O corpo podia estar na Terra. Mas a alma estava em outro planeta. O planeta das almas torturadas. O nome é um tanto estranho, porém dá certo quanto a aparência do lugar.

O Planeta das Almas Torturadas é exatamente o lugar para onde vão os seres que mais sofreram por toda a sua vida ou somente aqueles que tem alguma missão ainda a ser cumprida em outros lugares, ou melhor, outros planetas.

Ali, a luz sempre brilhava. Os pequenos corpinhos é que davam esse brilho.

As almas tinham cor prateada brilhante. Seus pequenos olhos negros davam um aspecto mais sombrio, assim como os humanos costumavam fazer suas imagens das almas. Por que é que os humanos ainda insistiam em tornar tudo o que não conhecem em coisas tão escrotas e medonhas?

As almas que haviam saido do tanque de criação - criotanque - vagavam sem rumo pelas ruas. A beleza e simplicidade do planeta eram incríveis. Nem a Terra chegava aos pés do Planeta das Almas Torturadas. Ali sim era o verdadeiro paraíso. Não havia nada com que se preocupar, todos pareciam se conhecer a anos, tudo era tão calmo e colorido. Pode ser que não houvesse vida humana, mas o planeta despontava vida.

Emmet estava concentrado em retirar a alma de um dos corpos quando Rosalie chegou toda desesperada.

-Emmet, pare já com isso! Preciso lhe falar uma coisa! - Rosalie suava frio enquanto os saltos agulha provocavam um barulho ensurdecedor no piso.

-O que foi, Rose? Hey, não dá pra me falar isso depois? Estou muito ocupado. Essa inserção está me dando um trabalhão.

-Não, Emmet. Não dá. Tem que ser agora. É urgente. Caso de vida ou morte.

Ao ouvir as duas últimas palavras Emmet deixou o corpo do qual estava tirando a alma de lado, jogando-o de qualquer jeito no criotanque.

-Rose, se acalme, por favor. Ok? Vamos lá. Comece do início.

-E por um acaso tem como começar do fim?

-Vai parar com esse seu sarcasmo pelo menos uma vez? - o rosto de Emmet era vazio de qualquer emoção, os olhos castanhos amendoados vidrados no rosto perfeito de Rosalie, cuja respiração parecia não mais existir, sua pele estava mais translúcida que o normal, já que era possível ver cada uma das veias espalhadas pelo corpo. Ali dentro delas, o sangue viajava a mil por segundo.

Rosalie e Emmet, assim como Jasper e Victória - ambos casados - eram os únicos humanos que viviam no planeta desconhecido. Os quatro sempre tiveram grande interesse sobre o mundo sobrenatural e, desde então, seu desejo se tornou realidade. Ali, eles não envelheciam. Continuavam sempre com a mesma aparência; isso porque no planeta das Almas Torturadas não havia tempo. Aí mais um motivo para que o lugar fosse considerado um verdadeiro paraíso.

-Bem, nem sei como começar. É tudo tão estranho. Aconteceu assim de repente. Foi uma surpresa e tanto pra mim quando Victória me contou que o Laurent conseguiu pegar a alma da Bella.

A notícia fez Emmet surtar.

-Como assim?! Você tem certeza do que está falando, Rosalie? Isso não pode estar acontecendo. Mas o Chamado não me avisou nada a respeito disso. E por que é que o canalha do Laurent saiu correndo atrás da garota? Eu já havia lhe falado que dela eu cuidaria pessoalmente. Ah! Se eu pego aquele imbecil! - com as mãos fechadas em punho, Emmet bateu o canto das mãos contra a mesa na sua frente. Em questão de milésimos, a mesa estava partida ao meio.

-EMMET! - Rose tentou acordá-lo do transe sacudindo- o pelos ombros - Hey, calma, garotão!

P.S: galera, a partir daqui, enquanto estiverem lendo, ouçam essa musica: http://www.youtube.com/watch?v=HFFGguX2SZM

A fúria do homem era tamanha que seu rosto já estava vermelho, os olhos cheios de sangue, os músculos do corpo contraídos como que numa posição de ataque, sua humanidade dando lugar a um instinto assassino de outro mundo.

