O Pequeno Lord escrita por TassyRiddle


Capítulo 21
Capítulo 21




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Aquela era uma belíssima manhã de sol. Sim, o sol estava majestoso e emanava seus raios com força e poder, raios estes que iluminavam e aqueciam os arredores da Mansão Riddle, que ajudavam as plantas a crescer, os animais a conseguir alimentos, que convidavam a todos para desfrutar de um magnífico dia, e que ingressavam sem piedade pela janela de um adormecido menino que naquele mesmo dia completava seus 14 anos.

- Vamos dorminhoco!

Seu querido pai havia escancarado as cortinas.

- Já passam das dez...

E os belos raios de sol impactavam diretamente em seu rosto adormecido.

- Humm... – murmurou, escondendo-se embaixo das cobertas.

- Você quer ou não quer ver o seu presente?

Ok... Aquilo era golpe baixo. E Tom sabia muito bem disso.

- Presente? – na mesma hora duas belas esmeraldas se deixaram contemplar – Que presente?

- Primeiro você levanta e depois eu dou o presente.

- Certo – suspirou, afastando as cobertas e se colocando em pé de um salto. O belo corpo adolescente estava oculto sob um magnífico pijama verde-escuro de seda e o cabelo, é claro, encontrava-se mais bagunçado do que nunca – Já acordei papai...

O Lord, por sua vez, apenas sorriu e trouxe o menino para os seus braços, aproveitando para bagunçar ainda mais o cabelo desastroso do filho.

- Meu cabelo! – Harry reclamou.

- Pior do que isso não pode ficar.

- Engraçadinho...

- Bem, vá se arrumar, aniversariante, caso contrário não ganhará seus presentes.

- Ok, mas só porque você está me comprando – advertiu, seguindo para sua suíte, após dar um estalado beijo na bochecha de seu pai.

- Estou ciente disso – comentou divertido.

Pouco mais de meia hora se passou e quando Harry finalmente saiu do banheiro, completamente banhado e asseado, vestindo um conjunto de calça jeans preta e camiseta verde-clara com alguns detalhes prateados, encontrou o Lord acomodado displicentemente numa das poltronas de seu quarto folheando o que parecia ser a nova edição do Profeta-lixo-Diário. Não pensou duas vezes e correu para o colo daquele que era o ser que mais admirava no universo, esperando que este revelasse logo o seu presente.

- Então? – perguntou com um radiante sorriso.

- Parabéns, pequenino – acariciou os cabelos molhados.

- E...?

- E foi muito difícil escolher o seu presente já que você decidiu não brincar mais com seus brinquedos.

- Papai, por favor, não tenho mais doze anos.

- Nem me lembre... Enfim, acredito que seja isso o que você queria – com apenas um balançar de sua mão direita, Tom convocou um grande embrulho roxo e prata para o colo de Harry. Na mesma hora este se colocou a abri-lo para se deparar com um dos melhores presentes que poderia pensar.

- Como você conseguiu? – perguntou maravilhado.

- Contatos, pequeno, contatos são tudo. Mas precisei ir aos Estados Unidos da América, porque apenas os bruxos de lá adaptam a tecnologia muggle para o mundo mágico.

- Deve ter custado uma fortuna... – murmurou, mas não podia deixar de sorrir ao contemplar seu novíssimo notebook de uma tal empresa Apple-magic que fora adaptado para atender às necessidades do mundo mágico. Há algumas semanas Blaise aparecera com esta novidade e Harry simplesmente se encantou, assim como seus amigos, que provavelmente fariam o possível para conseguir tal presente de seus pais também. Afinal, às vezes, os muggles faziam algo que prestasse.

- Uma pequena fortuna, sim, porque comprei esse tal Ipod também. O vendedor disse que servia para colocar músicas e achei que você fosse gostar.

- Papai! – os olhos de Harry brilhavam contemplando os presentes – É genial! Obrigado! Obrigado! Obrigado!

Tom deixou que um sorriso auto-suficiente adornasse sua face para continuar:

- Isso não é tudo, Harry.

- O que?... Não? – perguntou surpreso, acomodando cuidadosamente seus novos presentes em cima da escrivaninha de mogno junto à parede.

- Não... – lentamente, com certo ar teatral, Tom tirou do bolso dois pequenos bilhetes dourados.

- O que é isso?

- Isso, pequeno, são ingressos para a Copa Mundial de Quadribol.

- Merlin! – Harry arregalou os olhos.

- Sim...

- VOCÊ É O MELHOR PAI DO MUNDO! – gritou, jogando-se mais uma vez no colo de um divertido Lord.

- Eu sei.

- E o mais humilde, é claro.

- Você sabe muito bem o que eu penso da modéstia.

- "O que é a modéstia senão uma humildade hipócrita, através da qual um homem pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não têm?" – Harry recitou solenemente as palavras de seu pai, fazendo com que um orgulhoso sorriso surgisse nos lábios deste.

- Exato. E falando em hipocrisia, o próprio Ministro Fudge entregou-me os ingressos em mãos, convidando-nos para o seu camarote privativo.

- O motivo?

- Você não adivinha, pequeno?

- Deixe-me ver... Transparecer para todo o Mundo Mágico que Lord Voldemort está em paz com o ministério, o que reafirma o Tratado de Paz, e de quebra mostrar o "salvador-do-mundo-mágico" ao seu povo imbecil.

- 10 pontos para Slytherin – comentou com sarcasmo.

- Bom, pelo menos apreciaremos um ótimo jogo.

- Sim, vejamos o lado bom. Agora vamos descer, aniversariante, porque os seus amigos devem estar chegando.

