Camélia Branca. escrita por Cari-chan


Capítulo 1
Only.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Os lençóis caíram do seu corpo com um suspiro suave. Aquele momento era divino. A cabeleira da cor da noite, ondulante, que lhe caía sobre os ombros, deslizando pelas costas, enquanto jogava a cabeça para trás. Estava nua sobre ele, e pensava como é que ela conseguiria fazer de um simples movimento uma dança. Os corpos húmidos num total frenesim que, uns momentos depois, fez com que a figura feminina deslizasse sobre o corpo masculino, enquanto este, deixava marcas na garganta da mulher devido aos beijos que lá espalhava.

- Vou partir.

- Eu sei. – tocou nos cabelos escuros, e pensou se não seriam tão macios como o algodão que por vezes sobrevoa por cima da cabeça.

- Naruto-kun, não estás a perceber. – levou os lençóis até cobrir o corpo levantando-se ligeiramente para conseguir ter contacto visual.Vou me embora, h-hoje.

- O quê?! – ergueu-se num sobressalto. – Mas já?!

-D-Desculpa, eu devia ter dito mais cedo. – encolheu-se como um feto. – Mas queria estar contigo sem ter o pensamento constante da separação.

- Hinata, tem mesmo de ser? – a voz pastosa, enquanto sentava-se novamente sobre a cama.

- Não me resta outra opção. – passou a mão sobre o lençol, alisando-o. – Naruto-kun, e-eu preciso de treinar, quero ser tão forte como tu.

- Tu já és mais forte que eu. – passou as costas das mãos sobre a face. – Tu és muito forte Hinata! – sorriu. – Acredita.

- Vou ter… vou ter saudades. – as lágrimas estavam prontas a partir. – Naruto-kun, e-eu, eu não queria ter de me separar de ti. – levou as mãos ao rosto. – Não te queria deixar sozinho.

- Hey, hey Hinata, está tudo bem. – envolveu-a num abraço. – Ficaste sem me ver durante dois anos. – fê-la olhá-lo. – Eu também supero uns meses de ausência.

- Que-Que bom para ti, nesse caso. – uma sombra de tristeza assombrou-se pelo rosto. – Vais esperar por mim? – tentou sorrir.

- Claro. – mostrou-lhe um daqueles sorrisos que a fizeram sempre ansiar por mais. – Vou estar sempre á tua espera.

*

A neve cobria toda a Vila, enquanto a lua fazia-se dona do céu, deixando uma tonalidade de azul sobre o manto branco. Naruto sentia a solidão, mas também, uma esperança avassala-se dentro do peito. Não havia sinais de Hinata. Queria tê-la por perto.

Nunca sentiu uma ânsia com tanta magnitude, uma espécie de dor que o arrasava, mas que o fazia sentir que era despromovido de peso, como as pessoas se sentem quando já não têm certeza de nada. Os sentimentos pela morena continuavam intactos, mas, tê-la longe fazia-o ter a sensação que a vida perdia o sentido. Uma brisa leve e cortante soprou, e pensou que poderia arrastá-lo para o céu da noite, e assim visualizar o que Hinata estaria a fazer eventualmente naquele momento. O loiro fechou os olhos, e viu a sua menina mulher, sorrindo para ele.

Agora sabia o que a morena podia ter sentido quando esteve ausente. Pensou que se não valorizasse aquele sentimento, tão triste, porém tão belo, a situação seria mais fácil. Ter saudades, é tão bonito como amar alguém. Dói, como uma ferida aberta, mas igualmente, temos a plena certeza que esperaríamos até quinhentos anos por quem amamos.

Os dias passavam, e só lhe restava mastigar, envolver, e engolir a melancolia que o consumia.

O coração bateu com força. Sorriu. Se ela não podia estar com ele, nada impedia-o de estar com ela. Falaria no dia seguinte com Tsunade, e pederia permissão para partir. Não queria passar o Inverno sozinho e muito menos deixar a sua pequena, no meio da neve, com um coração como o dele, ansioso por aquece-la.

- Espera por mim, princesa.

*

- Baa-chan, venho aqui pedir permissão para sair da Vila.

- Já ouviste falar em bater á porta?! – olhou por cima dos papéis. – Sair da Vila, para onde?!

- Quero ir ter com a Hinata. – os olhos brilharam. – Posso? Oh, deve saber onde ela está, visto ela não me querer dizer exactamente onde era, porque achou que eu iria distrai-la. – sorriu, passando a mão na cabeça.

- Não sei se será possível. – a voz embargava uma seriedade que o deixou inquieto.