Rosalie não podia fazer nada. Ela não era forte o bastante para impedir Emmet de fugir. A única coisa a fazer, era Rosalie torcer para que nada de errado acontecesse.

Emmet saiu a toda a velocidade pelo corredor do labóratório. Não via a hora de pegar Laurent de porrada. Por que é que Laurent tinha se precipitado tanto diante de uma ordem superior? Quem é que ele pensava que era para tomar essa decisão? Emmet sabia a resposta: apenas um caçador de almas e nada mais. Nada de muito importante. Inútil talvez fosse a palavra mais adequada.

Correr. Era o único objetivo do homem. Seus olhos ferviam de raiva, o sangue pulsava mais rápido e as batidas do seu coração eram praticamente inaudíveis, rápidas demais para serem ouvidas.

No fim do corredor, uma porta se abriu. Lá estava Laurent, com a mesma túnica negra, só que dessa vez, ela estava aberta mostrando o peito nu do jovem rapaz. O capuz também estava jogada para trás. Era estranho olhar aquele rosto tão bonito e compará-lo com o rosto que tanto assustara Bella agora a pouco. Laurent não parecia assustador agora. A pele negra e macia como a escuridão brilhava diante do reflexo das luzes do corredor. Seus olhos da cor de sangue até que tinham um charme porém, mesmo assim davam agonia. Ele se assemelhava mais a um boneco de porcelana.

-Emmet. - um silvo saiu da boca do negro. Seu olhar petulante se concentrando na raiva do outro.

-Laurent, seu idiota! - Emmet partiu pra cima de Laurent, mas antes de ser atingido, Laurent se desviou, a capa negra se arrastando consigo.

-Emmet, seu idiota. - o mesmo tom que Emmet usara, Laurent agora usava, imitando o homem.

Mais uma vez, Emmet partiu pra cima do homem negro. Tentativa em vão. Laurent era muito mais rápido que ele. Exatamente porque estava mais acostumado com toda essa coisa de adrenalina, de matar, sentir o doce saber e o cheiro entorpecente de sangue.

Do nada, em meio a toda aquela confusão, uma música começou a tocar.

-O que é isso? Não vai me dizer que é mais uma das suas brincadeiras, Laurent?

-E eu lá sou homem de brincadeiras? - o sarcasmo no rosto de Laurent era até engraçado. As caras e bocas que ele fazia para intimidar Emmet podiam até ser consideradas divertidas se não fosse pela situação que exigia um momento de seriedade. - É só que eu gosto de um pouco de animação nas lutas.

Aquilo tinha sido a gota d'água para Emmet. Afinal, não havia nenhum palhaço ali, havia?

Numa fração de segundos, Laurent partiu para cima do grandalhão albino. Os caninos afiados desejando o pescoço. Você deve estar se perguntando que tipo de ''ser das sombras'' é Laurent. Pois bem. Ele não chega a ser exatamente isso. Na verdade, Laurent é meio que uma mistura de um pai imortal com uma humana vampira. Difícil de entender? Sim. Tem certas coisas em que é preferível não se entender. O cérebro humano é frágil demais para compreender o sobrenatural.

Garras afiadas apareceram nas mãos de Emmet. Um feixe de luz forte, quase cegante, atingiu o corredor. O lugar parecia mais um quarto de hospício, todo enbranquecido. Rápido como o trovão, Emmet deixou sua forma humana e transformou-se em um corvo, para surpresa de Laurent.

As garras do corvo pegaram Laurent no peito, rasgando-o. Ali, o sangue jorrou fresco. O cheiro de ferrugem do sangue entorpeceu Laurent. Emmet sabia muito bem que o sangue, assim como a morte e a dor, era o maior vício do rapaz. Então, ele continuou rasgando o corpo negro.

-Ah! Ah! Ah! - Laurent gritava e gemia ao mesmo tempo. Se era prazer ou dor, nunca se soube.

No final da guerra, o corredor branco cheirava e pingava a sangue. Como mágica, o corpo do vulto não estava mais ali. Isso porque o seu desejo por sangue era tão grande que ele se saboreou do seu próprio sangue. Sinistro? Isso é só o começo.