As lágrimas continuavam a aparecer. Eu queria parar de chorar. Estava farta de chorar, eu tinha de ser forte e encarar as coisas, mas eu não conseguia. Era tudo tão difícil, porquê? Começaram a bater à porta da casa de banho. Eu tinha-a trancado. Não queria que ninguém me visse assim. Tentei conter os soluços para quem quer que estivesse do lado de fora não ouvisse.
- Querida, eu sei que estás aí e que não estás bem. Por favor, abre a porta. – Pediu docemente a Esme. Limpei as lágrimas que ainda escorriam e levantei-me do chão da casa de banho. Abri a porta e deparei-me com uma Esme preocupada em frente à casa de banho. – O que se passou, querida? – Perguntou a Esme abraçando-me. Eu abracei-a com força e voltei a chorar mas desta vez no ombro dela. Ela levou-me cuidadosamente para a cama e fez-me deitar com a cabeça no seu colo. Ela não me disse nada enquanto eu estive a chorar. Esteve apenas a acariciar-me os cabelos para eu me acalmar.
- Abandonaram-me todos. – Solucei. Algumas lágrimas ainda escorriam.
- Ó querida, não penses nisso. Estás connosco agora. Não chores por causa deles. – Disse ela beijando a minha testa. – Eu não gosto de te ver assim. – Tentei controlar as lágrimas. Queria parar de chorar. – Querida, olha para mim. – Pediu a Esme docemente. – Eles não merecem que tu fiques assim por eles. Eles é que estão a perder por terem abandonado alguém como tu. Não sofras por eles, querida, eles não o merecem.
- Eu sei, mas eu não consigo controlar. – Respondi entre soluços.
- Eu sei que magoa, querida. – Disse ela acariciando o meu rosto levemente. – Eu sei, mas tens de esquecer isso. Tirá-los da tua vida.
- Eu vou tentar. – Prometi.
- Eu sei que sim. – Respondeu ela sorrindo ternamente. – Mas agora, o que desencadeou isto tudo? De manhã estavas tão bem. – Hesitei um pouco a responder. Não sabia se havia de contar o que houve com a Helena. – Podes contar-me tudo, querida. Não te vou obrigar a nada, mas podes contar-me tudo aquilo que quiseres.
- Foi a Helena. – Comecei. – Ela, hoje, depois da aula de matemática veio ter comigo e perguntou-me porque é que eu ainda continuava em Forks. Foi ela que disse à assistência social que eu estava sozinha. Não sei como é que ela o soube, eu não disse a ninguém e a Rose também não. – Expliquei. – Eu disse-lhe que vocês me acolheram e ela aí ficou irritada e disse que vocês se iam fartar de mim porque eu só trazia problemas para as pessoas. – Disse num tom mais baixo e olhando para o lado.
- Querida, olha para mim. – Pediu a Esme. Hesitei um pouco mas acabei por olhar para ela. – Tu acreditaste no que ela disse? – Perguntou. Fiquei em silêncio e olhei para baixo para não encarar o olhar dela. – Querida?
- Só tenho medo que isso aconteça. – Respondi baixinho. – A minha própria família fez isso comigo, nada impede as outras pessoas fazerem o mesmo. – Expliquei.
- Querida. – Chamou a Esme para eu olhar outra vez para ela. – Nunca, mas nunca, eu e o Carlisle te faríamos isso. Nunca. Nós amamos-te e por isso nós acolhemos-te. Nunca te abandonaríamos. – Disse ela quando olhei nos olhos dela. – Nunca, minha querida. És muito importante para mim, Alice. – Continuou ela abraçando-me.
- Também és importante para mim, Esme, por isso é que tenho medo de te perder. Já perdi demasiada gente importante para mim. – Suspirei.
- Estás a falar do Jasper? – Perguntou a Esme. Afirmei com a cabeça. Sentia tanto a falta dele, sentia falta do seu apoio, dos momentos que passava com ele. – Sabes que ele ainda te ama, não sabes? – Disse ela. – Ele sabe o erro que cometeu e está a sofrer com isso. Sabes porque é que ele anda assim, abatido, nestes dias? – Perguntou ela. Neguei com a cabeça. – Ele descobriu que só te fez sofrer mais num momento em que precisavas do apoio dele. Ele culpa-se profundamente por isso.
- Ele não sabia o que se estava a passar. – Disse baixinho.
- Mas ele mesmo assim culpa-se. – Respondeu a Esme. – Dá-lhe a oportunidade dele falar contigo. Não estou a dizer para voltarem já a namorar ou a serem amigos, mas dá-lhe a oportunidade dele se explicar. – Pediu a Esme.
