Perda escrita por samzoey


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa é a minha primeira one-shot, espero que gostem. ;*



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Futuro. 2321

Observo deitada na grama, em silêncio, as ruínas da minha casa em chamas. Se fosse uma menina fútil, eu poderia simplesmente extravasar minha dor e frustração com gritos, ou chorar. Mas eu não sou. Observei em silêncio. O mundo estava exatamente daquele jeito. Em ruínas. Parece uma metáfora cruel, mas é verdade. Seres humanos simplesmente não conseguem coexistir, foi minha conclusão. Desorganizados, consumistas e egoístas. Isso que são. Incluo-me nesse meio, ao mesmo tempo em que arfo e percebo que o fim está próximo. Tão próximo que é quase afável.

Coloco a mão direita na lateral do corpo e a sinto molhar-se do sangue pegajoso, com cheiro de ferro. Minha cabeça gira e por um minuto eu fecho os olhos. Ao abri-los novamente me sinto completamente nauseada e tonta. A dor torna-se mais forte. Minha visão torna-se embaçada e restringida. Tento desviar meus pensamentos para outras coisas. Qualquer coisa.

O céu está acinzentado pelas cinzas das cidades arruinadas e destruídas pela guerra. Cinzas levadas pelo vento, cobrindo uma antes imensidão azul em outro tom deprimente. Meu país é a maior reserva de água do planeta. Com a escassez... Bem, o plano deles ficou bem óbvio; Eliminar todos que pudessem, para ter água só para eles. Lutaram e mataram inocentes.

E agora eu estava na vigília entre a vida e a morte, porque é isso que os seres humanos são: Uma passagem entre a vida e a morte. Meu pulso também banhado de sangue vertia o líquido vinho, e tudo o que eu conseguia pensar era Por que eu?

Mas engoli em seco e encarei a morte de frente, respirando pesadamente.

Minha visão se embaçou mais, e agora eu só podia ver os lampejos da pólvora que saía dos canhões e armas, do calor opressivo do fogo emanado da minha casa, do brilho das facas afiadas que retiniam umas nas outras em ameaça, prontas para cometer homicídio.

Agora faltava pouco. Rostos familiares tomaram conta da minha mente. Cenas alegres de quando nosso bairro ainda era tranqüilo e nós corríamos livres. Meus amigos... Perdidos. Podia quase vê-los abraçados a seus pais em suas casas, as lágrimas escorrendo e esperando o momento derradeiro em que lhes seria tirado um sopro de vida. Meus pais... Mortos na casa em chamas.

Uma lágrima escorreu do meu rosto ao lembrar dele... Uma das pessoas mais importantes que eu perdera até então. Meu amigo, apesar de tudo, meu romance secreto, meu confidente, minha alma em questão. Ele se fora. A compreensão parece algo tão terrível agora. De que ele se fora.

Não podia acabar ali. Devia haver algo do outro lado, forças divinas que nos mantivessem juntos. Pude senti-lo comigo ali, dando-me força para fazer a travessia, em um lugar onde minha camiseta não estivesse banhada em sangue, em um lugar onde o ar não me faltasse e eu ainda pudesse ver minha mãe sorrindo. Um lugar em que ele me desse a mão e corrêssemos com nossos amigos e não nos importássemos com um fim, porque ele não existiria. Mas no momento eu não estava em um lugar assim. Aquilo era vida real, e eu estava morrendo. Não perderia meu tempo imaginando algo que não existia.

Me senti como quando eu tinha catorze anos, inofensiva e vulnerável, sentada na grama, fechando os olhos, tentando ser forte. Meus pais tinham acabado de brigar, e eu queria fugir para bem longe dali. Os cabelos ruivos que se moviam com o vento, o vestido branco sujando na lama, e um sorriso nos lábios, de estar distante do que me afligia, da dor que eu sentia, mental, mas tão presente quanto a física que sentia agora.

Arfei, sentindo que era chegada a hora. Consegui levantar levemente a cabeça e ver pela última vez a minha casa. Outra lágrima desceu pela minha bochecha, chegando ao meu colar como uma lágrima de sangue. Deitei novamente a cabeça na grama e fechei os olhos. Não soltei a lateral do corpo, querendo estar presa até o último momento com minha dor.

Respirei uma última vez.


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Notas finais do capítulo

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