Yama no Kami escrita por Manta do Deserto


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Gente eu espero que gostem, é minha primeira fic com um romance entre youkais, então as vezes eu viajo um pouquinho - lê-se MUITO - em algumas partes da fic ^-^""

Espero que gostem

Kisses ;***



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Era uma manhã chuvosa, um daqueles dias em que a água cai com tanta voracidade dos céus, que por instantes imaginamos que tudo está terminando ali, como se as gotas de água fossem lágrimas do fim que se aproxima. E era justamente esse fim que ela temia.

Uma youkai na forma humana corria pelo chão enlameado, segurando um embrulho nos braços. Atrás dela, o chão tremia pela pressão das patas de grandes youkais ursos que a perseguiam.

Depois de uma árdua corrida conseguira se distanciar o suficiente para esconder entre as árvores e arbustos o embrulho que segurava. Ela sussurrou algo, talvez para que o serzinho enrolado não fizesse barulho, um sorriso foi tudo o que conseguiu enxergar naquele rosto moreno que logo ergueu-se e saiu correndo novamente, porém a sorte não ficou do seu lado o suficiente para se salvar, mas adiante, foi presa numa armadilha e torturada até que seus uivos de dor ecoassem pela floresta, assim como os risos daqueles que a perseguiam...

--Não! - ela acordou gritando e ofegando. Não era a primeira vez que sonhava com essa loba e sua morte. Esse sonho era como um presságio e a seguia continuamente durante várias noites, as vezes mudando os personagens, as vezes sendo apenas bons sonhos e outras vezes, como essa, apenas mais um pesadelo a lhe atormentar.

--Outro pesadelo Mina? - perguntou um senhor idoso que entrara na casa simples, mas afastada das de mais e saudava a moça com um sorriso.

--Tsc.. já se tornou uma coisa tão comum assim eu ter pesadelos? - ela adorava responder perguntas com outras perguntas. Sentou-se no futon e passou a mão pelo pescoço enquanto olhava para o velho que a fitava com uma sobrancelha arqueada. Ela suspirou – Sim. Outro pesadelo. Com uma mulher youkai e um filhote dessa vez – disse encostando as costas na parede o lado do futon – Isso já está se tornando incomodo Roku... - franziu a testa ao olhar o velho.

--Os espíritos devem estar querendo lhe dizer alguma coisa minha criança – disse o velho -. E você deve ter ideia do que é.

--Tsc! Eu já falei que não vou sair daqui! Vocês precisam de mim aqui – Mina finalmente se levantou e se dirigiu para a porta, saindo da casa e olhando a estrada que a levaria para o vilarejo onde crescera -. Não esqueça Roku, que eu sou a última youkai loba. Se eu for, não vou encontrar ninguém me esperando nas montanhas – ela finalizou, esperando que sua voz não parecesse tão triste.

--Mas você também não pode passar o resto de seus dias presa a um vilarejo, minha criança...

--Já não sou um filhote para ficar me chamando assim, velho – ela o interrompeu bruscamente e levou um golpe, com a bengala de Roku, na cabeça – Isso dói!

--Você mereceu – ele fez cara de pouco caso -. Lembre-se que foi minha família que lhe criou. Lhe chamo como quiser – ele levantou o queixo.

Orgulhoso como sempre, pensava Mina.

--Velho abusado... - sussurrou vendo-o se afastar pela trilha, mas não conseguiu conter um sorriso. Roku havia-a criado também como se fosse a própria filha, era praticamente a única família que conhecera. As outras pessoas do vilarejo também eram como um grande bando.

--Escute, quase me esquecia – Isso já virou um hábito, velho... -. Sangei estava te procurando.

Num instante, ela estava mantendo a pose de uma loba orgulhosa, no outro, abanava o rabo e sorria como cãozinho feliz. Saiu em disparada pela estrada, rápida como um relâmpago no céu, como só ela conseguia ser ali. Sangei-kun...

