A aula de biologia começou, o professor pediu que os alunos formassem grupos, e lá estavam Sarah, Bob, Frank e Gerard. Ela apenas prestava atenção na conversa, enquanto fazia anotações da aula.

— Então, o ensaio pode ser na sua casa, Bob?

— Não sei... — Bob apontou de leve para a irmã. — Tenho a leve impressão de que não.

— Não se preocupem comigo. O ensaio pode ser lá em casa. — Sarah disse, ainda atenta ao que escrevia. — Falando nisso, posso assistir?

— Pode sim, Sarah. Você vai adorar conhecer o Mikey e o Ray. — Frank sorriu.

— Mas por que você quer assistir? E porque deixou? Você nunca gostou que eles fossem lá.

— Eu não os conhecia. Agora conheço, eles parecem legais, não vejo problema. Você vê?

— Nenhum. Então hoje as três, lá em casa. — Frank e Bob sorriram e Gerard apenas desenhava algo.

— Gee, para de desenhar. O professor está vindo aqui. — Gerard rapidamente fechou o bloco, colocando-o por debaixo dos livros.

Passaram todo o resto da aula conversando. Sarah interessava-se por quase todos os assuntos, prestava bastante atenção ao que diziam e, incrivelmente, também prestava atenção na aula.

À tarde, Frank, Gerard, Mikey e Ray foram à casa de Bob e Sarah. Ela preparava um lanche, enquanto os garotos conversavam na sala animadamente.

— Então, meninos, o que vocês tocam? — Sarah adentrou a sala carregando uma bandeja de sanduíches e alguns copos de suco.

— Qualquer coisa que você quiser, gata. — Ray disse e sorriu. Frank e Gerard emudeceram, Bob ficou sério e Mikey ria alto da cara do amigo. Sarah não gostava de cantadas e lançava um olhar mortal para Ray.

— Engraçadinho você. Qual seu nome?

— Ray. E o seu?

— Escute, Ray, garotas com a minha personalidade não dão bola pra garotos com o seu cabelo ou com a sua cara. Lugar de palhaço é no circo, então trate de guardar suas piadinhas idiotas para si, okay? — Sarah disse, séria. Mikey continuava rindo alucinadamente, Gerard riu baixo, Frank deu um tapa na nuca de Ray, que permanecia sem graça.

— Perdão, senhorita Bryar.

— Perdoado. — Sarah sorriu. — Então você é o Mikey? Quantos anos você tem?

— Tenho 14. Você é a famosa Sarah. Sempre quis te conhecer. — Mikey tinha um enorme sorriso no rosto.

— Por quê?

— É popular, é linda, simpática. Além disso, meu irmão fala que você é apenas um rostinho bonito, que deve ter um mistério interior. — Sarah emudeceu, Gerard repreendia o irmão pelo olhar. — Ele vive falando que você é tão misteriosa quanto a morte, que deve ter um grande e profundo vazio dentro de si, que se sente fora do devido lugar, que não gosta da vida animada e popular.

— Mikey, chega! — Gerard olhou-o furioso.

— Quem é seu irmão, Mikey?

— Não parece, eu sei, mas é aquele zumbi emo ali. É o Gerard. — Sarah e Gerard olharam-se nos olhos fixamente por alguns minutos.

— Então... Vamos ensaiar?

— Vem com a gente, Sarah. — Ray puxou-a pelas mãos até a garagem, onde estavam a bateria, duas guitarras e um baixo.

— Quem toca o quê?

— Eu e Ray tocamos guitarra, Bob toca bateria, Mikey toca baixo e o Gee é o vocalista. — Frank disse, sentando-a numa cadeira. — Tocamos rock em geral, indo do pop-rock ao punk-rock, às vezes colocando algo de heavy metal. — Sarah não entendia nada. — Enfim, tocamos rock. — Gerard deu uma risada.

— Não ouço rock. Nunca ouvi.

— Não seja por isso. Qualquer dia desses eu vou te dar uma aulinha da história do rock. — Frank fez uma pose séria, imitando uma antiga professora, fazendo com que Sarah risse animadamente.

— Agora chega de conversinha e de brincadeiras, vamos tocar! — Frank disse, erguendo a guitarra. Gerard deu um grito do tipo “Uhul!” e então começaram a tocar.

Passaram a tarde na garagem. Sarah ouvindo as músicas, deliciando-se com as guitarras e as caretas de Frank enquanto tocava, rindo com a calma de Mikey e a franja de Bob e amando a voz de Gerard e as letras das músicas.

Gerard não conseguia compreender o porquê de uma garota linda e popular começar a conversar com eles tão de repente. Sempre foi excluído, maltratado e, apesar de tudo, nunca ligou. Fez amigos com muita dificuldade, os poucos que restaram — Bob, Frank, Ray e Mikey — sofriam com as brincadeiras por causa dele. Ele sempre se julgou o culpado daquela situação de exclusão total.

Nunca viu os amigos reclamarem, nunca sentiu tristeza no olhar deles, mas mesmo assim Gerard culpava-se. Tudo por causa de uma garota. Tudo por culpa de uma única garota, que o fez humilhar-se perante todos, porém nunca na frente dela. Uma garota que nunca soube dos sentimentos do rapaz, nunca conversou com ele, e por isso mesmo nunca entendeu o porquê daquele isolamento em grupo.

Depois do episódio da humilhação, Gerard entrou em profunda depressão, onde passava os dias desenhando e escrevendo letras de músicas. No início ele desenhava apenas para extravasar sua tristeza, porém depois virou um hábito e, por fim, um vício. Como apoio, os rapazes fundaram a banda, My Chemical Romance, onde o Way mais velho conseguia extravasar seus sentimentos.

— Então amanhã é na minha casa. — Gerard pegou o baixo do irmão, colocou-o nas costas, passou o braço pelos ombros de Mikey e dirigiu-se para a porta. Todos estavam de saída.

— Gerard? — Sarah levantou-se do sofá timidamente. — Posso acompanhar o próximo ensaio?

— Por quê?

— Eu.. Gostei da banda.

— Claro que pode! — Frank disse abraçando a garota.

— Pode ir. — Gerard disse sério, e saiu acompanhado pelos garotos.

— Ufa! Agora vou tomar um banho! — Bob levantou-se do sofá, rindo.

— Também vou. Daqui a pouco as meninas chegam.

— Hum... Festinha?

Gerard estava em seu quarto, deitado na cama, olhando para o teto, quando Mikey entrou e sentou-se ao seu lado na cama.

— Por que você me repreendeu daquele jeito? Só porque falei o que você achava da Sarah?

— Também.

— Por quê? — Gerard olhou o irmão e suspirou longamente.

— Ela é a culpada, Mikey. Sarah é o motivo pelo qual entrei nessa situação e trouxe vocês junto.