Vida Cruzada escrita por Razi


Capítulo 19
Descoberta




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Chego em casa com o cair da tarde notando que tínhamos visita o que me faz ir para sala querendo saber quem era.

Deparo-me com papai tomando chá com uma garota de cabelo longo negro liso com uma franja reta, os olhos castanhos na pele alva do corpo magro e baixo sem qualquer charme.

-Katherine-san – ela diz erguendo-se sorridente.

Dou um sorriso de surpresa antes de correr meus olhos para papai que possuía uma expressão cautelosa que me fez concluir que essa “Sorriso Brilhante” não deveria ser tão inofensiva como parecia.

-Quem é essa? – pergunto olhando para o velho.

-Desculpe – ela se pronuncia – Sou Kaoro Fujikata, prazer.

-Acho que não preciso me apresentar – digo neutra.

-Uh! Seri-kun me falou sobre você – ela conta alegre – Você é bem diferente do que pensei.

-É mesmo? – indago cruzando os braços.

Seri-kun?

Não pode ser.

-Pensei encontrar uma garota de gangue – ela se explica gesticulando com as mãos – Roupa pesada.

-Lamento não ter atingido suas expectativas – satirizo.

Estou de mau humor e uma baixinha metida a ser rainha da alegria vem tomar meu tempo e não parece que ia sumir tão logo.

Ah tenha dó!

-Não! – ela exclama – É bom que a melhor amiga de Seri-kun parece ser séria e assim pode me ajudar.

-Um segundo – digo séria – Primeiro, o que você é do Serizawa?

-Sou noiva dele – ela responde sorridente.

Arregalo meus olhos chocada vendo seu sorriso ainda se alargando.

-Noiva? – sibilo com dificuldade.

-Sim, faz dois anos – ela confirma radiante- Mas só agora pudemos oficializar isso.

Ainda a olho pasma enquanto continua a tagarelar.

Não podia ser possível que fossem noivos.

-Katherine sente-se – papai diz direcionando-me para o sofá – Deve está cansada.

Suas palavras nem ficam gravadas em meu cérebro, não conseguia nem assimilar o que Kaoro dizia.

Queria que calasse a boca.

-Seri-kun não contou nada? – ela indaga retórica – Pensei que tivesse contado antes de se transferir para Housen.

-Como é? – pergunto franzindo a testa.

-Katherine – papai me chama – Beba um pouco de chá.

-Pode me trazer um café? – peço séria – Forte e amargo.

Kaoro sorri novamente fazendo-me olhá-la.

-Soube que é viciada em café e refrigerante – ela conta enquanto papai sai da sala – E que detesta surpresas e doces.

-Parece que sabe muito de mim – comento seca.

-Seri-kun me contou sobre você – ela esclarece – No inicio fiquei com ciúmes, mas depois me acostumei. Eu vou ser sua esposa e você já é a melhor amiga dele. Tenho que aceitar isso.

-Quando essa coisa de noivado começou? – pergunto pausadamente.

-Nossos pais concluíram que a união de nossas famílias seria boa para os negócios, como também mostraria que a Yakuza possuía grandes pesos ainda – ela responde pensativa – No inicio fiz cara feia para o assunto, mas depois de ver o herdeiro da família Serizawa foi amor instantâneo!

Engulo em seco controlando a vontade de chorar.

-Yakuza – digo solene – Vocês dois são membros da máfia japonesa.

-Certamente você deve nos ver como delinqüentes – ela comenta – Mas não podemos mudar que nascemos sobre a mesma estrela.

Dou um sorriso de descrença.

-Casamento arranjado tão cedo... – reflito a olhando.

-Bem só iremos nos casar quando terminamos o colegial – ela esclarece – Mas já se sabe que somos destinados um ao outro.

Assento com a cabeça ainda controlando minhas lágrimas.

-Não te procurei antes porque pensei que ainda deveria estar absorvendo isso – ela continua – Mas como estamos tão perto de nos casar, achei que era hora de te conhecer e pedir ajuda com Seri-kun.

-Kaoro! – Allan exclama.

-Taka-kun – ela diz alegre.

Volto meu olhar para ele vendo seu rosto pálido que me encarava.

Deveria estar com uma expressão tenebrosa.

-O que está fazendo aqui? – ele pergunta ganhando alguma cor.

Pego meu casaco e levanto-me.

-Tenho que sair – aviso passando por ele.

Corro para a porta saindo apressada.

Coloco meu casaco olhando para o céu que já mostrava um entardecer.

Precisava pensar sobre o que aquela garota me contou.

Ele era noivo, herdeiro de uma família que fazia parte do crime organizado, me enganou esse tempo todo.

