Seguimos Matheus até a sala, onde ele ainda cantarolava aquela música estúpida.

Helena, Gabe e Rafa nos encaravam, assustados. Joanna se segurava para não rir.

- Da onde que ele tirou isso? – Gabe perguntou.

- Ah, nós queríamos que ele fosse tomar banho, mas ele se recusava a ir. Por isso inventou essa história. – Romeu mentiu.

- Você sabe como são as crianças de hoje em dia. Fazem tudo para se safar. – Comentei.

- Ahn, ok... – Gabe disse, desconfiado. Rafa deu de ombros e Helena voltou ao seu estudo.

À tarde, Helena comunicou à gente que havíamos sido convidados para o casamento de sua tia que seria no dia seguinte.

- Tia Elaine finalmente vai desencalhar? Que milagre. – Romeu comentou.

- Como você não avisou isso antes? Agora eu só tenho hoje para achar o vestido perfeito! – Joanna reclamou.

- Desculpa... Minha mãe me avisou há muito tempo, mas só agora que eu lembrei de contar pra vocês. – Helena disse.

- Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus, eu tenho que sair à procura de um vestido AGORA! – Joanna falou e Gabe foi atrás dela.

- Peraí, isso quer dizer que o Matheus vai ter que ir no casamento com a gente? – Perguntei.

- YAY! – Ele pulou.

- Não se empolga muito, não moleque. Você vai ter que se comportar. – Romeu avisou.

- Quem disse? Eu faço o que eu quiser. Sou eu que mando em vocês, esqueceram? Caso VOCÊS não se comportarem, irão se ver com a minha mãe. – Ele falou e depois sussurrou para só eu e Romeu ouvirmos: - E além do mais, eu posso muito bem contar para os seus amiguinhos as coisas que eu sei.

E foi embora da sala. Simples assim.

No dia seguinte, eu havia pego o único vestido longo que eu tinha. Ele era simples. Roxo, tomara-que-caia, com uma fita na cintura. Peguei um echarpe prata combinando com a minha sandália, deixei meu cabelo solto, fiz uma maquiagem simples porque o casamento era à tarde e fui para a sala. Lá, quase todos já estavam prontos. Menos Joanna e Gabe, óbvio.

Romeu havia feito o favor de arranjar um mini smoking para Matheus que estava um fofo com aquela roupa, tirando a cara de emburrado.

Helena estava linda com um vestido azul-escuro que batia no joelho de mangas compridas e também com uma fita na cintura. Ela havia prendido seu cabelo em um rabo de cavalo e pôs uma sandália preta.

Depois de uns 20 minutos esperando, Joanna e Gabe apareceram quase no mesmo tempo.

Gabe usava um smoking simples com gravata borboleta. O que chamava atenção ali era a cor dele. Seu smoking era rosa com glitter. Isso mesmo. Você leu certo. Rosa com glitter.

E seu sapato era da mesma cor.

Ele havia colocado o cabelo em um topete tão intacto que não tinha um fio pra fora e estava divo como sempre.

Os meninos caíram na gargalhada quando ele apareceu e tudo o que ele respondeu, foi:

- Dane-se. Eu sei que estou muito mais charmoso do que vocês mesmo.

O que fez os meninos gargalharem ainda mais.

Joanna vestia um vestido longo vinho com leves babados atrás. Ele era sem manga e prendia no pescoço dela como uma gola rolê. Ela usava uma sandália preta e seu cabelo estava preso em um coque com pequenos fios soltos na frente.

Percebi que Rafa não conseguia tirar os olhos dela.

Fomos para o casamento e chegamos um pouco atrasados por causa de Joanna e Gabe, mas conseguimos ver a noiva entrar na igreja.

Joanna chorava feito uma desesperada e elogiava todos os detalhes da roupa da noiva.

Enquanto Gabe, criticava:

- Ai meu Deus, essa música? Se eu fosse ela colocava uma música tradicional e não uma diferente. Ai que horror. Olha que madrinha gorda, gente. Credo. Ela sabe há mais de um mês que vai ter um casamento, então por que não fez uma dieta? E o que é aquele cabelo da mãe da noiva? Pelo amor de Deus, né!

Helena nem prestava atenção no casamento. Ela tinha levado seu celular com Internet 3G e não largava ele.

Rafa aproveitou o momento para consolar Joanna.

Matheus estava emburrado com os braços cruzados sentado no banco enquanto, em acessos de raiva, chutava a madeira.

E eu? Bom, eu observava Romeu olhar feito um bobo para sua tia e sorrir para o noivo. Eu não sabia que ele era tão próximo de sua família assim, pois ele nunca havia falado de ninguém.

Na festa do casamento, Romeu e Helena foram falar com seus parentes e nós fomos junto. Romeu nos apresentou para sua família com um sorriso no rosto.