- Eu vou tentar. – Prometi.
- Obrigada, querida. – Agradeceu. – Agora, vou andando para baixo, tenho um projecto de um quarto para acabar. – Disse ela sorrindo. Ela ainda estava a fazer o meu quarto. Não sabia como estava, porque a Esme não me deixava ver nada, dizia que era uma surpresa. Sorri também para ela. Ela levantou-se da cama e saiu do quarto. Enquanto isso, eu também me levantei e fui fazer trabalhos de casa que tinha para amanhã. Como no dia anterior, a Rose acabou por ir ao meu quarto. Eu ainda estava a acabar de fazer os trabalhos de casa mas ela ajudou-me e eu acabei num instante.
- Estás melhor? – Perguntou ela um pouco hesitante, quando se deitou na minha cama. Olhei para ela confusa. – Ouvi-te a chorar Alice. Não fiz de propósito, mas estava a vir para o meu quarto e ouvi. – Explicou ela.
- Sim, estou melhor. – Respondi.
- Ainda bem. – Disse ela sorrindo para mim. Estava à espera que ela perguntasse o que se tinha passado. Ela era um pouco curiosa. Fui-me deitar ao lado dela.
- Foi a Helena. – Disse simplesmente. Eu não sabia como é que ela iria reagir ao que eu lhe ia dizer mas eu tinha que tentar. A Rose era a minha melhor amiga, eu sei que ela não compreendeu da outra vez mas eu sabia que desta vez era diferente. Pelo menos era isso que eu esperava.
- O quê? – Perguntou ela confusa olhando para mim.
- Foi a Helena que descobriu que eu estava a viver sozinha e contou à assistência social. – Expliquei.
- Cabra! – Murmurou a Rose com raiva. – Como é que descobriste isso? – Perguntou.
- Eu depois da aula de matemática, não fiquei a falar com professor. – Admiti. – A Helena começou a falar comigo. Ela sabe de tudo. Sabe que eu fui abandonada pelos meus pais e que depois o meu irmão saiu de casa, ela sabe que a Ellen é minha tia. E depois disse que provavelmente o Carlisle e a Esme se iam fartar de mim e iam-me abandonar tal como os outros fizeram.
- Alice, nós nunca te vamos abandonar, está bem?
- Eu sei. – Respondi sorrindo fraco.
- Então porque é que ficaste tão fragilizada? Porque é que estavas a chorar tanto? – Perguntou a Rose preocupada.
- Eu fiquei com medo. – Respondi sinceramente. – Fiquei com medo de vos perder. Vocês são demasiado importantes. Eu tinha medo apenas. – Respondi um pouco incoerente. – A minha própria família abandonou-me Rose. Na minha cabeça não havia nada que vos impedisse de fazer o mesmo. E eu fiquei com medo disso. Porque se vocês me abandonassem, eu não saberia como me reerguer. Não sabia como haveria de continuar a viver.
- Eu sei, Alice. Mas eu não quero que acredites em mais uma palavra vinda da boca da Helena. Ela só te quer atingir para te magoar, mais nada. – Disse ela. – Promete-me que nunca mais vais acreditar em nada do que ela diz.
- Eu prometo, Rose. – Disse sorrindo abertamente para ela. – A Esme disse-me que o Jasper anda abatido por me fazer sofrer num momento em que eu precisava dele. – Disse suspirando. Por mais que o Jasper me tenha magoado, eu ainda o amava a ainda me preocupava com ele. Eu não queria que ele estivesse triste.
- É verdade. Ele culpa-se por isso. – Disse a Rose olhando intensamente para mim.
- Ele não devia culpar-se. – Constatei. – Eu não o quero ver assim. – Desabafei.
- Tu ainda o amas. – Declarou a Rose sorrindo.
- Sim. – Disse corando um pouco. Nesse momento bateram à porta do meu quarto. – Entre. – Pedi.
- Boa noite. – Disse o Carlisle com um sorriso divertido no roso. Ele entrou no quarto e foi para o pé de nós. – Como foi o vosso dia? – Perguntou carinhosamente, dando um beijo na testa de cada uma.
- Bom. – Respondemos eu e a Rose.
- E o teu, pai? – Perguntou a Rose.
- Cansativo. – Respondeu ele. – Vamos comer? A Esme está à nossa espera. – Disse ele. Afirmámos as duas com a cabeça e levantámo-nos da cama. Fomos os três para baixo. Comemos com o resto da família e depois do jantar fiquei um pouco na sala a ver televisão. Quando já se estava a fazer tarde, fui dormir.

