Recebi uma carta logo no café-da-manhã. Era da bibliotecária confirmando minha detenção com Malfoy para sábado e com duração de uma semana. Isso é, eu ia perder dois sábados em detenção com Malfoy.

Ah, minha sorte.

- De quem é a carta? - Celeste perguntou ao meu lado.

- Bibliotecária. Apenas confirmando a detenção que eu e Malfoy pegamos. - murmurei guardando o papel nas vestes.

- Por que ficaram de detenção? - Celeste perguntou horrorizada. - Ah, mas é claro. Ela pegou vocês dois na biblioteca se beijando, certo? Rose, você nunca foi disso! Mas eu não te culpo deve ser muito difícil conviver com aquela boca tão próxima da sua e-

- Ei. - alguém falou atrás de nós.

Fiquei até feliz que Celeste parou de falar. Quando me virei dei de cara com Malfoy. Ele também segurava uma carta.

- Também recebeu? - perguntou.

- É. Esse sábado. - respondi.

- Eu tenho jogo! - ele resmungou.

No mesmo momento eu entendi aonde ele queria chegar.

- Eu não vou cumprir detenção sozinha, Malfoy.

- É só esse sábado! No resto dos dias eu vou pra detenção. - ele respondeu.

- E a primeira briga oficial acontece! - Celeste falou ao meu lado.

- Depois conversamos. - ele disse olhando para Celeste com uma cara engraçada e saiu.

Minha amiga me olhou com um olhar safado. Senti vontade de dizer que nas minhas conversas a boca das pessoas ficava separada, diferente das dela, mas apenas bufei e voltei a tomar meu café.

-o-

Depois que minhas aulas acabaram fui para a biblioteca. Celeste teve que ir para a aula de advinhação então combinamos de nos encontrarmos na biblioteca, depois iríamos para o almoço.

Eu estava lendo um livro sobre poções quando alguém toca no meu ombro. Virei rápido e, para minha surpresa, não era Celeste nem Scorpius. Na verdade, era alguém tão ruiva quanto eu, com olhos chocolates e lágrimas descendo pela bochecha.

- Lily! - falei assustada.

Minha prima esticou a mão e pegou meu livro, para logo depois jogá-lo no chão. Antes que eu pudesse reclamar ela deu a volta na poltrona e se jogou em mim, chorando, soluçando e dizendo alguma coisa com a voz abafada. Abracei ela de volta e deixei ela chorar. Se eu perguntasse agora o que tinha acontecido ela ia falar tudo muito rápido e com essa voz chorosa, o que não ia facilitar pra eu entender.

Ela continuou chorando por um tempo e eu fiquei mexendo no cabelo dela, às vezes falando "shh" e outras vezes apenas cantarolando alguma coisa. Depois de uma fungada ela se afastou de mim lentamente e se sentou de joelhos no chão, com as mãos apoiadas no meu joelho.

- Rose... E-eu preciso de ajuda! - ela murmurou - O que eu vou fazer agora? - ela disse secando o rosto molhado e esfregando os olhos.

- Primeiro você pode me contar o que aconteceu. - falei.

Ela respirou fundo antes de começar.

- Eu e Noah. - ela fungou mais uma vez - Ele... Ele é um idiota! Grande idiota! - ela falou voltando a chorar com a cabeça apoiada no meu joelho.

Afaguei mais uma vez o cabelo dela, mas esse choro foi rápido. Segundos depois ela parou e levantou a cabeça parecendo irritada. Lily apoiou as mãos no meu joelho e se levantou.

- Ele vai ver o que é bom! Eu vou fazer ele se arrepender! Os dois! Aquela maldita vai levar tantos crucios que vai ficar louca! - ela disse irritada e parecia pronta pra sair dali tão repentinamente quanto pareceu, mas eu segurei ela.

- Não vai me falar o que está acontecendo?

