Son Of Hades escrita por bremsstrahlung


Capítulo 2
Dois – Eu encontro alguns parentes.




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Senti-me fraco e cansado logo assim que cheguei no submundo. Minha força foi embora tão rápido quanto veio, e então tudo que me lembro era de cair no chão e dormir.

x

Confesso que me assustei ao abrir os olhos e encontrar-me em um salão escuro, onde um homem muito sinistro estava a me encarar.

Mas não era só o ar sombrio que o rodeava, ele tinha mais ou menos uns três metros de altura, com a pele muita pálida e coberta por vestes muito negras.

-Oh, enfim acordou. – disse o homem, monotonamente.

-Quem...quem é você?

O homem massageou as têmporas e suspirou, parecendo entediado.

-Não sabe quem sou eu, filho? – ele perguntou, encarando-me com seus olhos negros como a noite.

Olhos iguais aos meus.

Então eu soube quem ele era. Meu pai, Hades.

-Ha-hades? – gaguejei.

-Ao menos não é tão ignorante quanto pensei. – ele murmurou para si mesmo, mas obviamente pude ouvi-lo.

Vendo que ainda estava no chão, tratei de levantar-me e arrumar minhas roupas amassadas e sujas, tentando conseguir ao menos um aparência descente.

Então ao olhar para ele, veio-me uma esperança de que talvez eu pudesse ter Bianca de volta. Se ele era o deus dos mortos ele poderia fazer isso, certo?

-Escute. Sobre Bianca...

-Bianca... – ele suspirou. – Uma pena tê-la perdido, tenho a certeza que seria muito melhor que você.

Senti algo estranho ao ouvi-lo falar aquilo. Por um minuto tive vontade de chorar. Nem mesmo meu próprio pai achava que eu poderia ser bom em algo.

-Você pode traze-la de volta? – perguntei, forçando minha voz a sair séria e firme.

-Não. Ela está morta, e nem mesmo eu posso mudar isso. – sua voz era fria e sombria, ecoando por todo lugar.

-Ela é sua filha. Você precisa traze-la de volta. – eu perdi o controle, e gritei.

Ele olhou para mim com os olhos queimando em raiva, e soube que talvez houvesse ido longe demais. Mas então ele se acalmou, a onda de fúria foi embora tão rápida quanto chegou, e ele voltou a se endireitar em seu trono, com o rosto novamente inexpressivo.

-Esperei demais de você, Nico. Esperei que você não chegasse aqui parecendo um estúpido como aqueles outros heróis, mas enganei-me. – ele encarou-me novamente com seus olhos negros e senti um calafrio percorrer meu corpo.

Eu não soube o que responde-lo, então fiz o mais sensato naquele momento, o encarei em silêncio, esperando que o mesmo continuasse.

-Eu perdi muitos filhos ao longo dos séculos, muito mais do que pode imaginar. Perdi pessoas que eu realmente amava. – ele disse a ultima frase a contragosto, como se fosse vergonhoso admitir que até mesmo ele tinha sentimentos. – Mas nem por isso eu os trouxe de volta, pois uma vez morto, nem mesmo eu, Senhor dos Mortos, posso traze-los a vida novamente.

-Sim, você pode. Você é apenas cruel demais para levantar-se dessa maldita cadeira e fazer algo por seus próprios filhos. – eu disse, deixando algumas lágrimas escorrerem por meu rosto, mas ainda sim mantendo a expressão séria.

Eu não me importei se aquilo o deixaria furioso ou não. Tudo que eu sentia naquele momento era raiva. Do meu pai, por ser tão imbecil, de Percy Jackson, por ter me enganado, e até mesmo da minha irmã, por ter me deixado.

-Corajoso. – ele murmurou.

-Ér... –

- É um garoto corajoso e esperto, Nico Di Ângelo. Arrogante, talvez, mas isso poderá mudar com o passar dos anos.

Ele olhou para mim como se pudesse ver através de minha alma. Sua expressão era totalmente sombria, e tudo que pude detectar fora uma pequena careta que formou-se em seu rosto, antes de quebrar o silêncio que instalara-se ali.

–Vá filho, não posso interferir em seu destino. Torne-se um estúpido herói. – suas últimas palavras soaram diferentes, como se houvesse algum tipo de afeto ali.

Sorri com isso, e me curvei em um reverência.

Eu não tinha a menor idéia do que faria de agora em diante, mas por enquanto continuaria no submundo, até que eu deixasse de ser um garotinho medroso e tivesse coragem o suficiente para enfrentar o mundo dos vivos novamente.

Tudo que vi antes de deixar sua sala, foram seus olhos negros me encarando com certo carinho, ou talvez fosse só minha imaginação.

Então saí.

x

Passei mais ou menos uma semana vagando sem rumo pelo mundo dos mortos. Não era um lugar que eu poderia chamar de feliz, mas eu sentia como se aquele fosse o meu lugar.

Eu não estava completamente solitário também, e isso era bom. Eu conversa com os espíritos as vezes, alguns tinham até mesmo a minha idade e pareciam bastante tristes com o fato de terem morrido tão cedo. 

