- Sua desgraçada. Olha só o que você fez. – Yasmin grita e chora ao mesmo tempo, olhando para Athena, com grande fúria.

            Athena não sabe o que fazer. Pensa em se aproximar e dizer ou fazer alguma coisa para ajudar, mas apenas fala, chorando:

            - Yasmin, eu sinto tanto. – E se abaixa, tampando o rosto.

            Mu, que acaba de adentrar o recinto diz, com um tom firme e tranquilo:

            - Yasmin, não torture Athena.

            A menina levanta a cabeça, surpresa, vendo que se trata de uma pessoa tão querida que ela não via há tanto tempo e diz, desesperada.

            - Mu, o Saga...

            Mu se aproxima, encosta o ouvido no peito e Saga e levanta, dizendo:

            - Ele não está morto.

            A surpresa é geral. Athena dá um grande sorriso de alívio. Yasmin parece não acreditar no que ouve e pergunta, espantada.

            - Mas como, Mu?

            - O que feriu Saga, o báculo de Athena?

            Yasmin faz sim com a cabeça, Mu prossegue.

            - O báculo de Athena não mata, ele purifica. Bem, ele pode matar, mas não é uma arma destinada pra isso. Quando ele atinge algum órgão vital, ele lê a alma da pessoa: se for pura, ele purifica. Se for impura, ele mata.

            Yasmin o interrompe, confusa:

            - Mas Mu, porque ele não acorda?

            - É normal que a pessoa, atingida pelo báculo, entre em estado de coma por dias, semanas ou meses. Isso vai de cada um. Bem, chega de conversa. Precisamos cuidar do Saga. Vamos levá-lo aos seus aposentos.

            Mu, com a ajuda dos cavaleiros de Athena, leva Saga para dentro. Yasmin, ainda de joelhos, estica os braços em direção a Saga. Mu vê o desespero da menina, olha para ela carinhosamente e diz, serenamente:

            - Yasmin, tudo dará certo. – e sorri.

            As palavras de Mu parecem acalentar, mesmo que brandamente, o coração de Yasmin. Athena agora cria coragem para se aproximar da menina, põe a mão em seu ombro e diz:

            - Yasmin, se precisar de minha ajuda, é só dizer.

            Para surpresa de Athena, Yasmin toca em sua mão, se levanta, a encara e diz, calmamente:

            - A casa é sua. Bem-vinda de volta ao lar, Athena, esteja à vontade. – faz uma longa reverência, dá um sorriso, com lágrimas escorrendo pela face e entra, em direção onde está Saga.

            Athena se sente muito confusa, olha em volta. Nem se lembra daquele lugar. As palavras de Yasmin tocaram fundo seu coração que, mesmo sofrendo, não se esqueceu de seu juramento de “Saint” e Athena pensa, emocionada:

            - Que responsabilidade enorme eu tenho não mãos...

...

Saga agora repousa em seu quarto. Yasmin não sai, por um só minuto que seja, do lado de seu amado mestre. Mu entra no quarto e conta para Yasmin o que aconteceu lá embaixo, desde que ela se isolou para cuidar de Saga:

            - Yasmin, Athena resolveu ficar, na mansão dos fundos do Santuário, ela e seus cavaleiros.

            - Que bom, Mu. – Yasmin responde, com um doce sorriso no rosto, interrompendo Mu. A menina está sentada em um banquinho, ao lado da cama de Saga, segurando em suas mãos. Só tira os olhos dele para responder a Mu, que prossegue.

            - E Aioria, você se esqueceu dele?

            A menina não entende a pergunta de Mu e questiona, confusa?

            - Como assim, Mu?

            - Ele só ficou assistindo a tudo o que aconteceu lá embaixo. Ele acreditava que o irmão dele era um traidor, que tinha tentado matar Athena. Mas depois de todas aquelas revelações, agora ele sabe que quem tentou matar Athena foi Saga, a quem ele serviu fielmente depois do sumiço de seu irmão. Ele me questionou e eu expliquei tudo exatamente como aconteceu a ele. Ele está com muita raiva do Saga e disse que desejava que Saga morresse.

            Yasmin ouvia a tudo compreensivamente, até o “desejava que Saga morresse”. A menina muda a expressão, fecha a cara e diz, rispidamente:

            - Então ele que não me procure mais, enquanto desejar algo como isso. Eu sinto muito por ele e pelo irmão dele, mas não admitirei perto de mim e do Saga alguém que lhe deseje mau.

