Wonderwall escrita por hannahwest


Capítulo 1
Wonderwall


Notas iniciais do capítulo

Eu havia prometido no Aviso que foi postado na minha outra fic, friedship, que postaria ontem mesmo um conto que seria dividido em duas partes. No entanto, o Nyah ficou fora do ar durante as horas que me são permitidas utilizar a internet. Para compensar postarei o conto inteiro.

Tive um prazer especial em escrever este aqui porque sou uma das maiores críticas de, por exemplo, Justin Bieber, mas no final acredito que este mesmo garoto pode não ser um completo idiota.

As músicas citadas ao longo da história não são de autoria do meu popstar fictício, mas no universo da minha fic consideremos que sim. Se quiserem ouvi-las ao longo da leitura são três: lucky (Jason Mars), Far away (nickelback), Wonderwall (Oasis) - também sugiro duas músicas que não parecem ao longo da história mas me inpiraram: Airplanes (B.o.B) e Dj got us fallin in love (Usher)- essas ultima logo no início.

Espero que gostem!



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Wonderwall - Protetora

Ela era uma garota estranha.

Da primeira vez que a vi pensei que fosse uma espécie de doente mental de um país insignificante, afinal, eu era um dos maiores popstars da minha época e ela... bem, ela era  uma qualquer que me reconheceu assim que pus os pés no avião e depois fez  o favor de me ignorar, como se eu fosse  uma espécie de praga que devia ser exterminada com seu olhar-laser.

Bem, eu não pretendia deixar uma senhorita-ninguém me desprezar daquele jeito e comecei um jogo de sedução que acabou de um jeito bastante... inusitado. Afinal, quantas pessoas ficam presas no banheiro feminino de um avião transcontinental com uma fã psicopata prendendo-o com uma algema na porra da pia?!

Posso dizer que sou uma dessas pessoas que são presas por loucas.

A louca escolhida em questão foi uma que estava sentada ao meu lado na primeira classe. Julguei que ela fosse de confiança, e fiz como meus advogados – que estavam nas poltronas atrás das nossas – pediam e ela assinou um contrato de sigilo. Eu comecei a beija-la, isso mesmo, uma completa desconhecida, porque eu estava puto da vida com aquela OUTRA desconhecida que não dera a devida atenção à JOSEPH BRIAN!

Certo, às vezes tanta maluquice me deixava estressado além do comum, mas sou – confesso - um cara orgulhoso, que gosta de ser o centro das atenções, então ver uma garota que parece ter a sua idade e que provavelmente sabe quem você é das dezenas de clipes que fez me deixou um tanto revoltado. ‘Tá que ela arregalou os olhos quando me viu, mas foi mais para “Caralho, mereço um idiota como esses no meu vôo”. POIS EU PAGUEI PARA VIAJAR NESSA BUDEGA E PRETENDO FICAR AQUI O VÔO TODO! Não que eu tivesse como sair mas... JÁ ENTENDERAM!

Acontece que o meu plano foi totalmente FAIL. A garota com a qual tentei fazer ciúmes era uma fã maluca, e eu não tive muitas escolhas além de ficar gritando por ajuda um bom tempo. Para o meu azar, a psicopata fez o favor de me amordaçar e começou a realizar os preparativos pra uma... sei lá, cerimônia satânica de fãs doidas! Eu respirei fundo, aquilo acabaria em questão de pelo menos meia hora, o tempo que faltava para o avião pousar!

Concentrei-me no barulho dos sapatos das aeromoças enquanto a doida varrida saia para algum lugar, só depois de uns dois minutos que percebi porque ela desapareceu: o avião estava pousando! Conseqüência um tanto incomoda do processo foi que aquela coisa balançou tanto que bati minha cabeça na parede. Posso acrescentar que depois disso só me lembro de ser chacoalhado loucamente.

Digo, loucamente mesmo. Algum FDP estava tentando me acordar pra depois me desacordar, porque se continuasse daquele jeito bateria mais que a minha cabeça na parede. Acordei praguejando muitos palavrões – meus fãs, não façam isso – e dei de cara com a garota que não me dera atenção - encarando-me com aqueles enormes olhos castanhos envoltos de duas olheiras rochas.

   - Você está bem? – ela perguntou, com seu inglês de sotaque capenga. Com certeza, seu país de origem não é um que fale minha bela língua

    - Mais ou menos. – tentei me levantar, mas acabei caindo de bunda por causa das algemas – Droga de algemas!

    - Por que você está algemado? Algum fetiche idiota que não deu certo?

Eu a encarei com os olhos arregalados, primeiro porque ela sabia a palavra “fetiche” em inglês, segundo, porque não estava acostumado a ouvir garotas falando assim comigo, NEM MINHA MÃE!

    - Não, algum tipo de fã psicopata tentou me seqüestrar, ou sei lá o que.

    - Você devia saber que não se deve confiar em fãs.

    - Eu não sabia que ela era fã.

    - Agora sabe. – ela pôs as mãos nos quadris, um tanto autoritária, e olhou ao redor - Precisamos tirar você daqui, não queremos que alguém da imprensa apareça do além e tire uma foto sua algemado numa pia com o... bem, caso você não tenha percebido, os botões das sua calça estão desabotoados.

Não preciso dizer com que cara fiquei, não é? Posso apenas adiantar que foi constrangedor porque ela encarou o ponto fixamente e eu estava usando nada menos que uma ridícula cueca do Bob Esponja... E DE QUALQUER JEITO NÃO ERA PRA ELA OLHAR!

   - Por um acaso está querendo saber o tamanho do documento? – perguntei e essa foi a vez DELA corar.

   - Cla-claro que não! Agora, às chaves!

   - A louca que me deixou aqui as levou com ela.

   - Eu cuido disso.

  

Não argumentei, o olhar decidido daquela garota não me motivou a saber como aquela situação iria acabar. Para minha surpresa, ela apareceu minutos depois pulando de um lado pro outro com as chaves nas mãos.

   - Como você conseguiu tão rápido?

   - Coisas de meninas, você não entenderia.

E não quis entender mesmo.

    - Obrigada pela ajuda, agora preciso ir.

Ela ficou me olhando com cara de “Mal educado”. Bem, não sou mal educado, só estava mais preocupado em sair daquele avião com vida assim que ele pousasse. Atravessei o avião sem olhar para os lados - nunca se sabe quando pode ser reconhecido - e sentei-me confortavelmente na poltrona de um dos advogados. Estava pensando em como minha vida era doida, quando notei algo de diferente no avião... silêncio. Silêncio?

Praticamente saltei da poltrona e dei uma boa olhada ao redor: O AVIÃO ESTAVA VAZIO! V-A-Z-I-O! Não tinha um pé de alma pra me socorrer.

   - Deus!