- Mas porquê?! Baa-chan, a Hinata tem enviado notícias?! -pousou as mãos sobre a mesa. – A última carta que recebi foi há muito tempo, na época do Verão, e desde então não me disse nada. Pensei que onde ela estivesse não haveria maneira de comunicar, e bem, não queria ser o namorado chato que….

- A Hinata está numa casa perto de Konoha. Vai ter com ela.

- Tão perto daqui?! – afastou-se  da mesa, abalado, confuso. – O que é que se está realmente a passar?! A Hinata disse-me que partiria para uma Vila no país do vento, e agora está a dizer-me que ela está tão perto do Konoha?

- Naruto. – levantou-se, segurando nas mãos. – Ela precisa de ti. – sussurrou, olhando-o com a ternura de uma mãe para um filho. – Sê forte.

- Mas, o que se… - a loira fez silencia-lo.

- Vai. O preço do amor verdadeiro, afinal de contas, vale sempre a pena pagar, mesmo que esse dure pouco tempo.

O corpo do loiro arrepiou-se. Não foi capaz de ouvir mais nada. Quando os lábios de Tsunade moveram-se para indicar-lhe o local onde estava, tudo o resto era silêncio. A voz dentro da sua cabeça cheia de dúvidas e medo sobreponham-se a tudo.

*

Tentou concentrar-se no barulho dos seus pés sobre a neve. Estava a chegar á casa que a Hokage indicara. Sentia a presença de duas pessoas dentro da habitação. A morena parecia tão fraca. Estaria ferida?! Pensou em entrar na casa sem bater, sem cerimónias, ou até mesmo espreitar primeiro, mas, de alguma maneira, queria que o tempo parasse, para o fazer adiar aquele reencontro. Mas o que é que estava a pensar?! Ele era, Uzumaki Naruto, e não deixaria o receio assomar-se a ele, estava ali por e pela Hinata. Bateu na superfície de madeira.

Uma mulher franzina, muito magra, abriu a porta, enquanto via a manga do que vestia esticada, o braço ossudo com a pele amarelada, estava cheio de pontinhos negros, feitos supôs, com agulhas, para quando fixou o olhar na mulher, o seu corpo vacilar para trás.

- Hinata?

- Na-Naruto-kun?! O-O que estás aqui a fazer?

Um vento forte soprou enquanto Naruto agarrou na mulher com força. Quando olhou novamente para ela, o coração falhou uma batida. O cabelo, o cabelo lindíssimo que adorava ver, que emoldurava aquele harmonioso rosto, não existia. Parecia um passarinho bebé sem ele. A suposta cabeleira agora estava no chão. Hinata olhou-o mais uma vez, as lágrimas caíam de uma maneira incessante. Viu-a desmaiar nos seus braços sem ter pronunciado uma palavra.

- Hinata?! – falou nervoso. – Hinata, por favor, fala comigo!

- O que é que se passa? – a mulher desceu rapidamente. – Oh, meu deus, eu disse-lhe para não sair do quarto! Por favor, traga-a imediatamente lá para cima!

Estendeu a morena, agora tão leve como uma pena sobre a cama. Nunca pensou em como seria terrível amar uma pessoa e vê-la em sofrimento. Viu Sasuke, Sakura, Kakashi a sofrer, sentiu-se só quando era pequeno, sofreu imenso com a partida de Jiraya, e naquele momento, achou que ainda não tinha conhecido o verdadeiro sentido do que era sofrer. Viu o que pensou ser, uma médica, a administrar-lhe uma injecção colocando um comprimido debaixo da língua. Era como se Hinata tivesse gasto todo o seu tempo, mas continuasse a agarrar-se á vida.

Levou rapidamente os dedos aos olhos, fazendo pressão sobre eles. Tentou abafar o soluço mas não conseguiu. O choro compulsivo veio. Saiu do compartimento e chorou como um louco. Nunca se achou tão tolo como naquele momento. Como não percebeu os sinais?! Dizer a palavra cancro em voz alta, era como se a própria palavra, fosse capaz de lançar uma maldição, um feitiço. O maldito feitiço que tinha caído sobre Hinata.

- Tu deves ser o Naruto, não é? – uma mão pousou sobre o seu ombro.

- A Hinata, o que é que ela tem?! O que é que se passa?! Por favor diga-me!

- Senta-te aqui. – pediu-lhe, dando uma palmada sobre o sofá. - Primeiro de tudo, quero pedir-te que não censures a Hinata. Ela quis ficar longe de todos, para lhes poupar ao sofrimento.

- Sim, eu sei como ela é. – tentou rir, mas ainda chorava.

- A Hinata tem um cancro no cérebro, Naruto. – olhou-o intensamente. – Ela esta a tentar combatê-lo. – baixou o olhar. – mas não está a conseguir.

