Fugindo da Fama escrita por meglois


Capítulo 4
Conversa


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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Sakura

Estávamos os dois, de pé, cada um com uma das cadeiras de praia que o Sasuke tirou daquela casinha esquisita, na cobertura de um prédios que tinha apenas cinco andares. Na verdade, todos os prédios ao redor tinham quatro, cinco ou seis andares, então a vista que tínhamos dali de cima era muito agradável.

Sasuke armou sua cadeira tranquilamente, enquanto eu ainda lutava bravamente para tentar convencer a minha a ficar na posição certa. Sasuke olhou para mim com as sobrancelhas arqueadas.

_Vai ficar aí, só olhando? – perguntei, vendo que ele estava quase começando a rir.

_Não, eu posso rir também, se você quiser...

_Idiota! Vem me ajudar de uma vez, homem! – mandei, jogando a cadeira, ainda desmontada, no chão. – Ahhh, maldita cadeira! Ugh!

Sasuke riu, e pegou a cadeira do chão, armando-a perfeitamente em menos de um minuto. Olhou para mim, com um ar debochado.

_Oras, a cadeira não foi com a minha cara! Fazer o que? – justifiquei, me sentando na cadeira e jogando minha cabeça para trás. Sasuke se sentou também.

Olhei para ele, ele olhou para mim, nós nos olhamos e... acho que já deu para entender.

_Ok. Meu nome é Sasuke Uchiha, tenho 24 anos, era corretor de imóveis até três horas atrás, e moro em Nova Iorque desde os meus 13 anos. – disse ele.

_Hm? Para que isso tudo?

_Eu me apresentei. – explicou Sasuke, como se fosse a coisa mais natural do mundo. – Agora é sua vez.

_Então tá, né... – falei. – Meu nome é Sakura Haruno, tenho 22 anos, sou cantora de rock, e moro em Nova Iorque desde sempre... E agora?

_Sei lá. – ele deu de ombros. – Resolva aí, foi você quem quis conversar mesmo.

Levantei uma sobrancelha, desconfiada, mas acabei concordando.

_Tá bom... Então... Agora, você pode fazer qualquer pergunta sobre mim. Se não tiver pergunta nenhuma, eu faço. Mas tem que ser sobre as coisas que falamos agora a pouco. Tudo bem para você?

_Aham. Vá em frente, ainda não tenho nenhuma pergunta. – Sasuke fechou os olhos. Ficava lindo assim, dava um ar angelical a ele.

_Tá... – apoiei a cabeça em uma das mãos, pensando no que poderia perguntar. – Como assim, “era corretor até três horas atrás”?

Ele suspirou cansado, antes de responder.

Sasuke

_É que eu me demiti três horas atrás. – respondi.

_Oh. Ok, então. Eu devo sentir muito?

_De jeito nenhum.

_Que bom, que bom. Então estamos em uma situação parecida. Ou estávamos, três horas atrás. – disse Sakura.

_Como assim? – eu perguntei confuso.

_Três horas atrás, você queria se demitir do seu emprego. Três horas atrás eu também queria me demitir do meu. A única diferença é que você se demitiu, e eu não. – ela falou, como se fosse óbvio.

_Mas por que você iria querer se demitir?

_A fama é uma coisa ótima... nos seis primeiros meses. – ela respirou fundo. – Sabe, faz uma semana que percebi que, na verdade, eu não tenho vida. Minha “vida” é fazer shows, distribuir autógrafos, dar entrevistas e essas coisas.

Eu devo ter feito uma cara muito confusa, pois ela riu seca, e continuou:

_Raciocine comigo. Eu sou super famosa, certo? – eu concordei com a cabeça. – Tudo o que eu faço aparece na mídia, certo? – concordei novamente. – Toda a minha vida aparece na mídia, certo? – continuei concordando. – É só subtrair dois menos dois. Qual o resultado?

_Err... Zero?

_Isso. Essa é a porcentagem exata do que eu tenho de vida particular: zero.

Eu ainda não entendia. Quero dizer, ela era a mulher mais famosa do país. Ela tinha dinheiro, fama, e qualquer coisa que ela quisesse, e ganhava tudo isso apenas cantando.

_Ahn?

_Você não entende, não é? Deixa eu tentar explicar de um jeito que você entenda...

Ela fechou os olhos, apoiando a cabeça no sofá. Ficou algum tempo em silêncio, enquanto eu só a admirava. Quer dizer, olhava. É. E esperava.

Respirou fundo, juntando fôlego para falar.

_Imagine você fazendo coisas comuns. Por exemplo: sair com os amigos, ir ao mercado, ir à farmácia, dar uma volta no parque, tomar sorvete, ir ao cinema... Coisas assim.

Concordei com a cabeça, para que ela continuasse.

_Agora tente fazer tudo isso com uma multidão de fãs, paparazzi, cartazes e câmeras sempre correndo e gritando atrás de você.

