Fita Vermelha escrita por Vickawaii


Capítulo 1
Capítulo Único - Fita Vermelha




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Todos os dias a mesma rotina. Me arrumar, tomar café da manhã, subir aquela maldita lomba para chegar a escola, estudar. Você sabe, uma vida tão agitada que causaria inveja a qualquer milionário que só tem viagens pelo mundo afora como fonte de diversão. Acho que deu para entender. A única diferença da minha vida para a dos estudantes normais, é que diariamente após as aulas eu era tratado como criado por uma menina excêntrica que diziam ter o poder de controlar o universo, além de conviver com uma alienígena, um esper e uma viajante do tempo. Isso não era um circo de aberrações: era a Brigada S.O.S

Mas um dia, as coisas começaram a mudar.

Há algumas semanas, cometi a burrice de dizer que Haruhi ficava bonita de cabelo preso. Se ela sorriu timidamente, ficou encabulada e essa coisa toda? Óbvio que não. Ninguém hierarquicamente inferior a um príncipe devia ter o direito de lhe dirigir um elogio. Mas, desde aquele dia, ela começou a vir com os cabelos presos.

Ok, isso parece tão interessante quanto uma partida de golfe. Mas vamos raciocinar: porque ela, a chefe da Brigada, a que mandava em tudo e todos (leia-se: em mim), ia se dar o trabalho de impressionar alguém que julgava tão insignificante quanto eu? E também, como aquela simples fita de cabelo me impressionava tanto? Qualquer um com os cromossomos XY confirmaria que as fantasias da Asahina-san eram muito mais interessantes.

Só que o mistério do cabelo não parava por aí. Depois de cinco dias com uma fita amarela, Haruhi começou a vir com uma branca. Depois roxa, azul, verde, laranja e vermelho. Muito vermelho. Isso não teria importância nenhuma se o idiota do Koizumi não tivesse atiçado minha curiosidade.

- Pergunte os significados para ela.

- Significado de prender o cabelo?

- Das Cores! – Sorriu.

Mais um momento para pensar: aquela garota conhecia mais cores que Leonardo da Vinci e cada uma tinha um significado?! E se fosse o caso, não seria mais sensato pesquisar no Google ao invés de arriscar minha cabeça perguntando a ela? Na verdade, eu ia fazer isso, até que um dia ela apareceu com uma fita preta e declarou estar de paz consigo mesmo. A não ser que tenha cometido um assassinato, ela não estava de luto por ninguém.

Um dia fiquei até mais tarde com Haruhi na Brigada, aproveitei a oportunidade e resolvi falar com ela.

- Haruhi...Tem uma coisa que me tem intrigado e gostaria de comentar sobre ela...

- Ah, Kyon, não pode arranjar outro momento para falar? Estou fazendo algo importante!

Ela estava jogando Paciência no computador. Tinha certeza disso.

-É sobre as fitas de cabelo. Elas têm um significado?

- Ah, descobriu só agora? – Falou arrogante, sem tirar os olhos da tela. – Todo mundo sabe!

Sim, era a coisa mais óbvia cada cor representar algo, até porque todas as outras meninas do Japão resolveram fazer a mesma coisa, de forma que todos sabiam pelas revistas de moda.

- É, eu não sabia. Pode me dizer?

- Verde significa que eu estou jogando Paciência e não quero ser incomodada!

- Certo, mas você não está de verde hoje, está Haruhi?

- Não? Hm... Que cor estou usando? – Perguntou despreocupada.

- Vermelho, Haruhi. Está usando vermelho.

- Azul significa tranqüilidade e sabedoria. Amarelo significa alegria e fortuna. Roxo significa realiza. Laranja que eu estou muito animada. Um laranja mais forte significa raiva...

- E vermelho, Haruhi? O que significa?

Por um momento, Haruhi me encarou com uma expressão serena e reflexiva. Chegava a ser doce, e podia jurar que vi um rubor tomar sua face. Estava prestes a me perder naquele olhar quando ela mudou para expressão “matarei-Chuck-Norris” e tentou me fuzilar com seus olhos.

- Significa raiva! – Brigou ela. – Significa que estou com muuuuita raiva!

- Mas Haruhi, não pode ser. Raiva é aquela espécie de laranja e nessa semana que você usou vermelho você estava muito alegre e solta e...

Pronto. A Rainha achou que eu não merecia mais sua atenção e saiu porta afora, sem nem ao menos me deixar completar a frase. Uma pessoa prudente se ajoelharia no chão e daria graças aos céus por aquele demônio em forma humana sair do aposento. Mas naquele momento algo me induziu a imprudência. Corri para alcançá-la e finalmente agarrei o seu pulso.

- O que houve, agora? – Ela se virou e me encarou energicamente.

Bem, o que houve, ou haveria, eu não sabia. Quer dizer, era um daqueles raros momentos em que os olhares se cruzam (mesmo que o dela dissesse “vou te matar”) e algum magnetismo prendia as mãos se forma que não se soltassem, e eu estivesse tão perto que dava até mesmo para sentir a respiração dela. Por um lado era bom, pois a impedia de me estrangular, por outro... Me deixava estranhamente sem reação. Sem saber o que falar. O que dizer? Fiz a única coisa que consegui pensar em quinze segundos.

Beijei Suzumiya Haruhi.

Foi algo estranho e inesperado, mas apesar disso... Foi impressionantemente bom. Foi como se tivesse algum toque de magia, como se eu quisesse há muito tempo ter feito aquilo, e uma onda de felicidade me invadiu ao realizar aquele desejo. Porque por um momento, Haruhi foi minha, e aquele momento foi muito mais importante do que a salvação do mundo. Então nossos lábios se desuniram, e fiquei a olhar assustado e admirado ao mesmo tempo para ela.

Ela me deu um tapa na cara.

- Idiota! – Ralhou Haruhi. – Você não podia ter feito isso!

E não faria. Foi ela que me forçou. Ela que resolveu vir de vermelho.

- Sim, senhora.

- Como assim, “sim, senhora”?! Está me ironizando? – Desprendeu-se totalmente de mim, ficando alguns passos a minha frente. – Você será severamente punido, Kyon! A partir de hoje, quero ver você todo dia, fazendo hora extra na Brigada! E... E me busque em casa amanhã para irmos ao colégio, ouviu bem?!

Haruhi saiu pisando forte, não se despediu e veio com um monte de exigências. Dia seguinte, se mostrou mais mandona e irritada do que de costume, mas o fato é que ninguém mais estava na sala da Brigada além de nós, e a fita em seus cabelos era novamente da cor vermelha. E dessa vez eu tinha certeza que aquele vermelho representava algo muito diferente de raiva.


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