Harry assentiu com um sorriso e se colocou a acompanhar o mais velho para a sala de jantar, onde um delicioso café da manhã estava a sua espera. Contrariando os anos anteriores, Harry decidiu que queria um aniversário tranqüilo na Mansão Riddle apenas com seus amigos e família, aproveitando aquele agradável dia na piscina, no salão de jogos, no jardim... E contando, é claro, com um requintado menu de aniversário – diga-se: bolo de chocolate, sucos e as demais guloseimas que qualquer grande festa ofereceria – para que a reuniãozinha íntima não perdesse o glamour. As famílias de seus amigos, assim como seu padrinho e Narcisa, também estavam convidadas para o maravilhoso Brunch em comemoração ao seu aniversário e obviamente não perderiam a oportunidade de estar na presença do Lord e mimar um pouco o seu doce herdeiro.

- Finalmente! – um sorridente Harry pulou da mesa do café ao observar o namorado ingressar no aposento com Lucius e Narcisa logo atrás.

- Parabéns, Harry – os três Malfoy felicitaram, após uma profunda reverência ao Lord, e Draco imediatamente abriu os braços para que o menor pudesse se abrigar com um radiante sorriso.

- Malfoy! – o Lord estreitou os olhos diante da cena – Mantenha as mãos onde eu possa vê-las!

Na mesma hora, Draco engoliu em seco, afastando-se de Harry rapidamente. O pequeno Lord por sua vez, revirou os olhos, e depois de abraçar Narcisa e seu padrinho, ganhando presentes de ambos, agarrou a mão de um pálido Draco Malfoy e saiu dali em direção à piscina. Logo Pansy, Blaise e Theo chegariam.

-x-

O tão esperado dia da Copa Mundial de Quadribol não demorou a surgir. Logo Harry e seus amigos se viram perambulando pela imponente estrutura de metal que funcionava como arquibancada, para que todos os magos e bruxas pudessem apreciar um dos espetáculos mais esperados do século. Seu pai, assim como os pais de seus amigos, vinha logo atrás, escoltado por sua guarda pessoal de Comensais que intimidavam qualquer um que ousasse cruzar seu caminho. As atenções, obviamente, estavam voltadas a eles, mas Harry não se importava. Apenas a emoção de poder assistir à Copa tomava conta de sua mente agora.

- É incrível! – Blaise murmurava – Vamos ver o Victor Krum ao vivo!

- Por que tanto escândalo?

- Pansy, é o Victor Krum!

- E...? – a menina arqueou uma sobrancelha com puro desdém.

- Ele é um gênio! – seus olhos brilhavam – O apanhador mais jovem da história! E o melhor!

- Céus...

- Blaise, Blaise, acho que você está apaixonado.

- Muito engraçado, Harry.

- Veja, parece que você não é o único fã enlouquecido – o pequeno Lord indicou um grupo de ruivos cheios de sardas que parecia subir pela arquibancada. Rony Weasley se encontrava com o rosto inteiro pintado com o nome: Krum.

- Credo, não me compare com os pobretões.

Quando os Weasley passaram pelo corredor próximo ao deles, as serpentes puderam ouvir as reclamações do mais novo do clã:

- Papai... Não chegamos nunca!

- Acalme-se Rony, é um ótimo lugar, consegui os ingressos com um amigo que garantiu excelente visibilidade.

Draco Malfoy, é claro, não poderia perder a chance:

- Pense pelo lado bom, Weasley, se chover, vocês serão os primeiros a saber.

E as risadas dos Slytherins logo foram ouvidas. Todos os ruivos, porém, sentiam suas faces queimarem de vergonha.

- Vamos, Dray – Harry chamou o namorado com um sorriso – Não vale à pena perder tempo com a ralé.

- Tem razão.

Assim, as pequenas serpentes seguiram o seu curso, deixando uma indignada família para trás. Os gêmeos queriam lançar uma maldição no herdeiro da fortuna Malfoy, mas mudaram de idéia ao repararem nos pais dos adolescentes os acompanhando de perto, mais precisamente no Lord das Trevas, que ouvira as cruéis palavras de Harry com um sorriso superior nos lábios e os olhos brilhando de satisfação. Quando a comitiva de Tom chegou ao camarote do Ministro, este sentiu suas pernas falharem, empalideceu, e não sabia ao certo se era por medo ou euforia, um pouco dos dois, suspeitava. De maneira efusiva, Cornélio Fudge cumprimentou o indiferente Lord e seus acompanhantes, mostrando especial interesse em Harry, que o encarou com aquela superioridade natural, imitando os gestos arrogantes e impessoais de seu pai. Não demorou muito e a comitiva do Lord – Lucius, Narcisa, o Sr. e a Sra. Zabini, o Sr. e a Sra. Parkinson, o Sr. Nott e seus respectivos herdeiros – acomodaram-se nos melhores lugares que obviamente estavam reservados a eles. Os Comensais da Morte encapuzados que faziam a escolta da família Riddle, agora, estavam espalhados pelo local, pareciam invisíveis, mas se algo ameaçasse Tom ou Harry não demorariam um segundo a aparecer com suas varinhas prontas para atacar.

E o jogo estava prestes a começar.

- Theo, você é a única pessoa que eu conheço que trás um livro para assistir a uma Copa de Quadribol – Harry comentou divertido. E o aludido apenas deus os ombros, fechando seu interessante livro sobre Maldições e Feitiços do Século XIX.

- Enquanto o jogo não começa...

- Ele sequer deve entender as regras do Quadribol.

- Devo lembrá-lo de quando o seu precioso nariz esteve a um passo de ser atingido pelo meu balaço, Malfoy?

- Ora seu...

- Não comecem!

E antes que mais uma discussão pudesse sair dali, Harry suspirou com alívio ao ver que o Ministro se levantava para dar início à partida, ou pelo menos era o que parecia até este parar ao lado do Lord e encará-lo com evidente temor.

