Diz que Me Ama escrita por Sleepless


Capítulo 7
O7




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Aquela semana foi terrível. Não pelo castigo, mas, por não vê-lo de jeito nenhum. Ele faltara toda semana no colégio. A professora falou que ele estava com pneumonia. Eu não acreditei, pois, sabia que era outra coisa. Resolvi dar um tempo a minha mente viajando para uma serra com meus amigos, aqueles que eu tinha deixado de lado. Convencer minha mãe foi fácil, apenas fiz tudo que ela pediu, não quebrei as regras do castigo. Quando eu fui perceber já estava dentro do carro do pai do meu amigo Thiago, eu nunca mais havia saído com ele e sua irmã também minha amiga Lara.

A viagem foi um pouco cansativa, mas ouvir as besteiras de Thiago e alguns comentários de Lara sobre diversas coisas era divertido. Mas quando eu estava na rede relaxando na serra, depois de chegarmos, meus olhos ficaram tristes de novo, meu garoto interrogação tomou conta de mim, agora com mais intensidade.

Era doloroso pensar que ele nunca mais queria me ver em sua frente. Eu ainda não sabia o que ele poderia ter de tão grave que pudesse envergonhá-lo tanto. Não sei explicar, era como se eu estivesse encontrado o apartamento dos sonhos, ou o emprego dos sonhos e descobrisse que estaria despedido ou despejado antes de realmente possuir tais coisas.

Eu tinha certeza de muitas coisas, muitas delas eram inevitáveis. Eu o amava, eu o queria e eu jamais o esqueceria. Mas... O que eu poderia fazer numa serra? Naquele momento eu pensei “ Porque estava na serra, se queria estar com meu amor?”

Inventei uma falsa febre e mal estar e quando eu vi já estava chegando em casa, quase a meia noite. Me senti culpado em estragar o passeio deles, mas havia uma coisa que eu não podia deixar para trás.

Acordaram meu pai e minha mãe que ficaram muito preocupados, mas quando tocaram em mim, eu falei que me sentia melhor.  Inventei que engoli um remédio e subi para o quarto.

Esperei ficar de madrugada, estava frio. Coloquei um casaco e fui até a porta da sala cuidadosamente. Saí. Mesmo estando muito nervoso, ignorei o medo e joguei uma pedra na janela dele. Nada aconteceu até que joguei  outra. Depois de muitas pedras jogadas escutei um barulho.

Quando estava pensando em desistir o vi abrir a janela, sem blusa e com o cabelo bagunçado.

- Quem é que está ai? – perguntou ele.

- Sou eu. – respondi depois de alguns segundos

- Ele olhou para baixo e fechou a janela.

- Pedro. Não faz isso por favor. – supliquei.

Ele apareceu novamente.

- O que você quer?

- Conversar com você.

- Para que?

- Faz uma semana que você não vai para aula.

- E daí? Não te interessa!

- Eu queria pedir desculpas...

- Por quê? – perguntou ele.

- Você pode descer?

- Não conte com isso. – falou ele sério.

Um minuto se passou e ele fechou a janela. Muitas lágrimas começaram a molhar meu rosto e eu sentei ali mesmo e me desestruturei completamente.

De repente vi uma luz na porta da frente e logo depois ele, saindo, com uma camiseta e short.

Quando o vi na minha frente me senti muito envergonhado.

- Levanta. – disse ele puxando meu braço para levantar.

- Eu... – não conseguia falar.

- Eu não sei por que eu desci. Você poderia parar de chorar? Isso é patético!

- Desculpe.

Uma coragem me subiu e coloquei para fora tudo o que eu queria dizer.

- Pedro. Eu não sei por que você vai para a clínica. Eu não queria ter te deixado mal. Entendeu?

Ele virou de costas e eu estranhei. Quando me aproximei tomei um susto ao ver uma lágrima descer daqueles olhos sérios.

- Pedro? Você...

- Não complete a frase. Porque você se importa tanto assim? Porque você tinha que me obrigar a compartilhar isso com você?

- Pedro. Eu já te disse. Pode ser estranho, mas eu te amo! Pedro. Você me irrita, me magoa me faz sentir a pessoa mais ridícula do mundo. Mas eu to vendo suas lágrimas, você vai dizer que não esta chorando, você vai dizer que...

- Para. Eu já entendi. – disse ele virando para mim.

- Eu sou doente lunático. Por isso não me aproximo de ninguém. Não adianta.

- Não importa o que você tem. Você acha que isso muda alguma coisa?

- Eu tenho distúrbio de personalidade. Você quer ser meu amigo, mas eu posso uma hora te tratar bem e outra te tratar muito mal.

- Então é isso?

- Sim. Por quê? Já não quer mais ter algum relacionamento comigo? Era de se esperar.

- Não. Agora eu quero mais ainda. – falei me sentindo extremamente contente.

- Lunático, digo, Alexandre. – falou ele sem entender.

- Eu entendo que você sofre com isso. Mas não consigo deixar de me sentir tão bem, porque você me contou isso e desceu para falar comigo. Não me interessa se amanhã você vai me odiar, se eu vou ter que lidar com isso. Eu quero! Eu quero você Pedro Henrique. De uma maneira que é impossível descrever.

Ele ficou parado, sem dizer nada. E inesperadamente deu um sorriso.

- Voce realmente gosta de mim... Mesmo sabendo o que tenho.

- Sim. Eu não só gosto de você. Eu te amo!

- Você provavelmente não vai desistir.

- Não.

- Então... Amanhã eu vou para a clínica de novo. Tenho uma consulta de tarde. Quer ir comigo?

- Quero. Mas eu quero muito, demais, mais do que qualquer...

- Ei! – disse ele tapando minha boca.

- O que foi?

- Você fala demais. E parece uma criança boba pulando porque vai ver o circo.

- Pareço?

- Mas fica muito bem assim. Chega a ser bonitinho.

Meu rosto corou e eu senti um enorme desejo de abraça-lo. Acabei deixando escapar.

- Posso abraçar você?

- Até pode, mas eu ainda não to acostumado com beijos de homem.

Eu o abracei. Não sei explicar, nunca tinha sentido seu corpo assim, foi como estar no melhor lugar do mundo. O cheiro dele. Foi tudo muito intenso e incrivelmente maravilhoso.

             - Acho melhor você ir dormir agora. Amanha a gente se vê.

         - Eu vou. Até amanhã.

         - Até.

         Eu sabia que estaria enfrentando essas personalidades dele. Sabia que ele nunca tivera um relacionamento com um homem e muito menos amigos. Por um momento pareceu um sonho, mas quando vi aquele sorriso dele, fechando a porta e dando um tchau, eu percebi, era real. Eu sentia, era real.


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