- Julieta! Como você cresceu! – Laura, a mãe de Romeu e Helena, veio me abraçar com um enorme sorriso no rosto. – Meu Deus, eu te vi pequenininha! Como está sua mãe? Está se divertindo lá na Inglaterra?

Eu assenti com a cabeça.

Laura parecia ser uma pessoa muito gentil e legal. Mas ficar perto dela me fez ter uma saudade imensa da minha mãe.

- Então, o que eu quero saber, é: Quando é que você e o meu menino vão começar a namorar? – Ela perguntou, o que me fez arregalar os olhos. Olhei para Romeu e sua expressão estava igual à minha e juro que o vi enrubescer.

- Mãe, pelo amor de Deus não me faça pagar mico! – Ele pediu.

- Ah, querido, que isso? Para de besteira. – Ela disse e depois voltou a falar comigo. – Desde antes de vocês nascerem, eu e sua mãe queríamos ter um casal e que vocês ficassem juntos para nossas famílias ficarem unidas mesmo. Aí, quando eu tive o Romeu, o nomeei assim por causa da minha obsessão por Shakespeare. Logo depois, você nasceu. Nós duas ficamos loucas porque nosso sonho de ter um casal havia se tornado realidade. Então, para ficar mais mágico ainda, sua mãe lhe deu o nome de Julieta. Mas uns anos depois, nós perdemos um pouco de contato por causa dos nossos próprios problemas e acabamos esquecendo disso. Foi quando a gente se encontrou na manicure, que lembramos do nosso sonho e tentamos realizá-lo. Por isso que sua mãe concordou com a ideia de você ir para a república.

Eu estava boquiaberta com toda a armação que nossas mães haviam feito. E aposto que Romeu estava sentindo o mesmo, porque, ainda em choque, ele perguntou:

- E por que vocês nunca contaram isso pra gente?

- Ah sei lá, a gente tava com medo que não se realizasse e que se vocês descobrissem, iriam ficar rebeldes e namorar outras pessoas. – Laura respondeu.

- Ai meu Deus... – Falei, em choque. – Eu não acredito que eu me chamo Julieta por causa do Romeu...

Helena ria do nosso lado junto com Gabe enquanto Rafa e Joanna nos encaravam com os olhos arregalados.

- Então, eu acho melhor vocês desistirem dos seus sonhos porque eu e Julieta nos odiamos! E nada vai mudar isso. – Romeu disse e eu concordei com ele.

Voltamos para nossa mesa e Matheus não mudava sua feição aborrecida.

- Eu quero ir embora. – Ele disse.

- Desculpa, pequeno. Mas ninguém aqui vai embora. – Rafa falou.

- Eu quero ir embora AGORA! – Ele gritou.

- Sinto muito, Matheus. Você vai ter que ficar. – Falei.

- Ah é? Ok. Se vocês não vão fazer o que eu mando... – Ele se levantou e, para nossa surpresa, começou a correr e gritar enquanto chutava as coisas. Todo mundo começou a olhar para ele e para nós.

- Meu Deus do céu, alguém faz alguma coisa! – Joanna gritou.

E Rafa, para impressioná-la, saiu correndo atrás de Matheus.

Cena hilária: Um garotinho fazendo escândalo em um casamento e um cara metido a rapper correndo atrás dele.

Estava o maior tédio na mesa e eu queria que algo agitasse logo. Acho que Romeu achou o mesmo, porque só senti uma perna alisando a minha debaixo da mesa e quando olhei para cima, Romeu falou:

- Eu vou ao banheiro. Com licença. – Ele olhou diretamente para mim.

Deixei passar uns 2 minutos e falei que ia comer uns docinhos. Olhei diretamente para Joanna, esperando que ela entendesse que era para nos dar cobertura. Ela assentiu e começou a puxar assunto com Helena e Gabe.

Rafa continuava correndo atrás de Matheus.

Fui para o corredor onde tem os dois banheiros. Olhei para os dois lados e não vi ninguém. Comecei a me preocupar, pensando que Romeu tinha ido embora, quando senti alguém me agarrar por trás.

Eu dei um mini grito e Romeu colocou a mão na minha boca. Abriu a porta do banheiro feminino bem devagar e, como não tinha ninguém, ele sorriu e começou a me beijar, me levando para dentro.

- Por que aqui? – Perguntei, ofegante, entre beijos.

- Porque o banheiro masculino está cheio. – Ele respondeu.

- E se alguém aparecer? – Perguntei.

- Shhh. Chega de perguntas. – Ele falou e começou a me beijar mais intensamente.

De repente ouvimos vozes se aproximando.

Arregalei os olhos e Romeu me empurrou para uma cabine.

Ao identificarmos as vozes, nos encaramos e subimos no vaso sanitário.

Eu sabia que meu vestido estaria estragado, mas aquela era uma situação de emergência.

