Estava chocada. Ele não podia ser meu antigo amigo imaginário. Não é possível. Definitivamente, eu estava sonhando.

–Você está louco? Espera que eu acredite que você é meu amigo imaginário que eu esqueci há tanto tempo? Não é nem parecido com ele!

–Isso é porque eu cresci. Cresci junto com você, Judith. Me tornei o que você sonharia hoje em dia, ao invés de permanecer como era. Afinal, na época você tinha apenas 5 anos, não é? E você confessa que me esqueceu.

–Isso é ridículo! Mad Shadow era apenas uma silhueta preta com um chapéu que contava piadas quando eu estava sozinha... Você não é ele... Você é mais...

–Assustador? Medonho? Bonito?

Fiquei sem fala, enquanto o encarava. Estava com um nó na garganta, prestes a chorar de medo. Ele me encarava com uma expressão não muito agradável. Apenas um de seus olhos ficava a mostra, o outro era coberto pela sombra de seu chapéu. Sua roupa, um terno inteiramente preto, não me lembrava nada o meu amigável amigo imaginário.

Shadow tirou seu acessório da cabeça, jogando o cabelo escuro e comprido para trás. Olhou-me diferente, sem expressão assassina. Fiquei mais confortável com isso. Estava com os olhos baixos e um rosto sério.

–Judith, eu voltei do seu subconsciente por uma razão. Não foi ao acaso. Tenho percebido seu comportamento nos últimos meses, e você está cada vez mais rebelde.

Fiquei confusa.

–Você voltou para me dar um sermão ou alguma coisa parecida? –ele revirou os olhos.

–Não, vou facilitar as coisas para você.

–Hã? –agora eu fiquei confusa mesmo, ele percebeu.

–Vou te ajudar a lidar com as pessoas e se sair melhor.

–Como? –ele sorriu de um modo assustador.

–Acompanhe-me, por favor.

Se virou e desapareceu no escuro. Fiquei parada, sem saber o que fazer. Então, uma sombra de um homem alto e de chapéu apareceu refletida no nada, eu a reconheci. Era a mesma sombra dos outros sonhos, mas não parecia meu velho amigo imaginário. Mad Shadow era a sombra de um homem baixo e gordinho.

Segui a imagem, que por acaso não tinha pé, e sim uma névoa por onde deslizava. Era estranho.

Andamos um bom tempo até ele desaparecer novamente. Não tinha nada de diferente naquele lugar. Levei um susto com um estrondo que veio da minha direita, de longe. Fiquei olhando, mas nada apareceu.

Então, do mesmo lugar do barulho, o som de uma gaveta abrindo e algo gigantesco correndo em minha direção. Era uma parede, que iria me esmagar, se eu não tivesse dado um pulo para trás. Ela atravessou na minha frente, indo até onde meus olhos podiam alcançar.

Aquilo foi esquisito. Olhei para o que mais parecia a Muralha da China na minha frente, e percebi que havia algo diferente nela. Circulos. Vários círculos pequenos brilhantes espalhados, que depois descobri que eram maçanetas.

Levei outro susto com a mão enluvada de Mad Shadow em meu ombro. Ele sussurrou em meu ouvido, enquanto eu tentava me acalmar.

–Com essas pequenas maçanetas, sua vida vai se tornar um mar de rosas. Isso se você souber usá-las.

Depois, uma pequena risada do mal.