Harry Potter e a Arma de Slytherin escrita por Shanda Cavich


Capítulo 29
Capítulo 29 – Entre irmãos




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Havia se passado alguns dias desde o ocorrido no fim do campeonato de Quadribol. O aluno Russel Mcmillan finalmente acordara na enfermaria, aparentemente sem dor. Não se lembrava de como havia desmaiado, nem ao menos se lembrava de ter entrado em campo no dia do acidente. Os alunos da Lufa-lufa ficaram furiosos. Faziam acusações a todo o instante, afirmando que os sonserinos agiram de má-fé. Para a maioria, Russel fora nocauteado por um balaço, nada mais.

No salão comunal da Sonserina destacavam-se as cores e verde e negro. Se localizando nas masmorras, era mais do que provável que o lugar fosse sombrio, especialmente à noite. Os alunos festejavam desde a vitória no último jogo. Colocaram a Taça em cima da lareira, junto aos demais troféus. Alvo estava sentado no sofá do canto, próximo ao paredão de pedras que dava acesso a saída. Seu rosto expressava sono e cansaço.

– Mcmillan é um frouxo. Desmaiou por causa de um mísero balaço! – disse Scorpio, acariciando o mais novo prêmio da Casa, enquanto se convencia de sua própria mentira.

– Não seja tão duro, Malfoy. – lamentou Loretta Zabini. – Balaços são bem pesados. Muitos jogadores se machucam gravemente por causa deles.

– Oras, naquele jogo um balaço quase quebrou minha coluna, e nem por isso eu desmaiei! – Scorpio deu um sorriso desdenhoso, certo de que seu argumento acabaria com a conversa.

– Mas Mcmillan foi atingido na cabeça! – continuou Loretta, comprimindo os olhos. – Ou seja, um lugar muito mais sensível!

Scorpio Malfoy ficou quieto, então olhou para Alvo, na esperança de que ele o ajudasse a ganhar a discussão. Quando Alvo finalmente entendeu o que o amigo queria que ele fizesse, levantou do sofá.

– Sabe o que é, Zabini... – prosseguiu Alvo, indiferente. – De qualquer forma, Mcmillan ainda é um frouxo. Além de ele ser da Lufa-lufa que, diga-se de passagem, nem deveria ser considerada uma casa de Hogwarts, ele é um mestiço. E mestiços normalmente são frouxos. Um ou outro se salva.

– É isso aí. – complementou Scorpio, cruzando os braços.

Formou-se um grande silêncio. Alguns dos alunos se surpreenderam pela fala de Potter. Afinal, seu próprio pai era um mestiço, fato esse que nada o impediu de se tornar um grande bruxo, e de ter derrotado o mais temido mago da Grã-Bretanha.

Loretta Zabini chegou a dar um sorriso, concordando com o pequeno discurso do colega. Os demais alunos, como os típicos sonserinos que eram, só faltaram aplaudir. Alvo novamente sentou no sofá, então olhou para Scorpio:

– Vai viajar nessas férias?

– Acho que não. Papai estará muito ocupado. – a voz de Malfoy soou arrastada, como se o assunto em questão o fizesse sentir tédio.

– Achei que seu pai não precisasse disso, pensei que ele fosse apenas herdeiro. – disse Alvo, apressadamente. – Quer dizer, achei que ele jamais precisaria trabalhar... Você sabe, por ser muito rico.

– Não se trata de trabalho, Potter. É apenas uma ocupação temporária.

– Sem remuneração?

– Já disse, não é um emprego! – Scorpio revirou os olhos cinza de modo dramático. – Mas já que está tão interessado nisso, saiba que meu pai não é um simples assalariado. Ele trabalha sim, mas por conta própria. Ações em Gringotes, negociação de empréstimos, compra e venda de produtos na Borgin & Burkes... Enfim, o básico de todo o herdeiro bruxo.

– Entendo. Deve ser bom ter dinheiro assim. – Alvo suspirou. – Seguirá o mesmo caminho do seu pai, ou pretende fazer alguma outra coisa depois de Hogwarts?

– Ainda faltam alguns anos para isso, não? Espero que até lá o mundo bruxo esteja limpo da escória sangue ruim. – Scorpio sorriu maleficamente. – Farei o mesmo que papai, se tudo der certo. E você?

– Sabe que nem pensei nisso? – Alvo arrancou o profeta diário das mãos de um dos alunos que passava por ali, e deu uma olhada na foto de Harry Potter em uma das páginas. – Só sei que não quero ser auror igual ao meu pai. O santo Potter!

– Seu pai é mesmo um santo. Santo dos trouxas e sangues ruins.