- Er... Será que... que... que já é um bom momento para começar, senhor?... digo, Lord... digo...

- Está mais do que na hora – um exasperado Tom interveio.

E o Ministro assentiu depressa, correndo para a ponta do camarote que saía para o meio do estádio. Quando as luzes o enfocaram, ele apontou a varinha para a própria garganta e murmurou "Sonorus!"e então, sobrepondo-se à zoeira que agora enchia o estádio lotado falou; sua voz retumbou, ecoando em cada canto das arquibancadas:

- Senhoras e senhores! Bem-vindos à final da quadricentésima vigésima segunda Copa Mundial de Quadribol!

Os espectadores gritaram e bateram palmas. Milhares de bandeiras se agitaram, somando seus desafinados hinos nacionais à barulheira geral e o Lord, naquele instante, pensou que apenas por seu filho estava aturando algo como aquilo. O sorriso expectante de Harry, com certeza, valia à pena. A seguir, eles puderam observar o enorme placar negro que pairava em cima do estádio se apagar com a última propaganda – Feijõezinhos de todos os sabores Beto Botts... Um risco a cada dentada! – e acender com o seguinte informe:

BULGÁRIA: 0 IRLANDA: 0

- Agora, sem mais delongas, vamos apresentar... Os mascotes do time búlgaro!

O lado direito da arquibancada, que era uma massa completamente vermelha, berrou, manifestando sua aprovação. E Blaise, é claro, não poderia estar mais animado.

- O que será que eles trouxeram? – Harry murmurou, mas logo se deu conta ao reparar em mais de cem mulheres belíssimas deslizando pelo gramado.

Veelas.

Estas possuíam a pele tão branca e límpida que parecia refletir o luar e os cabelos, louro-prateados, abriam-se como um leque sem haver vento onde estavam. Então, uma música hipnótica começou a tocar, e as Veelas a dançar. Eram criaturas puramente mágicas e poderosas que enfeitiçavam a maioria dos homens e mulheres. Sim, a maioria, aqueles que possuíam uma quantidade incomum energia mágica percorrendo seus corpos não se viam afetados, pois os poderes delas acabavam neutralizados. Dessa maneira, um irritadíssimo Harry pôde impedir que o seu namorado se jogasse do camarote apenas para observar mais de perto a magnífica dança das Veelas.

- Draco Malfoy! Acorde!

Lá de longe, este pareceu ouvir a voz de Harry.

A música parou. Blaise estava a um passo de correr para o gramado, Theo havia se levantado para observar melhor tal espetáculo e até Pansy se mostrava interessada. Mas eles não corriam risco de vida. Apenas Draco, que ao se afastar da borda do camarote, deparou-se com os severos olhos verdes do pequeno Lord.

- Er...

- Posso saber o que você estava fazendo?

- Eu... – engasgou – Eu... Não sei o que houve...

- Harry, acalme-se – a divertida voz de Lucius o chamou da fileira acima – Você sabe do poder que as Veelas exercem, e Draco pode ser mais afetado devido às influências genéticas que...

- Mas padrinho! Você viu como ele estava quase se jogando lá embaixo?

Lucius e Narcisa sorriam divertidos, enquanto o Lord esperava que aquele incidente acabasse de uma vez por todas com o precoce namoro dos dois. Caso isso não ocorresse ele até poderia contratar uma Veela para seduzir o jovem Malfoy e assim... Não! Não podia pensar numa barbaridade – muito oportuna – dessas, se descobrisse, Harry jamais o perdoaria.

- Harry, eu sinto muito, não foi algo voluntário...

Mas antes que Draco pudesse continuar a se desculpar, gritos indignados começaram a encher o estádio. A multidão não queria que as Veelas se retirassem. Draco, interiormente, concordava; Harry, por sua vez, esperava que elas não voltassem mais.

- Mon amour... Tu es tout pour moi... – o loiro apelou. Sabia que o menor não resistia ao francês.

- Humm... Sei – deu um imperceptível sorriso – Você já mudou de time ou ainda torce pela Irlanda?

- Ora! Que calúnia! Você sabe que eu sempre serei pela Irlanda! – ainda que no fundo pensasse que a Bulgária merecia ganhar. Não sabia por que, mas pensava.

Harry se deixou abraçar com um pequeno sorriso. O Lord, é claro, apertou os punhos, mas respirou fundo, não seria conveniente lançar Maldições Cruciatos antes de o jogo começar... Quem sabe depois?... Não demorou muito e algo que lembrava um imenso cometa verde e ouro entrou velozmente no estádio. Deu uma volta completa, depois se dividiu em dois cometas menores, que se projetaram em direção às balizas. De repente, um arco-íris atravessou o céu do campo unindo as duas esferas luminosas. A multidão fazia "aaaaah" e "oooooh", como se presenciassem um espetáculo de fogos de artifício. Depois o arco-íris passou a se dissolver e as esferas se aproximaram e se fundiram; tinham formado um grande trevo refulgente, que subiu em direção ao céu e ficou pairando sobre as arquibancadas. Parecia estar deixando cair uma chuva dourada... Dourada... Ouro!

Os gritos extasiados logo se fizeram ouvir. E as pequenas serpentes, e seus pais, reviraram os olhos com o pensamento: "Essa plebe..."

O trevo então se dissolveu e os Leprechauns, que são os duendes irlandeses, foram descendo no lado do campo oposto ao das Veela, e se sentaram de pernas cruzadas para assistir à partida. Finalmente o Ministro anunciou o primeiro time a entrar em campo, o da Bulgária. Um vulto vermelho, na mesma hora, voou velozmente pelo campo a ponto de se equiparar a um borrão montado em uma vassoura. E uma enxurrada de aplausos não demorou a chegar, os torcedores iam ao delírio.