Sangei, filho do chefe do vilarejo, era um dos poucos amigos que Mina havia feito, mas não se importava. Havia quem dissesse que ambos eram amantes pela proximidade que tinham e por ficarem muito tempo fora da vila. Agora, iria vê-lo pela primeira vez em três meses. A emoção de vê-lo tomou conta dela assim que lhe ouviu o nome.

Sem cerimônia entrou na grande casa sendo cumprimentada por alguns serviçais e procurou pelo cheiro dele, um cheiro forte de hortelã. Te achei! Seguiu para os fundos da casa, onde havia um laginho com carpas e uma curta ponte. Parou antes de descer os degraus que lhe permitiriam pisar na grama baixa do jardim e esperou que ele a notasse.

O humano, que aparentava ter seus 27 anos, estava sentado de baixo de uma macieira, com os olhos fechados e os braços cruzados no peito. Dormiu?, ela se aproximou sem fazer barulho, sorrateira e olhou Sangei de perto. Ele tinha o rosto naturalmente branco e os cabelos castanhos-claros e curtos, também apenas alguns centímetros mais alto do que ela e tinha um porte forte, devido a anos de treinamento com kendô.

--Senti saudade... - Mina sussurrou sorrindo a aproximando o rosto para dar-lhe um beijo na bochecha, mas inesperadamente Sangei virou o rosto fazendo com que os lábios de ambos se encontrassem.

A princípio Mina tinha pensado em empurrá-lo – ainda era mais forte que ele -, mas para ela o beijo foi tão bom e uma coisa tão nova que não resistiu em abrir passagem para que Sangei lhe explorá-se a boca. Ele a segurou pela cintura e a acomodou sentada entre suas pernas sem deixar de beijá-la e a abraçando, protetor enquanto gentilmente acariciava as costas dela.

Sangei ainda deu rápidos selinhos em Mina antes de ficar a fitando amoroso e com um sorriso por vê-la corada, também parecendo estar sem jeito. Era uma façanha vê-la desse jeito.

--O que foi isso...?

--Um beijo, oras – respondeu apoiando o queixo na cabeça dela e dando um leve riso.

--Eu sei, baka, quis dizer, por quê isso, assim... de repente... - ela se aconchegou um pouco mais nele.

--Não sei – e ele acomodou a cabeça ao lado da dela -. Mas me sinto tão bem quando estou com você que eu não resisti dessa vez.

Dessa vez?

--Quer dizer que já tinha pensado nisso mais vezes? - ela o olhou desconfiada.

Ele suspirou.

--Acho que falei de mais – ele pôs uma mão na cabeça e deu um sorriso sem graça -. Mas sabe, queira não ter hesitado nas outras vezes, - ela corou novamente e ele completou brincalhão – assim, hoje você beijaria bem melhor – ele riu.

Mina ficou vermelha, mas de raiva. Levantou-se e deu um forte cascudo na cabeça de Sangei, que não reclamou, mas riu ainda mais da raiva dela. A youkai levantou o queixo orgulhosa e cruzou os braços a frente dos seios para sair andando e deixá-lo sozinho. O rapaz também se levantou e correu para alcançá-la nos corredores externos da casa, segurou-a pelo pulso a virando e com uma mão acariciando o rosto dela.

--Não fique chateada. Eu só estava brincando.

As feições dela ficaram sérias, como se não acreditasse.

--Só fala isso para me agradar.

Ele sorriu.

--Eu pediria para você ficar comigo para sempre se eu quisesse só te agradar? Pediria outro beijo se fosse só para te agradar? Hm? - ele a olhou com uma expressão interrogativo.

--Como? O quê? - perguntou sem acreditar no que havia ouvido -.Sangei e-eu... - suspirou, estava emocionada e ao mesmo tempo não sabia o que fazer – Sabe que isso não dará certo...

--Não vamos saber se não tentarmos – ele deu um rápido beijo nela e em seguida completou -. Quero saber como seria ter lobinhos como herdeiros.

--Fi-filhos! Sangei, como pode já estar pensando nisso?! - ela não pode evitar ficar corada. Filhos... essa palavra as vezes a fazia ficar triste. Sim, ela os queria, mas nunca pensou que eles poderiam ser hanyous. Enfim estava perto de ter uma família.