– Nem me fale. – riu-se Alvo, em seguida olhou para baixo. – E por causa disso, há mais de dois anos sou considerado um traidor por ter vindo parar na Sonserina. Às vezes sinto... tanta raiva... tanto...

– Pois é, Potter. – Scorpio interrompeu, então olhou para os lados. – Falando nos Potters, ontem você disse que precisava roubar a capa da invisibilidade do seu irmão.

– Eu disse?

– Disse. – confirmou Scorpio Malfoy, franzindo a testa. – E ainda disse que iria usá-la para invadir a sala do Greengrass e pegar um frasco de Poção do Morto Vivo, sei lá pra que.

– Não me lembro de ter dito isso! – Alvo arregalou os olhos. – O que diabos eu faria com uma poção para cair no sono?

– Como é que eu vou saber? – Scorpio bufou. – Ah, deixe isso pra lá...

– Não! Isso é sério, Scorp! – Alvo pareceu assustado. – Você precisa me contar detalhadamente o que me ouviu falando!

– Ora, você sempre faz isso! Fala um monte de coisas, e depois fica me perguntando como se de nada soubesse. Eu é que sempre tenho que me lembrar de tudo pra você! – Malfoy gesticulava com as mãos, tediosamente. – Sou o que? Um lembrol?

Alvo suspirou. Seu olhar indicava preocupação, e até mesmo assombro. Levantou do sofá pela segunda vez. Olhou novamente para o jornal, e de um instante para outro, sentiu-se triste. Como se um remorso muito grande começasse a surgir em sua mente.

– Muitas coisas eu digo da boca pra fora, outras eu mal me lembro. Tenho receio de me tornar alguém ruim por causa do orgulho... Você sabe... da raiva que eu tenho por Tiago ser tão melhor em tudo.

– Ah não! Já vai começar... – Scorpio crispou os dentes, antecipando a ira.

Alvo olhou para suas mãos. Seus olhos azuis estavam ligeiramente úmidos, como se estivesse prestes a chorar.

– Coitado do Mcmillan! Krum iria conseguir apanhar o pomo de qualquer jeito, a gente não precisava ter...

– Fale baixo! – interrompeu Scorpio, segurando os ombros do amigo. – Quer que sua fama de louco aumente ainda mais? Uma hora você diz uma coisa, outra hora se contradiz totalmente!

Alvo ficou quieto durante alguns segundos, apenas observando os outros alunos subirem aos dormitórios. Discretamente enxugou os olhos, e voltou a olhar para Malfoy.

– Você tem razão, Scorp. Tenho que tentar me controlar.

– Tem mesmo! – Scorpio concordou com arrogância.

– Mas eu preciso entender o que está ocorrendo comigo. – Alvo andou até a escada, e subiu para o quarto.

No dia seguinte, os alunos circulavam de um lado para o outro entre os corredores, separando as bagagens e aproveitando para se despedirem dos amigos. O trem que levaria todos de volta à grande estação estava prestes a chegar. Scorpio Malfoy, vestindo um paletó elegante até demais para a sua idade, foi até o pátio. Quando passou pela fonte central, reparou o irmão de seu melhor amigo cochichando alguma coisa com Antony Longbottom. Para que pudesse ouvir melhor, escondeu-se atrás de uma das colunas.

– Papai vai ter que tomar alguma providência sobre ele. – sussurrou Tiago. – Às vezes penso que o ele não tem conserto, que a lavagem cerebral da Sonserina já se tornou permanente!

– O que acha que seu pai vai fazer? Tirá-lo de Hogwarts? – Antony surpreendeu-se.

– Eu não sei. Mas não é má idéia!

Assim que Tiago terminou de falar, Scorpio saiu detrás da coluna, e foi até os dois. Por uma fração de segundo, Tiago arrependeu-se de ter dito o que disse.

– É de Alvo que vocês estão falando? – Scorpio confrangeu os olhos cinzentos, direcionados precisamente ao rosto de Tiago.

Antony Longbottom deu um passo para trás, já supondo que a importância de sua presença acabara.

– Eu vou deixar vocês conversarem. – disse o grifinório, então saiu de perto, indo em direção ao corredor.

Tiago Potter suspirou, impaciente. Seus olhos por debaixo dos óculos se comprimiram até tornarem-se fendas.

– Ninguém o chamou aqui, Malfoy.

– Eu apareço sempre que quero, e quase nunca quando me chamam. Você é um bocado idiota!

– Não fale assim comigo, Draco Júnior. Bem sabe que não gosto de você!

