia se tornado uma chuva fortíssima, e lá estava eu recebendo aquela chuva.

Quando começou a chover eu havia esquecido as sombras atrás de mim. Olhei novamente para trás e vi que não desistiram. O chão ainda tremia.

- Você acha que vai pra onde seu inútil? Se achar que vai escapar de nós simplesmente nos ignorando e andando, desista! Te seguiremos até você cair no chão sem forças!

            - Bah, venham atrás de mim, mas fiquem calados! – Gritei, sem ao menos olhá-los novamente.

            - A criancinha ficou com raiva, ó! Continue andando, estaremos sempre aqui para lembrar quem você é. Um inútil, um bebê, lixo, idiota... Posso continuar?

            Voltaram a gritar. Suas vozes mudavam a cada grito... Usavam vozes de pessoas queridas, tentando me confundir... O pior é que conseguiam. No final das contas, eu não sei se as pessoas que amo seriam capazes de dizer aquilo, mas levando em conta minha capacidade analítica, por que não diriam aquilo? Sim... Eles diriam.

            O chão tremia, o céu parecia cair sobre meu fraco corpo e aquelas vozes rasgavam minha alma. O que eu faria? Estava num campo aberto longe de chegar a meu destino, álias... Que destino?

            É. Não havia percebido... Mas aquele ponto azul que ia diminuindo aos poucos agora era um nada.  Eu era como ele. Ou ao menos, estava como ele. Sem esperança, amor, felicidade...

            Vozes estúpidas... Sombras idiotas...

            Parei de andar e as sombras também. Olhei para o que seria seus olhos e elas gritaram ainda mais alto. Crateras abriam a cada grito... As sombras se tornaram cada um de meus entes queridos...

            - Você é um lixo, fique longe de nós... – eram meus pais e irmãos...

            - Você não passa de um tremendo idiota – meus amigos...

            - Bebezinho chorão! – todos os restantes...

            A chuva estava tão forte que os pingos pareciam penetrar minha pele. Não aguentava mais... Gritei com toda minha força. Se calaram e depois de um curto período de silêncio riram de tal forma que novas crateras abriam.

            Não tinha mais força, aquelas vozes sempre se sobrepunham a minha. E o pior é que ecoavam em minha mente. Era como uma canção. Que mesclava tristeza, ódio, falta de esperança... Era a minha canção. Não havia notado, o céu estava negro. Os raios solares não mais passavam. Eu não enxergava um palmo a minha frente.

            Eu estava no poço mais profundo... Não sabia como sair, não sabia por que sair... Quer me ajudar? Acho que não irá conseguir...

            Ouvi uma melodia distante. Era triste, porém interessante. Olhei para todos os lados, tentando formar alguma imagem naquela penumbra. Não podia saber de onde vinha, pois ecoava. Ouvi um sussurro... Dois, três... Eram as vozes, estavam se sobrepondo aquela música que me acalmava...

            - Ainda estamos aqui. Faça o que fizer, jamais iremos te deixar! Só iremos embora quando você acabar conosco! Ou quando...

            Antes que terminasse de falar, girei meu corpo num soco fortíssimo. Com toda a certeza eu o teria acertado, senão passasse de uma... Sombra.

            - Ou quando nós acabarmos com você!

            Todos riram... Aquele riso bizarro que causava arrepios. Naquela penumbra ainda consegui observar vultos rápidos vindo em minha direção. Estavam me atacando. Seguraram meus braços e um deles me acertou um soco certeiro na barriga. O ar faltou e me ajoelhei... Me levantaram e recebi mais socos. A grande diferença é que... Esses socos não afetavam meu corpo... Eles acertavam diretamente minha alma. A dor era a pior possível. A cada soco uma parte de mim era destruída. Logo, não sobraria nada. Eu morria a cada golpe...

            - Por que vocês não vão embora?

            - Porque nós queremos vê-lo sofrer. Nossa felicidade depende de sua infelicidade. Fique infeliz e nós iremos te agradecer muito.

            Ouvi a música novamente... Estava mais alta. Percebi que era tocada por uma harpa. Fechei os olhos e me concentrei. Agora ouvi uma voz doce e angelical. Parou de chover. O céu clareou, deixando passar a luz do sol. As sombras gritavam cada vez mais, porém, eu nada ouvia. Num ato de desespero elas se jogaram em cima de mim e eu cai. Não conseguia me levantar, eram muitas. Um raio forte de luz atravessou as nuvens. Esse feixe de luz revelou ao longe quem tocava a harpa. Depois de tanto tempo orando, Deus me enviou um de seus anjos para me ajudar...

            O anjo veio na forma de uma bela garota. Ela se aproximou tocando a harpa e cantando. Ela me olhou com aqueles olhos castanhos cheios de ternura. Ela sorriu me passando paz. Me ergui como se nada estivesse sobre mim. Todas as sombras foram jogadas para longe. O céu abriu, ficando completamente azul. As sombras sumiram ao mínimo toque dos raios solares. Olhei para trás dela, vi um belo campo de margaridas com uma fonte ao centro. Ela parou de tocar e estendeu a mão para mim. Então, esse era o meu destino?

            Eu estava alegre, esperançoso. Tudo começou a mudar... Para melhor.

            Aquele anjo era... Você.

            Sombras... Não deixe que as sombras o persigam. Elas farão de tudo para que você caia num poço de depressão e amargura. Sombras são nada mais nada menos que seus problemas. Jamais dê as costas para eles e siga seu caminho. Eles irão perseguí-lo até destruí-lo por completo. Nem sempre podemos vencê-los sozinhos. Para isso existem anjos em forma de pessoas... Podem ser seus parentes, seus amigos... São as pessoas que você ama. Abra bem os olhos e não deixe esse anjo escapar...


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