            - Mas Yasmin, coloque-se no lugar dele, e releve. Ele pode ter dito isso no calor do momento.

            - Pelo que conheço Aioria, ele não falou da boca pra fora e não vai mudar de opinião tão fácil, mas, quem disse que ele quer nossa amizade?! Mas se quiser, terá que mudar, porque eu não admito que sequer falem mal do Saga. Mas, chega desse assunto, Saga precisa de paz e silêncio agora. – de repente, a menina muda de expressão, voltando à serenidade e questiona o amigo.

            - Algo mais, Mu? – e sorri, docemente.

            - Não Yasmin, era só isso. E me desculpe incomodá-la.

            - Imagina, Mu, você nunca atrapalha. – ela olha para o amigo, mantendo o sorriso.

            Mu faz uma leve reverência e sai. Ele não sabe em que momento de sua vida Yasmin se tornou tão geniosa, ainda mais se tratando de Saga. Ele pensa, com expressão dócil:

            - É, minha irmãzinha, você cresceu...

...

Passam-se três dias desde o acidente de Saga. É uma noite chuvosa, mas não fria. É úmida e agradável. Yasmin sai de perto de Saga por um momento, de tanto as pessoas insistirem, preocupadas com sua saúde. A menina resolve tomar um banho quente, colocar uma camisola confortável. Depois ela desce para a cozinha, para fazer uma refeição leve.

            Terminada a refeição, ela sobe as escadas vagarosamente, se dirigindo à suíte de Saga. A menina olha tudo em volta, como se meditasse. É seu primeiro momento de paz, desde que se separou de Saga em sua infância. Apesar de seu amado ainda estar de cama, ela sente que algo de bom está para acontecer. Racionalmente, ela não sabe o que é, pensa que pode ser por causa do banho quente, da chuva e da refeição que ela está se sentindo bem.

            O quarto de Saga se encontra no meio de um longo corredor, a escada sendo no começo dele. Yasmin se dirige vagarosamente ao quarto, olhando por todas as frestas de onde é possível enxergar a chuva. Ela já imagina que abrirá a porta, dará um demorado beijo na testa de Saga e se deitará no sofá cama ao lado da cama de Saga.

            Quando Yasmin está se aproximando da porta do quarto de Saga, já esticando as mãos em direção à maçaneta, ela não acredita em que seus olhos vêem: é Saga, no final do corredor, vindo em sua direção. A menina nem pensa, corre em sua direção, pula em seu colo, o abraça muito apertado e diz, chorando:

            - Saga, você acordou.

            Quando ela se afasta para olhar seu rosto, ele nada diz. Pega em seus braços para que ela o solte e pula a janela mais próxima. Yasmin fica muito assustada, não esperava aquela reação de Saga. Ela olha pela janela e o vê pulando o muro, fugindo como um bandido. A menina não sabe o que fazer. Ela grita e isso atrai Athena e os demais moradores da mansão. Athena se aproxima e pergunta assustada:

            - Yasmin, o que foi?

            - Saga, ele se jogou pela janela.

            Athena nada entende. Pensa que Yasmin pode ter tido uma alucinação, devido ao cansaço. Ela põe a mão no ombro da menina e diz:

            - Calma Yasmin, vamos até o quarto de Saga.

            Athena a pega pela mão, que está gelada e trêmula. Elas abrem a porta do quarto e para surpresa e espanto de Yasmin, lá está Saga, dormindo serenamente, como ela o deixou. Yasmin perde as forças, cai de joelhos e diz:

            - Mas eu o vi, tenho certeza que era ele. O abracei, olhei em seu rosto...

            - Calma, Yasmin, você pode ter tido uma alucinação.

            - Alucinação de carne e osso? Era real, Athena, como isso é possível?

            Athena passa a mão na cabeça de Yasmin e a ajuda a levantar:

            - Vamos, Yasmin, vamos descer até a cozinha, eu te preparo um chá.

            Yasmin concorda, pois está confusa demais para questionar qualquer coisa. Depois do chá, Athena a ajuda a se deitar em seu sofá cama, ao lado de Saga. Athena lhe dá um beijo de boa noite e sai. Yasmin fica de joelhos, olhando pela janela, para o muro por onde viu Saga fugir e se questiona:

            - Saga, terá isso sido um sinal de que sua alma quer ir embora? Por favor, não me deixe. – e cai, desmaiada de cansaço.