- Porque não tenho ninguém. – Respondi simplesmente.

- Tens me a mim. – Disse ele como me disse no hospital. Naquele momento, no hospital, senti que sim, que o tinha a ele. Mas agora? Agora, não. Fez como todos os outros, foi-se embora. Nem sei se podia dizer isso, ele não se tinha ido embora, literalmente mas tinha-se afastado e muito. Nos últimos tempos, mal falava comigo, mal estava comigo.

- Também te afastaste, como os outros. – Disse-lhe, triste.

- Não percebo o que queres dizer.

- Eu fui gerada por um descuido. Nunca fui amada, foi como se não tivesse pais. A única pessoa que me amou foi o meu irmão Sean. Antes de vir para aqui, os meus pais deixaram-me e foram para Boston, o meu irmão mais velho deixou-me e a única pessoa que me amava, morreu. – Disse olhando para o horizonte. – Tu aproximaste-te e eu deixei. Quando me disseste que te tinha a ti, no hospital, senti que sim e fiquei feliz com isso. Mas fizeste como todos. Foste-te embora, claro que não literalmente mas afastaste-te. – Continuei. – Não sei se fiz algo e tu ficaste chateado, ou simplesmente te fartaste de mim, mas afastaste-te. E é essa uma das razões por eu estar sempre sozinha. Não acredito muito no amor, nunca ninguém se interessou em amar-me sem ser o meu irmão. Outra razão é porque as pessoas nem se dão ao trabalho de me conhecer, apenas não gostam de mim. Mas já estou acostumada. É o normal, o que me acontece desde bebé. Talvez até seja melhor, é da maneira que não sofro como sofri com a morte do meu irmão. – Disse. As lágrimas queriam escorregar-me pelas bochechas, mas eu impedi-as de sair dos olhos. Não queria chorar mais, muito menos à frente dele. Ele ficou uns minutos em silêncio a assimilar aquilo que eu lhe tinha dito.

- Desculpa, não foi de propósito. Nunca quis que te sentisses assim. – Desculpou-se ele. – Não faz mal, já estou habituada. Não posso obrigar ninguém a gostar de mim.

- Mas eu gosto de estar contigo, Alice. Se eu não gostasse, não vinha ter contigo. – Disse ele. – Eu gosto realmente de estar contigo mas não sei como agir quando estou contigo. Tenho sempre medo de dizer algo que te magoe. Mas quando eu digo que me tens a mim, estou a dizer a verdade. Não estou a brincar. Estou sempre aqui para te ajudar. Podes desabafar comigo se quiseres. – Disse ele.

- Obrigada, Jasper. – Agradeci, sorrindo um pouco.

- Gosto quando sorris, é tão raro! – Elogiou ele. Corei imediatamente. – A vida tem sido dura para ti, não é?

- Um pouco… mas nada que não se ultrapasse com o tempo.

Ficámos o resto da tarde a falar um com o outro, sentados ao pé do lago. Sentia-me bem ao seu lado, ele fazia sentir-me segura, fazia-me sentir algo que não sabia bem o que era. Nunca antes havia experimentado o que sinto quando estou com ele. Mas gosto, faz-me sentir bem. Já estava de noite e ainda continuávamos ali. Nenhum de nós queria voltar. Acabámos por nos deitar na relva, ficando a olhar para o céu estrelado.

- Olha a ursa maior! E ali está a ursa menor! – Disse ele. Foi-me dizendo o nome de outras constelações.

- Tu sabes o céu todo de cor? – Perguntei, espantada com a quantidade de constelações que ele sabia. Ele riu-se da minha pergunta.

- Não, apenas me interesso por estrelas. São bonitas, dão-se ao trabalho de todas as noites, “acordarem” e brilharem para nós. Fazem com que o nosso céu seja mais bonito e tenhamos uma noite mais clara. – Sorri para ele.

- Nunca tinha pensado assim, acerca das estrelas. – Disse-lhe eu.

- Ninguém pensa. Elas parecem algo banal, mas se um dia elas desaparecessem todas dávamos por falta delas. Elas são essenciais na noite.

- Gosto da tua maneira de pensar. – Disse sorrindo.

Ficámos os minutos seguintes em silêncio, mas num silêncio confortável. Não sei porquê, mas acabei por adormecer ao lado dele. Não é que não tivesse dormido de noite, mas simplesmente adormeci. Sentia-me tão bem, ao lado dele.

