Harry Potter e a Arma de Slytherin escrita por Shanda Cavich


Capítulo 34
Capítulo 34 – A Herança dos Gaunt




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O garoto ouviu uma bronca que durou cerca de uma hora, assim que colocou o pé para dentro de casa, no primeiro dia de suspensão. No segundo dia, ouviu outra bronca ainda maior, vinda da mãe e do pai juntos. Já passara da meia-noite, terceiro dia, e Alvo estava sentado na escada da varanda, recordando algumas aulas de Aparatacão que teve nos primeiros dias de aula. Harry estava de plantão na prisão de Azkaban, onde fora chamado com urgência pelo departamento de aurores para impedir uma rebelião. Gina já estava dormindo.

Alvo estava vestido com um conjunto de vestes negras, calça e blazer, que contrastavam seu tom de pele claro. Ainda mais claro do que antes, o que poderia indicar um mal estar. Mas ao contrário do que tudo indicava, o garoto estava ótimo, ansioso para seguir com seu plano feito desde o momento em que a diretora da escola declarou sua suspensão temporária de uma semana.

O adolescente, que aquelas alturas assemelhavam-se a um jovem adulto pelas vestes rigorosas, levantou da escada e caminhou até os fundos do jardim, escuro como um labirinto. Olhou para a casa amarela uma última vez, e partiu.

Craque.

Foi fácil. Mais fácil do que ele imaginara. O lugar onde ele foi parar era tão escuro quanto o jardim de sua casa.

Lumus. – Alvo ergueu a varinha.

Com alguma iluminação, foi possível enxergar diversos túmulos ao seu redor. A maioria deles parecia muito antigo. Alguns estavam rachados, outros maiores tinham seus adornos quebrados. Uma grande estátua com asas estava derrubada sobre o gramado, e uma mata espessa cercava todo o local. Parecia óbvia a idéia de que aquele não era um lugar muito visitado, e provavelmente fora abandonado há muitos anos.

Alvo andou alguns passos até o centro, e avistou um túmulo incomum. Era maior do que os demais, e estava acorrentado. Tinha um formato de losango, e era constituído de pedraria negra. Ao olhar para baixo, notou peles de cobras espalhadas em sua volta. Na extremidade do suposto túmulo, estava gravado um pequeno texto e um nome.

"Aquele que muitos matou e muitos destruiu. Seu nome tornou-se lenda, e seu corpo uma carcaça dividida em oito. Aqui foi sepultado com a glória do justo destino, ao lado do pai de mesmo nome.

Tom Servolo Riddle 1926 – 1998."

Ao terminar de ler, uma risada extremamente grave soou por detrás dos arbustos a alguns metros de distância. Alvo, calmamente se virou para a direção de onde vinha a voz.

– Quem está aí?

A risada continuou.

– Você veio! – um homem encapuzado saiu detrás do matagal, sua varinha iluminava-lhe a face sorridente. – Puxa vida, o senhor veio mesmo, Sr. Potter!

– Como sabia que eu viria? – Alvo perguntou de modo natural, como se o encontro em questão fosse igual a outro qualquer.

– Scorpio Malfoy é meu sobrinho-neto, e coincidentemente, seu amigo. Já faz algum tempo que fico sabendo de algumas coisas sobre o senhor. Cerca de três dias atrás, Scorpio me contou sobre sua idéia de aparatar para cá quando tivesse a chance.

– Malfoy. – Alvo manteve seus olhos acesos, levemente maldosos.

– Não pense que o garoto te traiu, Sr. Potter, muito pelo contrário. – Rodolfo Lestrange abaixou o capuz. Seus longos cabelos negros escorreram sobre os ombros. – Ele, assim como boa parte de quem tem sangue puro, estamos todos juntos. Como da primeira vez. E por acaso o senhor também está conosco.

– Como pode ter certeza que estou com vocês? Sou um Potter, não sou?

– Está nos seus olhos, garoto. – o Comensal da Morte emanou uma voz sombria, quase sussurrante. – Sei muito bem o que veio procurar no cemitério de Little Hangleton.

– Estou à procura de uma arma. – Alvo olhou para o curioso túmulo mais uma vez.

– Então o senhor tem muita sorte por ter me encontrado aqui hoje. – Rodolfo deu um sorriso de canto a canto, revelando dentes terrivelmente escuros. – A arma que o senhor procura não está junto dele, Sr. Potter. Mas eu sei onde está.

Alvo deu alguns passos em torno da estátua derrubada no chão. Por um instante, achou que ela tinha se movido.