- Helena, eu realmente acho melhor a gente voltar pra mesa! – Joanna gritava, desesperada.

- Ué, por que? – Helena perguntou.

- Porque... – Joanna gaguejou. – Porque o Gabe não pode ficar guardando nossa mesa sozinho!

- O Gabe tem que aprender a se virar sozinho, Joanna. E eu estou apertada, com licença? – Helena falou e de repente, vimos nossa porta ser puxada. – Ué, esse banheiro está trancado?

Eu tentei me segurar, mas acabei espirrando.

Romeu arregalou os olhos e eu lhe mandei um olhar de desculpas.

- O que foi isso? – Helena perguntou.

- Ah, fui eu... – Joanna falou. – Acho que o vento lá de fora não está me fazendo bem.

- Droga, por que essa porta ta trancada?

- Ah, Helena, deve estar em manutenção, desiste e vai em outro. – Joanna tentou convencê-la.

- Ok então... – Helena concordou e ouvimos a porta do banheiro ao lado do nosso bater.

Depois ouvimos a descarga e a pia ligada.

- Vamos logo que eu estou precisando tomar um ar. – Joanna pediu.

- Mas você não estava espirrando por causa disso? – Helena perguntou e logo ouvimos a porta do banheiro bater.

Eu que estava tentando não respirar muito por causa nervoso, dei um grande suspiro de alívio.

Romeu abriu a porta da cabine, olhou para ver se não tinha ninguém e suspirou também.

- Essa foi por pouco. – Ele falou enquanto me ajudava a descer do vaso.

- Ai que nojo. – Reclamei quando vi que a ponta do meu vestido estava molhada com a água da privada.

- Eu vou na frente, você conta 5 minutos e vai depois. – Romeu disse e me deu um último selinho antes de ir embora. – Essa foi uma adrenalina e tanto.

E saiu rindo.

Quando eu saí do banheiro, estava uma multidão de mulheres perto do palco. Foi aí que eu percebi que a noiva ia jogar o buquê.

Joanna e Gabe foram para o meio da multidão e pulavam enlouquecidos.

Me sentei do lado de Helena e Romeu na nossa mesa que era perto do palco e fiquei observando. Helena nem tirava os olhos de seu celular enquanto mexia na sua Internet 3G.

- Que palhaçada, cara. Um bando de solteironas achando que um simples buquê vai trazer alguém pra elas. – Romeu comentou e revirou os olhos.

A noiva contou até 3, ameaçou jogar o buquê e quando jogou de verdade, o buquê foi parar no colo de... Adivinha quem?

Romeu.

Isso mesmo.

Ele arregalou os olhos e olhou para o buquê assustado.

- Eu não acredito nisso... – Helena comentou quando percebeu que seu irmão havia pegado o buquê.

Todas as mulheres do casamento olharam irritadas ou com um olhar malicioso para Romeu.

Ele começou a rir da situação e logo depois olhou para mim. Eu ri e ele sorriu.

Quando Romeu olhou para frente, percebi que Gabe piscou para ele. Romeu rapidamente desviou o olhar e entregou o buquê para Joanna que pulou feito uma louca de tanta felicidade.

O resto da noite foi normal. Tivemos que pedir mil desculpas pelos estragos que Matheus fez e Romeu disse que nunca mais conseguiria olhar para sua tia depois daquela vergonha toda.

No dia seguinte, logo depois da mãe de Matheus ir buscá-lo, eu estava vendo algumas fotos antigas da minha família, meus amigos e adivinha o que achei?

Helena e Romeu brincando comigo quando éramos crianças.

- Ai meu Deus, olha o que eu achei! – Apontei para a foto e logo, todos formaram um círculo em volta de mim.

- Own que fofos vocês! – Joanna comentou.

- Esses são seus pais, Julieta? – Rafa perguntou.

- Aham. – Sorri. – Eu não havia percebido o tamanho da saudade que eu estava sentindo deles até agora.

- Ué, você poderia visitá-los. – Gabe deu a ideia.

- Mas eles moram na Inglaterra, Gabe. Não é como se fosse na esquina ao lado. – Falei.

- Eu sei, Julieta. – Ele disse. – Mas, neste momento, está tudo ao seu favor: Você acabou de entrar no feriado do carnaval, tem dinheiro, não tem ninguém para deixar sozinho no Brasil e, além do mais, está morrendo de saudades dos seus pais. Não é como se você fosse morar lá. É só uma visita.

- Quer saber? – Falei. – Você tem razão. Está tudo ao meu favor. Que mal pode me fazer?

- Então, você vai para a Inglaterra? – Joanna perguntou.

- Vou! Eu vou para a Inglaterra! – Gritei de felicidade.

Se eu soubesse das coisas que iriam acontecer na Inglaterra... Não iria nem ter essa ideia.