– Sei sim. Estranharia se gostasse. – Scorpio cruzou os braços, e deu uma risada. – Existe um bom motivo para eu te chamar de idiota.

– Do que está falando? – Tiago, embora quisesse sair dali, se interessou pela conversa.

– Durante o ano inteiro, você bebeu uma poção que te deixou meio lerdo. Isso explica a sua desgraça no quadribol. – Malfoy gargalhou.

– O que diz? – o rosto de Tiago tomou uma cor vermelha de puro ódio.

Laqueus Tarditatem, é o nome dela. Consegui com meu padrinho, é claro. No começo ele estranhou meu pedido, afinal, pra que eu iria querer uma poção malfeitora?

Tiago rangeu os dentes.

– Está querendo me dizer que essa droga de poção me ferrou como jogador esse ano? Como foi que tomei isso?!

– Você é muito tolo mesmo! Alvo e eu colocávamos a poção uma vez por semana no seu suco de abóbora matinal, simples. – Scorpio fez cara de triste, gesticulando os punhos como se enxugasse lágrimas invisíveis. – Mas não se preocupe, Potter-mais-velho. Colocamos uma dose bem pequena! Pois se tivéssemos colocado a dose certa, o dano seria permanente. E você nunca mais iria poder desfilar com sua firebolt por aí, de tão lesado que iria ficar!

Rapidamente Tiago segurou as vestes de Scorpio com violência, erguendo-o alguns centímetros do chão. Não chegou a sentir vontade de matá-lo, mas pensou seriamente em dar-lhe bons socos na cara. O quadribol sempre foi sua paixão. O que fizeram com ele era imperdoável. Tiago já tinha estranhado como tivera mais dificuldades de aprendizado durante o ano, mas jamais supôs que seu problema podia se tratar de um complô envolvendo poções.

Sentindo extrema raiva e esquecendo-se completamente da magia, Tiago fechou o punho e levantou o braço na direção do garoto dois anos mais novo. No mesmo segundo em que quase chegou a agredi-lo, Tiago sentiu claramente uma varinha encostando-se a suas costas, quase furando o tecido de sua camisa.

– Solte-o. – a voz vinda de trás era bem familiar. Levemente grave.

Tiago largou as vestes de Scorpio, que ainda sorria como se nem se importasse.

– Salvo pelo gongo, Malfoy. – disse Tiago, reparando que quem lhe apontava a varinha era ninguém menos que seu irmão, Alvo. – Vocês dois vão se ver comigo e com a diretora McGonagall! Serão expulsos pelo que fizeram!

Scorpio fingiu tirar poeira da roupa, com cara de nojo, exatamente no lugar onde Tiago havia segurado um minuto atrás.

– Você não tem como provar. – Alvo ainda segurava sua varinha feita de nogueira e corda cardíaca de fênix. – Agora volte pra seus amigos sangues ruins e traidores, antes que eu perca a paciência.

– Não vou admitir que qualquer um de vocês fale comigo nesse tom. Estou farto de piadinhas e provocações vindas da Sonserina! Eu mereço respeito!

– Por que você acha que é tão merecedor de respeito, Tiago? Só por causa do nosso pai? – Alvo estava ainda mais sério do que o de costume. – Você mereceria respeito se agisse por si mesmo, e não pelo que os outros esperam que você seja!

– Você não sabe de nada, Alvo. – Tiago estava furioso. – Mesmo com toda essa tragédia que vem ocorrendo, mesmo com tudo que nosso pai já passou pra nos proteger, você só pensa em si mesmo!

– Não é verdade. – Alvo deu um sorriso irônico. – Não é minha culpa que você não tem personalidade e inteligência o suficiente para merecer meu respeito.

Expelliarmus! – disse Tiago, apontando sua varinha ao irmão.

Alvo bloqueou o feitiço tão rapidamente que Tiago chegou a se assustar. Alvo não pronunciou uma sequer palavra de proteção, apenas gesticulou a varinha a sua frente, como se já soubesse o que iria ocorrer. O irmão mais velho continuou com a varinha apontada, tomada pela mão trêmula. Estava decidido a tentar novamente.

Expelliar...

Estupore! – disse Alvo Severo Potter, o que fez Tiago ser lançado a mais de três metros de distância.

Depois de alguns minutos desacordado, Tiago levantou do chão de pedras com uma tremenda dor de cabeça. O feitiço de Alvo o atingira no ombro, mas foi forte o bastante para arremessá-lo e fazer com que batesse a testa em uma das colunas. Olhou para os lados, e os dois sonserinos não estavam mais ali. Seria prepotência, ou o irmão mais novo teria mesmo se tornado um poderoso legilimente?


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