O Diário de um Semideus escrita por H Lounie


Capítulo 11
Roubamos uma quadriga




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– É , é sim. – Disse Nico. – Este é o templo de Ares e aqueles são os Ornithes Areioi, os pássaros que guardam o templo.

Os pássaros voavam sobre nós atirando penas, ou melhor, flechas em forma de penas. Na mesma hora fiz o arco dourado aparecer, já lançando minhas flechas de bronze celestial nos pássaros que aos poucos iam morrendo. Em minutos, não havia mais pássaros, mas todos nós tínhamos ferimentos pelo corpo. Já era de manhã, então com isso restavam apenas sete dias.

– Nós ajudamos Afrodite e ela nos manda para uma armadilha? – Jessica parecia realmente irritada.

– Não, não foi uma armadilha, olha só quem está ali. – Disse Will, apontando para um dos lados do USS Intrepid.

Sky estava lá, conversando com um jovem estranho. O garoto nos olhou, seus olhos eram vermelhos como o fogo e trazia um sorriso perverso nos lábios.

– Ora, quem temos aqui? – Saudou-nos o jovem. – Olá semideuses.

– Lyra? Mas... – Sky pareceu verdadeiramente surpreso. – O que vocês fazem aqui?

– Vim lhe devolver uma coisa. – Disse a ele, mostrando a pulseira.

– A pulseira da minha mãe? – Riu o jovem. – Você aceitou a pulseira?

– E quem é você? – Perguntei. Ele não parecia um filho de Afrodite.

– Eu sou Phobos, o deus do medo. – Respondeu ele, cheio de orgulho.

Agora eu não sabia o que dizer. Não queria irritar outro deus.

– O que fazem no templo de meu pai? – Perguntou Phobos.

– Já disse, eu vim devolver a pulseira, não quero me casar com ele.

Phobos riu como se aquilo fosse a maior das piadas.

– Você não pode devolver garota.

– Sabemos disso, - Intrometeu-se Nico. – Afrodite nos disse o que precisamos fazer. Sky, eu desafio você para uma luta.

Phobos riu ainda mais alto.

– Meu pai ia gostar de ver isso se estivesse aqui. – ele olhou para mim, piscando um olho – Tem certeza de que você não quer outro guerreiro? Esse aí não parece em condições de vencer.

– Confio em Nico.

– Você é quem sabe. – Phobos riu mais uma vez. – você é filho de quem, semideus?

– De Hades. – Respondeu Nico, ainda encarando Sky.

– Uh, um dos grandes. Acho que essa luta vai ser boa, se Sky aceitar, é claro.

Sky mantinha seu olhar fixo em mim. Sua expressão era triste, de cortar o coração. ‘Há alguns anos eu a dei de presente a um amigo, para que ele a desse de presente ao seu verdadeiro amor, assim que o encontrasse’. Eu era o amor verdadeiro dele? Parecia-me errado recusar o amor do garoto, mas eu ainda gosto de Nico, ainda guardo em mim esperanças de que um dia possamos ficar juntos, não há espaço para Sky em meu coração. Os olhos de Sky além de tristeza demonstravam determinação, ele parecia disposto a vencer a luta.

– Eu aceito. – Concluiu Sky, puxando sua espada.

Na mesma hora Nico puxou a dele e o duelo começou. Em uma ação contra ofensiva rápida, Nico recuou para trás, usando a lâmina longa de sua espada para barrar a espada de Sky, em um tipo de contra ataque feito sobre o ataque inicial do príncipe.

– A diferença fundamental entre o homem comum e o guerreiro, é que o guerreiro encara tudo como desafio, enquanto o homem comum encara tudo como bênção ou maldição. – Disse Sky, enquanto girava para tentar golpear Nico mais uma vez.

– Guerreiros devem prestar atenção no combate, não perder tempo com comentários desnecessários. – Retrucou Nico, avançando sobre Sky.

Sky Recuou um passo para trás, girando no lugar e desferindo um golpe fraco contra Nico. ‘O tipo de ataque que se faz sem realmente ter a intenção de tocar, cortar, machucar o que quer que seja, um movimento leve para fazer o adversário reagir para que você possa tirar proveito de suas reações’ Parecia que eu ainda podia ouvir a voz de Luke falar em minha mente, lembrando de uma de suas aulas de esgrima, eu aprendi tudo em teoria, só não conseguia colocar em prática.