--Eles não precisam vir imediatamente – ele riu -. Contando que você esteja comigo teremos todo o tempo do mundo. E então? Aceita ser minha esposa?

Ela sorriu. “Sim”, ela respondeu e o beijou apaixonadamente. O tempo também a incomodava. Por ser youkai ela viveria muito mais que qualquer pessoa do vilarejo, veria Sangei envelhecer e falecer e Roku também e todos com quem ela conviveu, assim como também demoraria a envelhecer. Isso já havia acontecido antes, já tinha mais de cem anos, já vivia a sua terceira geração naquele vilarejo. Roku era o neto do homem que a achara na floresta e a criara, mas ainda assim considerava os dois como seus pais. Não importa, sim, naquele momento não importava, tinha Sangei e um dia teria filhos que poderiam lhe fazer companhia quando todos fossem embora.

Aproveitaria enquanto podia, seria feliz enquanto podia.

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Quatro meses se passaram desde que começou a ser a amada de Sangei. E nesse tempo as folhas de outono mudaram a cor das montanhas fazendo-as mais lindas. Ditha, a neta de Roku estava com frequencia visitando Mina na casa onde costumava ficar, fora do vilarejo, e fazia as mais variadas perguntas, entre essas, coisas que deveriam ser guardadas para o casal. A garota ainda não atingira os vinte anos e por crescer sem a mãe era muito curiosa, então a youkai era a única fonte que ela tinha para satisfazer suas curiosidades.

--Você não vai mesmo parar de fazer perguntas? - Mina perguntou da rede simples onde estava deitada.

--Não até que você decida respondê-las – Ditha engatinhou rápido do futon para a rede e encarou Mina -. Por favor – pediu manhosa -, conta como foi da sua primeira vez? - a youkai viu os olhos da amiga brilharem.

Mina suspirou. Já havia perdido a conta de quantas vezes Ditha tinha perguntado isso.

--Foi boa. E muito – limitou-se a responder.

A moça olhou-a com cara emburrada o que fez a youkai rir um pouco do comportamento infantil.

--Foi boa? Foi boa?! Eu não quero saber se ela foi boa ou não, quero saber dos detalhes! - ela reclamou encarando-a.

A loba esticou-se na rede. Ainda não estavam casados, mas ela não se importava, sua primeira noite havia sido muito prazerosa e ela não pode deixar de sorrir ao se lembrar de Sangei a tocando tão intimamente e sussurrando juras em seu ouvido. Voltou a realidade quando deu por Ditha a sacudindo e falando sem parar. A youkai se soltou e caminhou até a porta, parando um pouco e olhando para a garota em sua casa.

--Ditha, se eu lhe contar vai perder toda a graça quando você tiver a sua primeira noite. Eu não tive quem me contasse nada e eu preferi assim, foi muito melhor desse jeito – ela fez uma pausa -. Posso apenas te dizer que no começo doerá um pouco, mas quando você se acostumar com ele dentro de você, será a melhor noite da sua vida. Mas tem uma pequena chance de não conseguir andar no dia seguinte – acrescentou brincando, mas já ouvira mulheres do vilarejo dizendo algo parecido.

Saiu rapidamente da casa, deixando uma Ditha estupefata para trás. Sentiu-se culpada por tê-la assustado com o último comentário, Afinal ela ainda é uma criança, mas não era nada que ela não superá-se quando se casasse e descobri-se o prazer nas mão do marido. Marido..., pensando nisso sentiu alguma coisa em seus instintos gritar “Não!” quando lembrou de quando Sangei a pediu em casamento, e eles nunca a enganaram antes.

Rumou para o vilarejo. Havia marcado um treino com os soldados do pai de Sangei, geralmente ela ensinava muito mais do que aprendia, mas não se importava. Lutar com espadas e usar o arco, além de lutas corporais já eram o suficiente para ela, naquele lugar ela não precisaria de muito.