- Noah! Ele disse que precisa de um tempo porque Noelle Martins estava dando bola pra ele e ele se sentia confuso. - ela murmurou irritada - Vou deixar ele confuso, mas com um soco bem dado!

Ela ia sair, mas eu continuei segurando ela.

- Dando um tempo?

- É! E agora eu vou lá falar para o Hall que nós terminamos e que ele vai se arrepender disso, porque eu sou Lily Luna Potter! Vários outros garotos de Hogwarts querem ficar comigo e não é aquele idiota que vai me impedir de ficar com todos eles!

Dessa vez eu deixei ela ir.

Lily Luna trazia um furacão e depois ia embora como uma brisa. Era estranho. Levantei da poltrona e fui pegar meu livro caído no chão.

- Dar um tempo, hein. - murmurei.

Voltei para minha pequena poltrona e fiquei lendo até que alguém teve que me interromper.

- Weasley! - a voz de Malfoy parecia bem clara atrás de mim.

Fechei o livro e esperei ele aparecer na minha frente.

- Oi. - falei olhando pra ele.

- Eu preciso mesmo jogar amanhã! - ele falou - Conversei com a bibliotecária e ela disse que se você concordar eu posso jogar!

Sorri. Era tão bom ter o controle.

- Mas será que eu devo fazer isso mesmo? - falei com um dedo no queixo - Não sei.

Ele cruzou os braços, parecendo mais irritado do que nunca.

- Peça um favor. Fale para aquela mulher que me deixou ir ao jogo e me peça um favor em troca.

Parecia algo bom demais pra se recusar. Mas um favor... Um favor de Scorpius Malfoy... Mordi o lábio e olhei pra ele, que continuava com os mesmos braços cruzados. É, talvez eu tivesse o favor perfeito.

- Ok. - sorri - A partir de agora eu tenho o comando sobre nosso problema, o que eu falar é lei.

- Problema? - ele franziu a testa - Ah! O problema... Ta, tanto faz!

- Vou falar com ela agora. - levantei da poltrona e guardei o livro no lugar.

- Ótimo, venha.

Fomos para o início da biblioteca e lá estava ela, no seu típico espaço.

- Olá Senhora Gofreey. - falei sorridente. - Eu e Scorpius conversamos e eu vou deixar ele ir ao jogo. É muito importante para ele, você sabe.

A senhora deu um sorriso mínimo.

- Tão gentil da sua parte, Senhorita Weasley. - a mulher disse - Bem, se vocês concordarem acho que posso só começar a dar a detenção no domingo. Assim nenhum faz mais trabalho que o outro.

- Oh, não precisa! - falei.

Provavelmente se eu aceitasse ele ia falar que, já que eu não fiz o favor por ele, ele também não ia aceitar minha condição. E ter o controle sobre aquilo era algo que eu queria muito. Muito.

- Com certeza? - ela perguntou.

Apenas concordei com a cabeça.

- Bem, então acho que vejo você amanhã, senhorita Weasley. E você no domingo, Malfoy. - ela falou ainda com um sorrisinho.

Puxei ele pra fora da biblioteca.

- No domingo você vem. - falei - E não se atrase.

- Não importa. De qualquer maneira, foi muito legal você fazer a detenção sozinha. - ele disse me olhando com um sorrisinho.

- Só não aceitei que começasse no domingo por que senão você podia dizer que minha condição já era, simples assim. - respondi agora com braços cruzados.

- Antes disso. - ele continuou sorrindo - Posso te beijar agora?

Eu me senti ficar vermelha.

- Não, não pode. - respondi irritada - Mas já que está tão grato pode me dar, no máximo, um abraço.

Ele sorriu e me puxou. Ele me apertou contra ele e eu quase fiquei sem ar, ele devia estar fazendo de propósito, porque depois que me soltou começou a rir. Estúpido.

- Ótimo, até mais. - ele disse e saiu.

Bufei e mordi meus lábios, tentando não sorrir. Eu tinha o controle e eu tinha um plano. Não podia estar melhor.