O tempo passa rápido quando se está feliz. E eu sei, na maioria dessas vezes, que o Tempo não gosta da gente.

É sempre a mesma coisa: o tempo parece gostar de ficar parado quando as coisas estão ruins, e parece não querer apreciar nossa felicidade. Parece que dramas chamam a atenção do tempo e ele simplesmente nos observa, querendo decodificar cada uma de nossas reações.

Isso é tão...chato.

Agosto passou voando. Quando resolvi olhar o calendário, estávamos bem perto do aniversário do Mikey.

Dia 9 de Setembro.

─ Vamos passear? ─ Gerard disse assim que eu abri a porta.

─ Ah, bom dia pra você também.

─ Bom dia. ─ Ele beijou a minha testa e acenou para Lolli e Mel, que estavam jogadas no sofá assistindo uns desenhos. ─ Então? Vamos sair?

─ Pra onde?

─ Algum lugar. Estou de carro, nós podemos sair da cidade, ir a NY, que tal?

─ Não sei...

─ Vai sim, Sarah. Os enfeites da festa do Mikey já estão aqui e já está tudo decidido e encomendado. Aliás, você ainda não comprou o presente dele. ─ Mel lembrou-me.

─ Okay.

─ Vamos então? ─ Ele sorriu.

─ Posso ao menos trocar de roupa? Não seria muito legal passear em NY de pijamas. ─ Sorri e subi as escadas correndo.

Fazia algum tempo que Gerard e eu não saíamos sozinhos, como um casal, então seria ótimo passar o dia com ele. Coloquei um short jeans, uma blusa roxa e sapatilha. Desci as escadas quicando de degrau em degrau.

─ Estou pronta. Meio feia, mas isso já é normal. ─ Fiz uma careta e segui para a porta, mas fui impedida por um braço na cintura e um sussurro de Gerard.

─ Você nunca está feia. Não entende? Você é absurdamente linda. ─ E ele beijou meu rosto. ─ Tchau, meninas. Bárbara, se você colocar fogo em alguma coisa eu juro que te deixo pendurada de cabeça pra baixo na árvore da praça.

Ela mostrou a língua.

─ Não vou botar fogo na casa delas, Gee.

─ E nem nas outras coisas.

─ Mas e...

─ Sem bombinhas. Não quero ouvir falar de fogo ou explosões de algum tipo. Entendeu?

Bárbara cruzou os braços, rolou os olhos e murmurou:

─ Sim, Gerard. Sem fogo ou explosões.

Antes de Gerard sair, virei-me pra ela e pisquei. Bárbara sorriu e moveu os lábios formando um “ele não vai ouvir falar”. Ri e acenei com a cabeça.

***

─ Pra onde vamos?

─ Um lugar especial, que eu gosto bastante. Não fica em NY. Aliás, é fora da cidade.

─ Onde é?

─ Surpresa. ─ Ele sorriu. ─ Mas acho que você vai gostar.

Continuamos com o passeio até uma espécie de parque, eu não sei. Era cheio de árvores e a grama era meio alta, cheia de flores. Seguimos por uma pequena estrada até uma clareira minúscula. Gerard desceu do carro e me levou para entre as árvores. O sol batia levemente na copa delas, deixando feixes de luz passarem e criando um ambiente lindo. Não paramos entre aquele bosque, o que me deixou um pouco preocupada.

─ Gerard, para onde vamos?

─ Já disse, um lugar especial.

─ E se a gente se perder aqui?

─ Não vamos nos perder, meu amor. ─ Ele olhou pra mim e sorriu seu sorriso de anjo.

─ Tudo bem. ─ Suspirei. ─ Eu confio em você.

Andamos mais alguns metros por entre as árvores e de repente Gerard parou, sorrindo ainda mais.

─ Eu gosto muito de vir aqui. Vinha para pensar, para desenhar, ou simplesmente para fugir da humanidade. ─ Ele riu. ─ Bem-vinda ao meu mundo.

Havia um longo gramado e uma espécie de cabana naquele campo aberto. O sol refletia nas folhas e nas flores, iluminando aquele lugar. Era simplesmente lindo.

─ É lindo...

─ A cabana está limpa, só falta abrir as janelas e deixar o ar entrar. Eu já volto, esqueci a cesta.

─ Cesta? ─ Virei-me para ele.

─ Vamos passar o dia aqui. O que você acha que nós vamos comer? Grama? ─ Ele riu. ─ Às vezes você é tão...

─ Loira, eu sei. ─ Rolei os olhos e comecei a rir.

─ É a loira mais linda e maravilhosa desse mundo, Sarah. ─ Ele me beijou de leve e permaneceu com os lábios roçando nos meus. ─ Você é a minha loira.

─ E você é o meu moreno. ─ Sorri. ─ Agora vai logo buscar aquela cesta porque eu não tomei café.

Ele riu alto e passou pelas árvores. Alguns segundos depois, Gerard voltou correndo com a mão num bolso.

─ A chave. ─ Ele riu. ─ E as janelas não são tão velhas assim, okay? Só tenha cuidado e não se apavore tanto com alguma aranha.

─ Não sou o Frank. ─ Pus as mãos na cintura e fiz um bico. ─ E vou tentar não gritar se encontrar um sapo. Ou uma lagartixa.

─ Só não grite alto o bastante para alguém pensar que está sendo estuprada. Não quero ser espancado ou preso injustamente. ─ Ele sorriu e saiu.

Comecei a rir da fala dele e depois segui para a cabana. Não era grande – na verdade tinha uma sala pequena, uma cozinha grande, um banheiro e apenas um quarto. Era toda feita de madeira, e as janelas não eram mesmo tão velhas. Havia uma pequena varanda, e eu vi uma cadeira de balanço na sala que definitivamente tinha que ficar do lado de fora.

Os móveis não estavam cheios de poeira como eu imaginei – significava que Gerard tinha ido ali mais cedo para limpar tudo. Arrumei algumas coisas na cozinha, abri todas as janelas e fiquei meio atordoada quando vi a cama feita e arrumada – como se alguém tivesse dormido ali antes, ou simplesmente tivesse preparado para alguém dormir.

Mas eu não me importei tanto.

Continuei vendo a casa, observando as flores no quintal e as árvores mais ao fundo. Eu poderia apostar que havia um riacho em algum lugar atrás daquelas árvores, mas não me atrevi a ir lá. Mesmo de dia, eu poderia encontrar um sapo.

Gerard voltou pouco tempo depois, alegando que, apesar da distância da civilização, aquela cabana tinha luz elétrica – justificando a presença da geladeira – e que nós faríamos um piquenique no gramado.