Ao fim do treino, ficou um pouco a sós com o amado trocando carícias e conversando sobre o presente e o futuro. Quando o sol ameaçava se pôr a trás das montanhas era sinal de que era melhor ir para casa. Sangei iria com Mina se ela pedisse, mas a youkai preferia ir sozinha. Não que não gostasse de estar junto dele, mas também apreciava uns momentos sozinha. Trocaram um beijo de despedida apaixonado na porta da casa e a loba se foi, correndo como adorava fazer, se sentia livre.

Já estava próxima da sua casa quando sentiu o coração bater mais acelerado e parou, também sentiu a pele arrepiar e ofegou uma vez antes de olhar para a floresta e a montanha que parecia estar terrivelmente tentadora naquela noite. Acompanhou a subida da montanha até o topo até que encontrou a lua cheia, grande e brilhante. Ela sentiu um breve formigamento e uma vontade incrível de uivar, uivar tão alto que qualquer um poderia ouvir, tão alto que... que talvez um lobo pudesse responder... Ao menos uma vez...

Só mais uma vez... Ela tentaria só mais uma vez conseguir uma resposta. A vontade tomou conta dela. Tomou fôlego e uivou tão alto quanto podia e queria, um uivo que fez até alguns animais se assustarem. Um uivo suplicante. Se ao menos... se ao menos eu...

Ele ecoou pela floresta até um pouco depois de Mina ter parado. Ela esperou por um momento, mas só conseguiu escutar o barulho dos gafanhotos e cigarras. Relaxando as orelhas, mais pontudas que a de um humano, virou-se para entrar na casa e descansar, só que antes de dar o terceiro passo ela ouviu... Mas dessa vez não era apenas o eco do seu próprio.

Foi um uivo mais alto que o seu e tão forte e imponente que a fez sentir arrepios pelo corpo todo, em ondas tão fortes que ela quase caiu no chão. Ela veio, depois de anos a resposta que queria finalmente veio.

Eu preciso ir... Ela tinha que ir. Precisava ir até onde a estavam chamando, tinha que descobrir de quem era e por quê havia respondido só agora.

Deu alguns passos na direção da floresta, mas hesitou quando viu alguns lampiões serem acessos no vilarejo, sinal de que as pessoas tinham acordado. Logo viu que Roku aparecia com Ditha na estrada e a observavam, ficaram se encarando um tempo. Mina pensava o que ele diria quando a visse entrando na mata, mas a resposta fora apenas um aceno com a cabeça. A loba pôs-se a correr antes de ver Sangei se aproximar de Roku com uma expressão preocupada, fazendo questão de reunir alguns soldados para procurá-la. Ele tinha suas dúvidas, mas o velho não deixou que o jovem senhor seguisse adiante.

--Deixe-a – disse voltando para casa.

O jovem senhor ficou hesitante. Mas deixaria ela... por enquanto...

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Onde você está? Onde?! , pensava ao saltar pelos galhos das árvores e ao descer para procurar por terra. Inalava o ar que podia procurando por algum cheiro, aguçava as orelhas para ouvir qualquer sinal de que estavam por perto. Nada..., passara por grandes extensões da floresta.

Procurara por horas e horas, suas pernas já começavam a sentir o cansaço da subida da montanha. Faltava pouco para o sol nascer, estava tão agitada de noite que mal percebeu as horas passando. Meu ouvidos só podem estar me pregando uma peça..., pensou passando a mão nos cabelos negros e suspirando sentou-se embaixo de uma árvore para descansar. A noite estava clara e era possível ver as estrelas sumindo por entre algumas brechas que as folhas das árvores deixavam. Uma brisa quente e acolhedora a fez lembrar de uma conversa de mais de cem anos atrás. Quando ainda podia ser considerada uma filhote de lobo. Quando o avô de Roku ainda era vivo.

Ainda uma criança, ela não entendia muita coisa do que acontecia a sua volta. Mesmo com as grandes orelhas, os dentes mais afiados e a cauda se destacando num corpo humano ela ainda não entendia que era assim tão diferente das outras crianças. Tinha a pele num tom moreno não tão escuro, os cabelos bem negros como ébano e olhos verdes, características bem raras que já diziam que ela seria uma youkai muito bela quando fosse adulta.

