O Anjo Perdido escrita por VanNessinha Mikaelson


Capítulo 4
Capítulo 4. O Vale dos Caídos II




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Capítulo 4 – O Vale dos Caídos II

O Vale dos Caídos continuava no mais absoluto silêncio. A única coisa que se podia escutar, vez por outra, era os vários lamentos dos humanos condenados por si próprios a vagarem a esmo no lúgubre local. Quanto aos quinhentos mil demônios de divisões inferiores que residiam no lado sul, permaneciam estáticos. Mas não por suas vontades. Belzebu conhecido como o General do abismo –, os deixara, de maneira impiedosa, sem ação alguma. Após receber ordens claras da comandante, o anjo leal aos principais líderes do sombrio lugar levou os prováveis rebeldes para o recanto mais obscuro do Vale: o Subsolo. E, com severidade, os torturava e os punia pela falta de respostas, juntamente com Alastor e seus quatrocentos e sessenta e nove discípulos. O General prendeu as entidades malignas umas às outras, com correntes e pesados grilhões.

Muitos demônios, no desespero de tentar rompê-los, acabavam por sucumbir. E, por fim, Belzebu mandara que Alastor, o encarregado da justiça no lugar – se é que realmente fosse possível ter alguém justo por lá –, prosseguisse com a tortura, utilizando um elemento bastante eficaz de flagelação: o fogo. Demônio algum, porém, fazia a mínima menção de abrir a boca. Mas foi Mephisto, ex-braço direito de Leviatã, quem proferiu o seguinte nome:

– Abdiel... Foi ele – o murmúrio saiu abafado, no entanto foi perfeitamente audível.

– O ser que ordenou que vocês perseguissem o menino? – perguntou Alastor, enquanto chicoteava uma demônia.

– Sim senhor. Mas eu não tenho nada a ver com isso...

A frase de Mephisto fora interrompida, porque o profundo corte em suas costas lhe doía demais.

– Desamarre-o – ordenou Belzebu. – Deixe-o comigo; procure, enquanto isso, obter mais alguma preciosa informação dos que aqui permanecerem.

– Sim senhor – respondeu o justiceiro, enquanto continuava a golpear, furiosamente, muitos de seus algozes.

Assim que libertou o maligno ser dos grilhões, Alastor o entregou ao anjo caído. O General partiu, levando a entidade para uma prisão pequena e má ventilada. Em seguida, mandou que Arão vigiasse, com redobrada atenção, o mais novo prisioneiro. E, apressadamente, rumou à sala da autoridade máxima do lugar.

– Posso entrar? – perguntou, ao bater à porta do pequenino cômodo.

– Sim, claro.

Belzebu entrou. Tinha uma expressão tensa e preocupada. Após fechar a porta, ele se sentou ao lado dela, que o questionou:

– Algum problema? Não me diga que temos mais demônios rebeldes!?

– Não posso afirmar algo que ainda não possuo conhecimento, Chefe. Nada disso chegou aos meus ouvidos. A única novidade que trago é a seguinte: um deles falou um relevante nome; tem a ver com a sua missão no planeta Terra.

– É mesmo? Quem deu com a língua nos dentes? – interessou-se pelo assunto.

– O desgraçado do Mephisto – pronunciou, com raiva e com certo desdém.

– Hum... Talvez ele queira voltar a servir Leviatã, por isso abriu o jogo. Não o deixe trocar a informação por nada que venha a solicitar, está bem? Mas, me diga, afinal de contas, o que esse incompetente deixou escapar?

– Sim, conte comigo. Ele proferiu Abdiel – disse Belzebu, baixando a cabeça. – Foi o tal anjo que mandou os demônios irem atrás do menino – completou.

– Não... Isso só pode ser brincadeira! Torture-o! Faça-o falar a verdade – dizia, enquanto fazia tombar, com a força de apenas um braço, uma grande caixa com materiais de construção; era um modo bastante eficaz de expressar tamanha fúria.

