Eu acordei num lugar estranho e escuro, deitada num chão de pedra, em cima de um cobertor. Fiquei meio “abobada” por alguns minutos até entender – e lembrar – o que tinha acontecido.

O quarto tinha tons de cinza, como se fosse um porão; e não tinha janelas, de modo que era difícil saber o horário. Assim que eu pensei em abrir a porta – devia estar trancada, mas não custa tentar – William entrou.

Ele estava sério, e chegou perto.

– Onde estou? – perguntei.

– No subsolo de uma casa vazia.

Han?

– Não estamos mais em Orlando, Lyric Angel, e sim em Londres.

Meus olhos se arregalaram.

– Na Inglaterra? Mas como você...?

– Eu tenho meus próprios meios. Além disso, eu te sedei de qualquer maneira.

Suspirei. Que ótimo; eu estava em outro país, em outro continente, longe de todo mundo – até mesmo da minha família inglesa. Olhei para o meu braço; onde estavam os pontos? Mas eu não estava sangrando, então ele não havia tirado os pontos... certo?

– William... me explique tudo. Você é um vampiro, certo?

Ele riu.

– Sou algo muito pior do que um vampiro. Só porque provei seu sangue? – ele ria. – Existem várias razões para fazer isso. Você nunca se perguntou por que seus olhos são violeta, Lyric Angel?

Eu sabia a resposta – ou achava que sabia.

– É uma mutação, certo?

Ele riu.

– Nada disso. A cor violeta é a cor da transmutação, da transformação, da alquimia interior. Ou seja... uma troca. Existe uma razão para você ter olhos dessa cor.

– Uma troca? Como assim?

– Uma troca... um acordo.

Fiquei com cara de ponto de interrogação.

– Você ainda não entendeu? Troca, acordo... seus pais fizeram um acordo comigo.

– O quê?

– Lyric Angel, você morreu assim que nasceu, no chão da casa de seus pais aqui em Londres, pois não houve tempo de levar sua mãe ao hospital. Você parecia apressada para nascer... – ele riu. Continuei olhando, sem entender nada.

– Quer dizer que estou morta?

Ele balançou a cabeça.

– Vamos com calma, ainda não acabei. Como eu dizia... seus pais ficaram, obviamente, arrasados. Foi então que apareci para eles, e lhes propus um acordo.

Arregalei os olhos.

– Eu daria a eles dezesseis anos de felicidade, dezesseis anos com você; estavam tão desesperados que aceitaram na hora, sem que eu acabasse de falar o que queria em troca – ele deu aquele sorriso cínico novamente. – E a partir daquele momento, não havia como voltarem atrás. Eles teriam você até seu aniversário de dezesseis anos, e depois, você seria minha para sempre.

– Sua? Como assim?

– É simples: sou um demônio e sua alma pertence a mim.