Saí correndo pelo avião a procura de alguma aeromoça e, pra variar, estava tudo vazio. Depois caminhei por uma daquelas passarelas que ligam o avião ao prédio do aeroporto e vi ninguém. PUTA QUE PARIU! Quando digo ninguém, estou me referindo a ninguém conhecido, porque tinha tanta gente passando de um lado pro outro que me senti invisível enquanto era arrastado por aquela pequena multidão.

Uma palavra para descrever o que estava sentindo: D-E-S-E-S-P-E-RO! Não sabia se estava mais desesperado porque não conhecia ninguém, ou porque alguém poderia ME reconhecer! Não fazia a mínima idéia de onde estava, quem cuidava desses detalhes eram meus advogados, secretários, assistentes, assistentes de assistentes, E NÃO EUZINHO AQUI!

Encarei o aglomerado ao meu redor. Pensa Joseph, pensa, PENSA! Você precisa arrumar um jeito de falar com os advogados, e afinal, que IDIOTAS! COMO ELES NÃO PERCEBERAM QUE NÃO DESCI DO AVIÃO?! Celular! Celular! Pus a mão no bolso com a vã esperança de encontrar aquele aparelhinho cheio de musicas – minhas, claro – que seriam lançadas no próximo mês e me deparei COM NADA. Aquela FÃ LOUCA SE LIVROU DO MEU CELULAR! Droga, estava tudo lá, os números pra contato, meus arquivos pessoais, TUDO! Não demoraria muito para começar a sair em todos os cantos da internet meus documentos pessoais... pra mim estou vendo “Veja aqui as mensagem pessoais de JOSEPH BRIAN!”. DROGA!

Estava começando a me desesperar de verdade quando avistei aquele ser um tanto apático embrenhando-se no meio daquela gente... A DESCONHECIDA QUE ME IGNORARA! Corri até ela, guiado por aquela cabeleira negra amarrada num rabo de cavalo alto – que descrições mais gays.

Quando a alcancei praticamente me joguei sobre ela num abraço. É, eu a abracei, algum problema com isso? Beijei uma desconhecida que tentou me seqüestrar, abraçar uma desconhecida que me ajudou não é nada de demais.

Em conseqüência, ela gritou. A única coisa que pude fazer foi por a mão sobre os lábios dela e puxa-la para um corredor mais afastado.

   - Preciso da sua ajuda!

   - Oh, e é claro que vou te ajudar!

   - Sério?

   - Não! Tenho coisas mais importantes para fazer, coisas bem mais importantes do que um popstar barato.

   - HÁ! VOCÊ ME CONHECE!

   - Quem não conhece JOSEPH BRIAN?! O maior tosco de todos os tempos.

   - Mas pelo menos sabe quem eu sou.

Ela rodou os olhos, profundamente irritada, e fez menção de dar meia volta, mas sou rápido, segurei seu ombro com força e a pus contra a parede. Sou sincero, estava estressado e nenhum pouco afim de tolerar jeito de garota que se diz não fã porque quer chamar a atenção do ídolo.

   - Olha, eu não pediria isso se fosse sério. Estou precisando de ajuda.

A garota não pareceu muito solícita, mas acabou cedendo com um bico nos lábios que foi, digamos, charmoso... ESPERA! Usei a palavra “charmoso”? É, estresse pode mudar as pessoas.

    - Certo. Mas não podemos demorar.

    - Tudo bem.

Ficamos nos encarando, com cara de idiotas.

   - ALOOOO!  - ela gritou – COMO VOCÊ QUER QUE EU TE AJUDE? FAZENDO MILAGRE?

    - Calma, pensei que você tivesse algo em mente.

    - Ótimo, mereço um popstar lerdo. – ela era pequena, mas tinha ótimos pulmões – Vamos, vou te levar para a embaixada... de onde você é mesmo?

    - Canadá.

    - Certo, mas vá logo sabendo que fica do outro lado da cidade. – o Canadá ou a embaixada? Achei melhor nem abrir a boca

    - Será que não dá para falar com meus advogados?

    - Tem o número deles?

    - Não.

    - Sabe onde eles estão?

    - Não.

    - Sabe pelo menos onde VOCÊ está?

    - Aaaaah, não.

    - Ótimo.

Posso adiantar que o “ótimo” dela foi mais um “morra”. Qual o problema com essa garota? Ela devia estar se sentindo lisonjeada por ficar mais de dez minutos com um dos maiores popstars da atualidade. Isso, falo mesmo, humildade é para os fracos.

Ela segurou minha mão, apesar de ter hesitado por um momento, e notei que ela estava fria. Espera, ela não era nenhum tipo de louca que quer ser vampira não, né? Por que de uns tempos pra cá todo mundo acha que ficar sem comer e ficar exposto a um, sei lá, vento frio o faz ficar pálido e gelado, que nem um vampiro idiota da imaginação doentia de garotinhas patéticas que querem um macho imortal com sexo selvagem. Isso exclui minhas adoráveis fãs, então, por favor, sem interseções.

Então ela foi atravessando comigo o aeroporto, cheio de placas em duas línguas, meu inglês, claro, e o idioma local, ao qual não dei muita atenção. Tentava olhar mais para os meus pés e assim evitar alguma ou algum – nunca se sabe – desvairado de me atacar para arrancar minha camisa e leiloar no eBay. Como conseqüência, tropecei na garota que estava me guiando umas três vezes. Só uma ajudinha do meu descuido para melhorar a situação.

Quando alcançamos aquela parte dos aeroportos onde ficam as lojas com produtos de preços absurdos, ela meteu-se numa comigo a reboque.

   - O que está fazendo? – perguntei enquanto ela pescava ósculos, bonés e casacos das prateleiras.

    - Você chama muita atenção com esse cabelinho loiro. É sua marca registrada, ainda mais que você tem um tique de ficar jogando-o o tempo todo.

    - Eu não faço isso. – bem, digamos que assim que falei isso joguei o cabelo pro lado e, sem querer, chamei a atenção da vendedora que já estava nos rodeando

Ela ficou me encarando intrigada, tentando me reconhecer, até que abriu a boca para falar em inglês:

    - Você se parece com aquele cantor pop, como é o nome? Joseph Brian! – petrifiquei encostado no balcão mesmo

    - Quem? O Liev? – a garota que estava comigo riu forçadamente e, em seguida, pendurou-se no meu braço enquanto eu a encarava com os olhos arregalados. Mas que diabos...

     - Liev? – a vendedora não parecia muito convicta – O que ele é seu?

     - Meu namorado, o que mais seria? – se dava para ficar mais assustado, fiquei. Essa parecia uma daquelas cenas de filme, não me peça para detalhar o que acontece nelas, porque já devem fazer idéia de qual estou falando. Tudo que consegui fazer foi entrar na história e enlaçar a cintura da garota, não sou artista à toa. Mas ela não pareceu gostar muito, pois mexeu-se desconfortável. O estranho foi que, de algum jeito, ela se encaixou entre meus braços de um jeito surpreendente – Aqui, vamos levar esses óculos, boné e casaco.