Quando atingiu treze anos – em idade humana e ainda num corpo de criança -, começara a sentir coisas estranhas. Quando olhava par ao gado, sentia vontade de esgueirar e persegui-los, quando olhava para a lua uma vontade de uivar a dominava, quando olhava para certos homens sentia vontade de estar perto deles, como acontecera com Sangei.

O avô de Roku, já num estado avançado de idade sabia o que provavelmente devia estar se passando com a youkai pelo modo estranho como olhava para os bois ou para Sangei, Afinal, certa vez já havia se apaixonado por uma youkai.

--São seus instintos – comentou ao vê-la distraída olhando para a lua pela janela da cabana, enquanto ele preparava a sopa.

--O quê? - perguntou confusa e desviando olhar da janela para ele.

--Não tem que ficar preocupada com o que vai acontecer. São os seus instintos criança, é natural você sentir necessidade de segui-los.

--E o que você sabe sobre isso? É só um humano.

Ele sorriu, servindo a sopa de carne para ela.

--Uma vez uma amiga me disse: “Eles exercessem certo poder sobre nós, como se atraíssem-nos. Na verdade muito mais do que gostariamos de ser atraídos...”. Acho que isso se encaixa muito num conceito de instintos - ele explicou, tentando afastar a confusão que se fazia nela -. Não deve ter medo de segui-los, seja apenas você mesma – e sorriu de novo esticando as poucas rugas daquele rosto cansado.

Muito mais do que gostariamos de ser atraídos, hm?, pensou dando um meio sorriso ao se lembrar das últimas palavras que ouvira daquele senhor que cuidou dela tão bem.

Fechou os olhos mais um pouco, aproveitando o silêncio e os abriu quando os poucos raios de sol ameaçavam penetrar pelas folhas das árvores. Mas outra coisa também lhe chamou a atenção, pingos de chuva, apenas uma garoa. Casamento de raposa?, não saiba ao certo o por quê, mas no vilarejo costumava-se dizer que quando chovia de manhã uma raposa estava se casando. Era um ditado estranho, mas não o questionava.

Se molharia mesmo se corresse e estava cansada para tal, então apenas andou, aproveitando a boa sensação daqueles pingos em seu rosto. Aquela montanha lhe trazia paz, sentia-se como se fosse a primeira vez que abria os olhos e via o mundo, como se já conhecesse aquele lugar. Então mudou de ideia, ainda era cedo de mais para voltar para o vilarejo, havia ficado apenas uma noite fora afinal de contas, não desistiria assim.

Forçou as pernas a retomarem a corrida para o topo.

Havia conseguido chegar a um lago e não recusara beber de sua água. Suspirou satisfeita e deixou-se cair embaixo de uma das árvores próximas. Fechou os olhos e o sono a dominou. Dormiu profundamente sob a sombra.

Permitiu-se sonhar com Sangei. Com o casamento e com os filhos que viriam. Sonhou com a primeira noite dos dois e em como ele havia pedido sua mão em casamento alguns meses atrás.

--Esse tal de Sangei deve ser uma pessoa muito importante para você ficar falando o nome dele enquanto dorme – comentou uma voz de menina.

Mina abriu os olhos e ao deparar-se com uma menina, que não parecia ter mais de sete anos, sentou-se rápido e a encarou. A pequenina era ruiva e magra, tinha os cabelos da altura do ombro, amarrados por um lacinho e olhos azuis-amarelados. A garoa já havia passado, e Mina parecia ter dormido de mais.

--Te assustei? Hehe, desculpe – disse e sorriu abertamente sem se preocupar com a estranha e balançando a cauda e abaixando um pouco as orelhas no topo da cabeça.

--Quem é você? - perguntou a loba desconfiada e sem baixar a guarda.