– E por que devo acreditar no senhor? – Alvo crispou os olhos azuis. – Se esta arma é tão poderosa, a ponto de ser o maior desejo do Lord das Trevas, por que o senhor não a tomou para si?

– Por causa disto. – Lestrange ergueu sua manga esquerda, mostrando a Marca Negra cravada em seu braço. – Lealdade.

Alvo ficou quieto. Rodolfo prosseguiu com a conversa.

– Sabe, garoto, o seu pai é um grande inimigo para nós...

– Meu pai não significa mais nada para mim. – interrompeu Alvo, fortemente. Era como se o ódio tomasse conta de sua voz.

– Entendo. – Rodolfo continuou. – Há coisas que o senhor precisa saber sobre a Arma de Slytherin, Sr. Potter.

– Sei o bastante, obrigado. – Alvo sorriu desdenhoso.

– Sabe, é? – Rodolfo pareceu confuso. – Melhor então, pouparei meu tempo. Nesses dois minutos que falei com o senhor, pude perceber que o senhor realmente sabe de muita coisa, tal como Oclumência e talvez, quem sabe... Necromancia.

Alvo levantou o queixo, demonstrando-se orgulhoso por ter bloqueado a tentativa do bruxo de usar Legilimência contra ele.

– Não sei muito sobre Necromancia, no geral. Entendo apenas da parte da comunicação com os mortos. Nos demais assuntos dessa habilidade, sou leigo infelizmente.

– Isso é o que o senhor pensa. – Lestrange deu uma risada bem humorada e até um pouco maldosa. – Mas não se sinta mal por isso. A comunicação já é o suficiente para adquirir grandes conhecimentos. O senhor mesmo deve saber disso mais do que eu.

– É. Acho que sim. – Alvo não estava sendo nem um pouco modesto. – Desconfio que uma das pessoas com quem falei durante os últimos dois anos seja o próprio Lord das Trevas. E é preciso alguém com mais conhecimento do que o Lord das Trevas para me contar sobre a arma? Claro que não.

Rodolfo Lestrange permaneceu sorrindo, mas desta vez soltou um urro de curiosidade.

– Não duvido disso.

– Eu falava bastante com alguém chamado Merie Tanug. – Alvo cruzou os braços, pensativo. – Tenho quase certeza de que isto é um codinome usado por ele.

– Mais uma vez está certo, Sr. Potter. – Rodolfo arregalou os olhos cor de avelã. – Merie é o diminutivo de Mérope. E Tanug só pode ser uma combinação alternativa do sobrenome Gaunt.

Alvo sentiu um arrepio. No momento em que começou a falar com a tal Merie a partir de seu terceiro ano escolar, não imaginava quem de fato ela poderia ser. Mas com o passar do tempo começou a supor a idéia de que poderia se tratar de Tom Riddle, pelo modo como "ela" falava a respeito de Magia Negra. Sabia coisas demais para ser uma simples menina. E Tom Riddle, querendo ou não, tinha laços até demais com a família Potter.

– Mérope Gaunt era o nome da mãe de Milorde. – Rodolfo continuou falando, seu tom de voz era grave e delongado. – A arma que o senhor procura pertence aos descendentes diretos de Salazar Slytherin.

– Está querendo dizer que eu não poderei pegá-la por não ser um desses descendentes? – Alvo direcionou a mão ao bolso, encostando a mão em sua varinha, por instinto.

– De maneira nenhuma, Sr. Potter. – Rodolfo estreitou os olhos para o túmulo de Tom Riddle. – Se foi o próprio Lord das Trevas quem encaminhou o senhor. Obviamente, senhor tem total direito de pegá-la.

– A Arma de Slytherin é a mesma arma que pode trazê-lo de volta a vida?

Por alguns segundos Rodolfo ficou em silêncio, pensando sobre qual era a melhor resposta para dar.

– Bom... Sabe-se que ela tem um poder muito grande. Não seria uma surpresa se pudesse ressuscitar alguém. – o Comensal ajeitou a capa. – Scorpio me disse que senhor tem mais em comum com o Lord das Trevas do que imagina. Talvez já tenha se perguntado por que perdeu a memória tantas vezes, ou o que o nome de Tom Riddle estava fazendo no Mapa do Maroto um tempo atrás.

Alvo, que antes estava caminhando em torno dos túmulos, parou imediatamente, como se tivesse acabado de bater contra uma parede de concreto.

– Suponho que tenha sido Malfoy que lhe contou sobre isso também. – disse Alvo, imitando a voz arrastada do melhor amigo. Já estava começando a sentir raiva dele, por ter contato tudo a um Comensal da Morte sem sua permissão. – Vai me dizer que o senhor tem uma explicação para isso?