      - Parece até que ele está se escondendo. – comentou a vendedora com uma pontada de sarcasmo

       - Claro, não quero nenhuma vadia encarando-o, não é?

Dessa vez foi meu queixo que caiu. Essa garota ganhou uns pontos comigo, porque conseguiu silenciar a vendedora e me deixar feito um abestalhado.

Quando saímos da loja ainda estávamos de mãos dadas. Ela me pediu para colocar o boné, óculos, e capuz do casaco.

   - Mereço mesmo. Está parecido com o figurino de um dos seus clipes... – olha só, ela vê meus clipes – que minha prima fica venerando enquanto tento fazer algo útil, como ler. – posso chorar, agora? – Mas é o que dá pra fazer. Vamos.

Tornamos a ficar de mãos dadas, digamos que eu estava prestando muita atenção nesse detalhe, uma vez que o toque dela me intrigava. “Dela”, “ela”, me fez lembrar que não sei quem “ela” é.

   - Aaah, garota. – chamei quando estávamos atravessando um sinal às pressas – Ainda não fomos devidamente apresentados. – ela murmurou qualquer coisa, estava mais interessada em ficar me puxando pelas ruas do que no meu falatório – Então, meu nome é Joseph Brian. – essa parte falei bastante próximo ao ouvido dela, para que ninguém mais ouvisse

Nessa hora, confesso, fui arrebatado pelo perfume dela. Era... diferente. Nada daquelas fragrâncias doces e fortes demais, era singular. Um cheiro tropical, amadeirado, de abacaxi e sândalo. Fiquei totalmente embriagado. E digo mais, não foi só eu quem teve uma reação patética, a garota ficou tão surpresa que teria sido atropelada se eu não tivesse pensado rápido e puxado-a para a calçada antes do sinal abrir. Ela ficou prensada contra meu corpo de um jeito que, novamente, parecia-se encaixar perfeitamente. 

Ela ficou arfando contra meu peito até que a cor foi retornando as suas faces. Ela ficava adorável com aqueles lábios intensamente vermelhos entreabertos enquanto sua franja negra dava destaque aos olhos tão negros quanto... Droga, o que há de errado comigo? Eu não descrevo garotas com “adorável”, “lábios vermelhos”. Certo, respira Joe, e pensa que vai estar relaxando na sua embaixada enquanto contratam um avião particular para te levar de volta ao Canadá, então nunca mais vai precisar ficar perto de garotas que despertam seus sentidos de maneira tão perigosa.

   - Eu sei qual o seu nome, metade do mundo sabe.

   - Mas não sei o seu. – ela pareceu refletir um pouco, ainda entre meu braços, a ponta do seu nariz encostando no meu tórax

    - Diana Sorcière.

    - Nome diferente.

    - O segundo é francês.

    - Oh! – minha surpresa foi mais por ter percebido que podíamos ter um diálogo amigável do que pelo lance do francês. – Então prazer em te conhecer, Diana Sorcière.

    - Prazer também.

Apesar de estar querendo ficar com ela aninhada contra meu corpo, usurpando de qualquer segurança que eu pudesse oferecer, ela libertou-se do meu aperto. pesar de estar querendo ficar com ela aninhada em mim, usurpando de qualquer seguran tao um aviao estalhado. encarando-al

           

    - Vamos, já vai dá meio dia, e seria preferível chegarmos a Embaixada antes do anoitecer.

Certo, eu queria muito voltar para casa, encontrar minha mãe que não via há mais de dois meses e me deitar no sofá assistindo qualquer série de TV idiota. Acontece que aquela garota estava me deixando intrigado. Nunca tinha me interessado antes em saber o que quer que fosse das pessoas ao meu redor.

Na realidade, minha vida era simples: escrevia músicas que falavam de amores que nunca existiram; ensaiava coreografias; decorava músicas; tocava um instrumento qualquer; apresentava-me em shows ao redor do mundo e estudava com um professor particular. Certo, não tão simples, mas acontece que a vida dos outros não era do meu interesse. Eu saia com meus amigos, ficava com algumas garotas, mas saber da vida delas nunca me pareceu algo produtivo.

Agora que eu estava no fim do mundo, cercado de desconhecidos e sendo ajudado por uma garota cujo sobrenome significava “bruxa” resolvi que era hora de parar para pensar um pouco, afinal, de musicas sem conteúdo e cantores mais vazios ainda o mundo estava cheio. E, aparentemente, Diana compartilhava desse pensamento, o que não é de total verdade, afinal, eu não sou um sem-conteúdo, no fundo, sou um cara comum com carisma e habilidades musicais, porque, convenhamos, de dançarino não tenho nada, eu até tento, mas não sou tão bom.

Quando estávamos prestes a dobrar uma esquina, segurei firme o braço dela.

Diana me encarou um tanto assustada, as olheiras rochas mais escuras.

   - Estou com fome. – ótima desculpa, Joseph, SEU PANACA – Será que não dava para a gente parar em algum lugar e almoçar?

    - Pensei que quisesse ir o mais depressa possível para o Canadá.

    - Bem, eu quero, mas estou realmente desejando um McDonald`s.

    - Certo, o shopping fica pra lá, mas já vou logo avisando: lá é cheio de garotinhas fanáticas que te reconheceriam em dois segundos.

    - Por isso...

Sou um cara conquistador, podem falar. Prefiro mulheres mais velhas - fato - mas sei como conquistar as mais novas. Puxei-a para outro abraço e falei com nossos lábios quase se encostando:

   - Você e eu vamos fingir sermos namorados.

   - HÁ!

Ok, talvez eu não seja um cara tão conquistador assim, já que ela me deu um chute numa região muito sensível. PUTA QUE PARIU, DOI PRA CARALHO! Fiquei certo tempo tentando me recuperar da dor enquanto ela sequer me olhava preocupada, na realidade, entre meus lamentos de dor coisa e tal, a ouvi falar “Acho é pouco, seu tarado metido a galã”.   

Quando recuperei o fôlego e voltamos a andar, ela não me deixou segurar sua mão novamente, ficou alguns passos adiantada, parando apenas ao atravessar a rua para garantir que eu não ia pegar o caminho errado. Céus! Essa garota é louca.

Avistei o prédio após termos caminhado por volta de três minutos. Era grande, não tão grande quanto os que eu freqüentava, mas grande o suficiente para ter um McDonald`s. Adentramos  o portão mais próximo, afinal, ela tinha que se comportar como uma pessoa normal junto ao namorado – coisa que não éramos, primeiro namorados, segundo normais.