--Eu? - fez um resmungo, mas se levantou e se apresentou com pose de orgulhosa – Eu sou Mischa, do clã das raposas. Muito prazer... er... qual o seu nome mesmo? - perguntou adquirindo um olhar curioso.

A outra youkai hesitou um pouco em responder.

--É Mina – respondeu com pouco caso e se levantou.

--Mina... Muito prazer, Mina! – disse entusiasmada. Será que todas as raposas são assim? - De qual clã você é?

Era só o que faltava, pensou a loba já andando com a raposa logo atrás, sem se importar se estava a seguindo, uma versão raposa da Ditha...

--Não importa, kitsune.

--É Mischa – resmungou da falta de uso do nome. Deu passos largos parando em frente a morena -. Repete comigo: Mis-cha – falou o nome bem devagar, mas logo mudando o assunto quando viu a loba se retirando -. Está indo para o lado errado se você está procurando pelos lobos.

A youkai virou-se imediatamente para encontrar uma raposa sorridente.

--O que você sabe deles? - perguntou aproximando-se da mais nova.

--Hm... não muito. Só que eles sumiram a vários anos e de uma hora para outra e que ocupam as terras a norte, mas para o topo – ela apontou para a o topo da montanha -.

--Mas alguma coisa? Em quantos estão? Onde foram vistos a última vez? - insistiu a loba.

--Não sei. Sou apenas uma filhote caso não tenha reparado. Não presto atenção nesse tipo de coisa – Mischa fez cara de pouco caso, cruzando os braços.

--Seja como for, você ajudou um pouco – respondeu sorrindo -. Arigato - disse passando a mão na cabeça da raposa -. Onde estão seus pais?

A raposa logo respondeu:

--Estou por conta própria.

--Por conta própria? Um filhote? - perguntou Mina não acreditando.

--É verdade – a raposa fez bico por ser dada como mentirosa -.

A loba segurou Mischa pela parte de trás da pequena roupa que usava e a levantou, fazendo-as ficarem cara-a-cara. Mina com cara de quem ainda não estava acreditando.

--Não minta – antes que pudesse dizer qualquer coisa a mais, captou um cheiro forte, incomodo e também sentiu o chão tremer, mesmo que levemente, ao ser pisado. Mischa começou a tremer e a fazer cara de choro e medo.

--Eles... eles... - mas não conseguia formar nenhuma frase coesa.

--“Eles” quem, Mischa? - perguntou Mina sem soltá-la.

Mas recebeu como resposta uma mordida no braço, o que a fez soltar a raposa e esta saiu correndo. “Corra!” foi só o que a ruiva falou antes de sumir numa pequena fumaça azul.

Mas o que deu nessa pequena?, resmungou Mina massageando o braço mordido e ignorando o conselho da ruiva. Aquela tinha esquecido do cheiro que sentira alguns instantes atrás e só voltara a dar valor a ele quando sentiu algo grande atrás de si, tão grande que formava uma sombra negra sobre ela.

Foi tudo muito rápido. Virou-se, chocada com o tamanho da criatura, ou melhor, youkai, que estava equilibrada sobre duas patas e com as outras duas mostrava as garras grandes e super afiadas e era revestida por uma pelagem negra. Não a fitou por muito tempo, fora atingida com tal violência por aquela enorme pata que fora arremessada a metros, rolando e batendo no chão até se chocar com uma árvore que quase se partiu. Desmaiou ouvindo o urro grosso do youkai, e vendo alguns borrões a sua frente.

Acordou, depois de não se sabe quanto tempo, apenas para voltar a dormir novamente. Mas dessa vez não ouviu mais o urro do youkai.

--Ela pode morrer... - foi a última coisa que ouviu antes de fechar os olhos. Palavras que a deixaram com medo, palavras que diziam que não poderia ver sua família humana de novo, nem muito menos outros youkais como ela.

Morrer...


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Notas finais do capítulo

E então?
Críticas (desde que seja construtiva), Sugestões e Opniões são muito bem vindas ^-^

Kisses mores
Vejo vocês no segundo cap. ( que eu não sei quando vai sair >—-< )



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