Passaram momentos agradáveis na Starbucks, conversando sobre coisas banais e tomando litros de café, vício que tinham em comum. A aproximação entre Gerard e Frank já se tornara inevitável, e era mais visível a cada minuto que se passava. Por vezes Mikey parou completamente de falar para observá-los em suas divagações, acompanhadas de trocas de olhares incessantes e involuntárias. Eles tinham mais em comum do que se podia imaginar, e o modo como isso ia ficando claro o assustava, já que frente a algo assim um envolvimento parecia obvio e natural, e a expressão de felicidade no rosto de ambos, principalmente de Frank, provava que ele não era o único a partilhar dessa opinião.

Chegaram finalmente no cinema, cerca de 10 minutos antes do inicio da sessão, tempo que fora suficiente para que o restante de fila terminasse e eles pudessem entrar. Mikey se prontificou para evitar que o irmão e o amigo não se sentassem juntos, se posicionando propositalmente entre ambos. Percebeu que esse ato não se limitava somente em evitar que tivesse que presenciar uma cena mais que indesejada e que teria grandes chances de acontecer, mas também porque sentiu ciúmes do amigo cuja atenção estava dividida entre ele e o irmão. A intenção de Mikey ficou clara para ambos, que apesar de frustrados consentiram e compreenderam ao concluir que tomariam a mesma posição perante semelhante situação.

Durante todo o filme não evitaram se olhar, e por vezes lamentaram para si próprios a presença do terceiro, que seria muito bem-vinda em outra situação. Apesar de fantasiarem aquilo que ambos desejavam secretamente, não conseguiram livrar-se da culpa que isso lhes trazia, o que os levou a duvidar em seu íntimo que se estivessem a sós conseguiriam levar seus desejos a diante.

Ao término da sessão saíram empolgados, comentando sobre o filme que acabaram de assistir, e já falando na possibilidade de repetirem o programa. Assim que um assunto terminava, tratavam de logo encontrar algum outro de modo a manter suas mentes ocupadas e evitar situações e comentários constrangedores, o que não seria perceptível para qualquer um que não estivesse a par da situação, o que não era o caso de Mikey, que se aproveitou de um rápido afastamento do irmão que fora cumprimentar um conhecido, para ter com o amigo a conversa que tanto evitara.

M: Frank... Quero conversar com você. – disse sério.

F: Claro. Estou ouvindo.

M: Aqui não. Melhor fazermos isso quando estivermos sozinhos.                  

F: Você está me assustando. Se é algo assim tão sério não vejo o porquê de esperar. – respondeu espantado com a seriedade do amigo.

M: Okay... – respirou fundo, certificando-se de que o irmão não podia escutá-los. – É sobre você e o Gerard.

Frank arregalou os olhos, não conseguindo evitar o nervosismo que a conversa lhe causara. Sabia muito bem sobre o que se tratava, mas não se via pronto para falar sobre isso ainda, muito menos com Mikey.

F: Como assim? Não estou entendendo. – disfarçou.

M: Frank, não se faça de desentendido. Você sabe muito bem do que eu estou falando. Eu percebi. Qualquer um perceberia. Não adianta fingir. – respondeu tentando parecer calmo.

F: Eu... Não sei o que dizer. – respondeu com as únicas palavras que restaram de sua tentativa frustrada de evitar o assunto inevitável.

M: Então pelo menos admita. – respondeu seco.

F: Okay. Eu admito. Você está certo. Estou atraído pelo seu irmão, e não tenho mais como esconder. – cuspiu a verdade da na cara de Mikey, que respirou fundo tentando manter-se calmo. – Mas espero que você saiba que não foi de propósito. Eu não planejei nada disso, e também não me orgulho. Estou tão confuso e puto quanto você. Tentei esvair esses pensamentos, mas não consegui. Me desculpe...

M: Não... Não precisa se desculpar, eu... – respondeu pausadamente, surpreso demais para concluir seu raciocínio – só não quero que você se machuque.

F: Me... Machucar?

Antes que Mikey pudesse responder, Gerard voltou obrigando-os a dar a conversa como encerrada. Tentaram disfarçar o clima tenso, o que foi inútil. Por sorte Gerard decidiu não tentar trazer à tona a conversa que sua presença encerrou, afinal, era obvio do que se tratava.

Puxou um assunto qualquer, conseguindo quebrar a pedra de gelo que pairava sobre suas cabeças, o que aparentemente conseguiu fazer, já que logo as brincadeiras e risos recomeçaram.