Chegamos à praça de alimentação que formigava de indivíduos dos mais variados tipos, e pedimos nosso lanche – só pra acrescentar, ela estava pagando tudo, porque minha carteira tinha ido embora junto com a louca feticheira do avião.

   - Então, o famoso Joe B. come, hum? – falou ela colocando ketchup no hamburger

   - Tentativa fail de puxar conversa.

   - Mas todo mundo acha que vocês se alimentam de plantas e ego.

   - Haha, você é muito engraçada. – dei a maior mordida que consegui no meu sanduíche – Pois saiba que eu não vivo sem essa fonte de prazer mundana. – bem, no mundana um alface voou e praticamente acertou o cabelo da garota

    - Mas educação parece faltar em você.

    - Certo, talvez eu seja um pouco desleixado.

    - Que bom que assume.

    - Mas você também não é lá a senhorita delicadeza.

    - Sou gentil e delicada com quem merece, até agora você só fez besteira.

    - EI! É tudo uma questão de ponto de vista, estou simplesmente preso num país aleatório contra a minha vontade. Você queria que eu estivesse no meu melhor humor?

    - Imagino o que deve ser o melhor  humor de  um playboizinho metido a popstar.

    - Porra, Diana! Para de ser assim!

Foi a gota d`água pra mim, levantei-me de impulso e sai sem direção pelos corredores lotados de pessoas. Sinceramente, quem aquela garota acha que é pra ficar falando daquele jeito comigo? Ou melhor, com qualquer um? Ela é uma mal amada idiota, isso sim!

Bem, mas pelo menos a mal amada sabia onde estávamos, e eu não. Parei de frente a uma loja da Adidas e me sentei num banco. PUTA QUE PARIU! Certo, fiz algo imprudente, mas era porque estava realmente PUTO DA VIDA! Tirei o chapéu e os óculos, deixando apenas o capuz. Minha cara não estava das melhores pelo vidro da vitrine. Admito, às vezes consigo ser um grande idiota, mas ela conseguia despertar  o pior de mim.

   - AI MEU DEUS, JOSEPH BRIAN! – olhei para cima um tanto assustado e percebi um grupo de garotas de variadas idades me encarando em estado de êxtase. F-U-D-E-U

    - Onde? – isso mesmo, se fingir de doido é a melhor saída nessas situações.

    - PEGUEM ELE, MENINAS!

Aí eu corri. Corri pelos corredores apenas querendo me livrar o mais rápido possível daquela quantidade considerável de garotas me cercando por todos os lados. Céus, elas eram rápidas! Saltei por uns três bancos que estavam enfileirados, e cai no chão sobre as pernas. Ainda bem que Rehsu – meu produtor – me obrigou a ir as aulas de educação física particulares.

Acontece que quando consegui essa proeza, dei de frente com mais outro grupo de garotas e me vi cercado. Teria sido ‘uma vez Joseph Brian’ se uma mão não tivesse me puxado pelo capuz do casaco e me empurrado na área de serviço do shopping. Caí de bunda ao lado de alguém que também tinha caído comigo.

   - Agora corre.

Digamos que foi a visão mais bela da minha vida ver Diana me puxando pelo braço e correndo com aquela saia longa florida. Eu a segui, esbarrando esporadicamente em alguns funcionários do shopping que não entendiam o que dois adolescentes estavam fazendo na área restrita. Por sorte, eles não tinham tempo de processar a informação e eu conseguia acompanhar minha, aah, amiga sem problemas. Alcançamos o estacionamento após várias curvas.

Ofegante, com as mãos nos joelhos, observei a face pálida de Diana. Ela parecia enjoada e sem forças, tanto que quando tentou dar um paço tropeçou nas sapatilhas e caiu de joelhos.

   - Você está bem? – pus as mãos em seus ombros, e eles estavam gelados

   - Estou, não se preocupe comigo. É com um bando de loucas fanáticas com quem você deve se preocupar. Aqui, me siga.

Devo admitir que ela é uma pessoa determinada. Apesar de parecer péssima conseguiu nos tirar do estacionamento – o que não foi tarefa fácil, porque tínhamos que nos esconder atrás das pilastras, devo também acrescentar que foi bastante prazeroso ficar prensando o corpo dela contra a parede com o pretexto de não aparecer – e nos levou direto para um parque altamente arborizado. Não reconheci os tipos de árvores, mas pude ter certeza que estávamos na parte norte do planeta.

   - Aqui ninguém nos acha.

Ela se sentou num banco abaixo de uma gigantesca árvore, a boca entreaberta, então ela começou a tossir e não parou mais. Ajoelhei-me aos seus pés nitidamente preocupado, mas ela não me respondeu. Estava, não sei explicar, envergonhada, virava a face sempre que tentava encara-la e colocava uma mão sobre  os lábios enquanto a outra tentava me empurrar para longe.

   - Diana! – chamei uma sétima vez quando ela conseguiu se controlar

Estava aparentemente péssima, as olheiras sob os olhos tornando-se mais profundas, e eu estava ciente de que eu era  o responsável.

    - Está tudo bem. – ela sorriu amarelo tentando disfarçar a vergonha – Não estou acostumada a correr tanto.

    - Desculpa, fui eu quem te fez ficar assim.

    - Está tudo bem, já disse. Parece que estou fadada a ser sua salvadora.

    - E obrigada, acho que elas teriam me feito em pedaços.

    - Provavelmente.

Essa foi minha deixa para fazer algo, sentei-me ao lado dela no banco e pus um braço ao redor dos seus ombros trêmulos. Não estava fazendo frio, mas ela parecia necessitar de alguém que a protegesse. Ela não fez objeção, pelo contrário, deitou-se um pouco sobre a parte superior do meu corpo e fechou os olhos.

Diana era leve, conseguiria carrega-la no colo sem problemas. E também era cheirosa, aquela composição tropical que era seu perfume foi me inebriando até que tudo ao meu redor foi se resumindo a ela. Ok, é patético, mas foi o que aconteceu. Encostei meu queixo no topo da sua cabeça e agradeci mentalmente por não estar sozinho ali.

No fundo eu estava com medo, mas ela surgiu e ganhou minha confiança. Tudo bem, não ficamos mais de duas horas juntos, no entanto, ela já me salvara três vezes, e nenhuma garota patética tinha feito isso antes.

Também fechei os olhos e esperei meu coração desacelerar da corrida. O que não aconteceu, porque acelerou loucamente quando comecei a alisar os braços dela. Ótimo, ela conseguiu despertar outro lado meu.

   - Sabe, Joseph...

   - Pode me chamar de Joe.

   - Tudo bem, Joe. Sabe, quando eu te vi no avião pensei que você fosse um completo idiota, mas está se mostrando só meio idiota.

    - Obrigado, acho.

