Hidden escrita por jduarte


Capítulo 27
Amuada


Notas iniciais do capítulo

mais ummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!!
Beijoooos,
Ju!



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   Os dias passaram ridiculamente rápidos e nossa rotina deixava as coisas ainda piores. Meu irmão estava mais grudado em mim do que nunca. Ficava extremamente protetor quando Zion, cujo mutante de aparência drogada havia espaçado por pouco daquela bagunça, se aproximava para perguntar coisas sem nexo algum.

   Mais alguns dias e tudo o que eu fazia era ritmado. Até comer tinha sua própria batucada. Eu mergulhava o talher naquela pasta cinza, trazia até a boca, e engolia direto, evitando sentir o gosto. Então abaixava o talher e recomeçava a sequência.

   Meu irmão foi ligeiro um dia desses, e acabou surrupiando um pouco da comida dos guardas. Acreditam que eles tinham uma geladeira SÓ com sobremesas, derivados do leite, várias frutas, legumes bem saudáveis...? Tudo o que eu nunca comi, agora só de olhá-las, dava-me água na boca.

   Eu podia sentir o gosto do alimento em minha boca, mesmo sem nunca tê-lo comido.

   Meu irmão surrupiou três maçãs, quatro laranjas e uma pequena caixa de leite. Dava para mim, Yana e Rubens.

- Isso é muito bom! – exclamou Rubens quando estava terminando de comer uma laranja.

   Revirei os olhos.

- Como se você nunca tivesse comido em toda a sua vida! – exclamei rindo.

   Ele riu cínico.

- Não, eu não comi laranjas a minha vida inteira, Camila Schmidt. Só parte dela. – corrigiu-me.

   Yana riu mordendo mais uma parte de sua suculenta maçã. Ela estava vermelha e parecia ter sido lustrada de tão brilhante. Havia algumas partes já mordidas por ela, mas Yana mordia tão devagar que parecia não querer acabar.

   Corei quando percebi que a encarava como uma idiota.

- Quer meu pedaço? – perguntei a ela que até fechava os olhos ao comer.

   Yana balançou a cabeça negativamente.

- Não, senhorita. Estou muito satisfeita com um só pedaço.

- Então tá. Eu quero! – Rubens esticou as pequenas mãos para mim.

- Ok, eu vou tomar um banho refrescante agora, e vou dormir. – avisei.

   Meu irmão praticamente engoliu meu pedaço, e ficou falando algo sem sentido, por causa da boca cheia.

   Eu ri, enquanto ele cuspia alguns pedaços de laranja em meu cabelo solto. Passei a mão por ele e tentei estupidamente tirá-los dos nós de meu cabelo.

- Calma! Engoli primeiro! – disse estreitando os olhos de tanto rir.

   Ele mastigou, mastigou, mastigou... até que por fim engoliu tomando fôlego para começar.

- Eu vou primeiro! – praticamente gritou. – Mas – continuou. – você vai ter que me dar banho. – ele apontou para mim.

- Eu? Dar banho em você? – perguntei cética.

- É.

- Rubens, pelo amor de Deus, você já tem seis anos. Não já está na hora de aprender? - perguntei novamente.

- Hey! Eu sei me lavar, tá legal?! Mas é que eu estou com preguicinha, Mila! – disse coçando os olhos de maneira dramática.

   Coloquei as mãos na cintura.

- Eu vou lavar somente suas costas. Mais nada! – avisei.

   Ele sorriu amarelo.

- Tá.

- Tá. – repeti e Yana riu apontando para Rubens que fazia careta pelas minhas costas.

- Meus filhos faziam a mesma coisa!

   Rubens pegou a toalha que estava pousada sobre a maçaneta da porta, e puxou-me para dentro. O ar estava meio caótico ali dentro, já que não havia janelas por ali.

- Olha, Mila, eu sei que é um pedido difícil, mas, pelo amo de Deus, nos tira daqui! – implorou Rubens praticamente ficando de joelhos.

   Arregalei os olhos, e abracei-o.

- Eu vou nos tirar daqui, mas primeiro eu preciso achar alguém que nos ajude.

   Meu irmão levantou um dedo, e imediatamente, consegui deduzir o que passava por sua cabeça.

- Não... – comecei.

   Ele fez bico.

- Mas é um jeito! Mila, você não quer sair daqui? – perguntou.

- É óbvio. Que pergunta ridícula, Rubens!

- Então, ele é o único jeito de nos fazer sair dessa espelunca!