- Está a dizer-me que… - o acenar de cabeça que veio, lento, fez dar-lhe a certeza.

Não disse mais nada. Acabou por se levantar indo de encontro ao quarto, sentando-se na cadeira, ao lado da cama. Puxou um pouco os cobertores para cima para cobrir a morena. A respiração era calma e regular. Passou a mão no rosto, e sentiu o seu calor. Naquele momento desejou ser ele a estar doente. Hinata não merecia nada do que estava a passar.

- Naruto… - a voz parecia mecanizada.

- Estou aqui. – apertou suavemente a sua mão.

- Afinal, não sou assim tão forte…. – fez uma pausa. – Perdoa-me.

- Oh, és sim. – respondeu. – Foi por isso que quis que fosses a minha mulher. – a voz denotava o amor e o carinho que o loiro tinha por ela.

- S-Sou tua namorada. – apesar de estar terrivelmente doente, aquela característica da menininha tímida assomava-lhe ás faces.

- Para mim, és a mulher que escolhi ficar comigo. É o suficiente. Não importa o estatuto, mas o que vai cá dentro. – pousou a mão da morena no seu lado esquerdo.

- Odeias-me sem cabelo?

- Gosto mais de ti assim. – tentou falar com entusiasmo. – Uma mudança radical é preciso de vez em quando.

Tinha um sentimento de pânico na alma. Deitou a cabeça sobre o ventre de Hinata, onde foi capaz de lhe sentir todos os seus ossos. Tentou conter-se, mas acabou por chorar. A mão de Hinata tremia, mas foi capaz de chegar às madeixas loiras acariciando-lhe o cabelo.

- Queria poupar-te a tudo isto. – disse num fio de voz.

- Eu queria estar no teu lugar. – os soluços do choro tornavam-se mais altos. – Estás doente e eu só estou aqui a chorar, nem fui capaz de perceber, não fui capaz de fazer nada!

- Fizeste e fazes tudo o que podes por mim. – fez uma pausa. Estava a ficar cansada. – Na-Naruto-kun, eu amo-te.

Hinata sempre tivera dificuldades em dizer-lhe aquelas palavras, não porque não as sentisse, mas porque achava que o amor estava no demonstrar nas atitudes do dia-a-dia. Sabia também que a vergonha também calava o que desejava dizer.

- Eu também te amo Hina. – levantou o rosto com uma nova tranquilidade. – E eu farei de tudo para te salvar.

*

Naruto.

O dia está esplêndido hoje. A neve começa a derreter e novos rebentos verdes começam a surgir. Peguei ao colo a Hinata e trouxe-a para o jardim. Tem um ar sereno, feliz. Se a enfermeira sonha que a trouxe á rua, é capaz de me matar. Não tenho medo. Deixou de fazer diferença para mim, e sei que para Hinata também. Temos vivido um dia de cada vez, e milagrosamente, ela tem recuperado. Aos poucos, mas tem. Agora ela usa um lenço na cabeça para esconder o que antes era o seu cabelo. Outra coisa que não me faz diferença alguma. Para mim, ela continua a ser, a mulher glamorosa, meiga, e amorosa que se apaixonou por mim, e fez apaixonar-me por ela.

- Sabes uma coisa Hinata? – apertei-a mais junto de mim, enquanto estamos a ver o sol a alaranjar o céu. – És como uma camélia branca.

- Uma camélia branca, Na-Naruto-kun? – as faces rosadas fizeram-me libertar um sorriso.

- Sabes o que significa?

- O quê?

- Beleza perfeita.

Os olhos dela brilharam com tanta magnitude que pensei ver uma galáxia de estrelas. Este episódio que estamos a ultrapassar fez-me abrir os olhos para coisas que antes não dava, talvez, a verdadeira importância que tinha. Quando a abraço, abraço-a como se fosse a última vez. Os nossos lábios tocam-se, e beijo-a como se não houvesse amanhã. Toco-a com toda a ternura, tentando eternizar o momento. Quero amá-la, amá-la como se fosse nunca mais a fosse ver.

O agora é um presente, e quero estar com ela, vivendo intensamente todos os momentos.

Não podemos ter as pessoas como garantidas, porque não sabemos quando é que irão partir, e a oportunidade de lhes dizer o quanto elas foram importantes para nós pode não nos ser concedida.

Graças á vida, eu tive essa oportunidade. Não a vou desperdiçar.

Por isso, não despedissem também todas as oportunidades que tiverem.

Porque…

«Viver a vida é um jogo, não desistir é uma regra e morrer é fazer batota.»

Fim.


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Notas finais do capítulo

Reviews? *___*