Rose
Hoje, eu ia falar com a Helena. Ela tinha que aprender a não se meter com as pessoas que eu amo. Meteu-se com o Jasper e com a Alice e estão os dois a sofrer por causa das acções dela. Eu não suporto vê-los sofrer. Tenho que fazer alguma coisa para que isso acabe.
Levantei-me cedo, mal dormi de noite. Não consegui. Tomei um banho rápido e de seguida fui para baixo tomar o pequeno-almoço. Estava apenas a minha mãe na cozinha. Os restantes ainda deviam estar a preparar-se para a escola. Tomei o pequeno-almoço calmamente e depois fiquei à espera dos outros na sala. Quando todos estavam prontos, fomos para a escola. Eu sabia que a Helena tinha aulas ao lado da minha sala, por isso, quando desse o toque de saída da primeira aula, eu ia ter com ela.
Entrei dentro da minha sala e sentei-me no meu lugar. Tinha esta aula com o Emmet e não tardou muito para ele chegar e sentar-se ao pé de mim.
- Bom dia. – Disse sorrindo para ele.
- Bom dia, ursinha. – Disse ele beijando-me apaixonadamente. – Tudo bem? – Perguntou sempre preocupado. Ele era sempre assim.
- Sim, tudo.
- Bom dia, alunos. Vamos a calar para eu começar a aula! – Disse o professor entrando na sala de aula. A aula passou num instante. Quando tocou disse o Emmet para ir andando para a outro aula, que também tinha comigo, que eu já ia lá ter. Dirigi-me à sala do lado que ainda estava com bastante gente e fiquei à espera que ela esvazia-se. Por sorte ou não, a Helena ficou para último. Fechei a porta e cheguei-me ao pé dela.
- Olá, Rose. – Disse ela cínica.
- Não me venhas com “Olá, Rose”. Quem tu pensas que és para dizeres aquilo à Alice? – Perguntei irritada.
- Eu não disse nada de mais. – Respondeu ela. – Apenas a verdade.
- Como é que tu podes ser assim? Julgava-te uma pessoa muito diferente. – Constatei.
- Não estou a perceber porque estás a dizer isso. Sou a mesma de sempre, a Alice é que deve ter te feito a cabeça contra mim.
- Não, não fez! Tu é que és uma manipuladora hipócrita! Fingiste ser uma coisa que não és para te aproximares do Jasper e fizeste toda a gente sofrer!
- Tu não tens o direito de me chamar assim! – Gritou ela puxando os meus cabelos. – Eu não admito isso.
- Cabra! – Gritei também puxando-lhe os cabelos. Eu não sei o que aconteceu a seguir. Foi tudo um enorme borrão para mim. Sentia ela a puxar-me os cabelos e a bater-me algumas vezes até que eu senti ser atirada contra algo e bater com a cabeça. Não desmaiei, fiquei apenas atordoada. Uma dor de cabeça horrível fez-se notar e eu gemi baixinho. Queria levantar-me mas não tinha forças para isso. Levei a mão à cabeça e notei que tinha um corte do lado direito, perto do sítio onde bati.
- O que é que se passa aqui? – Perguntou alguém. – O que é que aconteceu? – Voltou a perguntar a pessoa que eu agora desconfiava ser um dos professores de biologia da escola. A Helena devia estar muda porque eu não a ouvia falar. O professor agachou-se ao meu lado e viu que eu estava a sangrar do corte que tinha na cabeça. Ele voltou a levantar-se e não consegui acompanhar onde ele foi. Só sei que depois senti pressão sobre o meu corte. Estava confusa com o que estava a acontecer e de vez em quando parecia que desligava. – O que sentes? – Perguntou o professor.
- Dói-me a cabeça. – Respondi baixinho.
- Consegues sentar-te?
- Com ajuda, acho que consigo. – O professor ajudou-me e sentei-me contra a parede da sala de aula. Estava muito mais confortável do que deitada no chão.
- Helena, faz alguma coisa que se aproveite e liga para a emergência, ela precisa de ir ao hospital. – Ordenou o professor duramente para ela. Ouvi ela a marcar os números e depois a pedir para uma ambulância vir para a escola. – Não podes adormecer, está bem?
- Está bem. – Respondi.
- Segura aqui um pouco, vou buscar mais compressas. – Pediu. Levei a mão à minha cabeça e fiz pressão. Passado muito pouco tempo o professor voltou e aplicou mais compressas na minha cabeça.
Não demorou muito para os paramédicos virem. Eles prestaram-me cuidados no local e depois levaram-me para o hospital. Eu queria muito adormecer, mas eles não deixavam. A dor de cabeça ainda persistia. Só queria que não fosse nada de grave.