Original. escrita por Cari-chan


Capítulo 1
Único.




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As crianças vêm-nos como um conforto á noite. Quando se sentem sós e precisam que alguém as ouça. A doença abate-se e procuram refúgio e carinho nesses eternos companheiros que se prolongam pelos anos. E ela, porque queria um boneco de pelúcia?!

Estava prestes a terminar. Um ponto. Dois pontos.

- Ai! – levou o dedo rapidamente á boca onde se via uma bolha minúscula de sangue.

Só gostava que fosse um pouco mais parecido com ele.

Tinha as roupas laranja. O cabelo loiro. Até as famosas marcas como um gato na sua face não tinham sido esquecidas.

Mas não tinha o sorriso que a enternecia. Os olhos azuis que brilhavam.

Estreitou o boneco contra si e desejou sentir o seu calor. As mãos grandes a rolar pelas suas costas que agarrariam na cintura para a envolver num abraço apertado. A lágrima saudosa desabou. Nostálgica. Melancólica. Amorosa. A de pavor.

Era capaz de dar um nome a todas as gotas que agora caiam persistentemente. Porque simplesmente deixou-o fugir?! Quando confessou os seus sentimentos a Naruto ouviu-o dizer aquelas palavras que não deixam de ressoar na sua mente.

“Eu odeio pessoas que mentem para si mesmas.”

Como é que se prova às pessoas que as amamos?! Haveria uma maneira de lhe dizer que já não amava o Uchiha? Podemos apagar da memória anos de rejeição somente com palavras?!

Sabia que era tarde. Hinata confessara-lhe que declarar-se-ia uma vez mais a Naruto. Qual era esse dia?! Hoje. A sua imbecilidade não a fez impedir aquele encontro amoroso, mas, a fechar-se em casa enquanto fazia ou tentava fazer uma réplica do jovem loiro.

Já não tinha direitos. Não merecia interferir naquele futuro relacionamento.

Todos temos o nosso tempo.

O seu tinha-se esgotado.

- Naruto e Hinata juntos. – sussurrou baixo para ver o sabor que aquelas palavras poderiam ter.

E que gosto esperava ter? Passou a língua pelos lábios. Ardiam e chegavam ao coração. Doíam como se estivessem a espetar-lhe alfinetes. Aquela feria aberta que ela própria criou.

- Naruto. – não conseguiu conter o choro dos soluços. – Se eu pudesse – encostou a cara molhada de lágrimas á réplica do Uzumaki. – teria feito tudo de maneira a que fossemos felizes.

- Sakura-chan?

Aquela voz. Escondeu o boneco atrás das costas. Tinha a visão desfocada. A memória fez lembrar-lhe uma tarde de Verão. Ele era como o sol, quando estamos debaixo de água e temos coragem suficiente para abrir os olhos. Estava desfocado, ligeiramente aquoso devido às lágrimas, mas demasiado luminoso para poder vê-lo bem. Estaria assim tão longe da superfície?

O cheiro do loiro: flores de laranjeira. Sentia o calor dele, como o asfalto no Verão, no instante antes de ele a abraçar. Ela tinha regressado á vida.

- Sakura-chan. – a mão afagava os cabelos. – O que é que se passa?

- Desculpa.

- Pelo quê? – afastou-se ligeiramente corado pelo acto repentino de a ter abraçado.

- Por tudo. – desta vez deixou um sorriso lento crescer nos lábios. – Vieste aqui porquê?

- É que eu queria contar-te… - fez uma pausa. – Mas diz-me primeiro o que te deixou nesse estado? Alguém magoou-te?

- Não, ninguém me magoou. – não queria confessar o que lhe ia na alma sem saber o que ele lhe diria. – A Hinata foi falar contigo não foi?!

- Como é que sabias?

- Ela contou-me. – um nó formava-se na garganta. – Como é que correu?

Os olhos do Uzumaki desviaram-se para as madeixas loiras que apareciam atrás das costas de Sakura. Instintivamente agarrou no que poderia ser eventualmente aquilo. Vira a rosada a esconde-lo no momento em que apareceu, mas, a curiosidade invadiu-o e não resistiu em agarrar no objecto.

- Isto. – Sakura ficara pálida. – Isto é uma cópia de mim? – examinou o boneco.

- Da cá isso! – tirou o boneco das suas mãos enrubescida. – Não tinhas o direito. – levantou-se ficando de costas para ele.

- Sakura-chan, eu não queria. – levantou-se também. - Foi tu que o fizeste? – a voz mantinha a calma, mas ela denotou algo juntamente, como uma pontada de amor.

O turbilhão de emoções acabou por eclodir num rio de palavras.

- Sim, foi eu. E sabes porquê? – apertou o boneco contra si. – Porque eu já sei que te perdi! – falou um pouco mais alto. - Fui uma tola e rejeitei os teus sentimentos quando tudo o que eu queria era ser amada por ti, Naruto. Eu quero amar-te, mas sei que o meu tempo acabou. E olha o que a estupidez faz. – começou a chorar silenciosamente. – Fez-me fazer uma réplica de ti para quando me sentisse sozinha ter alguma coisa que me fizesse recordar-te. – fez uma pausa. - Não tenho direito também a pedir-te um clone. – riu de tristeza.

- Sakura-chan…

- Espera. – engoliu as lágrimas e tentou manter a voz firme. – Eu quero que sejas feliz com a Hinata. Vocês merecem ser felizes.

- Sakura-chan. – o seu nome pareciam labaredas que lhe aqueciam o peito. – Para quê que queres um boneco de pelúcia ou um kage bunshin. – os braços envolveram-se na cintura fina. – Quando podes ter o original?

- Espera. – voltou-se. – O quê?

- Eu gosto da Hinata. – olhou para a rosada. – Mas não posso enganar a mim mesmo dizendo que a amo. – com receio entrelaçou os dedos nos da Haruno. – Porque eu amo é a ti.

- Então porque é que tu não…

- Não tinha a certeza de nada Sakura-chan. Tinha medo de declarar-me, porque eu não sabia se na realidade também me amavas. – sorriu. – Mas agora vejo que sim.

- És um idiota.

Humedeceu os lábios. E eles tinham gosto a quê? A um toque de lábios que esperara desde sempre. Naruto deu um passo incerto, inclinando a cabeça, enquanto Sakura deixou-se levar, olhando fixamente para o loiro, e ao aproximar-se mais os seus olhos fecharam-se gradualmente. O beijo era calmo, e quando sentiram o desejo crescer, Naruto passou a língua nos lábios de Sakura suavemente com a intenção de aprofundar o beijo. As línguas conheciam-se gentilmente. Não tinham pressa. Queriam conhecer cada canto da boca um do outro com a suavidade do que era um beijo apaixonado e terno.

*

Deixou as cortinas abertas. A lua cheia invadia o quarto. Olhou para o lado e viu as costas de Naruto. Suspirou. Agora quando acordasse á noite não teria a solidão a invadir. O medo agora já não existia. Já não teria de agarrar-se a um boneco. Aproximou-se aninhando-se junto das costas do Uzumaki. Naruto ao sentir o seu toque voltou-se para ela. Sakura surpreendeu-se porque no seu olhar foi capaz de ver reflectida a lua mesmo que esta estivesse do outro lado ou uma luz que parecia um sonho.

- Amo-te, Sakura-chan.

E ela sabia que era verdade. Para quê, sonhos, réplicas, bonecos, clones, quando o melhor realmente era ter o original?

Deixar-se-ia ficar naquele porto de abrigo.

Para sempre.

Ou talvez um pouco mais que isso.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Ou um boneco de pelúcia do Naru? ;P