Ela riu, e o som se assemelhava à notas musicais perfeitamente harmônicas de um piano. E foi algo tão bom que também ri. Ri porque não tinha nada mais a fazer, porque ela conseguira me contagiar e nada mais parecia existir além de nós dois ali naquele banco.

Ela ergueu-se com um belo sorriso nos lábios e não consegui mais sorrir. Meu sorriso não era nada comparado ao dela.

   - Algum problema, Joe?

   - Não.

   - Então por que parou de sorrir? – eu não ia dizer “porque é bem melhor ver o seu sorriso”

    - Nada não... – então achei melhor estragar o momento – Para qual lado fica a embaixada mesmo?

Ela imediatamente fechou a cara. Levantou-se um tanto revoltada e fez o favor de sair pisando firme ao longo do caminho de pedras. Suspirei, ela não era fácil não. E EU TAMBÉM NÃO SOU LÁ A PESSOA MAIS INTELIGENTE DO UNIVERSO! IDIOTA, BURRO, JUMENTO, ANIMAL!

Certo, chega de fazer besteiras! Caminhei a passos largos atrás dela e segurei-lhe o cotovelo quando estávamos passando de frente a um daqueles grupos musicais que ficam nos parques ganhando gorjetas.

   - Olha, Diana, eu sei que não sou a pessoa mais inteligente do mundo, e que tenho a capacidade de acabar com climas alheios, mas agora, decididamente, quero fazer algo por você.

    - Do que está falando? – ela olhou atônita

    - Você me ajudou e agora quero agradecer.

Não lhe dei brecha para protestar, direcionei-me para onde aqueles músicos estavam e conversei com eles como pude até faze-los entender  o que eu queria. Foram bastante solícitos na verdade, e consegui tomar o lugar do pianista. Diana olhou ao redor, e quando entendeu o que eu estava prestes a fazer, deixou o queixo cair.

    - Do you hear me, I’m talking to you. Across the water, across the deep blue ocean, under the open sky. Oh my, baby I'm trying! – adorei a cara dela quando inclinei minha cabeça, maroto como sou, na primeira frase

Eu teria continuado sem problemas se ela não tivesse me surpreendido.

    

      - Boy I hear you in my dreams. I feel your whisper across the sea. I keep you with me in my heart, you make it easier when life gets hard.

       - Lucky I'm in love with my best friend. Lucky to have been where I have been. Lucky to be coming home again. Ohhhohhhohhhohhohhohhhohh...


Não sei de onde tirei essa idéia - talvez tenha sido o fato dela ter dado a volta no teclado e ter se postado propositalmente ao meu lado - , mas a beijei e interrompi temporariamente os “ohhh”. Por um momento achei que ela fosse me dar outro chute nas partes baixas, mas ao invés disso, ela correspondeu ao beijo de modo tão sôfrego e apaixonado quanto eu. Só eu ou ela também sentiu como se o cérebro tivesse virado metal derretido?

Sensação gostosa… ORA, concentre-se, homem! Você tem uma música para continuar!

      - They don't know how long it takes, waiting for a love like this. Every time we say goodbye, I wish we had one more kiss, I'll wait for you, I promise you I will. Lucky I'm in love with my best friend. Lucky to have been where I have been. Lucky to be coming home again. Lucky we're in love in every way. Lucky to have stayed where we have stayed. Lucky to be coming home someday.

Saí rapidamente dos teclados, dando espaço ao carinha simpático da banda, e enlacei a cintura de Diana, já que agora minhas mãos estavam livres para acariciar o corpo dela. Ela me sorria tão radiante, que era impossível não sorrir também.

   - And so I'm sailing through the sea, to an island where we'll meet. You'll hear the music fill the air, I'll put a flower in your hair. – adoro o fato de estarmos num parque e dele ser cheio de flores ao nosso redor

Ela corou diante da minha atitude, então me abraçou pelo pescoço cantando sua parte da música como um sussurro no meu ouvido. Aquilo foi estupidamente tentador.

     - Though the breezes through the trees. Move so pretty, you're all I see. As the world keeps spinning round, you hold me right here right now.

Ela me encarou nos olhos e voltamos a nos beijar apaixonadamente. Aquela música tem algum poder oculto de fazer duas pessoas se apaixonarem?

      - Lucky I'm in love with my best friend. Lucky to have been where I have been. Lucky to be coming home again. Lucky we're in love in every way. Lucky to have stayed where we have stayed. Lucky to be coming home someday. Ohhhohhhohhhohhohhohhhohh!

Ao final dessa canção estava tão estupidamente contente que a estava rodando no ar enquanto ela me encarava. Seus olhos escuros brilhando, suas bochechas rosadas, um sorriso tímido nos lábios e a flor dos seus cabelos caindo-lhe do cabelo ao chão.

Eu não precisaria de mais nada para ser feliz por um bom tempo. Então a expressão dela mudou. Seu rosto contraiu-se numa careta e ela começou a suar frio ainda nos meus braços. Coloquei-a no chão e tentei pedir para que ela me contasse o que estava acontecendo, mas ela simplesmente não conseguia, pois apenas tossia, e tossia, desesperada em busca de ar. Até que por entre os dedos de suas mãos que estavam sobre a boca começou a transbordar um líquido vermelho.

Eu não podia acreditar no que estava vendo. Ela estava tão feliz e radiante, agora estava sangrando! Segurei-lhe o corpo frágil nos meus braços e pedi socorro a algumas pessoas que caminhavam com seus cachorros pelo parque. Um dos casais conseguiu me entender quando da garganta de Diana saiu um chiado horroroso e ela não conseguiu mais conter a boca com as mãos. Saltando dos meus braços em desespero, ela vomitou sangue.

Joguei-me de joelhos ao lado dela e afastei, com as mãos trêmulas, os cabelos que estavam próximos ao rosto. Seus ombros tremiam e eu procurava não olhar para a poça de sangue que aumentava cada vez mais.

    - Um médico! Por favor, alguém chama uma ambulância, ela está... – eu não queria completar aquela frase, eu não queria dizer em voz alta a palavra “morrendo”

Continuei gritando até que ela segurou, com sua mão encharcada de sangue, meu braço. Seus olhos estavam serenos e ela procurava sorrir apesar do rosto todo manchado do líquido vermelho. Ela sofria, ela devia estar sentindo uma dor insuportável e mantinha-se calma por mim. Ela não queria me ver desesperado daquele jeito.... BESTEIRA! ERA IMPOSSÍVEL NÃO SE DESESPERAR!

   - Diana, você vai ficar bem, eu juro. Vamos levá-la ao hospital e eles vão te curar! – ela começou a pestanejar e a ficar fraca demais para se sustentar

Sentei-me rapidamente ao lado dela e segurei seu corpo num abraço. Ela não parava de tossir, seu corpo tremia e eu não estava gostando nada daquela pele fria.

