Cap. 7

            – KAGOME, NÃO CHEGUE MAIS PERTO! – ouviu a voz de Inuyasha, e se assustou. O quê?, pensou se virando para ver de onde vinha aquele grito, mas não teve tempo. Logo o som do gelo rachando debaixo de seus pés foi tudo que conseguiu discernir antes de sentir a água incrivelmente gelada tomando conta do seu corpo.

            - Inuyasha! – tentou gritar se debatendo, porém o frio insuportável começou a deixar seus membros dormentes, à medida que se sentia cair na escuridão.

            - Kagome... – ouviu uma voz feminina lhe chamando. Começou a sentir um calor tomando conta de seu corpo e abriu os olhos.

            Vestida com a mesma roupa de sempre, uma jovem muito parecida com ela a encarava com um olhar calmo.

            - Kikyo... – balbuciou sem entender, mas antes que pudesse fazer qualquer pergunta, sentiu um tapa em seu rosto, seguido de um forte abraço.

            - Idiota... – falou Kikyo em seu ouvido. – Gomenasai...

            - Kikyo...?! – conseguiu dizer em meio ao choque, vendo a sacerdotisa voltar a encará-la.

            O que estava acontecendo? Perguntou-se tentando entender aquilo tudo. Onde estava? Será que tinha morrido?

            - Não, você está apenas desmaiada. – falou Kikyo séria. – Fui eu que te trouxe aqui, porque precisava falar com você. Portanto, não deixe que Inuyasha brigue muito com ela.

            - Ela? Quem é ela? – perguntou Kagome cada vez mais confusa.

            Ouviu a outra suspirar e dar um pequeno sorriso, sem, contudo, perder a seriedade de antes.

            - Tudo ao seu tempo... Primeiro preciso que entenda. Você é a pessoa mais importante para Inuyasha!

            Ouvir aquelas palavras daquela pessoa era algo no mínimo... inusitado! Pensou com um toque de ironia. Por mais que quisesse acreditar, era muito difícil, principalmente quando...

            - Quando se passa muito tempo pensando em besteiras. – completou Kikyo, seriamente.

            Encurvou as sobrancelhas.

            - Você não sabe o que está falando, Kikyo! – rebateu começando a ficar irritada. – Você sempre teve o amor de Inuyasha e eu...

            - E você sempre achou que era a outra o tempo todo. – continuou a sacerdotisa. – Idiota! Eu sei que sente medo, e por isso estou aqui, mas você está perdendo uma chance preciosa! Uma chance que eu não tive...

            Viu os olhos de Kikyo escurecerem, e sentiu o significado daquelas palavras.

            - Ele nunca me desejou como deseja você...- falou Kikyo de repente. – Você pensa que não é amada porque o meu ódio me fez voltar à vida numa época em que eu não deveria mais viver. – ela continuou, afastando-se. – Eu errei. Fui movida pela vingança e pelo ressentimento. Se Inuyasha tivesse ficado comigo, estaria morto como eu... vivo por fora e morto por dentro. Mas com você...

            Virou-se para Kagome e sorriu.

            - Com você ele sorri... como jamais sorriu comigo. – Aproximou-se da humana chocada na sua frente. – Por que ele tentaria tanto conter seus instintos de youkai, se não fosse para proteger alguém que ama muito?

            - Conter seus instintos...? – repetiu Kagome sem entender.

            A sacerdotisa sorriu. Não poderia segurar a sua reencarnação naquele sono por muito tempo, caso contrário a mataria. Pegou-lhe, então, a mão e a apertou.

            - Obrigada por ter dito que daria a sua vida por mim...- sussurrou alargando o sorriso. O mais verdadeiro que Kagome já vira em seu rosto. – Mas saiba que você deu... você me deu a vida, Kagome, quando trouxe o sorriso de Inuyasha com você. Obrigada por isso...

            Sentiu que a imagem de Kikyo começava a desaparecer e grossas lágrimas escorreram pelo seu rosto.

            - Agora volte... – ouviu a voz da sacerdotisa ao longe. – Vocês terão uma filha linda...- foi tudo que conseguiu escutar antes que a escuridão a preenchesse inteiramente, enquanto outra voz lhe chamava de um lugar distante.

            - Kagome! Kagome! Acorda! Kagome! O que você fez com ela, pirralha? – gritou Inuyasha colocando a jovem de cabelos negros deitada sobre a cama.

            - Já disse que não fui eu! Foi a senhorita Kikyo que pediu para eu chamar a mamãe! – respondeu a menina.

            - Ki...Kikyo...? – gaguejou o meio-youkai já desesperado. – KAGOME! KAGOME!

            - Pare de gritar Inuyasha! – ouviu a voz da sacerdotisa atrás de si, e arregalou os olhos. – Deixe que ela descanse um pouco. Tem sido difícil para ela também. Você por acaso quer acordar a família dela? – encarou-a por um momento. – Venha... – ela continuou. – Precisamos conversar... E talvez, essa seja a nossa última conversa. – a viu acrescentar com um pequeno sorriso.

            Seguiu-a confuso, sem, contudo, deixar de olhar ainda mais uma vez para Kagome deitada dentro do quarto.

**

            - Desculpa mamãe... – ouviu a menina falar ao seu lado. – Eu não queria te machucar... Desculpa...

            “Vocês terão uma menina linda...”

            Lembrou as palavras ditas por Kikyo.

            Obrigada..., pensou sentindo um imenso carinho. E um sono profundo a derrubou, fazendo com que não ouvisse e pensasse mais nada. Um sono que deixaria apenas vagas lembranças daquela noite quando acordasse.