   Baixei a cabeça.

- Ok. Você venceu. Quando falamos com ele? – perguntei agora desistindo de tudo.

- Amanhã. Ou talvez hoje. Não sei. – disse ele puxando os cabelos e andando de um lado para o outro.

   Comecei a ficar meio triste, pois, por mais que eu prezasse essa amizade que eu tinha com a pessoa, tinha que cuidar de minha família em primeiro lugar. E, por mais que eu pensasse estar apaixonada por essa pessoa, teria que a enganar. E só de pensar nisso, machuca meu coração e minha cabeça lateja.

- Ok. Eu vou hoje. Não me espere acordado. – avisei pondo a cabeça para fora, e vendo que Yana ainda se deliciava com sua azeda laranja.

   Arrumei a blusa larga por puro medo de algo, e arrumei os cabelos que grudavam na nuca, prendendo-os com um pedaço de cadarço velho que havia achado em um canto qualquer daqui.

   Pigarreei fazendo a atenção de Yana se voltar para mim.

- É... – não sabia como começar – vou dar uma saída, já falei com meu irmão. Não me esperem. Posso demorar. – e dito isso, saí pela porta sem querer qualquer tipo de resposta, ou pergunta.

   Segurei a respiração ao passar por guardas dormindo. Ninguém sabia a hora que eles acordavam, mas isso realmente não importava, não é mesmo? Afinal poderia ser pega de qualquer jeito, a qualquer hora, em qualquer lugar.

   Caminhei até a ala hospitalar que, devo acrescentar, não era o lugar mais adequado para um mutante ir. Ainda mais essa hora do dia. Não, estou mentindo, desde que cheguei aqui, estou perdida no tempo. Não sei que dia é, nem o mês, nem as horas e muito menos que dia de semana.

   Havia uma porta adornada de ouro e prata, branca, grande, que ia do teto – que devia ter uns oito metros de altura – até o chão de mármore preto. Algumas imagens minúsculas constituíam a decoração maravilhosa da grande porta. Alguns eram pessoas decapitando as outras, alguns deitado no nada, e mais algumas imagens que não eram nada amigáveis, nem amáveis.

   Tudo ali era parecido com o inferno. Você ia comer e pronto, já era acusado de ter decapitado o fulano que fora morto de lepra. Ia tomar banho e te acusavam de ter deixado a água do banheiro dos guardas gelado. Qual é? Tomo banho gelado todos os dias – não por opção própria, acredite em mim -, e sou obrigada a ficar com a droga da boca fechada senão morro! E os perfeitinhos não podem ficar um dia com a água gelada? Babacas!

   Empurrei a grande maçaneta, e ouvi alguns barulhos vindos ali de dentro. Era bem claro apesar de tudo que se destacava em preto do lado de fora dali.

   As paredes pareciam ser de concreto, mas a diferença é que esta tinha uma cobertura de tinta branca. De tão branca, fazia meus olhos arderem. Talvez fosse porque o Sol estava ligado naquele local, ou talvez porque eles pintaram a parede com uma cor fluorescente ridícula e tacaram o branco por cima.

   É, talvez – só talvez – tenha sido isso mesmo.

- Vamos, amigo, você não pode nos deixar! – dizia uma pessoa, e logo após se ouvia os aparelhos de choque sendo esfregados e pressionados contra o peito de alguém. Peito cujo coração estava parado e morto. Ainda ouvia aquele silêncio da máquina que registrava os batimentos cardíacos da pessoa. Era tão silencioso, e de repente comecei a ouvir:

   Tum... Tum... Tum...

- Ótimo. Respire! – ordenou, e mais uma rodada de choques foi dado no “praticamente-morto”.

   Tum Tum Tum Tum Tum.

- Perdemos mais algum? – ouvi enquanto caminhava. As vozes vinham do final do corredor, mas por medo, desliguei-me dali.

   Como assim: “mais algum”? perguntei a mim mesma. Já havíamos perdido quantos?

   Senti lágrimas se acumulando ligeiramente embaixo de meus olhos, e de repente senti o chão ficar líquido. Era tudo tão estranho. Aquela sensação de vazio e dor contínua que eu sentia ao ficar nesse lugar estranho, longe de Rubens, de Yana, de Bernardo e de... Adam. Adam.

   Onde será que ele está?


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Notas finais do capítulo

grandão em comparação aos outros, né? HHAHAHA Beijooos,
Ju!