Eu queria avisar Nico, dizer que Sky estava querendo brincar com ele, cansá-lo para que ele não aguentasse mais lutar, mas sabia que não podia fazer muito mais que torcer para que Nico entendesse isso sozinho.

A reação de Nico pareceu ser a que Sky já esperava, uma vez que ele sorriu satisfeito. Nico girou o corpo, Sky abaixou-se pelo lado esquerdo, acertando um golpe forte na lateral esquerda do corpo de Nico, rasgando sua camiseta e fazendo sangue sair do local.

– Ah meus deuses, Nico! – Eu teria ido até lá se Will não tivesse me segurado.

Phobos ria enquanto a batalha ficava mais perigosa. Eu não sabia quando mais podia aguentar daquilo. Escondi-me nos braços de Will, tentando não olhar para a batalha que se desenrolava em minha frente, mas escutava o afiado barulho das laminas se chocando e os ocasionais gemidos de dor de Nico. Sky ia matá-lo, eu não podia deixar isso acontecer.

– Parem, por favor, já chega! – Pedi, em meio a lágrima. Eu poderia me casar com Sky, ao menos Nico estaria vivo. Sim, eu poderia fazer isso.

Os dois não me deram atenção, tamanha era sua concentração na batalha. Nico estava visivelmente cansado, enquanto Sky parecia ainda bem disposto.

– Nico, por favor, pare! – Mas ele não me ouvia, continuar a partir para cima de Sky, parecendo determinado a vencer a luta.

– Ei, princesa! – Chamou Phobos. – Se seu namoradinho filho de Hades morrer eu fico com você, sem problemas. – Concluiu ele rindo, piscando o olho direito.

Só não xinguei Phobos porque estava preocupada demais com meu Nico. E então, a lâmina de Sky atingiu a base da de Nico, girando-a, Sky jogou todo o seu peso em um golpe para baixo.

Eu já conhecia aquele golpe ‘A maioria dos espadachins precisa trabalhar anos para dominar essa técnica’, lembrava das palavras de Luke enquanto via a espada voar da mão de Nico e bater no chão. Ele havia perdido o duelo.

– Droga! – Berrou, lançando-se de joelho ao chão, exausto. Ao menos ele estava vivo.

Sky olhou para mim, o olhar triste ainda não havia deixado seu rosto. Olhei para ele com desprezo. Pelos deuses! Eu teria que me casar com ele, como pude ser tão estúpida?

– Você perdeu o duelo, mas eu perdi a guerra. – Disse ele, ajudando Nico a se levantar. – Eu sei quando algo é batalha perdida. Pode ir Lyra, eu não vou te obrigar a nada. – Tendo dito isso, ele nos deu as costas, logo sumindo por trás de aviões de guerra.

– Espere, Sky!

Corri atrás dele, enquanto os outros ajudavam Nico.

– O que foi? Quer me torturar com o olhar mais um pouco? – Triste não era o suficiente para definir sua expressão.

"para que ele a desse de presente ao seu verdadeiro amor, assim que o encontrasse".

– Sky, olha, me desculpe... é só que eu não entendo, por que fez isso? Sabe que eu não teria aceitado se houvesse me contado.

– Eu sei e foi exatamente por isso que não te contei. Eu tinha esperanças que depois que estivéssemos casados você começasse a me amar... eu não sei. Lyra, eu juro que pensei que sentia algo por mim, não sei, o jeito como me olhou em Eólia... o mesmo jeito que as garotas que se dizem apaixonadas por mim olham.

– Sky você é lindo, não há como negar isso. Eu fiquei realmente impressionada quando te vi, caramba... você... Só que eu...

– Esse tal Nico é um garoto de sorte. – Disse ele, a ameaça de um sorriso surgindo em seus lábios.

– Está tão na cara assim? – Era obvio. – Acho que é só ele que não percebe.

– Não viu a maneira como ele lutou por você? Lyra, eu poderia tê-lo matado bem ali, logo no começo do duelo, mas eu sabia o que isso causaria a você. Ele lutou e não desistiu, é obvio que ele sente algo por você. - Conclui ele, desanimado.

As palavras fugiram. Como eu pude magoar tanto esse garoto?

– Obrigada, Sky.

– Penteu.

– Como?

