Esme

Estava a velar o sono da Alice. Ela era simplesmente adorável quando estava a dormir. Continuei a acariciar-lhe as costas, percebi que era algo que a acalmava. Ela estava tão doente, tão mal. A febre ainda não tinha baixado e ela tinha vomitado. Ela mal comeu, hoje. Estava com medo que isto fosse mais grave do que aquilo que estávamos a pensar. Não queria que nada lhe acontecesse. Já lhe tinha acontecido tanta coisa na vida, não queria que ela sofresse mais. Estava contente que o Jasper tivesse-se aproximado dela e que agora seja namorado dela. Ele tem ajudado-a tanto. Ela transformou-se noutra Alice. Já a via a sorrir. Percebia-se perfeitamente que ela estava feliz com ele. Ela merecia ser feliz.

Uma coisa que me encantava na Alice, era ela aparentar ser frágil e delicada. As feições dela faziam lembrar uma fada dos contos de fadas que eu contava às crianças aqui na instituição. Ela era adorável e estava muito feliz por ela me ter deixado aproximar. Ela não aceita toda a gente, ela não se dá nada bem com a Ellen, nem a Ellen com ela. Nunca percebi porque é que a Ellen não gosta da Alice, ela é tão adorável. Mas a Ellen também não gosta de crianças quase nenhumas, ainda não percebi porque é que ela abriu esta instituição.

Continuei a olhar para a Alice a dormir até o meu telemóvel tocar. Atendi o mais rápido que pude para não acordar a Alice.

- Estou? – Perguntei baixinho para a Alice não ouvir barulho.

- Mãe, onde estás? – Perguntou a Rose.

- Estou na instituição com a Alice.

- O Jasper?

- Está a dormir. Ele não dormiu a noite toda. A Alice está muito doente. – Disse-lhe.

- O que ela tem? – Perguntou a Rose preocupada.

- Está com febre altíssima e há bocado vomitou.

- Queres que eu vá aí, ajudar? Não tenho nada para fazer. – Disse a Rose.

- Se não te importares, querida. Queria ir fazer o almoço mas não quero deixar a Alice sozinha.

- Eu vou para aí, mãe. – Disse a Rose.

- Obrigada, querida.

- De nada, mãe. Amo-te. – Disse ela.

- Também te amo, Rosie.

Ela desligou o telemóvel e eu pus o meu na mesa-de-cabeceira. A Alice continuava a dormir. Passado um quarto de hora, a Rose chegou à instituição. Ouvi os seus passos em direcção ao quarto da Alice e depois entrou devagarinho.

- Bom dia. – Disse ela baixinho.

- Bom dia, querida. – Sussurrei, sorrindo para ela.

- Como é que ela está? – Perguntou a Rose preocupada com a Alice.

- Agora está melhor, apesar da febre ainda não ter baixado.

- Espero que ela fique melhor, rapidamente.

- Também eu.

- Já a convidaste para a festa de ano novo? – Perguntou ela sorrindo um pouco.

- Já.

- E…

- Ela aceitou. – Disse sorrindo. O sorriso da Rose também aumentou consideravelmente. – Querida, ficas aqui com ela, enquanto eu vou fazer o almoço?

- Fico. – Disse ela continuando a sorrir. Afastei-me um pouco da Alice e levantei-me da cama com cuidado para não a acordar. A Rose sentou-se ao lado dela e eu fui para a cozinha fazer o almoço. A Alice tinha que se alimentar.

Alice

Senti a Esme a sair da minha cama mas deixei-me ficar. Estava cansada e não me apetecia abrir os olhos. Depois senti alguém a sentar-se ao meu lado na cama. Queria ver quem era, mas não tinha forças. Continuei com os olhos fechados e acabei por adormecer outra vez, mas não por muito tempo. Passado um bocado voltei a acordar. Virei-me de barriga para cima e abri os olhos. Já estava um pouco melhor. Olhei para o lado e deparei-me com a Rose.

- Olá. – Disse sorrindo.

- Olá, Alice. Estás melhor? – Perguntou ela deitando-se para ficarmos ao mesmo nível.

- Sim, estou um pouco melhor. O que fazes aqui? – Perguntei.

- Liguei para a minha mãe e ela disse que estava contigo porque estavas doente e eu vim ajuda-la. Ela está a fazer o almoço.

- Não é preciso incomodarem-se. Eu desenrascava-me.

- Claro que era, Alice. Nada de protestar. – Disse ela séria e depois começou-se a rir. Ri-me com ela. Continuámos a falar as duas. Parecia que nos conhecíamos há anos. Tínhamos sempre assunto para falar. Falámos até a Esme entrar no quarto e nos chamar para almoçar.