Não era ruim ficar ali, mas também não era legal. Eu sentia falta da luz do sol, do vento fresco ou até mesmo do frio e da neve.

E principalmente dos vivos.

Eu sabia que em breve deixaria este lugar. Não tinha certeza para onde iria, mas teria de arrumar um lugar.

Cheguei a cogitar o acampamento meio-sangue, mas tudo que eu menos queria era olhar para o rosto de Percy ou de todos aqueles outros idiotas metidos a heróis.

Eu tinha certeza que se Bianca estivesse viva ela saberia o que fazer. Ela arranjaria uma solução, como sempre.

-Bianca está morta, você precisa entender isso, Nico.

Admito que assustei-me ao ouvir aquela voz atrás de mim. Ela não soava exatamente como as vozes dos mortos, que pareciam, muito, muito distantes. Cheguei a pensar que pertencesse a alguém vivo.

Meu pensamento mudou ao virar-me e encontrar um jovem adolescente, de aparentemente dezesseis ou dezessete anos. Sua face – assim como seu corpo – eram transparentes, mas ao contrario dos outros, não usava um manto negro ou coisa parecida.

-Quem é você? – perguntei.

Ele sorriu tristemente e pôs-se ao meu lado, observando a bela paisagem do elísio.

-Zane Wynner. Fui um filho de Hades, a muitas décadas atrás.  – ele respondeu.

Era dificil olhar para seu rosto, mas eu ainda sim conseguia distinguir cabelos e olhos negros, assim como os meus.

-Como sabe sobre Bianca? – lhe questionei.

-Estive com ela. – Zane respondeu, dando os ombros. – Mesmo estando morto, ainda tenho algumas vantagens por ser filho de Hades.

-E-eu não entendo. – disse. – Como posso te ouvir tão claramente?. Sabe, você não parece estar morto.

Ele sorriu friamente, e seus olhos meio que saíram de foco, como se ele relembrasse algo bem antigo mesmo.

-É um história engraçada. E quando eu digo engraçada, não quero dizer que você rirá no final. Mas enfim... quer ouvi-la?

-C-claro. – falei meio inseguro.

Zane era do tipo assustador e sombrio, assim como meu pai me pareceu em meu único encontro com ele, mas no fundo de tudo ambos pareciam estranhamente legais. Ou talvez eu só achasse isso por serem minha “família.”

-Minha história começa quando eu tinha treze anos e descubro ser filho de um deus.

Era um tempo dificil para qualquer filho dos três grandes. Todos haviam sido mortos por Zeus, que estava aterrorizado com uma profecia feita. Eu era o único vivo, e claro, você e Bianca, que estavam escondidos em um lugar qualquer... mas isso aí já é sua estória.

Meu pai foi até mim, me pediu que o seguisse ao mundo inferior onde estaria em segurança, e eu o fiz a muito contragosto.

Eu passei um bom tempo aqui enquanto vivo. Três anos para ser exato. Era completamente horrível estar rodeado apenas de mortos, mas bom, eu acho que você entende o que eu quero dizer.

Sim, eu entendia.

Quer dizer, eu gostava do submundo. Era bom estar num lugar onde eu mandava, onde me sentia livre de cobranças ou de medos, mas eu realmente sentia falta do mundo dos vivos.

Me imaginei no lugar de Zane e não pude deixar de perguntar-me como ele fora capaz de passar três anos aqui, estando vivo e convivendo apenas com mortos.

-Continue. – falei, curioso com o que o levara a morrer tão cedo.

-Zeus descobriu sobre mim. – ele disse simplesmente, e cheguei a pensar que esse era o fim da história. 

– Eu não lembro exatamente da minha morte, sabe?  As lembranças parecem confusas demais. Só lembro-me que fora dia catorze de setembro, meu aniversario de dezesseis anos.

-Mas... por que você parece tão diferente dos outros espíritos do submundo? – perguntei.

-Eu morri no mundo dos mortos. Então eu não fui exatamente afetado com todas as mudanças que uma pessoa passa quando vem até aqui. E eu até agradeço por isso, no fundo me sinto um pouquinho vivo ainda.

-Eu... – não sabia o que dizer.

Houve alguns minutos de silêncio entre nós, e confesso que fiquei um tanto desconfortável com isso.

Então enfim ele o quebrara:

-Desculpe te ocupar contando-lhe minha vida medíocre, mas é raro ter alguém com que conversar. – Zane disse, preparando-se para se afastar.

-Fique. – falei.

Foi meio impulsivo, mas eu realmente queria que ele ficasse por perto. Eu estava sentindo-me só demais naquele lugar, e eu sabia que Zane seria o mais perto de uma pessoa viva que eu encontraria por lá.

-Se você quer... – falou por fim, dando os ombros.


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Notas finais do capítulo

Eu não pude revisar esse cap. Escrevi as pressas, então provavelmente não estará muito bom.

Quando eu tiver tempo eu o melhoro um pouco.