Não apenas isso, mas simplesmente decidiu sumir quando poderia ter me dito que ficou noivo que não brigava daquele jeito apenas por brigar.

Que... Que era membro da Yakuza.

Poderia ter me contado tudo porque por mais que doesse seria bom para que eu aprendesse mais, que não ficasse me iludindo esperando que me notasse como uma garota em vez de sua melhor amiga.

Ergo meus olhos vendo o parque que freqüentávamos quando estudávamos juntos. Toco a corrente que sustenta a cadeira formando o balanço.

Foi aqui que tivemos momentos felizes.

Sento-me olhando tudo com nostalgia e não agüento prender as lagrimas mais. Então as deixo cair de meus olhos com toda a vontade que possuo.

Não era por apenas descobrir o que ele escondia, ia, além disso. A decepção, a desconfiança, a desilusão, tudo misturado.

Tudo entrelaçado.

-O que faz aqui sozinha? – ouço Hajime perguntar.

Ergo minha cabeça deparando com toda sua aparência que apenas ficara sexy com esses anos.

-Por que está chorando? – ele perguntando dando um passo hesitante.

Levo minhas mãos ao meu rosto limpando-o, até que ele as agarra olhando em meus olhos.

-Me diga o que aconteceu, Katherine – ele pede apertando minhas mãos.

Olhos suas pedras negras preocupadas que me desarmam num segundo como antes faziam.

-Conhece... – respiro fundo – Fujikata Kaoro?

A pressão que ele exercia nas minhas mãos desaparece enquanto espanto toma conta do seu rosto por poucos segundo até ele se recompor novamente afastando-se de mim.

- O que ela contou para você? – ele pergunta solene.

-Noivado e Yakuza – respondo com o mesmo tom.

Ele fica calado de costas para mim.

-Por que não me contou? – exijo o olhando – Não precisava mudar de colégio se tivesse me contado.

-Não pensou que eu possa ter vergonha de falar sobre isso com você? – ele devolve sério – Não pensou que minha relação com você queria que fosse diferente?

Ele se volta para mim deixando-me ver sua expressão serena.

-Queria que pelo menos você ficasse de fora disso – ele continua usando o mesmo tom ainda.

-Então quer dizer que todo mundo sabia disso? – indago o olhando com ceticismo.

-Hana descobriu dias atrás – ele se explica – Ela me obrigou a te contar isso.

-Sua covardia não deixou – concluo lutando com as lágrimas de novo.

-É complicado pra eu falar disso – ele se defende – Katherine como você queria que eu te explicasse isso?

-Com a boca – satirizo dura – Por que só comigo todos são delicados e preferem esconder as coisas?

-Porque não você não fica bem triste – ele responde pausadamente.

Olhos seus olhos cálidos que me fazem engolir novamente o choro.

Não iria chorar na sua frente.

-Naomi sabe da Kaoro? – indago o encarando.

-Sempre soube – ele declara respirando fundo.

-E mesmo assim aceitou ser sua namorada – digo em um tom cético.

-Fiz isso para protegê-la – ele esclarece sério – Naomi-san é diferente de você.

Olho-o intrigada enquanto o vento esvoaçava nossos cabelos.

-Ela não sabe brigar – ele explica – Não agüentaria ficar naquele colégio.

-Ela é inconseqüente – reflito balançando a cabeça.

-Algumas pessoas não possuem escolhas – ele a defende – Lembre-se disso.

-Vou me lembrar – concordo levantando-me.

Nos olhamos por alguns segundos que utilizei para ver que ainda não mostrava suas emoções, o que me frustra um pouco.

O pior é entender que mesmo com esses dois anos separados foram apenas férias do meu amor por ele, já que agora sentia o ritmo acelerado do meu coração diante de sua figura.

Minha fragilidade é perigosa.

-Desculpe – ele pronuncia rompendo o silêncio.

Pisco uma única vez antes de encará-lo novamente.

-Por ser estúpido? – indago com escárnio – Se for por isso, me desculpo também. Até, Serizawa.

Afasto-me dali sentindo meu corpo leve ao mesmo tempo ferido.

As marcas que pensei que estivessem cicatrizadas estão visíveis e sangrando.

Só que com o passar das horas elas irão se curar.

Não adianta pensar nisso.

-Katherine – Allan diz da porta do meu quarto.

Continuo olhando o movimento do ventilador no teto sem me dar ao trabalho de olhá-lo.

-Você fez bem em pedir que ele não me contasse sobre isso – dou um sorriso triste – Fez muito bem.

Uma solitária lagrima escorre do meu olho.

Seria a última vez que ia me dar ao trabalho disso.


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Notas finais do capítulo

Bem, próximo cap. mais um lado da Katherine aparece e outras coisas mais.
Até lá.
o/