Era um dia normal como todos os outros. Não havia mais nada a ser feito. Um ano desde a operação que cegou Kurama, e deu uma nova vida a Yomi havia passado. Kurama não se sentia preparado para recomeçar sua vida. Vivia com um animal acuado, não tinha forças o suficiente para enfrentar Yomi e na verdade não tinha vontade. Sabia que aquilo era um castigo pelo seu passado, e assim o aceitaria. Ele já não estava em sua forma original, Yomi preferiu deixá-lo como o humano Shuichi, na sua forma mais frágil, apesar dela não ser tão bela como a de Youko.

Kurama passava as tardes no jardim do castelo, mesmo não podendo mais enxergar, sabia o quanto aquele lugar era belo. Se sentia melhor ali. As plantas lhe davam forças, pelo menos o que ele precisava pra se manter vivo. Estava um belo dia, isso era a coisa mais rara de acontecer no Makai, mas Kurama agradeceu por isso. Assim se sentia mais próximo a Terra. Agora ele pensava em sua mãe e no sofrimento que estava causando a ela. Sabia que o tempo passava diferente nos dois mundos, mas também sabia que um ano significava seis meses. Seis meses sem noticias do seu filho amado, seis meses...

Hiei deveria também estar preocupado. Talvez o Korime achasse que ele estivesse morto. Por que o demônio de fogo não veio procurá-lo? Kurama não achava uma resposta para essa questão enquanto se perdia em seus pensamentos, estava confuso estava com saudades, mas o que mais o deixava inseguro era sua preocupação. Até quando Yomi o deixaria vivo?

Seus pensamentos foram interrompidos por uma presença familiar. A presença foi se aproximando até parar muito perto da raposa.

“É tão estranho te ver assim!”

“Pensei que você já tinha se acostumado”

“Eu não me conformo! Como uma criatura magnífica como você se sujeitou a ser um humano?”

“Você não sabe nada da vida Shura!” – ele sorriu – “Você não passa de um clone imaturo de seu pai... Igualzinho ele costumava a ser” – voltando a expressão seria – “Eu ensinei tudo a ele...”

“É incrível como a vida da voltas, não Kurama?”

A raposa ficou quieta e abriu seus olhos.

Shura os observava. Eram iguais aos dele, somente uma coisa os diferenciavam, a morte, a falta de brilho nos de Kurama. Definitivamente Kurama não combinava com aqueles olhos.

“... Meu pai planejou isso durante anos, e finalmente ele conseguiu o que queria... ter de volta o que você roubou dele...”

“E o que ele me roubou não conta?” – rindo – “Ele me matou Shura! E sabe por quê? Por poder...”

“Mentira! Ele te matou por que ele te amava...”

“Nossa que amor bonito seu pai sentia por mim” – disse sínico. Por um instante Shura pode ver ódio na expressão de Kurama, era como se Youko estive ali na sua frente – “Você é muito ingênuo Shura... Seu pai esta te usando, você não vê isso?”

“Cala boca! Eu nãos sou obrigado a ouvir suas besteiras...” – Shura lhe deu as costas e saiu.

Kurama sentiu a presença se distanciar e logo voltou aos seus pensamentos.

Shura andava pelos corredores do palácio pensando no que Kurama o havia dito. Não podia acreditar que seu pai estava lhe usando. Mas se estivesse qual seria o motivo? Yomi sempre fora um pai carinhoso pra Shura. Ele era rígido, mas Shura sabia que era para seu próprio bem, ele sabia que seu pai planejava algo grande pra ele, que quando chegasse a hora ele teria tudo o que era de Yomi principalmente o reino. Ele tentou afastar seus pensamentos de sua cabeça, mas não conseguiu.

Ele estava distraído com seus pensamentos, quando algo lhe chamou a atenção.

“Meu plano esta quase completo. Eu já tenho Kurama em minhas mãos, e Shura esta cada vez mais forte e parecido comigo...” - Shura via pela porta seu pai falando com seu auxiliar, era ele quem ajudava Yomi a cuidar de seu reino. Ele não era somente um empregado, era um servo leal, um grande amigo de Yomi, talvez o único que compartilhava de seus segredos.

“Você vai realmente seguir esse plano? Isso é Loucura!”

“A única pessoa que poderia me atrapalhar esta em minhas mãos agora, não tem como dar nada errado...” – ele sorria vitorioso.

“Eu pensei que você tinha se apegado ao garoto”

“Foi pra isso que eu o criei... E assim que chegar eu não vou hesitar em fazer o que se deve ser feito...”

“Você é completamente louco”

“Eu só quero o que deveria ser meu, esse é o único jeito de acabar com Mokuro e ter finalmente todo Makai pra mim”

“Você esta se esquecendo daquele ajudante dela. Como é mesmo o nome dele?”

“Hiei?”

“Sim! Ele é um dos mais poderosos do Makai e você sabe muito bem disso Yomi...”

“Não se preocupe, enquanto eu tiver Kurama em minhas mãos ele não poderá fazer nada...”

“Como assim? Você pretende que Kurama o mate?”

“Não!” – disse com um sorriso perverso no rosto – “Confie em mim! Hiei não é problema...” – Yomi sentiu algo perto da sala e se levantou.

Quando Shura o viu levantar saiu correndo pelo corredor.

Yomi pode ve-lo virando no final do mesmo. Ele fechou a porta e se sentou novamente.

“O que aconteceu Yomi?”

“Shura!”

“Ele ouviu tudo?”

“Não sei, mas eu vou tirar isso a limpo agora mesmo” – ele disse serio – “Vá cuidar dos seus afazeres, quando eu precisar te chamo” – disse seco.

Logo em seguida o Youkai saiu da sala. Yomi respirou fundo, não queria machucar seu filho, mas se fosse preciso faria, pois não podia deixar seus planos ir por água a baixo.