- Papai... – Harry chamou pelo Lord – Eu quero um daqueles – apontando para um homem magricela que parecia vender um tipo de binóculo dourado e acabara de ingressar no camarote para oferecê-los.

- Claro, chame-o aqui.

- Êba!

Com um aceno, e um imperceptível sorriso, Harry chamou o pobre homem que empalideceu ao ver quem era seu ilustre cliente. O Lord, no entanto, não se abalou e com um suave balançar de varinha fez uma bolsa preta, cheia de galeões, aparecer na frente do homem. Com aquela quantia comprava onióculos para Harry e seus amigos, que agradeceram com polidez e evidente entusiasmo.

Após a entrada do time irlandês, o Ministro tirou do bolso uma caixinha dourada e ao abri-la, anunciou:

- E começa a partida!

O pomo-de-ouro fora lançado.

Era Quadribol como Harry nunca vira ninguém jogar antes. Ele apertava os onióculos com força, a velocidade dos jogadores era incrível, tanto que precisava passar para o modo "jogada lenta" quando queria apreciar as jogadas com certa tranqüilidade. Ele apenas podia acompanhar o locutor Bagman:

- É Mullet! Troy! Moran! Dimitrov! De volta a Mullet! Troy! Levski consegue pegar! Morgan! – os artilheiros jogavam a goles um para o outro tão depressa que o pobre comentarista tinha tempo apenas de identificá-los.

- Uau! Esse jogo está...! – mas antes que Draco pudesse sequer continuar a frase, eles ouviram o grito de Bagman:

- GOL DE TROY!

- Uhuuuuuul!

Harry pulou em cima do namorado, que o girou, era gol da Irlanda. E o Lord, de repente, desejou que esta não fizesse mais gols. Contudo, a partida seguiu cheia de gols dos dois lados, ambos os times eram incríveis. Depois de uma hora e meia de jogo, na qual o goleiro búlgaro foi atingido por uns cinco balaços, permanecendo, porém, firme e forte, precisou-se dar um tempo obrigatório. Pelo visto os Leprechauns haviam se indignado com um pênalti a favor da Bulgária, e quando Mullet fora atingido novamente, correram para se juntar no céu formando as palavras "HÁ! HÁ! HÁ!". As Veelas, na mesma hora, levantaram-se de um salto, sacudindo os cabelos com raiva, prontas para atacar. Assim, não cabem dúvidas de que o pobre juiz, que tentava não sucumbir ao encanto das exaltadas Veelas, que haviam voltado a dançar, demoraria um pouco para colocar ordem na partida.

- Pelo visto temos um tempo – Harry comentou divertido – Papai, vou buscar alguns sapos de chocolate que vi a moça dos doces vendendo lá fora.

- Certo, mas volte logo.

- Pode deixar. Vocês querem alguma coisa? – perguntou aos amigos, mas Blaise estava distraído com as Veelas e Pansy parecia ponto de amaldiçoá-lo por isso, Theo, por sua vez, apenas negou com um aceno.

- Quer que eu vá com você?

- Não, pode ficar – revirou os olhos ao ver o namorado se divertindo com a briga que acontecia no campo.

- Já que insiste – Draco não pode conter os risos ao ver o juiz perder a compostura e começar a pular e dar cambalhotas para impressionar as Veelas. As belíssimas Veelas, cabe destacar.

Ao sair do camarote e seguir por alguns corredores, Harry não demorou a avistar a mulher com o carrinho de guloseimas, uma moça alta e languida que parecia necessitar de boas doses de açúcar. Tão absorvido estava em analisar a pobre mulher que não percebeu o piso meio solto, acabando por tropeçar, e seguir direto ao chão. Esperou com os olhos fortemente cerrados pelo impacto que nunca chegou, fora amparado por um tórax musculoso e dois braços que seguravam com força sua cintura, ao levantar os olhos para agradeceu ao seu salvador, não pôde evitar que uma intensa cor rosada se apoderasse de suas bochechas. Aquele garoto era realmente bonito.

- Er... Desculpe...

- Não se preocupe, mas você está bem? – questionou preocupado.

- Sim, obrigado.

Harry, por um segundo, perdeu-se na bela face do rapaz que parecia ser quatro ou cinco anos mais velho que ele. E Harry amava seu namorado, mas não era cego, assim, não pôde deixar de reparar no corpo alto, com músculos bem marcados, no cabelo castanho escuro penteado de maneira pulcra e sensual, e nos olhos castanho-claros que pareciam incríveis favos de mel e o encaravam intensamente. Sim, intensamente, porque o outro garoto também não era cego e apenas podia definir o menino com quem colidira como: um pedacinho do céu. O corpo menor que se adequava perfeitamente às feições angelicais, o cabelo negro revolvido de modo lascivo e aqueles brilhantes olhos verdes que fariam qualquer um perder a fala, eram demais para ele, para alguém que decidira sair apenas para comprar uma garrafinha de suco, e acabara salvando um lindo anjo de macular sua bela face no chão.

- Bom... – Harry murmurou, incomodado com o silêncio, afastando-se finalmente dos fortes braços que o envolviam – Obrigado mais uma vez.

- Disponha, er...?

- Harry. Meu nome é Harry Riddle.

- Cedric Diggory, um prazer.

E se Cedric sabia quem Harry era, não deixou transparecer, o que agradou muito ao moreno.

- O prazer é meu – os dois sorriam. Mas o sorriso de Harry logo desapareceu ao escutar uma gélida voz:

- Não vai me apresentar o seu novo amigo, Harry?

Um furioso Draco Malfoy estava parado há alguns passos dos dois.

- Dray – Harry suspirou imaginando o que estava por vir – este é Cedric Diggory, eu acabei de conhecê-lo e ele evitou que eu caísse no chão.