- Queridas, eu sei que se estão a divertir a conversar, mas venham comer. – Disse ela a segunda vez, pois continuámos a falar e não nos levantámos da cama.

- Está bem, mãe, estamos a ir. – Disse a Rose a levantar-se da cama. Levantei-me também mas fui buscar um casaco para vestir. Estava cheia de frio fora da cama. Fomos as três para a cozinha e a Esme serviu-nos a comida. Não me apetecia comer, tinha medo que a comida me fizesse vomitar outra vez. Eu não queria vomitar outra vez, eu odiava vomitar. Comi um bocadinho e depois deixei o resto de lado.

- Querida, não comeste, nada. – Disse a Esme olhando preocupada.

- Não me apetece comer.

- Querida, faz um esforço. Come mais um bocadinho. – Pediu a Esme.

- Está bem. – Disse começando a comer outra vez. Comi mais um bocadinho e deixei um bocado no prato. A Esme não disse mais nada. Levantou a mesa e começou a lavar a loiça.

- Alice, podes ir acordar o Jasper para ele vir comer? – Perguntou a Esme.

- Posso. – Disse sorrindo abertamente. Fui até à sala, onde ele estava a dormir e depois comecei a beijar-lhe a bochecha. – Jasper, tens de acordar. – Disse ao ouvido dele. Ele remexeu-se e depois abriu os olhos. Quando me viu, sorriu.

- Mas que bela maneira de acordar. – Disse ele sorrindo.

- Tens de ir comer. – Disse beijando-o de seguida.

- Deita aqui um bocadinho comigo. – Pediu ele.

- Está bem. – Disse sorrindo. Ele deu-me espaço e eu deitei-me ao lado dele.

- Como te sentes? – Perguntou ele beijando a minha mão.

- Bem. – Respondi. Nem me estava a sentir muito mal, além do frio. Eu estava a tremer. A febre ainda não tinha baixado desde manhã.

- Sinto-te a tremer. – Disse ele pondo a mão na minha testa.

- Estou com frio. – Disse aconchegando-me mais a ele. Ele começou a acariciar-me a cabeça e a brincar com os meus cabelos. Ficámos um bocado aconchegados, até eu sentir o vómito a subir a garganta. Levantei-me bruscamente e corri para a casa de banho. Vomitei o que comi ao almoço para a sanita. Senti as lágrimas a fugirem-me dos olhos.

- Shh, Alice, está tudo bem! – Confortou-me o Jasper agarrando-me no cabelo. Ainda não tinha parado de vomitar mas as últimas vezes não saia nada. Eu sentia a minha garganta a fazer o movimento para vomitar mas já não vinha nada. Quando a minha garganta parou de fazer os movimentos de vómito, peguei num pouco de papel higiénico e limpei a boca. Puxei o autoclismo e depois sentei-me. O Jasper pegou em mim e pôs-me ao seu colo. Ainda chorava.

- Já está tudo bem. – Disse o Jasper limpando-me as lágrimas. Eu escondi a cabeça na curva do pescoço dele. Senti ele levantar-se e depois senti ele a andar. Ele sentou-se no sofá e eu fiquei ao colo dele. Continuava com a cara escondida na curva do seu pescoço. Sentia-me relaxada aconchegada a ele.

- Querido, tens de vir comer! – Ouvi a Esme a dizer. – O que se passou? – Perguntou ela ao lado do Jasper. Senti a mão dela nas minhas costas.

- Vomitou. – Disse o Jasper.

- Outra vez… Querida, estás bem? – Perguntou a Esme acariciando-me as costas. Afirmei com a cabeça.

- Ela já tinha vomitado? – Perguntou o Jasper preocupado.

- Sim, quando estavas a dormir. – Respondeu a Esme. – Querido, vai almoçar que eu fico aqui com ela.

- Alice, eu já volto, está bem? – Perguntou-me o Jasper docemente.

- Está bem. Vai comer. – Disse-lhe. Ele deitou-me no sofá e depois foi para a cozinha. A Esme veio para o pé de mim.

- Sentes-te melhor? – Perguntou acariciando a minha bochecha.

- Sim, sinto-me melhor. – Respondi sorrindo um pouco. – Obrigada por estar aqui. – Agradeci.

- Não tens de agradecer querida. Só quero que fiques bem. – Sorri para ela. Ela começou a acariciar-me as costas e eu comecei a ficar sonolenta, muito sonolenta. Acabei por adormecer.