Os longos minutos de desespero se passaram e enfim a ambulância chegou. Eles a colocaram numa maca e foram guiando-a para o veículo. No caminho ela segurou fortemente minha mão, seus olhos semi-serrados de dor e agonia.

    - Joe... – ela parou um pouco para tossir e expelir mais sangue, eu segurei sua mão – Fica comigo... por favor.

     - Fico, fico sim.

Adentrei a ambulância assim que ela desmaiou.

Acho que nunca senti tanto medo na minha vida. Gritar assustado com fantasmas, ter medo de bruxas ou coisas idiotas como essas não se comparavam ao medo de perder alguém que você ama. E, droga! Eu só a conhecia há um dia, eu já amava e queria vê-la sorrir radiante novamente! Não era justo, tivemos tão pouco tempo juntos.

Chegamos ao hospital como um furacão, e quando dei por mim, estava soltando a mão de Diana para que ela pudesse adentrar uma das salas do hospital.

Eu teria continuado atordoado no meio daqueles enfermeiros e médicos que iam e vinham no hospital se alguém não tivesse tocado meu ombro. Para a minha surpresa era um dos meus advogados e ele não pareceu chocado ao ver minhas roupas cheias de sangue. Ele apenas mandou me acalmar e sentar numa cadeira na sala de espera.

De primeiro eu não queria me acalmar, queria adentrar aquela sala e ter certeza de que eles salvariam MINHA DIANA! Mas era inútil. Joguei-me na cadeira, e encarei minhas mãos repletas de sangue, do sangue dela. MERDA DE LÁGRIMAS!

Comecei a chorar, a soluçar, a puxar meus cabelos e a me culpar pelo que estava acontecendo com ela.

Em meio a confusão que foram aquelas horas, só consigo me lembrar de  um homem de paletó - que nunca tinha visto na vida - senta-se ao meu lado, tão desesperado quanto eu, e a murmurar em francês coisas como: “Minha filha, sou eu o culpado, eu não devia ter feito isso. Você devia ter ficado no hospital e não ter entrado nessa aventura.”.

Quando as lágrimas foram começando a cessar, me senti como se estivesse sendo sugado para um buraco negro idiota. Como se caísse num poço sem fundo onde era impossível alcançar Diana. Eu tentava escalar as paredes, mas não tinha forças. Meu coração doía muito, como se uma mão invisível estivesse apertando-o até estourá-lo.

Acordei logo em seguida de sobressalto. Três dos meus advogados parados a minha frente a segurar roupas limpas.

   - Vista isso, Joseph. Depois, precisamos conversar com você.

   - Eu não quero conversar! – protestei à medida que me levantava – Quero saber como Diana está! Onde ela está?

Tentei forçar passagem por entre os três, mas fui praticamente jogado de volta na cadeira.

    - Faça o que estamos pedindo, Joseph.

    - Não dessa vez. Eu quero ver DIANA!

    - Calma, rapaz. – o homem de paletó que estava sentado ao meu lado apareceu de detrás dos advogados, os olhos vermelhos como se tivesse chorado a noite toda, e pôs a mão calmamente no meu ombro (algo nos olhos dele me lembrou Diana) – Faça o que eles pedem e eu contarei tudo o que você quiser saber.

    - No momento só quero saber como Diana está! O que aconteceu com ela?

    - Por favor, faça o que pedimos.

Sem outras opções, fui levado ao banheiro que era usado pelos funcionários do hospital e troquei de roupa. Lavei o rosto, que estava cheio de manchas de sangue e olhos vermelhos de tanto chorar, e as mãos. Assim que saí, meus três advogados e o tal cara esperavam-me com uma caneca de capuchino.

Recusei, mas assim que nos sentamos numa mesa da lanchonete, os três advogados sumiram e fiquei sozinho com o cara estranho, pareceu muita falta de educação negar  o que ele pedia.

   - Beba, vai precisar de energia se quiser ficar acompanhando as melhoras dela. – não hesitei, se não tivesse tão quente teria tomado todo o líquido em dois goles

    - Melhoras? Isso quer dizer que ela já está bem?

    - Na verdade não. Ela perdeu muito sangue e... bem, ela possui uma doença em estágio avançado. – várias doenças me passaram pela cabeça, e acho que devo ter perdido a cor

    - Can-câncer?

    - Não, trate-se de uma doença genética. – ele tencionou os lábios tentando não chorar – Perdi a mãe dela do mesmo modo.

    - Perdeu? Então, Diana é a sua filha?

    - Isso mesmo, meu rapaz. Chamo-me Magno Sorcière.

    - Dono das Indústrias Magno?

    - Isso mesmo. E apesar de todo o dinheiro que tenho, não consigo fazer com que minha filhinha seja curada.

    - Se for insuficiente eu posso ajudar, venho ganhando muito desde a ultima turnner então...

    - Não, garoto. O problema não é dinheiro, mas fico agradecido pela sua oferta. Isso mostra que você realmente gosta de Diana.

    - É estranho dizer isso, senhor Sorcière, mas de certo modo eu amo a sua filha. Sei que só faz um dia, mas...

    - Diana sempre foi assim. A mãe dizia que ela seria capaz de cativar qualquer pessoa com um simples olhar.

     - De certa forma foi mais ou menos isso, senhor. – ele sorriu de lado, quase sem forças

     - Joseph, eu sei que você se apaixonou por ela, mas eu gostaria de lhe explicar em quais circunstancias.

     - As circunstâncias eu sei, fiquei preso neste país e ela estava me levando à embaixada...

    - Tudo forjado.

    - Como disse?

    - Eu quero que você primeiro entenda uma coisa: tanto você quanto ela são inocentes nessa história. - eu não conseguia acreditar – Preste atenção, antes de achar que o que sente por ela é falso, porque não é.

“Diana vem lutando contra essa doença há três anos. Ela passou por todo tipo de tratamento. Você não sabe o quanto é horrível, Joseph, acordar todo dia e dar graças à Deus por ele não ter levado sua filha, e ir dormir todas as noites rezando para que na manhã seguinte ela te receba com um bom-dia sorridente. O último tratamento pareceu estar dando certo, estávamos contentes e depois de quase dois anos e meio ela foi liberada para voltar para casa.”

“Fiz de tudo para que ela se sentisse feliz e acolhida. Ela até corria e brincava, passou a freqüentar a escola das primas e a se enturmar mais com pessoas da sua idade. Mas então, quatro meses atrás ela teve uma recaída esmagadora. A doença tinha avançado e não havia mais quase nada que os médicos pudessem fazer nem mesmo para amenizar sua dor. Foi horrível, ficamos todos abalados e, eu sei, especialmente ela, que sofria mais com o sofrimento dos outros do que com o seu próprio. Há um mês atrás eu achei que fosse  o fim, ela estava definhando na cama do hospital quando surgiu uma boa notícia. Estava sendo desenvolvido neste país, Alemanha, um novo procedimento médico que vinha mostrando bons resultados para com os pacientes que tinham a mesma doença que Diana.”

