CAPÍTULO DEZENOVE - ADMIRADOR SECRETO.

"DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?"

(Mário Quintana)

            Seu semblante deixou-me confusa entre lhe dizer ou não. Mas apesar de tudo sabia que poderia confiar nele, contar-lhe o que sentia.

- O que ele fez contigo para que ficasse deste jeito, Manu? - olhando-me com receio.

- Primeiro, você pode fazer um favor para mim? - começei.

- Depende - respondeu com um lindo sorriso que se mostrava malicioso.

- Você pode parar de andar de um lado para o outro? Isto está me deixando mais nervosa do que estou. - comentei aliviada ao perceber que ele parou e se sentou ao meu lado na areia.

- Pare de enrrolar e me conte o que ele lhe fez. - completou, trazendo minha cabeça ao seu ombro.

FLASHBACK

            Fabio não estava feliz em apenas terminar a amizade comigo, ele queria mais. E tudo começou com algo simples. Ao abrir o armário constatei que tinha algo diferente, havia um papel branco em cima dos meus materiais.

"Querida Manu,

            Fiquei triste ao saber que está sozinha ao acabar sua amizade com Fabio, mas estaria mentindo se disesse que estou insatisfeito.

            A verdade é que EU TE AMO, mas por enquanto não direi meu nome pois sou um menino tímido e inseguro por te achar uma menina muito linda - uma beleza rara que poucos compreendem.  

            Só lhe peço um favor de alguém que lhe ama. Adicione este msn: 'teamomanu@hotmail.com' e entraremos em contato.

Beijo com queijo,

Seu admirador secreto."

            Mesmo estando desconfiada estava radiante, tamanha era minha felicidade ao saber que alguém me amava.

(•••)

            Ao entrar em casa começei ao conversar com o admirador secreto que em seu nick estava escrito algo como 'DOMPACAM' e quando lhe perguntei o porque disto, ele me disse que era seu apelido de criança.

             Em apenas dois meses me senti atraida, mas nada que se comparasse ao amor. Ele me implorou para que comprasse uma web cam e assim o fiz. Ele me pedia para tirar a roupa com tremenda ousadia e investidas e que um dia eu me exibi pela rede de forma inocente e tímida.

            Ao chegar na escola várias pessoas começaram a zombar de mim, mas eu não sabia o motivo até ver um panfleto com uma foto semi nua ao qual dizia.

"Se quiser ter noites de prazer ligue para mim. Estarei disposta a lhes servir a qualquer hora.

            (**)8214-5474

            Manu Toledo."

            Fabio se dirigiu até mim de um modo astuto e falou algo para que todos pudessem ouvir.

- AGORA TODOS SABEM COMO A VERDADEIRA MANU É. UMA PESSOA PERVERTIDA, PROSTÍTUTA QUE SÓ DE MODO SUJO PODERIA TER O QUE QUER.

            Todas as pessoas começaram a me lixar só sendo paradas com a chegada do diretor que se encarregou de queimar todos os papéis e mandarem os alunos fazerem algo melhor. Derramada em lágrimas fiquei no corredor sendo amparada pelo adulto que me acalmava ao dizer palavras de incentivo para mim.

            Os dias seguintes foram terríveis, várias pessoas ligavam para a casa à procura dos serviços ou para passar um trote. Como meus pais não tinham como mudar de cidade tomaram uma atitude drástica ao chamar a polícia e o conselho que resolveram essa questão de prontidão. O assunto só foi esquecido um ano depois quando outro acontecimento se tornou mais comentado.

         E ao final de tudo Fabio me confessou que ele havia feito a brincadeira e que "DOMPACAM" significava 'dois meses para arrasar com a manu' - muito criativade da parte dele, é o que tive vontade de dizer.

FIM DO FLASHBACK

            Estava banhada de lágrimas ao contar algo que não havia contado a ninguém, fiquei surpresa ao receber um beijo em minha testa ao notar que estava deitada em seu colo e sendo amparada pelo mesmo.

- Pronto, isto já passou. É passado agora - consolou-me ao acariciar a minha face que se encontrava rubra.

- M-mas eu não entendo o porquê de ele fazer tudo isso. Será que sente tanto ódio assim por mim? - perguntei chorosa a pessoa que era o melhor amigo de Fabio.

- Nem eu entendo pequena, nunca entendi. - respondeu ao me olhar nos olhos, seu comentário me lembrou de James que a pouco tempo havia me chamado assim também.

            Ficamos calados por um certo tempo sendo cortado por uma voz amargurada que ecoou neste ambiente

- Desculpa se lhe juguei mal todos esses anos Manu. - respondeu deixando-me confusa.

- C-c-como assim? - questionei de um modo ancioso.

- Sempre achei que você fosse uma menina irritante, chata, carrancuda e que tentava se mostrar superior aos outros.

            Pausando, deu um suspiro ao me olhar distráido. Este comentário deixou-me chatiada, então era assim que todos me viam?  

- Todas as vezes que eu a encontrava você estava lendo um livro ou observando as pessoas de um modo indiferente, deixando-me irritado. Mas agora percebo o quanto você é diferente do que sempre achei que fosse. - confessou.

- "Nunca julgue um livro pela capa, meu caro."  E foi o que eu também fiz em relação a sua pessoa. - declarei ao suspirar.

- É? E como você me achava? - mostrava-se curioso.

- Obviamente eu o considerava uma pessoa sem QI, mulherengo que só se importava com você e com a sua alta popularidade. - confessei - E acho que você não está muito longe disso. - respondi irônica ao tocar em seu ombro.

- Ora, Ora, Ora. Vejo que a certinha também pode ser irônica e divertida as vezes. - começou ao me fitar com um sorriso - E acho que gosto mais de você deste jeito.

- Não vai se acostumando, 'malandrão'. Eu apenas estou me sentindo fragíl. - menti.

            Era o que eu sempre quis esconder das pessoas ao meu redor. Sendo que está barreira que criei há anos está sendo rompida aos poucos, algo ao qual eu não queria que acontecesse tão cedo.

- Então espero que se sinta deste jeito mais vezes. - seu último comentário deixou-me constrangida e contrariada.

            Ao saber em que ponto estavamos chegando, resolvi mudar o assunto. Percebi que eram 20 horas ao olhar o relógio, ou seja, felizmente eu teria que ir para a casa.

- Matthew...

- An? - O cansaço era perceptível em sua voz.         

- Eu tenho que ir para a casa, está muito tarde.

- Está bem, só me espere pegar a bicicleta que lhe darei uma carona até a sua residência.

            Correu até o meio de locomoção e me puxou até a garupa não me dando chance para protestar. Agarrei a sua cintura por medo, ao notar a velocidade em que estava pedalando. Seu sorriso se tornou presente ao notar o quanto estava corada e que minha respiração estava falha ao notar a posição em que estavámos.

            Estando entregue em minha casa ele saiu correndo, deixou-me angustiada e distraída ao perceber o que disse ao moreno neste dia.