– Tenho. – Lestrange tornou-se sério. – O Lord das Trevas morreu em 1998, após a Varinha das Varinhas ter se negado a lançar a maldição da morte contra seu pai, que na época era o dono dela. As horcruxes foram todas destruídas, o que fez todo mundo pensar que ele finalmente fora aniquilado, sem chances de retorno.

– Continue. – disse Alvo, quase em tom de comando.

– O espírito de Milorde está entre nós até hoje, procurando algum meio de voltar. E nós, Comensais da Morte, estamos fazendo todo o possível para ajudá-lo, retomando nossos antigos hábitos desde que fugimos de Azkaban. O senhor já deve ter reparado algumas mortes de sangues ruins nesses últimos tempos, não?

– Reparei sim. – disse Alvo, secamente. Olhava para trás de vez em quando, como se tivesse alguém esperando por ele. – Só não entendo o que isso tem a ver com as minhas crises de amnésia.

– Vejo que o senhor possui grande inteligência, estranho que não tenha descoberto o porquê disso ainda. – Rodolfo deu uma risada sarcástica. – O senhor acabou por se tornar um hospedeiro, Sr. Potter. O senhor se esquecia de coisas que falava ou fazia, pois tais coisas eram faladas ou feitas enquanto você esteve incorporando o Lord das Trevas.

– Está mentindo. – Alvo paralisou instintivamente.

– Ah, acredite em mim. Não tenho interesse algum em enganar o senhor. – disse Rodolfo, de modo gentil. – Pare, e tente se lembrar. Se o senhor se esforçar, verá que tudo o que eu disse faz o maior sentido.

Alvo encarou o infinito, como se estivesse tendo uma lembrança.

Flashback on

Já era madrugada. Após ter acabado de se despedir de Merie Tanug, com quem minutos antes tinha conversado através do Tabuleiro Branco, Alvo pegou no sono. Acordou depois de tempo indeterminado no mesmo local, com os chinelos calçados e mãos frias.

Subitamente Scorpio Malfoy adentrou o dormitório da Sonserina, segurando um pergaminho nas mãos.

– Onde você estava? – disse Alvo, que estava sentado em sua cama. O tabuleiro branco ao seu lado, ofuscante.

Scorpio levou alguns segundos para se recompor.

– Você precisa ver isto!

Alvo se aproximou de Malfoy, que abria o Mapa do Maroto em frente a seu nariz.

– O que tem demais? – Alvo se esforçava para encontrar alguma anormalidade no pergaminho.

Scorpio Malfoy abriu e fechou o mapa cinco vezes, para se certificar do que tinha visto.

Ele estava aqui agora a pouco!

– Quem?

– Tom Riddle!

Flashback off

Alvo novamente olhou para o rosto de Lestrange, que parecia satisfeito com alguma coisa. Uma fina chuva começou a cair. O garoto olhou para os pés, e notou uma cobra cinza se enrolando sobre um de seus tornozelos. Ao invés de sacudir a perna, pegou a cobra cuidadosamente e a manteve nas mãos.

– Venha comigo, Sr. Potter. – Rodolfo estendeu a mão com cortesia. – Vamos até a antiga casa de Servolo Gaunt.

Alvo deu alguns passos em direção ao Comensal, então parou.

– Não, espere. Eu... Eu preciso saber de algumas coisas antes.

– Saberá de tudo quando chegarmos lá. – disse Rodolfo, rispidamente. – Vamos?

– Eu confesso que não dou a mínima para as mortes dos sangues ruins. – Alvo hesitou, desconfiadamente. – Mas não quero tornar-me um criminoso como o senhor. Não quero ser o responsável pelo retorno dele!

– Garoto, ouça bem. – Rodolfo Lestrange comprimiu os olhos, começando a ficar impaciente. – Quer ser um bruxo medíocre até o dia de sua morte? Quer ser um bruxo sem nome, ofuscado pelo grandioso irmão mais velho?

– Não! – respondeu Alvo, imediatamente. Lembrara-se da bronca que ouvira ontem de seus pais. "Você nunca será como Tiago, Alvo. Pare de nos envergonhar!". – Não quero ser só mais um Potter.

– Então venha comigo. – Rodolfo Lestrange recolocou o capuz. Segurou a mão de Alvo, com certa grosseria, a fim de aparatar até alguns quilômetros dali, não muito longe. – O Lord das Trevas saberá recompensá-lo.


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Notas finais do capítulo

*-*