“Não medi esforços, trouxe-a para a cá e a esperança ressurgiu. Mas havia algo em jogo: o procedimento devia ser feito em duas etapas, observação e aplicação. O estágio da aplicação, entretanto, que é o problema. Se ela sobreviver ao procedimento de aplicação, então ela iria viver como uma pessoa normal a partir de então. Mas é muito arriscado, entende? Eu estava disposto a tentar, como ultimo recurso. Mas Diana já tinha perdido o gosto pela vida. Ela tinha desistido. Não agüentava mais as dores, não agüentava mais ver as pessoas a sua volta chorando por ela.”

Eu também não agüentava mais ouvir aquela história, porque tudo o que me vinha à cabeça era o sorriso tímido que ela tinha quando a rodei no ar, o cheiro tropical dos seus cabelos negros, e a maciez dos seus lábios nos meus.

    - Mas ela fez, não foi?

    - Ela não aceitou, Joseph. Ela disse que não queria mais me ver sofrer. Ela disse que eu ficaria melhor sem ela. Mas não é verdade! Eu quero ver minha filha sorrindo novamente, eu quero vê-la correr pelos jardins como fazia quando criança, sem que ela comece a tossir e a desmaiar. – ele estava chorando a essa altura, e eu entendia, ou melhor, compartilhava daquela dor – Ela precisava de um motivo para continuar a viver, Joseph, e foi aí que eu tive a idéia.

“Sempre quando ia visitá-la no hospital e ela estava assistindo aquele canal de música, como qualquer adolescente normal, e aparecia um clipe seu ela começava a torcer o nariz e reclamar. Até que um dia ela começou a rir. A rir como ela nunca tinha rido antes e então murmurou “Ele parece ser bem pedante. O que eu não daria pra saber se tudo isso é apenas uma farsa... e ele também é bem bonitinho””.

Minhas bochechas ficaram instantaneamente quentes. A opinião dela sobre mim era aquela e eu tinha ciência, ela não fazia mesmo questão de esconder de ninguém, mas o ‘bonitinho’ me pegou de surpresa. 

     - Eu já tinha visto aquele olhar na minha filha. Era esperança. E era disso que ela precisava. Então comecei a mover todos os meus recursos para tentar levá-lo para conhecê-la. Mas eu sabia que se você fosse, tudo acabaria em briga e o estado dela poderia se agravar.  Foi então que um dos seus advogados teve a idéia de juntá-los sem que ambos percebessem. De início achei ridículo, mas a cada dia que passava ela ficava mais fraca e não podíamos mais esperar. O tempo estava passando, no final das contas.

“Certa manhã ela me pediu para ir embora do hospital e achamos que fosse o momento perfeito. A colocamos no mesmo avião que você e esperamos que as coisas acontecessem naturalmente. E aconteceram. Vocês pareciam se atraírem por uma força magnética, ou sei lá como você jovens gostam de explicar. Você não sabe como me senti feliz quando os advogados me relataram o quão alegres vocês pareciam estar, especialmente naquele parque...”

   - Advogados?

   - Sim, eles ficaram seguindo vocês o tempo todo. Mas as coisas saíram do controle, vocês começaram a se envolver cada vez mais e você não se tornou mais a esperança de Diana, você se tornou uma espécie de ancora, de motivo para ela continuar respirando.

    - Mas ela está neste hospital, agora! E vocês brincaram conosco, vocês...

    - Nós lhe demos um motivo para parar de escrever músicas vazias de amores inexistentes, meu rapaz. Você acha que eu não percebi o modo como você fala dela, de como seus olhos brilham a simples menção do seu nome? Você a ama, Joseph, você mesmo disse isso, e agora ela precisa de você, raios! Ela está numa maldita cama de hospital sem esperanças, vendo tudo em cinza e você a única luz que paira sobre ela! Você é a droga de um sol para ela!  - ele recolheu as mãos trêmulas de cima da mesa e puxou um lenço do paletó

Eu era o sol dela. Como? Ela era o meu sol. Ela era minha inspiração, jamais cantei uma música tão verdadeira quanto aquela o parque. Jamais me senti tão bem ao lado de alguém, jamais necessitei tanto de alguém, e isso me apavorava.

Encolhi-me na cadeira.

   - Por favor. Atenda o pedido desse velho pai que cansou de ver sua filha sofrer. 

   - Eu não sei se posso, eu...

   - Ela chamou por você. Os médicos disseram que enquanto ela delirava de febre seu nome era a única coisa que ela chamava. Ela dizia “Ele prometeu, ele vai vir. Deixem-no entrar”.

   - Não dá! – repetia várias vezes me balançando desconfortável na cadeira

   - Ela acreditou em você! Não seja um popstar egocêntrico!

   - Caso você não se lembre, meu caro senhor, é exatamente isso que sua filha achava de mim.

Aquilo foi demais para eu agüentar. Saltei da cadeira e não olhei para trás apesar dos chamados daquele homem. Era muito peso sobre os meus ombros. Era a vida de alguém que dependia de mim, e não uma vida qualquer, era a vida de alguém que eu amava.

Saí para o estacionamento onde encontrei os advogados me esperando. Eles me conheciam bem, sabiam que eu fugiria a simples menção de compromisso com algo ou alguém. 

        

Durante três dias me escondi na droga do meu apartamento, mal comia ou fazia outra coisa além de tentar  umas  poucas notas no teclado.

Tudo ao meu redor parecia cinza e eu me sentia um covarde. A droga de um covarde! Mas por que, afinal, eu não fazia como devia ter feito, ou seja, ter ficado ao lado dela, segurando sua mão frágil e sendo seu sol?

Mas e se ela não sobrevivesse? E se eu me apegasse ainda mais aquela garota de futuro incerto? Eu acabaria com minha vida, mais do que ela já estava acabada.

Certa tarde, entretanto, enquanto passava os canais da televisão, minha mãe trouxe um suco. Eu não queria comer ou beber, queria continuar no meu mundinho egoísta e covarde, mas resolvi dar uma chance ao líquido. Para minha surpresa, era suco de abacaxi, quase o mesmo cheiro que Diana.

Como se estivesse em chamas, soltei o copo que derramou suco por todo o carpete. Minhas mãos tremiam e eu sabia que ia chorar - patético. Então, ouvi um som familiar e encarei a TV. Estava num canal de clipes e era o fim de “Lucky” - meu caro Jason estava no seu dueto com Colbie - e aquilo foi demais.

Sou muito idiota, não é mesmo? Quando alguém precisa de mim eu fujo. E eu também adoro quebrar promessas. Mas não dessa vez.

