–Jude?

Tentei não virar o rosto para ele. Apenas continue fitando meu sanduíche como se não tivesse escutado. Mas ele continuava em insistir. Cutucou-me no braço e repetiu meu nome algumas vezes até eu suspirar, derrotada, e responder.

–O que foi, Michael?

–Você vai fazer greve da gente, é?

–Do que você esta falando?

–Jude, você não fala mais conosco desde sábado. Quer me explicar porque?

–Você sabe muito bem...

–Não, eu não sei. Se for por causa daquilo, você já devia ter superado. Nem eu nem Larah estamos bravos com você mais. Já faz 4 dias, Jude! Vai ficar com isso até quando?

Ele tinha razão. Eu sabia que tinha. Já era quarta-feira e eu tinha que parar com essa frescura. Era infantilidade. Mas eu simplesmente não conseguia. Olhar para seus olhos castanhos me fazia sentir mal e enrubescer. A culpa simplesmente não era minha.

–Desculpe Michael...eu...

Minha voz falhou assim que encontrei seu rosto preocupado olhando para mim. Desviei meu olhar para não corar novamente. Dei mais uma mordida no meu lanche. Ele suspirou pesadamente.

–Quer continuar com seu draminha? Tudo bem por mim. Saiba que estou muito chateado com você. Mais uma coisinha, eu e Larah estamos namorando e a culpa é sua.

Aquilo não foi sarcasmo. Parece que ele sabe que eu gosto dele e quis apenas me irritar. E a única pessoa que sabe é...

–MISCHA!

Ela se assustou com meu grito, dando um pulinho pra trás e erguendo os ombros.

–Ficou louca, mulher? Você não pode sair gritando pela escola desse jeito. O que foi agora?

–Você contou para o Michael que eu gosto dele?! Sua traíra!

Ela riu, colocando a mão em meu ombro.

–Não fui eu, estressadinha. Traíra? Traíra é um peixe, sabia?

–Então...como ele sabe?

Ela deu de ombros, continuando a mexer em seu armário. Aquilo me deixou intrigada e furiosa ao mesmo tempo. Se não foi ela, quem foi?

Ao chegar em casa, descarreguei minha raiva em um balde de sorvete e uma barra de chocolate. Talvez fosse apenas TPM, ou talvez Michael tinha me irritado profundamente mesmo. Moleque chato ele também...

Fui dormir tarde, porque fiquei assistindo televisão. Eu deitei na cama e demorei a dormir, e quando o fiz...

Eu abri os olhos. Estava tudo escuro e frio. Levantei-me, abraçando meus próprios braços, e andei um pouco, olhando em volta. Era tudo preto. Reparei que estava com a mesma roupa que na floresta.

Sentei no chão e tentei falar alguma coisa, mas aconteceu o que eu imaginava: estava falando em uma língua desconhecida. Suspirei pesadamente e me deitei, esperando adormecer novamente.

Então, ouvi a mesma voz encantadora. Sussurrei para mim mesma, mas dessa vez eu sabia o que estava dizendo:

“A sombra...”

Levantei-me e corri o mais rápido possível para o lado oposto da voz. Não deu certo, parecia encher o local e estar em todos os lados. Entrei em desespero, correndo para qualquer lugar, tentando me esconder ou despistá-la.

Achei uma parede no meio do nada, e me escondi atrás dela. Não sei se resolveria alguma coisa, mas eu queria pelo menos tentar. Escorreguei pela parede, sentando no chão e me encolhendo. Tentei dizer para mim mesma que não era real, que eu estava sonhando, mas eu não conseguia.

Aquilo tinha que ser real...era real!

Então, senti um braço envolvendo meus ombros e alguém cantando docemente ao meu lado. Abri os olhos e enxerguei apenas metade de um rosto pálido e com um grande sorriso ameaçador. Com os olhos negros como o lugar.

Ele deu uma gargalhada frenética e aumentou de tamanho, virando um grande mostro negro. Gritar foi a única coisa que fiz enquanto fui engolida pela escuridão novamente.