O Anjo Perdido escrita por VanNessinha Mikaelson


Capítulo 10
Capítulo 10. De Volta




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Capítulo 10 – De volta

            À medida que ganhava as alturas, a demônia sentia que a intensidade de sua circulação sangüínea diminuía; era um claro sinal de que sua forma corpórea iria se desfazer a qualquer instante, e foi o que aconteceu. Ela passou pelo Vale dos Caídos, onde Azaradel a esperava de portão aberto. Ele, no entanto, se surpreendeu ao vê-la subir mais alto ainda. Quando se aproximou do Quarto Céu, a moça parou e rastreou em qual canto do lugar ficava a sala onde Ediel trabalhava. Assim que tinha certeza de onde se situava o local, passou a planejar o modo mais perfeito possível de adentrar a casa de Deus sem causar nenhum estrago.

– Se não posso derramar sangue angelical aqui, posso, então, pô-los para dormir? – perguntou-se. Droga! – exclamou. – Eu deveria saber disso enquanto fui filha dEle, mas faltei a essa aula – debochou de si mesma e riu-se depois.

            Ela se sentou próxima à entrada do Céu. O suave odor das flores e das plantas inundava o ambiente; mesmo que estivesse do lado de fora do lugar, a demônia os sentia e se lembrava de como era quando estava sob o olhar do Todo-Poderoso.

– Não é uma boa hora para pensar nisso – comentou, em baixo tom. – O que preciso é encontrar a espada de meu amigo Castiel...

            – Que faz aqui? – Uriel a questionou; ele se mostrava surpreso por encontrá-la às portas de um local divino.

            – Olá, Arcanjo de Deus. Muito trabalho? Eu vim a esse recanto celestial  para trabalhar também.

            – Sempre há o que fazer, ainda mais quando demônios nos deixam completamente pirados...

            – Entendo. Espero que consiga solucionar tais problemas.

            – Mas dizia que veio trabalhar... aqui?

            – Sim, vim. E se puder cooperar comigo, ficarei imensamente grata.

            – Bem... Depende do que pretende na casa do Pai...

            – Calma, Arcanjão. Não fique nervoso. Só preciso saber se será um crime muito grande se eu colocar alguns anjos para dormir por alguns minutos?

            – Quais seres celestiais você quer pôr em sono profundo? Os guardas de Ediel?

            – Sim, exatamente eles! – ela se aproximou de Uriel, agora mais confiante de que poderia fazê-lo sem maiores restrições.

            – Eu não mordo, serviçal de Lúcifer – comentou.

            – Quer parar de me ofender? Que coisa!

            – Como assim... Você não o serve?

            – Sim, mas não de um modo arbitrário; essa não é minha essência; não costumo fazer tudo o que ele manda; penso por conta própria, pois não preciso dele.

            Uriel se calou. Sentiu, nas ásperas palavras colocadas pela demônia, que ela estava magoada com Samael.

            – Não há problema algum se pôr os guardas de Ediel para dormir; eles são rebeldes, que desobedeceram às Leis de Deus; jogaram Castiel no planeta Terra e nós nem sabíamos disso.

            – Como descobriu, Fogo de Deus? – ela lhe lançou um olhar curioso.

            – Li alguns arquivos que Ediel mantém em seus aposentos. E agora irei falar com Metatron, para ver qual destino será dado aos vários rebeldes.

            – Só posso pedir uma coisa, por favor?

            – Sim, o que é?

            – Não os mandem para o Vale. Estamos cheios de desertores por lá. Não precisamos de mais ofertas desastrosas por agora.

            – Está bem – comentou Uriel, após sorrir. – Verei como poderemos resolver isso. Mas não prometo nada.

            – Tudo bem.

            – Que trabalho veio fazer aqui, posso saber? – perguntou, retomando o assunto inicial.

            – Pegar a espada de Castiel.

            – E veio... Sozinha?

– Sim. Por que o espanto?

– Porque um demônio nunca adentrou a casa do Pai. Ainda mais de maneira solitária! Jamais imaginei que tal acontecimento fosse ser possível um dia.

– Pois é, deseje-me boa sorte então! Porque não sei onde isso irá parar. Ou... Se vou sobreviver.

O Arauto lhe pediu para se cuidar lá dentro; disponibilizou-lhe o seu templo, a fim de que bebesse um pouco d’água, para reequilibrar as forças; a demônia lhe agradeceu pelo modo gentil com que fora recebida e seguiu o caminho ao qual se propôs;. Ela ficou surpresa por ter sido tratada de uma forma menos distante e hostil por Uriel. Agora a mulher tinha a noção exata de que o Arcanjo descobrira algo sério e bastante grave, e de que agora ele entendia que, de fato, ela apenas queria auxiliar Castiel a regressar de onde jamais deveria ter saído: o Céu.