Pensei um pouco. Estava começando a compreender o lado dela.

_Que bom que está entendendo, Sasuke. – disse Sakura.

_Hm... É... Mas não pode ser tão ruim assim, pode?

_Vai ficando cada vez pior. Você tem amigos de verdade, não tem? – ela perguntou. Eu concordei com a cabeça. – Eu não tenho. Não de verdade.

_Mas e aqueles outros? Como é o nome deles mesmo...? – perguntei, me lembrando de uma foto que tinha visto um dia em uma revista.

_Quem? Karin, Tayuya, Kin, Matsuri, Dosu, Kidoumaru, Sakon e Ukon? – perguntou Sakura, recitando os nomes dos “amigos” que sempre apareciam nas fotos nas revistas junto com ela. – Eu não chamaria aquilo de amigos. Eles aparecem na hora da farra, mas quando eu preciso deles, eles simplesmente desaparecem. É frustrante não ter ninguém quando você precisa de um ombro amigo.

_ Acho que te entendo... – falei, ficando cada vez mais arrependido de ter perguntado sobre a carreira dela. Vê-la triste acabava me deixando triste, mas não me pergunte por que.

_Obrigada, Sasuke.

_Pelo quê?

_Por me deixar desabafar... – disse ela num sussurro, os olhos ficando marejados. Senti uma vontade estranha de abraçá-la.

_Quer um abraço? – perguntei. Não que eu estivesse me aproveitando da fraqueza dela para satisfazer minhas vontades, mas enfim... vai ajudá-la. Ou não.

_Q-quero. – ela estendeu os braços, me convidando para um abraço. Um abraço que eu aceitei sem pestanejar.

Entrelacei meus braços nas costas e cintura dela, enquanto ela rodeava o meu pescoço, apoiando o rosto por ali mesmo. Eu sentia as lágrimas frias caindo na minha pele, mas qualquer sensação ruim desaparecia quando eu inspirava aquele doce aroma de cerejas vindo do cabelo dela.

Quando senti suas lágrimas pararem de cair, nos soltamos, e voltamos a sentar em nossos lugares. O rosto dela ainda estava molhado e avermelhado, mas nada que conseguisse diminuir a sua beleza.

_Vamos continuar. – ela falou.

_Mesmo?

_Sim! – disse ela. – Nossa, está ficando tão escuro... Você tem horas?

Eu não respondi. Vasculhei meus bolsos atrás de um celular velho que deveria estar em algum lugar por ali. Quando o achei, apertei uma tecla qualquer, e o celular fez um barulho escandaloso quando a tela acendeu. As horas aparareceram, mostradas em forma de números grandes.

_São... 21h10min. – respondi, mostrando a tela para Sakura.

_É, está tarde. – bocejou ela, com a mão cobrindo a boca. Bocejei também, involuntariamente. – Estou com sono, Sasuke.

_É, eu também estou. Talvez, se formos dormir agora, acordemos a tempo de ver o nascer do sol, que é muito bonito visto daqui.

_Vamos conversar mais um pouco. – insistiu. – Mas como estou com frio, só vamos conversar depois que eu estiver enfiada em baixo das cobertas. Espere um pouco.

_Ok.

Eu observei enquanto Sakura, desajeitadamente, pegava um cobertor e o esticava por cima do colchonete. Quando conseguiu, tirou os sapatos dos pés, deixando-os ao pé do colchonete, se deitou e puxou as cobertas para cima, deixando apenas a cabeça de fora.

_Agora está gostoso, ficou quentinho... – murmurou ela. 

Sakura fechou os olhos e se encolheu por baixo do cobertor. Eu ria enquanto observava a atitude infantil e doce dela.

_Você ainda quer conversar? – perguntei. Ela abriu os olhos me encarando como se eu tive dito algo terrível.

_Mas é claro! Quero saber mais sobre você! Senta aí. – disse ela, apontando com o queixo para o meu colchonete.

Peguei meu coberto e os estendi sobre o colchonete. Me deitei sobre ele, colocando o pé direito sobre o esquerdo e cruzando os braços atrás da cabeça. Fiquei olhando para a lua.

_Você fica tão bonito assi... Opa, falei merda! Não! Esqueça o que eu disse... – gritou Sakura deseperada após ver o que tinha dito, ficando completamente vermelha e escondendo sua cabeça com o cobertor.

_Tudo bem, Sakura. – tentei traquilizá-la. – Eu lembro do jeito que olhava para mim no metrô...

_Sasuke! – repreendeu-me ela. – Pare com isso! Está me deixando sem graça!

_Culpa sua. Mas achei que você queria conversar, Sakura.

Ela abaixou o cobertor a altura dos olhos.

_E eu quero. Tá bom. – ela tirou o resto do rosto debaixo do cobertor. – Então... Me fale sobre... sua família.

