“Oh! Não tremas! Que este olhar, este
abraço te digam o que é inefável -
abandonar-se sem receio, inebriar-se de
uma voluptuosidade que deve ser eterna.”

Goethe

Suas pernas doíam de tanto correr, faltava-lhe ar em seus pulmões, seu coração batia descompassadamente e sua mente estava vazia, assim deixando que suas pernas a conduzissem. Conhecia a vizinhança, então não estava preocupada em se perder. Mesmo com suas pernas doloridas ela continuava a correr, apenas parou quando avistou uma pracinha. Andou de encontro ao balanço sentando-se no mesmo, ali ficou balançando-se levemente olhando para a profunda escuridão do céu.

Não sabia o que fazer, muito menos no que pensar, apenas sabia que não poderia voltar para casa, pelo menos não com aquela roupa. Pensou por um longo tempo até se lembrar de sua irmã que estava na casa de seu primo Neji por alguns dias. Consigo trouxera apenas seu celular antes de sair correndo da casa de Itachi, pegou-o e ligou para sua irmã, pediu-lhe para ela ligar para seu pai e falar que ficaria esta noite na casa de Neji junto com Hanabi, como desculpa para sua irmã Hinata apenas disse que ficaria na casa de uma amiga para que pudesse estudar para os exames finais. Como Hinata não costumava mentir conseguiu enganar sua irmã perfeitamente bem, apesar de se sentir mal em mentir. Agora ao menos um de seus problemas estava resolvido.

Ela não queria pensar em mais nada naquele momento, mas a escuridão do céu a cativou, fazendo-a lembrar-se de certos olhos ônix.

- Eu devo tê-lo feito sofrer... – Suspirou pesadamente enquanto fechava seus olhos sentindo a brisa noturna bater-lhe levemente em seu rosto.

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- É porque você se parece com ela...

- Ela?

- Eles se conheceram a quatro anos atrás, após dois meses começaram a sair juntos, não demorou muito para que começassem a namorar. Eram tão felizes juntos que pareciam um casal de idiotas... Eles realmente eram um casal de dar inveja a qualquer outro. Sempre juntos enfrentavam o que vinha pela frente, sem se importar se a situação não era boa, afinal eles se amavam mais do que qualquer coisa, e um simples problema não iria interferir na relação deles. Sempre sorrindo um para o outro, sendo verdadeiros e ainda dando atenção a quem precisava. Ela era uma garota muito boa com as pessoas a sua volta, sempre ajudava todos, não gostava de injustiças e odiava mais que tudo as brigas, nunca suportava quando via alguém apanhando, sempre corria para ajudar quem quer que fosse. Itachi ficava uma fera por causa disso. Ele morria de medo de que algo ruim acontecesse com ela, de que algum dia por causa da loucura dela de defender os outros acabasse machucada, então eles discutiam por essa razão, no final eles acabavam fazendo as pazes alguns minutos depois. Eu era amiga dela e de Itachi, inclusive fui eu que os apresentei e vi como eles realmente ficavam bem juntos, eu gostava de andar junto a eles, mas eu era uma garota problemática, vivia me metendo em confusões na escola e nas ruas, mas mesmo assim eles eram bons comigo, principalmente ela, sempre me defendendo, sempre do meu lado, Itachi apesar das broncas sempre me ajudava assim como ela. Certo dia eu sem querer esbarrei na rua em um cara, ele estava com alguns amigos, eram enormes e assustadores, minhas desculpas não serviram para nada ao ver a camisa de um dos caras molhada pela cerveja que havia na mão do mesmo que esbarrara. Só consigo me lembrar de ser arrastada para algum beco e apanhar muito, quando pensei que seria morta com todas aquelas pauladas, ela apareceu e se jogou a minha frente aguentando todas as pancadas por mim, eu via o sangue dela escorrer pela face e pingar na minha, aquela idiota... Mesmo apanhando tanto... Estava sorrindo para mim, um doce sorriso como se falasse que tudo iria ficar bem. – Fez uma pausa como se estivesse lembrando cada mínimo detalhe do que acontecera, sua expressão era longínqua e tristonha. - Itachi não estava lá com ela naquele momento, então ela só poderia ficar naquele jeito para me proteger, não poderia fazer mais nada, já que para me salvar ela... Nem se importou com ela mesma, ainda me lembro do seu sorriso, do seu olhar acolhedor, da sua mão pousada delicadamente em meio a meus cabelos, e de sua outra mão agarrando firmemente a barra da sua camisa, como se aquilo pudesse diminuir a dor que sentia. Não sei quando, mas após um tempo eu apaguei completamente, eu não queria... O que eu mais queria é que ela ficasse bem, que Itachi chegasse e nos salvasse, ele chegou quando eu estava desacordada, porém... Ela...

- O que aconteceu com ela? Ela está bem? – A Hyuuga demonstrava preocupação em sua voz.

- Ela não resistiu, e acabou morrendo nos braços dele... – Hinata sentiu como se espinhos fossem cravados por todo seu coração, não era justo o que havia acontecido, eles se amavam tanto... - Isso foi muito difícil para ele e para mim também, já que foi minha culpa, ainda me lembro da dor em meu rosto causada pelo tapa que Itachi me deu quando eu disse aos prantos que a culpa fora minha, que ela morrera para me salvar. Itachi é um cara legal, então nunca me culparia por aquilo. Minhas palavras só fizeram com que ele sofresse mais...