- Sei.

- Cedric, este é Draco Malfoy, meu...

- Sou o namorado dele.

Cedric entendeu perfeitamente o tom de ameaça.

- Vamos, Harry, o jogo começou.

- Mas...

- Vamos! – o loiro praticamente arrastou o namorado, que apenas pôde acenar para um perplexo Cedric. Este via sua sorte surgir e desaparecer no mesmo instante. Mas o que o tranqüilizou foi saber que ainda poderia se encontrar com o pequeno anjo de olhos verdes. Sorriu. Ambos iam a Hogwarts.

Quando chegaram ao camarote, o pequeno Lord fulminava um irritado Draco com o olhar. Este respirou fundo e se sentou, com a cara fechada. Mas Harry não deixaria aquele assunto acabar assim.

- O que diabos aconteceu com você? – perguntou num sussurro, pois não queria que os demais se interassem do episódio. Se seu pai desconfiasse que Draco Malfoy o arrastara pelos corredores até o camarote, este teria sorte se fosse convertido em cinzas.

- Nada.

- Draco.

- Já disse.

- Draco Malfoy!

- Quem era aquele cara abusado? – grunhiu finalmente.

- Céus... – revirou os olhos – Eu nem o conheço. Já disse que ele me amparou na queda, só isso.

- Não foi o que pareceu com ele praticamente arrancando a sua roupa com os olhos!

- Precisa ser tão vulgar? – corou.

- Foi o que eu vi!

Harry apenas respirou fundo, pegou seu onióculos, e ajustou para voltar a assistir ao jogo. Aquela discussão em sussurros não acabaria em lugar nenhum e ele sabia disso.

- Se ele se aproximar de você de novo eu vou...

- Dray, por favor, controle esse ciúme Veela.

- Hum! – o aludido apenas cruzou os braços, irritado, mas não disse mais nada e voltou a assistir à partida. Ou pelo menos tentou, mas não viu Victor Krum pegar o pomo de ouro numa manobra quase impensada, nem o placar anunciar:

BULGÁRIA: 160 IRLANDA: 170

E Draco Malfoy sequer ouviu o grito de Bagman que dizia: "VENCE A IRLANDA!". A única coisa que passava pela sua mente, ao observar o sorridente rosto do seu namorado, era como se livrar daquele imbecil que praticamente agarrara o inocente menino, sendo que se lembrava de vê-lo em Hogwarts, mas não sabia ao certo o ano e a casa. Mas se aquele desgraçado ousasse perseguir o seu namorado na escola, ele saberia porque um Malfoy é instruído desde o berço com as Maldições Imperdoáveis.

- Ganhamos! Dray, ganhamos! – Harry gritava, contente, jogando-se nos braços de um possessivo loiro que não demorou a segurá-lo com firmeza – Ganhamos! Krum pegou o pomo, mas a Irlanda ganhou! Uau!

- Sim, mon ange, eu vi.

Aquele emocionante jogo, contudo, não chegaria aos pés das emoções que assolariam a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts naquele ano. E seus ilustres alunos mal sabiam o que os esperava. Mas estavam a um passo de descobrir.

-x-

Para grande pesar de Harry, a primeira segunda-feira de setembro logo se fez presente, e com ela, o início do seu quarto ano em Hogwarts. Com um suspiro resignado ele precisou se despedir de seu pai e de Nagini para aturar mais uma vez o sorriso bonachão de Alvo Dumbledore, que não enganava ninguém, ninguém que possuísse neurônios, pelo menos. Agora, Harry e seus amigos se encontravam em uma cabine do Expresso Hogwarts, conversando sobre suas férias e é claro, sobre a emocionante Copa Mundial de Quadribol.

Bom, Harry, Draco e Blaise conversavam deste último tema. Pansy lixava as unhas com desinteresse e por vezes fazia algum comentário sobre os uniformes e a beleza de alguns jogadores. Aquele tal Krum, de acordo com ela, até que não estava nada mal. Ao ouvir isso, Blaise grunhiu alguma coisa e Draco e Harry trocaram um olhar cúmplice.

- Esses dois não enxergam o óbvio – o pequeno Lord sussurrou ao namorado, que assentiu, abraçando mais sua cintura.

Cabe destacar que de um lado estavam Pansy e Blaise, e do outro, Harry e Draco. O pequeno Lord se encontrava preguiçosamente recostado no peito do maior e este lhe acariciava os cabelos bagunçados. Obviamente, este era o motivo da ausência de Theodore, que apesar de prometer a Harry que não se intrometeria no namoro dele com Malfoy, não era masoquista a ponto de assistir de camarote a troca de carícias dos dois. Era melhor ficar na cabine de Crabbe e Goyle, ignorando-os e apreciando um bom livro.

- Guloseimas... Quem vai querer uma guloseima? – ouviram a voz da bruxa que vinha com o carrinho de doces.

- Eu quero uma varinha de alcaçuz, B! – Pansy demandou com um sorriso, pois o amigo havia se levantado para comprar alguns sapos de chocolate. Blaise, é claro, apenas revirou os olhos e assentiu.

- Vocês vão querer mais alguma coisa, meus queridos?

Draco negou, mas Harry se levantou e saiu à porta da cabine para comprar uma tortinha de limão.

- Apenas uma tortinha, querido?

- Humm... Então me veja também alguns dedinhos de chocolate recheados, por favor.

- É claro.

Uma terceira voz, porém, adiantou-se às costas da vendedora de doces:

- Tem suco de abóbora?

- Sim, minha querida, só me dê um minuto.

Mas a menina não escutou, ocupada de mais em sorrir para Harry, que esperava tranquilamente pelo seu pedido. Outras três garotas que estavam com ela não paravam de dar risadinhas emocionadas, olhando para Harry, e cochichando entre si.

