O Diário de um Semideus escrita por H Lounie


Capítulo 2
Poseidon quebra o pacto (outra vez)




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Uma terça feira qualquer do ano de 2013. Ainda de manhã.

Querido diário,

Não, sem essa de querido diário. Na realidade, nem sei porque insisto nessa história de diário, uma vez que nem mesmo consigo escrever todos os dias, ou melhor, nem mesmo consigo escrever, devido a maldita dislexia. Suspiro.

Bom, qual seria a melhor maneira de definir assustador, cômico e terrível? Não sei, mas tenho a leve impressão de que essas três palavras vão estar acompanhando qualquer definição da minha vida que possa surgir. Mas então, a maioria dos campistas foi para a casa, voltaram para suas vidas - quase - normais. Às vezes eu ainda acho que as perdas de três anos atrás pesam nos ombros de todos. Todo mundo perdeu alguém lá, sem contar na recente perda, meu meio irmão Will Solace. Bem, a missão dele meio que... Ah, coitado, foi comido pela esfinge.

Está vendo? O terrível e o cômico sempre estão perto de mim. Sem mais comentários, isso me deixa triste. Mas não entendo, Annabeth disse que agora as perguntas eram fáceis, mas bem, Annabeth é Annabeth. E aí vai minha charada: Quem é a nova conselheira do chalé? Uma dica: Sou eu. Algumas pessoas diriam que eu não mereço, eu diria: para o tártaro com essas pessoas que acham que eu não mereço. Ah, qual é? Praticamente dezesseis anos, oito anos de acampamento. Fato: Eu mereço. Simples assim.

Como estava dizendo, os campistas vão voltar para casa e eu? Bem, eu vou ficar. Acabei de decidir isso, enquanto conversava com Quíron. Simplesmente acho que é isso que devo fazer. Digo 'acho', porque vou sentir saudades de minha mãe e vou ficar me preocupando com ela o tempo todo, mas ela vai entender (Pois é, não contei a ela ainda).

Motivos para que eu permaneça no acampamento:

1 - Novos campistas chegam aqui todos os dias (É, os deuses estão cumprindo com sua promessa, e reconhecendo os filhos);

2 - Sou conselheira aqui agora (Não é querer me achar);

3 - Os novos campistas precisam de alguém que ensine arco e flecha a eles, e quem poderia ensiná-los a não ser eu? Quíron é uma pessoa, digo, um centauro ocupado. (Eu realmente não estou querendo me achar, estou sendo realista, convenhamos);

4 - Palavras finais: Nico e Di Angelo. Sim, Nico Di Angelo.

Está virando novela, não acha? O caso é que eu ... hm, termino de contar depois. Pelos gritos que estou ouvindo parece que Juliet, aquela garota de Afrodite, está brigando com aquela garota alta filha de Atena... de novo.

See you later, Lyra

Soltei a caneta e fechei o diário. Eu mal tinha tempo para as minhas coisas agora. Sou mais procurada que terrorista iraquiano. Hum... exagerei agora, mas ultimamente tenho sido muito requisitada, só que se fosse procurada como um terrorista iraquiano significaria que eu poderia morrer a qualquer momento, e isso não vai acontecer, espero.

Levantei-me da cama - muito a contragosto, devo acrescentar - e caminhei até a porta do chalé sete. Dali mesmo já pude perceber o problema. Do outro lado da área comum dos chalés, Juliet, a filha de Afrodite, estava em frente ao chalé de Atena, com um espelho quebrado nas mãos. Deuses, elas estão brigando de novo? Sim. A linda filha de Afrodite berrava reclamações para a filha de Atena, suas bonitas feições transformadas pela aparente raiva. Seus cabelos castanhos ondulavam com o vento, seus olhos cor de chocolate brilhavam com uma rígida determinação.

Às vezes me pergunto quão imbecil uma pessoa deve ser para discutir com um filho de Atena. Ora, não é obvio que você vai perder no quesito argumento? Afinal, são filhos da deusa da sabedoria cuja função, além de serem arrogantes em boa parte do tempo, é serem sábios. Mas bem, cada um sabe o que faz. Dei de ombros, correndo até elas. Perto o suficiente para entender o que falavam, não parecia que Juliet estava perdendo nos argumentos para Meganny, acho que era esse o nome da filha de Atena.

– Então, qual é o problema agora? - Disse, ainda meio mal humorada por ter deixado meu chalé.

Fui ignorada, que ótimo. Meganny, a bonita loira de olhos acinzentados, parecia estar concentrada na gritaria de Juliet, porém estava calma, calada, com certeza querendo mostrar-se superior a tudo aquilo. Juliet, por sua vez, continuava a gritar coisas do tipo 'eu exijo uma explicação' ' eu sei que foi você' 'Isso é imperdoável para mim'.

– ALGUÉM PODE ME DIZER O QUE RAIOS ESTA ACONTECENDO AQUI? - gritei a plenos pulmões. Não, eu não seria ignorada.

As duas me olharam com expressões interrogativas e até assustadas nos rostos, ou seja, elas realmente não tinham me visto ali ainda. Meganny ia falar, mas foi cortada por uma eufórica Juliet.

– Acontece Lyra que eu entrei no meu chalé e vi todas as minhas coisas jogadas no chão. Minhas roupas brancas misturadas com as coloridas em meu baú, meu perfume favorito estava quebrado e eu sei que foi ela! - Concluiu, virando-se para Meganny.