Minha vergonha não me impediu de pegar o carro da minha mãe e sair para o aeroporto mais perto. Eu tinha que ir para a Alemanha. E, Deus, como eu rezei para que ela estivesse lá. Para que ela me perdoasse. Para que ela me desse outro chute no saco se fosse necessário para que ela se acalmasse, ou para que ela simplesmente sorrisse.

Em desespero, cheguei ao mesmo aeroporto em que tinha me perdido e pedi ao taxi que me levasse ao hospital onde ela estava internada. Ele disse que era noutra cidade, mas eu não queria saber, eu só queria chegar lá, nem que isso custasse toda a minha fortuna em taxi.

Avistei as delimitações do hospital e assim que chegamos ao estacionamento joguei o dinheiro do taxista no banco da frente - o ouvi gritar de longe “Good Lucky, boy”. Meu velho, você não sabe o quanto essa frase é literal.

Passei da recepção como uma bala. Num dos corredores encontrei o senhor Sorcière acabando de fechar uma porta atrás de si. Achei que ele não fosse me deixar entrar, mas seu rosto apaziguou-se e ele me deu passagem.

   - Antes tarde do que nunca.

Dei-lhe um sorriso encabulado e adentrei o quarto. Diana estava deitada, mas consciente, e assim que me viu entrar seus olhos fixaram-se em mim, irados.

Ela virou o rosto quando postei-me ai seu lado direito.

   - Desculpe, meu amor.

   - Você prometeu. – sua voz estava trêmula e notei quando ela fungou

   - Estou aqui, me perdoa.

   - Quero ver como vai se livrar dessa, popstar.

Apesar do timbre, eu sabia que aquele coração era só meu, e que eu não deixaria morte alguma tocá-lo e fazê-lo parar.

Puxei a poltrona mais próxima que tinha e segurei sua mão fria.

Foi suficiente para que ela me encara-se.

 

   - This time, this place, misused, mistakes. Too long, Too late. Who was I to make you wait? – à essa altura estávamos ambos chorando. Droga de hormônios, de amor, de dor - Just one chance, just one breath. Just in case there's just one left. Cause you know, you know, you know! That I love you, I have loved you all along, And I miss you been far away for far too long.  I keep dreaming you'll be with me, and you'll never go. Stop breathing if I don't see you anymore.

Deixei a poltrona de lado e me ajoelhei perante ela. Seus olhos estavam vermelhos e ela sorria entre soluços. Ela estava tão linda com o cabelo assanhado e as bochechas coradas...

    - On my knees, I'll ask, last chance for one last dance. Cause with you, I'd withstand
all of hell to hold your hand. I'd give it all. I'd give for us. Give anything but I won't give up. ‘Cause you know, you know, you know!  That I love you, I have loved you all along, and I miss you been far away for far too long. I keep dreaming you'll be with me
and you'll never go. Stop breathing if I don't see you anymore.

Ela sentou-se para me acompanhar enquanto seu polegar brincava com a minha mão.

      - So far away, been far away for far too long. So far away, been far away for far too long. But you know, you know, you know. I wanted, I wanted you to stay. Cause I needed. I need to hear you say, that…

Ela inspirou fundo e eu esperei ansiosamente. Eu não era merecedor do seu perdão, mas quando ela abriu os lábios e continuou nosso dueto, eu desabei em seu colo abraçando-a fortemente.

    - I love you, I have loved you all along. And I forgive you, for being away for far too long. So keep breathing, Cause I'm not leaving you anymore. Believe it Hold on to me and, never let me go.

Ela ergue meu rosto em suas mãos e me beijou ternamente. O selinho mais prazeroso que já experimentei. Então cantamos o final juntos.

      - Keep breathing, Cause I'm not leaving you anymore. Believe it Hold on to me and, never let me go. Keep breathing Hold on to me and, never let me go. Keep breathing Hold on to me and, never let me go.

Eu sabia que ela me perdoar era apenas uma etapa acompletar. Eu podia senti-la quase partir-se ao meu toque, como se chegar perto demais do sol pudesse machucar. Mas eu não a machucaria, não mais.

Um ano depois, quando o processo de aplicação acorreu, eu a segurei quase morta nos meus braços e a sensação de estar caindo num abismo sem fim me tomou novamente. Ela era meu sol, e não eu o sol dela. Ela era a minha protetora, e não eu o seu protetor. Ela me ensinou a ser menos arrogante, a batalhar pelo que quero e a amá-la.

Houve uma época, durante o tratamento que ela jogou as agulhas em mim, mandando-me ir embora, porque ela não valia à pena. Mas como ela não valeria à pena? Era por ela que eu me levantava todos os dias e enfrentava a maratona de artística para sair correndo de volta aquele hospital. Certo, era cansativo, mas tudo recompensava quando ela acordava e me dava um bom-dia sorridente – o pai dela tinha razão.

Então, as coisas foram se adaptando, e aqui estava eu preste a subir ao palco com uma música nova. Eu sei que ela assiste meu show do quarto do hospital onde sua saúde está cada vez melhor, e espero que ela goste. Porque essa é a primeira musica que escrevi com o coração, para  uma garota estranha, como idsse anteriormente, mas para a minha garota estranha.

Eu também sei que ela vai melhorar, que ela está curada, tanto que quando segundos antes de pisar  no palco recebi uma ligação urgente. Tudo dela era sempre urgente:

    

     - Joseph, seu idiota! – ela me amava tanto – Conseguimos, meu amor! E-eu estou, eu estou curada!

Eu ri sem conseguir acreditar. A sombra da morte não estava mais sobre nós.

Fechei os olhos com um sorriso bobo nos lábios e iniciei o show cantando essas músicas espontâneas que fazem seu produtor querer te matar porque sai totalmente do que foi programado. Mas e daí? Eu estava feliz e o Rehsu vai ter que agüentar.

Today is gonna be the day
That they're gonna throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you gotta do
I don't believe that anybody
Feels the way I do
About you now

Backbeat the word is on the street
That the fire in your heart is out
I'm sure you've heard it all before
But you never really had a doubt
I don't believe that anybody
Feels the way I do
about you now

And all the roads we have to walk are winding
And all the lights that lead us there are blinding
There are many things that I'd
Like to say to you
But I don't know how

Because maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

Today was gonna be the day
But they'll never throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you're not to do
I don't believe that anybody
Feels the way I do
About you now

And all the roads that lead you there were winding
And all the lights that light the way are blinding
There are many things that I'd like to say to you
But I don't know how

I said maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

I said maybe (I said maybe)
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

I said maybe (I said maybe)

You're gonna be the one that saves me (that saves me)






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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! E quanto à Firendship, estou fazendo o que posso, mas a fic simplesmente não quer andar... Desculpa. Mas essa daí é bem grandnha, acho que deu pra compensar um pouco.