- Olá... – ela cumprimentou com falsa timidez. Era uma garota alta, de cabelos longos e negros, com evidentes traços orientais.

- Oi.

- Meu nome é Cho Chang.

Harry, por sua vez, arqueou uma sobrancelha. Aquela garota não havia notado o ar de desinteresse em seu "Oi"? O escudo Revenclaw em sua túnica, pelo visto, fora mais um cruel engano do Chapéu Seletor.

- Harry Riddle.

- Oh! Eu sei! Sou buscadora do time Revenclaw, nós nos cruzamos algumas vezes, e é claro que você nos derrotou, você é incrível! Eu... Eu... Sempre acompanhei sua vida e...

- Deixe-me adivinhar, você acha que sabe tudo sobre mim, não é mesmo?

- Sim! Com certeza! – sorriu emocionada e suas amigas soltaram mais risadinhas – Eu e minhas amigas temos vários álbuns com fotos e reportagens que saíram no Profeta D...

- Então você deve saber – Harry a interrompeu – que ao invés de perder o meu precioso tempo com vocês, prefiro estar com meu namorado e meus amigos, com licença – assim, após acertar seu pedido, ele ingressou novamente na cabine e fechou a porta na cara das desoladas meninas. Não queria se estressar logo cedo com a superficialidade desse tipo de gente que não saberia distinguir entre um lobo e um metamorfo.

Ao se jogar novamente nos acolhedores braços de Draco, o menor suspirou, e as atenções logo se voltaram a ele.

- Algum problema? – o loiro perguntou.

- Não, problema algum, apenas garotas irritantes lá fora.

- O que? E o que elas queriam? – estreitou os olhos.

- Nada fora do comum, Dray, apenas poder falar com o suposto "salvador do mundo mágico" – sorriu com sarcasmo. E tanto Pansy quanto Blaise não puderam conter uma risada de desdém.

- Harryzito arrasando corações.

- A única coisa arrasada nelas, Pan, é o cérebro.

As ridas, é claro, logo se fizeram ouvir. E com isso, Draco relaxou, mas sem soltar o moreno.

Quando pareciam faltar uns quarenta minutos para chegar à Hogwarts, uma insistente batida na janela da cabine das jovens serpentes atraiu suas atenções. Pansy estava lendo a nova edição da revista-teen Pó de Fada, Blaise copiava do caderno de Harry a lição de poções que se esquecera de fazer e Harry e Draco cochilavam, abraçados.

- Harry, é para você – Pansy havia deixado a coruja entrar, e ao pegar o envelope que esta carregava, deparou-se com o nome de Harry numa elegante caligrafia – Veio com esse pequeno embrulho.

O sonolento menino apenas assentiu, abrindo o envelope.

- Será que meu pai se esqueceu de mandar alguma coisa?

- Imagino que sim – concordou Blaise, curioso para saber o que o pequeno embrulho vermelho e dourado guardava.

Harry, no entanto, mostrou-se incomodado ao começar a ler a cara, que obviamente não era de seu pai:

Caro Harry,
Fiquei ao feliz ao receber sua carta de agradecimento pela Firebolt, acredito que você será um ótimo apanhador, como seu pai.
Mas confesso que esperava mais cartas suas ao longo dessas férias, pois fiz o possível para me comunicar com você.
Mandei uma carta por semana, pelo menos, e ainda que as coisas estejam um pouco complicadas com minha cabeça a premio, acredito que poderei vê-lo em breve.
Bom, isso é o que desejo. Precisamos conversar, você precisa entender várias coisas e eu quero estar ao seu lado para ajudá-lo.
Quanto ao seu aniversário, não esqueci não, apenas não pude enviar o que eu queria naquele dia, mas espero que chegue antes de você voltar a Hogwarts.
Meus parabéns pelos seus 14 anos, e espero que a partir de agora possamos comemorar seus aniversários juntos.
Sim, tudo vai mudar, Harry. Em breve.
Atenciosamente,
Seu padrinho.
SB.

- O Lord...?

- Não. Não é do meu pai – Harry suspirou – É do Black.

- O que? – todos arregalaram os olhos.

- Ele acha mesmo que tem o direito de agir como meu padrinho, o idiotia, como se eu não soubesse o que ele e Dumbledore planejam. Confesso que possuo algumas curiosidades a respeito dele, mas não o quero perto de mim, meu pai está certo, não passa de uma armação.

- O embrulho...? – Pansy murmurou.

- Meu presente de aniversário, de acordo com ele.

- Você vai devolver?

- É claro que não, Dray. Posso não querer qualquer tipo de contato com ele, mas nunca recuso um bom presente, você sabe disso – deu uma piscadinha marota e com um rápido balançar de varinha desapareceu com a embalagem tão... Gryffindor. Contudo, ao contemplar o elegante objeto negro e prata que possuía o brasão Black como ornamento, não pôde conter um sorriso, aquele presente parecia realmente interessante.

- O que é isso?

- Um canivete, Blaise – Harry leu a pequena nota que estava anexada ao objeto – De acordo com Black, ele abre qualquer tipo de porta, mesmo aquelas que não se abrem com um feitiço.

- Uau...

- Exato.

- Uma capa de invisibilidade, o mapa do maroto e agora, este canivete – Draco o encarou de maneira suspicaz e Harry deu o seu melhor sorriso inocente, para acrescentar, num tom claramente sádico:

- Acredito que neste ano, Hogwarts estará ainda mais divertida, vocês não acham?

Um sorriso malicioso, é claro, não demorou a se apoderar dos jovens Slytherins.