Meganny me olhou com indiferença, seu rosto forte marcado por suaves linhas do mais puro ultraje. Filhos de Atena às vezes são tão... argh, nem sei dizer. Orgulhosos? Sempre. Metidos? Bingo. Arrogantes? Frequentemente. Mas eu realmente duvidava que fosse ela a causadora do problema de Juliet. Tudo bem, elas haviam brigado recentemente, por besteiras, se quer saber, mas realmente, Meganny não faria uma coisa tão boba, ela seria muito mais inteligente e muito mais terrível, se quisesse algum tipo de vingança. A garota de Atena respirou fundo, olhando de mim para Juliet com seus olhos cinzentos ameaçadores.

– Olha Juliet, realmente não sei porque está me acusando. Não fiz isso, isso é tão ridículo, é um insulto a minha inteligência. E se não quiser acreditar, não acredite. Mas um aviso: não ouse fazer qualquer coisa comigo ou com minhas coisas, você não quer me ver irritada.

A garota saiu dali tempestuosamente, deixando uma confusa e irritada Juliet para trás. Ponderei por um minuto se deveria ou não dizer o que achava daquilo tudo para Juliet, mas decidi que não, uma vez que ela parecia prestes a desabar em lágrimas.

– O estrago foi muito grande Juliet?

Ela apenas assentiu, triste. Talvez nem fosse tão grande coisa, filhos de Afrodite em geral são um pouco dados a reações exageradas.

– Eu realmente não acho que tenha sido Meganny. - Comentei. - Ela é superior demais para isso e você deve concordar comigo. Isso me parece brincadeira de filho de Hermes, mas fique tranquila, vou descobrir quem fez isso com você.

Juliet chegou ao acampamento há pouco mais de um mês, quase ao mesmo tempo que Meganny, e as duas brigavam desde então, por qualquer motivo.

– Quer ajuda para arrumar? - perguntei, mesmo sem ter real vontade de ajudar.

– Não Lyra, tudo bem. E obrigada.

Ela sorriu e começou a andar para o chalé dez. Provavelmente eu nunca descobriria quem foi que fez aquilo, ainda mais se o culpado fosse um filho de Hermes, de forma que esperava que a garota esquecesse a história. E pelos deuses! Poderia ter sido qualquer um, até mesmo algum irmão revoltado.

Pensei que finalmente poderia voltar para meu chalé, mas realmente hoje não estava com sorte. Devo, de alguma maneira, ter levantado com os dois pés esquerdos hoje, se é que isso é possível. No alto da colina, uma estranha cena se desenrolava. Clarisse e Judie, filhas de Ares, estavam lá, elas e mais duas garotas. E caras grandes... lestrigões? Nada bom.

Quando cogitei me unir ao grupo que lutava, vi que as quatro garotas haviam dado conta dos monstros. Clarisse veio na frente, seguida por sua irmã Judie e as duas novatas, que aparentemente haviam acabado de chegar ao acampamento.

– Caramba, o que foi isso? - Comentou Nate, meu irmão favorito, ao se aproximar das garotas. - Achei que ia sobrar algo para nós.

– Eu estava lá perdedor, logo, é obvio que não sobraria nada. - Comentou Clarisse.

– Deixa de ser exibida Clarisse. - Disse sorrindo. - Olá, sou Lyra Callegaris, filha de Apolo. Bem vindas ao acampamento meio sangue.

– Agora que já fez sua exibição barbie, pode procurar Quíron? - Intrometeu-se Clarisse, me empurrando para o lado sem piedade alguma.

Fiz que não com a cabeça, massageando o lugar onde ela me atingiu.

– Procure você.

Mas ela não precisou, Quíron apareceu trotando ali no mesmo instante.

– Parece que temos alguém importante aqui. - Seu olhar parou na garota de olhos verdes - Como se chama querida?

– Eu me chamo Jéssica Howe. E essa é Annith. - Ela nos olhou, ninguém disse nada. - Alguém pode me dizer o que está havendo aqui? Que lugar é esse? Eu estava com minha mãe e Annith em um passeio, e de repente aquelas coisas apareceram e...

A garota parecia estar em choque, o que era perfeitamente aceitável.

– Acalme-se querida. - Disse Quíron em uma voz monótona, séculos de experiência com esse tipo de situação. - Vocês estão no acampamento meio sangue, o único lugar seguros para filhos dos deuses, eu sou Quíron, treinador de heróis...

– Espera, - disse Annith, - Eu não sou filha de deus nenhum.

– Ah, sim você é, senão não teria conseguido entrar.

Contei a elas resumidamente tudo sobre o acampamento e os deuses.

– É, parece fazer algum sentido. Mas de quem somos filhas? - comentou Jessica.

– Vocês saberão, provavelmente hoje na fogueira. Mas talvez...

Parei o que estava falando. No alto da cabeça de Jéssica, uma luz surgiu. A luz rapidamente transformou-se em um símbolo e eu quase desmaiei de susto. Todos os campistas ali começaram a se ajoelhar, eu fiz o mesmo. Quíron dobrou as patas dianteiras, enquanto o tridente brilhava sobre Jéssica.

– Filha de Poseidon, senhor dos terremotos, portador das tempestades. Salve Jéssica Howe, filha do deus do mar!

Definitivamente, nada bom. Quantos anos a garota deveria ter? Quinze ou dezesseis. Ao que parece, Poseidon quebrou o pacto duas vezes.






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