A garota avançou, de maneira cautelosa e temerária – pois a luz a machucava –, para o interior do límpido e majestoso Quarto Céu. Impressionada frente aos verdes campos e à forte luminescência do Quarto Céu, a criatura, que não se considerava um ser proveniente do Senhor, ainda que fosse bastante conhecida por seres obscuros e evoluídos, paralisou de emoção; não se recordava de quão belas eram as obras do Criador. Ela observou, de maneira rápida, os Grandes Salões erigidos pelo Todo-Poderoso aos Arcanjos; sem, contudo, adentrá-los; com a visão aguçada que tinha, vislumbrar a parte interna deles não era algo difícil; após, encontrou um, não resistiu e lá entrou, tomada pela curiosidade, pois muitos detalhes lembravam seu amigo. O interior do templo fora ornamentado com ônix branco – as pedras foram cravadas com maestria nas paredes do local sagrado –, e o chão também era de um cristalino e puro branco; ao fundo do Grande Salão, se podia enxergar, na parede mais distante da entrada, duas enormes pedras, de proporções inimagináveis e em formato retangular, cravadas nela: ametista e charoíta – preciosidades que Castiel sempre gostou – de um violeta magnífico, onde se podia ler, logo ao lado, a seguinte inscrição: – “A espera de Meu amado filho, Castiel”.

– Deus! – exclamou. – Meu amigo ficará muito feliz ao saber disso! –

A demônia deixou o lugar e visitou, por poucos instantes, o templo erigido a Uriel. Lá, o que vislumbrou era tão divino, que ficou pasma; olhava sem parar para os vários contrastes de cores existentes no lugar; o Grande Salão era coberto por cristais reluzentes, e em cada parede, a mulher avistava três pedras diferentes, em formatos distintos, de um globo terrestre, tanto pelo tamanho quanto pela beleza; havia turquesas, rubis de diversos tons, heliotrópios e ametistas, cada uma mais magnífica do que a outra. Era difícil para alguém acostumada a muita escuridão medir tamanha beleza em tão poucos minutos, até porque, a luminescência do local começava a ferir-lhe os olhos com maior gravidade. Após um impreciso espaço de tempo, ela bebeu água e saiu respeitosamente do templo, ainda maravilhada e impressionada com tamanha obra de arte. E prosseguiu em sua longa e desgastante caminhada.

Assim que chegou à frente do Grande Salão de Ediel, verificou que ali se situavam os locais de trabalho e os aposentos do anjo, o que tornaria ainda mais fácil sua perigosa missão. Alguns guardas da falange – anjos dissidentes –, a interpelaram, de início; queriam descobrir o que aquela criatura, tida por eles como horrenda e impura, fazia em um lugar sagrado. A garota, entretanto, se limitava a jogar sementes de uma planta que encontrara próxima à casa de Deus, para que eles dormissem. Assim não seria derramado sangue angelical e muito menos demoníaco em um solo abençoado. Quando achou que todos os rebeldes da guarnição de Ediel, que se faziam presentes no local, caíram em sono profundo, ela se deteve, uma vez mais, a olhar, atônita, as várias fontes de águas cristalinas e os vastos campos verdejantes cheios de flores existentes por perto. Mas não havia tempo hábil para observar as maravilhas que o Senhor construiu; a moça foi, então, à sala de trabalho do líder rebelde. E não precisou procurar muito. Encontrou, após uma rápida e precisa vistoria, a arma de Castiel, exatamente como o amigo a descrevera antes.

Sem perder tempo, a demônia a pegou e foi embora da grande sala. Cerca de dez anjos, porém, a surpreenderam e a pararam logo em seguida.

– Mestre Ediel saberá por que veio aqui. Nós lhe contaremos. E ele irá atrás de você...

– Continue a falar, por favor, Sitael, gostaria de obter maiores informações, se não se incomoda...

O anjo, que estava armado com um tridente, a acertou com extrema violência na barriga; julgava, ao notar que a oponente mal se mexia, que a atingira mortalmente e que aniquilá-la era uma questão de pouco tempo.

A mulher de negro caiu, pega de surpresa pela dor. Mas conseguiu proteger a arma a qual viera buscar.

– Acho bom não debochar de mim, coisa maligna e nojenta – comentou o ser celestial. – Posso chamar o Arcanjo Miguel se não sair imediatamente deste solo, pois sei que poderá contaminar o chão com sua negatividade sangüínea.

– Ah sim, muito gentil que você é, não é? Agradeço pelas boas-vindas. Mas, se são rebeldes, não chamarão o chefe do exército angélico.

Ela se levantou e estancou o sangue com rapidez, o que surpreendeu Sitael; a demônia sabia que se o líquido profano tingisse qualquer solo sagrado, tudo estaria perdido para ela. O pouco que não conseguiu estancar, a mulher obstruiu, com as mãos, para que não passasse e tocasse o chão, e em seguida, sem saber direito o que fazer, o lambeu. Sem disponibilizar de muitas alternativas, já que as sementes que usara antes em outros desertores tinham terminado, ela se pôs a correr, com os seres celestiais sempre no encalço dela. Assim que deixou o Quarto Céu, a garota usou um recurso energético que possuía: voou às pressas para o Vale dos Caídos; lá os anjos só entravam na companhia de um Arcanjo, ou com autorização emitida pelos mesmos. Como Ediel não estava nessa categoria, a demônia se sentiu em casa. Mas não por muito tempo. Um acontecimento inesperado mudaria para sempre a existência de alguém tão justa e correta.


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