-x-

O Salão Principal tinha o aspecto esplêndido de sempre, decorado para a festa de abertura do ano letivo. Pratos e taças de ouro refulgiam à luz de centenas e centenas de velas que flutuavam no ar sobre as mesas. As quatro mesas longas das Casas estavam cheias de alunos que falavam sem parar; no fundo do salão, os professore e outros funcionários sentavam-se numa quinta mesa, de frente para os estudantes. O ambiente era quente e aconchegante, e todos pareciam animados, expectantes e ansiosos pelo começo de mais um ano naquela maravilhosa escola. Bom, quase todos, Harry Riddle, seus amigos e por que não dizer, a maioria dos Slytherins conservava um enorme desdém pelo sorridente diretor, e pensavam que Hogwarts seria muito mais convidativa se a cabeça de Dumbledore estivesse fincada em uma lança, próxima à parede.

- Onde é que está o novo professor de Defesa Contra as Artes Obscuras? – perguntou Harry, olhando para a mesa dos professores.

- Talvez não conseguiram ninguém – ponderou Theo.

- É provável. Mas se o fizeram, espero que ele seja tão bom quanto o Lupin.

- Mas Harryzito... Ele se vestia mal!

- Pansy, por favor, estou falando das aulas, não do seu pobre figurino.

A menina fez um gracioso bico e seus amigos não puderam deixar de sorrir. Minutos depois, a seleção dos novos alunos começou, enchendo o Salão de aplausos e gritos de alegria. E quando a pequena Eleonora Branstone, a terceira estudante a ser chamada, foi selecionada para Hufflepuff, ao seguir distraidamente o trajeto da menina à sua mesa, Harry se deparou com um par de olhos castanho-claros observando-o atentamente. Aquele era... Céus, o garoto da Copa de Quadribol!

- "Bem que eu senti que já o havia visto antes" – refletiu, voltando seus olhos aos alunos que eram selecionados, pois não queria uma nova cena de Draco.

Então Cedric Diggory, se não se enganava de nome, também estudava em Hogwarts. Mas Harry, sendo um Slytherin, não pôde deixar de reparar que o bonito garoto era um Hufflepuff e aquilo, com certeza, desmerecia-o um pouco aos olhos do menino que fora criado pelo poderoso, porém preconceituoso, Lord das Trevas.

Finalmente, quando o último garoto – Malcolm Baddock – foi mandado para Slytherin, encerrou-se a seleção. McGonagall então apanhou o chapéu e o banquinho e levou-os embora.

- Já não era sem tempo – exclamou Blaise. E os demais assentiram.

Assim, Dumbledore se levantou para dar suas costumeiras orientações, sempre com aquele ar falsamente alegre que fazia o estômago de Harry revirar.

-... Tenho ainda o doloroso dever de informar que este ano não realizaremos a Copa de Quadribol entre as casas.

- O que?

- Mas como...?

- Isso não é justo!

Ouviram-se vários protestos. Harry estreitava perigosamente os olhos, tentando imaginar porque o imbecil do diretor cancelara os jogos, e o único motivo plausível parecia ser impedi-lo de conseguir a Taça para Slytherin pela quarta vez consecutiva. Aquilo era baixo, exatamente como Dumbledore.

- Isto de deve a um importante evento que ocorrerá em nossa escola – o diretor continuou – um evento que mobilizará muita energia e tempo dos professores, mas eu tenho certeza de que vocês irão apreciá-lo imensamente. Tenho o grande prazer de anunciar que este ano em Hogwarts...

Contudo, neste exato momento, ouviu-se uma trovoada ensurdecedora e as portas do Salão Principal se escancararam.

Apareceu um homem parado à porta, apoiado em um longo cajado e coberto por uma capa de viagem preta. Todas as cabeças no Salão Principal se viraram para o estranho, repentinamente iluminado por um relâmpago que cortou o teto. Ele abaixou o capuz, sacudiu uma longa juba de cabelos grisalhos e começou a caminhar em direção à mesa dos professores. Quando chegou até Dumbledore, o estranho estendeu a mão direita, que era tão cheia de cicatrizes quanto o rosto, e o diretor a apertou com um enorme sorriso, contrariando todo o prognóstico.

- Gostaria de apresentar o nosso novo professor de Defesa Contra as Artes Obscuras – disse Dumbledore, animado, em meio ao lúgubre silêncio – Professor Moody.

Era normal os novos membros do corpo docente serem recebidos com aplausos, mas ninguém bateu palmas, nem mesmo os demais professores, apenas Dumbledore e Hagrid. Todos pareciam demasiado hipnotizados pela aparência grotesca de Moody para ter qualquer reação.

- Alastor Moody – Theodore murmurou.

- O que foi, Theo?

- Nada. Mas creio que este seja o famoso Olho-Tonto-Moody.

- Quem? – questionou Pansy.

- Um Auror que capturou inúmeros bruxos e bruxas para o Ministério. Dizem que hoje em dia ele está completamente louco.

- E o velhote o chama para dar aulas?

- O que você esperava, Dray? É o Dumbledore!

O aludido pigarreou outra vez.

- Como eu ia dizendo – recomeçou ele, sorrindo – teremos a honra de sediar um evento incrível para o mundo da magia, um evento que não é realizado há um século. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos o Torneio Tribruxo em Hogwarts!

Várias exclamações cheias de assombro inundaram o lugar. Cochichos animados, murmúrios incrédulos e até mesmo gritos de espanto foram ouvidos.

- A gloria eterna é o que está reservado ao vencedor do torneio – continuou Dumbledore, e todos se calaram – Um representante de cada escola poderá participar para tentar ganhar a Traça Tribruxo e com ela, um premio individual de mil galeões!

Harry arqueou uma sobrancelha.

Mil galeões... Por acaso aquilo era muito?

Com um rápido balançar de sua mão direita, o diretor fez aparecer em cima da mesa dos professores a magnífica taça de cristal que se encontrava cheia de galeões dourados.