– Penteu, não queria saber meu nome?

– Ah. – O nome girou em minha mente. – Espere um segundo, você não morreu? Quer dizer, não foi morto por Ares e Dionísio? Neto da deusa Harmonia, trineto do deus Ares, filho de Equion e Agave, é você não é?

Sky riu por um longo tempo.

– Sim, sou eu, quer dizer, em partes. Eu sou filho de Equion e Agave sim, neto de Harmonia e tudo mais, mas ao contrario do que dizem as histórias, não fui morto por Ares e Dionísio. Isso deve ter sido história de meu pai, quando eu fui levado para o mar pela minha mãe.

– Que história.

– Ainda acho a sua melhor. – Ele riu. – Agora, eu tenho que ir. Nos vemos Lyra.

– Nos vemos Sky, digo... Penteu.

– Hm, eu prefiro Sky.

– Ok. Ah! A pulseira. – Disse, tentando tirar a pulseira de meu braço.

– Pode ficar com ela, já encontrei meu verdadeiro amor, acho que não vou encontrar outra. E nem quero.

Na mesma hora, me joguei em seus braços iniciando um beijo. Esqueci meu amor por Nico, esqueci que meus amigos me esperavam para que seguíssemos a missão, esqueci de tudo. Éramos apenas ele e eu. Seus lábios moviam-se em sincronia com os meus, o momento era tão perfeito que eu queria que jamais acabasse. Ele me abraçou pela cintura e eu levei minhas mãos ao seu pescoço, prendendo-me mais ainda a ele.

– Hum, obrigada por me fazer amar mais ainda você. – Disse ele, terminando o nosso beijo e me soltando de seu abraço.

– Me desculpe, eu...

– Tudo bem, entendo. Agora eu vou. Qualquer coisa que precisar, me chame, estarei onde precisar que eu esteja. Acho que já ouviu por aí que o vento sopra o destino pelos caminhos do mar, não é mesmo? Eu posso saber mais que Éolo. – Ele riu, correndo para o fim do USS Intrepid e se lançando no mar.

– Adeus, Sky.

Quando voltei para junto de meus amigos, me deparei com uma cena um tanto inusitada. Meus amigos estavam ajoelhados com expressões assustadas em seus rostos enquanto Phobos andava na frente deles.

Peguei a adaga que havia ganho de Leto e arremessei na parte de trás de sua perna, fazendo ícor dourado vazar do lugar. Phobos urrou de dor.

– O que pensa que está fazendo?

– Eu posso te perguntar o mesmo.

Ele mancou em minha direção, já tirando a adaga de sua perna. Enquanto andava em minha direção, sua forma mudou, ele não era mais Phobos, ele era Hera.

– Eu conheço seus medos. – Sussurrou Hera/Phobos. – Sei o que te assusta. Você pode dizer que tem coragem para enfrentar os desafios que eu coloco no seu caminho, mas no fundo morre de medo de mim.

– Isso não é real Lyra – Berrou Jess, que já havia se colocado em pé. - Ele é o deus do medo, te ver assustada o deixa forte.

Na mesma hora, empurrei Hera/Phobos para dentro de um compartimento de carga, com a tampa feita de grades de ferro como uma prisão. Uma prisão? Ótimo, eu prendi o deus do medo e provavelmente conquistei mais um inimigo. Perfeito Lyra, continue assim. Peguei minha adaga que estava no chão e me virei na direção de onde ouvi um estranho barulho.

Nico apareceu ali dirigindo um estranho veiculo puxado por quatro cavalos.

– Onde achou isso? – Perguntou Will

– Não importa, mas acho que vai ser o único jeito de chegarmos ao Central Park, para usar a entrada de Orfeus que dá acesso ao reino de meu pai.

– Caramba essa é a ....

– Não ousem roubar a quadriga de meu pai! – Berrou Phobos de dentro de sua prisão. – Ornithes, ataquem!

Corremos para dentro da quadriga, que nada mais era do que uma carruagem de guerra vermelha e dourado, cheia de cenas de morte gravadas nela, puxada por quatro cavalos negros que soltam fogo pelas narinas.

– Desculpe Phobos, nos devolveremos assim que der. – Disse a ele, enquanto atirava flechas nos Ornithes e disparávamos pela Intrepid Square rumo ao central Park na quadriga roubada.


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