– É a mais pura e límpida verdade, Chefe. Mephisto não chegaria a ponto de se atrever a mentir frente a Alastor e as suas infalíveis técnicas de tortura; eu vi, nos olhos da entidade. O rapaz falava sério.

– Bem, nesse caso, temos um grave problema – comentou. – Como gostaria de que Samael estivesse aqui para que expusesse sua opinião a respeito do tema.

– Mas o que há? – questionou o General, apreensivo. – Pode me contar agora? Talvez eu possa ser útil...

– Sim. Esse assunto não deverá ser falado a outros anjos. Somente a Leviatã, certo?

– Como assim, “anjos”? Não entendo... – estranhou Belzebu.

– Ora, meu caro, vocês são seres alados. Que pensa que são senão isso?

– Demônios que a servem – comentou, fazendo uma reverência.

– Isso é o que fazem; não o que são – disse, pondo-se de pé. – Mas, sobre o jovem, o que posso afirmar é que ele não é Samuel Wolkmmer.

– Então quem é? – perguntou, curioso.

– É Castiel, que foi atirado em um corpo físico.

– O... Anjo!... Tem certeza disso, Chefe? – a incredulidade dele era visível.

– Sim. – Ela tornou a se sentar, após um pequeno tempo em que circulou nervosamente pela sala.

– Então é agora que tudo ficará mais complicado ainda – falou Belzebu, com um ar preocupado. – Se Abdiel deu as caras após vagar por todo esse tempo, é porque tem coisa grande à frente.

– Exato. E do jeito que tudo tem sido por aqui, ele deve ter agregado inúmeros demônios a sua volta com falsas promessas de poder e de riqueza. Precisarei de você, Belzebu. Do talento e da severidade que possui.

– Estou às suas ordens como sempre – o General pôs-se de pé, em um sinal de irrestrita lealdade para com ela.

– Procure descobrir quantos dos que mantêm aprisionados são aliados a causa de Abdiel; desvende, de algum jeito, quais entidades são leais a Samael. E as questione de maneira direta quanto a isso. Use seu aguçado poder de dedução para identificar, com maior facilidade, os traidores. Se tiver dúvidas a respeito de algum possível desertor, não pergunte; mate. Veremos o que faremos depois.

– Mas não acha que, antes de tudo, Mestre Lúcifer deveria tomar conhecimento das providências que tomaremos?

– Samael não está aqui. Sou eu quem comanda o Vale agora – respondeu, um tanto evasiva.

– Perdoe-me a insistência, mas não arranjará problemas com ele se tomar às rédeas da situação dessa maneira arriscada?

– Prefiro as confusões caseiras a outras mais pesadas. Compreende?

– Sem dúvida – concordou, depois de pensar um pouco.

– Então vá. Faça o que eu mandei – concluiu, pondo um fim a conversação.

O anjo deixou a sala sem proferir uma palavra sequer; apenas pretendia proteger alguém tão correta e tão justa. O General sabia que, mais cedo ou mais tarde, Lúcifer a interrogaria; exigiria explicações acerca das decisões tomadas até então. Belzebu concordava com tudo que ela o ordenava fazer. Entretanto temia pelas possíveis conseqüências que certamente surgiriam.

Enquanto isso, a garota continuava a mexer em alguns papéis. Pretendia encontrar algo que falasse mais sobre Abdiel ser que conhecera somente pelo nome e por alguns feitos macabros – o que a inquietava. Ainda que não tivesse sido jogado no Vale com os demais caídos, a malignidade se insinuara em seu coração há tempos. Por mais que não soubesse quase nada dele, a moça tinha plena convicção de que teria dificuldades para impedi-lo de chegar em Castiel. Mas, mesmo com tantos perigos a vista, ela estava disposta e determinada a zelar pelo Arauto de Deus. E não era só por interesse. Havia muito mais segredos na mente de tão deslumbrante demônia.


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