- Contudo, devido a recomendações do Ministério da Magia, este ano será imposta uma restrição de idade para se participar do torneio. Somente os alunos que forem maiores, isto é, possuírem mais de dezessete anos, terão permissão de apresentar seus nomes à seleção. Isto – Dumbledore precisou elevar a voz, pois várias pessoas haviam protestado indignadas ao ouvir suas palavras – é uma medida que julgamos necessária, pois as tarefas do torneio continuarão a ser difíceis e perigosas.

Antes que os alunos pudessem reclamar, o diretor de Hogwarts, que observara o aceno afirmativo do zelador Filch na porta do Salão, abriu um largo sorriso:

- Agora, meus queridos alunos, quero que vocês dêem às boas-vindas aos nossos ilustres convidados!

Os olhares curiosos logo se dirigiram às enormes portas do Salão Principal.

- Por favor, recebam os adoráveis estudantes da Academia de Magia Beauxbatons!

Instantaneamente, as portas se abriram, e por elas ingressaram pelo menos quinze meninos e meninas, caminhando de maneira altiva e reluzindo seus levíssimos trajes de seda, azul-celestes, em meio ao escuro lugar. Todos eles pareciam brilhar. Principalmente a menina que vinha à frente e possuía uma longa cascata de cabelos louro-prateados que caíam até sua cintura, olhos grandes e azuis, e um ar naturalmente encantador.

Harry sabia reconhecer uma Veela quando via uma. Ou uma semi-Veela, no caso. E o que mais o irritou naquele momento foi perceber o olhar embobado de Draco para a menina.

- Feche a boca ou você vai começar a babar – sussurrou mordaz, fazendo o loiro se recompor rapidamente, sem deixar de aplaudir.

Os estudantes de Hogwarts não puderam deixar de notar, é claro, a enorme mulher que vinha atrás dos alunos. Uma mulher languida, mas muito, muito, alta. Possuía um rosto bonito de pele morena, grandes olhos negros que pareciam líquidos e um nariz um tanto bicudo. Seu cabelo estava puxado para trás e preso em um coque na nuca. Vestia-se da cabeça aos pés de cetim negro e numerosas opalas brilhavam em seu pescoço e nos dedos grossos.

- Olímpia! – Dumbledore sorriu à diretora de Beauxbatons, e mal precisou se curvar para beijar-lhe a mão – Seja bem-vinda!

- Obrrrrigado, Alvo.

- Acomode-se, por favor.

Com um breve aceno, a diretora se acomodou numa cadeira, digamos, própria para o seu avantajado tamanho, ao lado do assento do diretor. E os jovens estudantes de Beauxbatons foram guiados pela professora McGonagall ao final da mesa Revenclaw, na qual surgiram vários assentos vagos.

- Maravilha! Peço agora que vocês, meus queridos, dêem às boas-vindas também aos sagazes alunos do Instituto Drumstang!

Mais uma enxurrada de aplausos tomou conta do Salão quando as portas se abriram e por ela ingressaram os quinze menino e meninas de Drumstang, usando vestes sóbrias em couro negro e marrom, e um ar tão gelado quanto o clima de sua terra natal. Logo atrás dos adolescentes, destacou-se o homem que usava uma capa sedosa e negra como o seu cabelo, um homem alto e magro que possuía um cavanhaque escondendo inteiramente o seu queixo fraco. Ao lado deste, um garoto forte, de cabelos bem curtos e sobrancelhas espessas, caminhava com altivez. E Harry não precisava do chute de Blaise em sua canela, nem do cochicho de Draco ao seu lado, para reconhecer aquele perfil.

- É o Victor Krum!

O Salão inteiro murmurava.

- Alvo!

- Igor! – cumprimentou o diretor – Fez boa viagem?

- Sim, sim, ótima. Como é bom estar em Hogwarts novamente.

- Então se acomode, meu caro, por favor.

O diretor de Drumstang logo se acomodou numa cadeira ao lado de Snape, que parecia tão animado com aquele torneio quanto uma criança para a sua primeira ida ao dentista. E os estudantes do Instituto, por sua vez, foram guiados por McGonagall ao final da mesa Slytherin, na qual vários lugares vagos surgiram para acomodá-los.

- Este ano – Dumbledore se dirigiu mais uma vez aos alunos – é acima de tudo para se fazer amigos. Então, por favor, eu peço que vocês não percam a oportunidade de se conhecer e é claro, de se divertir! Aos estudantes maiores de idade, que desejem participar do torneio, eu solicito que até a meia noite de segunda-feira coloquem um papelzinho com seus nomes dentro deste recipiente...

Com um balançar de varinha e um incompreensível murmúrio, Dumbledore convocou um enorme cálice de madeira toscamente talhado e cheio até a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impressão de dançar enlouquecidamente.

- Apresento-lhes o Cálice de Fogo!

Draco e Harry trocaram um significativo olhar.

Todo aquele estardalhaço do diretor por causa de uma velharia?

- Bom, estudantes maiores de idade, vocês têm até a próxima segunda-feira para colocar seus nomes aqui. O cálice os escolherá de maneira imparcial e somente aquele que seja apto e merecedor poderá representar sua escola. Mas agora, acho que já falei de mais, não é mesmo?

Todos assentiram.

- Então, sem mais delongas, vamos apreciar este magnífico jantar!

O banquete fora iniciado.

E os problemas para Harry e seus amigos, também. Ainda que estes não soubessem.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Esclarecimentos:

A frase: "O que é a modéstia senão uma humildade hipócrita, através da qual um homem pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não têm?" é de Arthur Schopenhauer.

"Mon amour. Tu es tout pour moi", significa: Meu amor. Você é tudo para mim.

"Mon ange", significa: Meu anjo.



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