- Alice… - Ouvi alguém a chamar-me num sussurro. – Alice… - Continuou a chamar-me e a acariciar-me a mão.

- Mhmh… - Resmunguei. Queria continuar a dormir.

- Tens de acordar. – Disse a voz que parecia ser do Jasper.

- Porquê? – Perguntei ainda ensonada.

- Porque estás deitada na relva, ao relento. Não dormes melhor na tua cama? – Perguntou ele rindo-se. Abri os olhos lentamente e olhei para o seu rosto divertido. Ele tinha um sorriso lindo no rosto e os olhos dele brilhavam com a diversão que ele estava a sentir.

- Sim, acho que a minha cama é melhor. – Disse sorrindo.

- Ainda bem que concordas comigo. – Disse ele rindo. Ele levantou-se e depois ajudou-me a levantar. – Tens de ir comer algo, ainda não comemos nada.

- Que horas são? – Perguntei.

- Oito e meia. Devem estar a jantar, agora.

- É melhor irmos, antes que acabe a comida. – Disse eu. Eu não queria ficar sem comer.

- Sim, é melhor despacharmo-nos.

Voltámos para a instituição. Estavam a prepara-se para irem comer. A Esme e a Rose também iam comer aqui. Fui pegar num prato e meti um pouco de comida nele. De seguida, fui para a mesa da sala comer. Comi, satisfatoriamente. A comida está maravilhosa, ainda tentei ir repetir mas já não havia comida. Depois de comer tudo, fui para o meu quarto, ler um pouco. Eram dez da noite, quando alguém bate à porta do meu quarto.

- Entre. – Disse.

- Olá. – Disse o Jasper, entrando no quarto. – Só te vim desejar uma boa noite. Vou para casa. – Disse ele.

- Boa noite para ti também. – Disse sorrindo.

- Até manhã. – Despediu-se saindo do quarto.

- Até manhã. – Disse mas ele já não me ouvia. Depois disso, fechei o livro e fui dormir. Amanhã ainda tinha aulas. Elas estavam quase a acabar.

Acordei cedo, na manhã seguinte. Fui tomar um duche num instante e depois de me vestir fui tomar o pequeno-almoço. Quando já estava pronta, fui andando para a escola. Recebi dois dos testes que tinha feito e tive positiva nos dois. Não foi uma positiva alta mas foi uma positiva e eu fiquei contente com isso. Pelo menos tinha subido, para o próximo ia-me esforçar mais e tentar continuar a subir. Mal as aulas acabaram, fui para a instituição. Como ainda não estava lá ninguém, fui ver um pouco de televisão. Eram raros os momentos em que podia ver televisão, as crianças estavam sempre aqui. Fiquei a ver uma série que estava a passar.

Os restantes dias de aulas passaram num instante. Tive positiva em todos os testes menos no de matemática. Estive mesmo perto da positiva, mas ainda foi negativa. A Ellen ainda não me tinha pedido para mostrar os testes, então eu também não mostrei, não queria que ela se zangasse comigo por causa da negativa a matemática. Como era o ultimo dia de aulas, vim para a instituição mais cedo. Não estava lá ninguém, havia festa de natal na escola básica e foram todos para a festa. Quando entrei, a Ellen estava na cozinha.

- Boa tarde. – Disse educadamente.

- Boa tarde, Alice. – Disse ela. – Os teus testes? – Perguntou.

- Estão no quarto. – Disse.

- Então vai buscá-los. Quero vê-los. – Disse ela.

- Ok. – Fui ao quarto. Depositei a minha mochila a um canto e tirei os testes dentro da gaveta. De seguida, fui ter com a Ellen e dei-lhe os testes.  

- Mas tu és mesmo burra, rapariga, mesmo com as explicações tiveste negativa a matemática. – Disse ela rudemente.

- Eu esforcei-me e foi quase positiva.

- Se te esforçaste, não se viu nada. Quem se esforça não tem negativa e positivas tão baixas. – Continuou ela.

- Foi o melhor que consegui… - Disse a conter as lágrimas.

- Ai, foi o melhor que conseguiste? Só isto, para os próximos testes, quero notas mais altas, principalmente a matemática.

- Ok. – Disse simplesmente.

- Podes ir. – Disse ela, dando-me os testes para a mão. Fui a correr para o meu quarto. Eu tinha-me esforçado muito para ter aquelas notas e ela só sabe dizer mal. Eu não queria voltar a chorar por causa dela mas não consegui conter as lágrimas. Quando entrei no quarto já estava a chorar.