Eu respirei fundo, me lembrado das três pessoas que fizeram parte da minha infância. Uma delas era odiável, a outra era maravilhosa, e a terceira era uma peste. Fugaku, Mikoto e Itachi, respectivamente. Agora, apenas duas destas continuavam vivas. Quer dizer, uma delas é como se não existisse mais para mim.

_Bem... Eu cresci com meus pais e meu irmão.

_Como eles se chamam? – Sakura estava visivelmente interessada no assunto.

_Fugaku, meu pai, Mikoto, minha mãe, e Itachi, meu irmão.

_Que legal! Irmão mais velho ou mais novo?

_Mais velho.

_Sabe que eu gostaria de ter irmãos? Ter apenas o pai para conversar é uma coisa um pouco triste... – disse ela, olhando para o chão.

_Não ter um pai que queira conversar é uma coisa triste. – rebati, ao ouvir a reclamação dela e me lembrar do meu pai, o iceberg em forma humana.

_Sinto muito, Sasuke. Mas... por que?

_Meu pai está morto.

_Sinto muito, de novo. Eu não sabia...

_Não sinta. Ele ainda não morreu de morte morrida, não. Ele morreu para mim. – lamentei. – O que não quer dizer que não esteja mais em casa reclamando da vida e do mundo, entende?

_Hm... E sua mãe?

_Minha mãe é a pessoa que mais amo na vida. É bom ter uma figura materna que te entenda.

_Faz falta não ter uma figura materna que te entenda. – rebateu ela, fazendo comigo o mesmo que eu fiz com ela anteriormente. Nós dois rimos.

_Sinto muito, Sakura. – copiei-a. – Mas... por que?

_Minha mãe morreu.

_Para você?

_Não, não. Ela foi de morte morrida mesmo. – ela falou como se estivesse contando uma piada, e nós rimos outra vez. Sakura era divertida. – Quando eu tinha 16 anos. Só que eu não senti muita falta... Ela nunca se importou comigo mesmo, nem quando eu era criança. Mas... hm... Por que o seu pai morreu para você?

Assim que ela tocou no assunto Fugaku-pedra-de-gelo, eu me senti triste. Ainda não estava pronto para falar sobre isso com ninguém, apesar da quantidade relativamente grande de confiança que Sakura me passava.

_Não quero falar sobre isso. – falei, frio. Sakura pareceu chocada com o meu tom de voz, pois a vi engolir em seco.

_T-tudo bem. – concordou ela. Quase que peço desculpas por usar um tom tão frio para falar com ela. Argh. Eu estou agindo estranho.

Passamos algum tempo em um silêncio constrangedor e a tensão era quase palpável. Sakura olhava para o chão, sem graça, e eu continuava a olhar as estrelas. Não entendo esse meu interesse repentino por estrelas, na verdade.

_Bem... E quanto ao seu irmão? – perguntou Sakura, com um fio de voz.

_Itachi? – eu ri sozinho, me lembrando da figuraça desgraçada do que era o meu irmão. – Ele era o pestinha da família. Sempre fazendo merda e colocando a culpa em mim...

_E funcionava? Quero dizer... Acreditavam nele?

_Infelizmente sim.

_Sério? Estou louca para conhecê-lo, então!

_Haha. Engraçadinha. – notem o alto nível de sarcasmo na minha voz, sim?

Ela riu com gosto, soltando logo depois um longo bocejo.

_Sabe, Sasuke... Você é uma... ótima companhia... – falava entre bocejos. Eu sorri de canto. – Estou com sono. Vou dormir.

_Tudo bem.

_E se você levantar antes do sol nascer e eu ainda estiver dormindo, me acorde, ok? – sua voz não passava de um sussurro.

_Pode deixar que eu acordo você, se precisar. – tranqulizei-a. Ela fechou os olhos.

Sakura estava deitada de lado, mas de frente para mim. Meus olhos não desgrudavam do seu rosto e eu sentia um calor estranho no peito... Ela parecia tão tranquilia, como se nada pudesse atrapalhar seu sono. Em pouco tempo, percebi que ela estava dormindo, o peito subia e descia em intervalos regulares. Me enfiei em baixo das cobertas e fiquei observando-a.

Não sei quando caí no sono, mas a última coisa que me lembro de ter visto foram alguns fios rosados do cabelo de Sakura balançando contra o vento. Lindos fios rosados, devo acrescentar.

O que diabos está acontecendo comigo? Nunca fui o tipo de cara que elogia fios de cabelo. Só posso estar ficando louco... 


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Notas finais do capítulo

Bem o que eu tenho a dizer? Adoro escrever diálogos!

Ah, sim: Karin, Tayuya, Kin, Matsuri, Dosu, Kidoumaru, Sakon e Ukon, todos realmente existem no anime, é só procurar.

Sabiam que os reviews são pedaçinhos de imaginação? É, eles fazem o autor ter mais criatividade e próximo capítulo acaba saindo mais rápido! Ahaaam.

Eu mereço reviews?