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Deparou-se com o portão da casa de Itachi, não sabia como fora parar ali, estava tão envolvida em seus pensamentos que nem notara quando suas pernas começaram a se mover.

A garota ficou ali parada, não sabia se batia na porta ou se simplesmente fosse para outro lugar. Porém, havia um problema... Ela não tinha outro lugar para ir. Tomou coragem e bateu três vezes na porta, pensara ter batido fraco de mais e que provavelmente ele não escutara, assim ficou mais tranquila. Iria voltar para a praça se o som da porta abrindo-se lentamente não tivesse atrapalhado, não entendeu porque aquele pequeno som fez seu coração bater rapidamente, talvez não fosse o som da porta que fizera tal estrago em seu coração, talvez fosse apenas quem estaria abrindo a porta que causou aquela agitação.

- Hinata? – Algumas pequenas gotas d’água pingavam dos cabelos do jovem, em volta de seu pescoço havia uma pequena toalha branca. O Uchiha encontrava-se apenas com uma calça um pouco larga, ficando um pouco constrangido por Hinata o ver sem camisa, porém não ligou muito para aquilo. – Konan me contou o que aconteceu, bem ela já foi para casa, mas você não precisa se preocupar. – A garota apenas acenou positivamente mantendo seu olhar fixo no chão. Apenas moveu-se para dentro da casa quando Itachi deu-lhe passagem mandando-lhe entrar, em seguida fechara a porta.

- Eu vou colocar uma camisa, então pode ficar à vontade. – Dissera enquanto andava em direção das escadas. Já de costas para a pequena Hyuuga continuara falando. – Se estiver com fome a cozinha é be... H-hinata? – Seu coração disparou enquanto seus olhos mantinham-se arregalados, não sabia o que fazer naquela situação. Apenas percebeu o que estava realmente acontecendo quando após o pequeno impacto dos seus corpos, a garota envolvera seu abdome com seus finos e delicados braços. Pode notar que a garota estava tremendo e que talvez pudesse ter se arrependido do que fizera, mas realmente não se importava, apenas ficou ali, estático. Estava gostando daquela sensação calorosa em suas costas, da respiração falha de Hinata batendo de leve contra sua pele. Não sabia o que dizer muito menos o que fazer. Seu corpo não obedecia, queria virar seu rosto para o lado na tentativa de ver a garota, mas sentia certo medo de que assim ela fosse se distanciar. Não entendia, na verdade não queria entender do porque sua face estava queimando e seu coração estava disparado por um simples abraço daquela garota.

- Desculpe-me. – Dissera enquanto apertava o abraço, a garota tinha as maçãs do rosto avermelhadas e já ameaçava começar a chorar.

- Hinata? – Sua voz saiu em um tom doce e incompreensível.

- Sinto muito por tê-lo feito lembrar-se de algo que o deixou triste, eu não queria ter feito você se lembrar de algo que lhe magoa. – Uma fina lágrima passeara pela sua bochecha, para em seguida pingar nas costas do Uchiha. Ele não tivera nenhuma reação, pela primeira vez em sua vida não sabia o que fazer muito menos o que dizer.

- Hinata... Você não precisa se preocupar com algo como isso. – Segurara os braços do jovem para em seguida afastá-los lentamente de seu corpo. Virou-se para a garota que mantinha sua cabeça abaixada, com cuidado levou uma de suas mãos até o queixo da garota, assim erguendo lentamente a cabeça dela. Encarou os olhos perolados que tentavam a todo custo desviar dos seus. – Você não precisa ficar desse jeito por algo como aquilo. – Disse carinhosamente enquanto limpava uma lágrima teimosa que passeava pela face da jovem, com a mão que estava antes em seu queixo. – Sinto muito por não ter um lenço. – Essas palavras atraíram a atenção da Hyuuga que passara a encará-lo.

Itachi não compreendia o porquê de aqueles olhos perolados o atraírem tanto. Apenas compreendia que aquela pequena distância era perigosa, tentou se afastar da garota, porém a reação de seu corpo foi totalmente contraditória. Com a mão que estava livre segurara delicadamente a cintura fina da garota, e a mão que se encontrava na face dela fora para a nuca da mesma. Ele não conseguia compreender o porquê de seu corpo não obedecê-lo, apenas queria ficar perto da pequena e indefesa garota. Seus olhos encontraram-se com os lábios dos dela, e instintivamente fora aproximando seus lábios dos dela, cada vez que ficava mais perto seus olhos iam fechando-se lentamente. Hinata não entendia o que estava sentindo, seu coração batia descompassadamente e sua mente parecia não incomodá-la mais, com a proximidade de Itachi ela apenas fechara os olhos, assim ficando imóvel. Suas respirações quentes misturavam-se causando arrepios a ambos. Por alguma razão o Uchiha ficara desse jeito por um tempo, às vezes raspando levemente seus lábios nos dela. Acabou por beijar-lhe carinhosamente o canto da boca, não compreendeu o porquê daquele pequeno ato ter feito seu coração disparar cada vez mais rápido, sua vontade era de pegar Hinata em seus braços e beijá-la corretamente, mas sabia que não deveria. Então, com muito esforço separou-se da garota que parecia bastante confusa, acariciou levemente a face da jovem para em seguida subir as escadas e desaparecer.