Série - Pacto escrita por LadySpohr


Capítulo 3
Vizinhos


Notas iniciais do capítulo

Por enquanto vou colocar apenas três capítulos e ver no que dá, falou? Reviewsssssssss...;)



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  • Mas por quê temos que nos mudar? - perguntei, pela enésima vez. E na verdade nem sei porque estava insistindo, já estava arrumando minhas coisas em caixas!

  • Porque arrumamos um lugar mais espaçoso, e vamos pagar menos, Lisa, nós já não discutimos isso a semana inteira? - meu pai ajeitou um dos meus abajures cuidadosamente dentro da caixa de papelão.

  • Fala sério pai, sei que é mais barato, mas aquele lugar vai precisar de umas boas reformas, deve estar cheio de infiltrações e correntes de ar! - protestei, derrubando minha colcha no chão – Deve ser por isso que o aluguel é baixo.

  • Sim, até pode ser, filha, mas assim que arrumarmos seja lá o que se tenha que arrumar, a única coisa a fazer será aproveitar uma casa grande e antiga – ele piscou por cima de uma pilha de livros, que atirou dentro de outra caixa.

  • Pelo menos isso, século XIX, não? - coloquei a colcha na sua sua bolsa de plástico, junto com lençóis, fronhas e meus travesseiros. Ainda tinha minhas almofadas decorativas. Cara, fazer mudança é um saco.

  • Exatamente, e eu como professor e historiador, digo que é o que conta.

  • E eu como sua filha...- gemi ao erguer meu baú de quinquilharias históricas. Tinha desde moedas até jornais velhos, que eu me recusava a doar pro departamento do meu curso. Qual é, aquilo era meu! Eu tinha achado nos mais variados cantos! Eu faço o serviço pesado e depois eles ficam com a glória? Aham, até parece.

  • Deixe que eu carrego essa coisa, Lisa, sei que esse baú não é nem um pouco leve – papai o tirou dos meus braços, segurando aquilo como se nem tivesse peso – Lembra de quando eu te dei?

Sorri pra ele, colocando minha valise de cosméticos dentro de uma das minhas malas.

  • No meu aniversário de treze anos, lembro de ter quase quebrado sua coluna quando te agarrei! Foi um dos melhores presentes que ganhei até hoje.

  • Pra minha filha, futura historiadora, qualquer coisa – ele fechou outra das minhas malas, depois de descarregar o baú perto da porta – Está tudo pronto, acho que podemos chamar a transportadora. Volto em um segundo.

Ele saiu pela porta do meu quarto. Quero dizer, ex-quarto. Mas que porra, EU não estava preparada pra me mudar!

Tudo isso por causa de uma oferta de aluguel.

Estava tudo como sempre, eu estressada na faculdade, meu irmão tentando salvar as notas – ok, isso era novidade - meus pais apressados, Alê armando complô com minha mãe por causa da maldita festa de aniversário – sério, quando todos eles iam desistir? Será que era estratégia? Tentar me vencer pelo cansaço? - Átila estranhamente desaparecido durante a tarde. Então meu pai chegou correndo na semana anterior, feliz da vida, e jogou a bomba na mesa de café da manhã. Íamos nos mudar.

Minha mãe adorou a ideia, eu queria morrer e meu irmão... ah, pra ele, tendo um colchão pra dormir e uma tomada pro notebook estava mais do que bom. Foi o que ele mesmo declarou. Nem me pergunte onde ele vai parar pensando desse jeito. Mas enfim.

Então ali estava eu, no meio de uma mudança. Com todas as minhas coisas ao meu redor, e dando bye bye ao meu quarto não tão grande, mas totalmente minha caverna durante seis anos, depois de sairmos daquele apartamento apertado no centro. Observei as paredes pintadas de azul-claro e o forro do teto, e as janelas que davam pra varanda. Dei um suspiro.

Que seja, melhor que seja um adeus rápido. Um rompimento sem traumas.

Peguei as duas mochilas que levaria comigo no carro e com uma última espiada, saí e desci as escadas. Tchau casa dos anos 50 no São Jorge. Olá casa do século XIX no Jardim das Flores, o bairro mais antigo da cidade. E diziam o mais silencioso. Traduzindo: monótono.

Alexandra morava no Morro Alto, claro, o bairro rico. E Átila, no Trepadeiras, e sim é esquisito, mas o bairro se chama assim porque é onde estão os parques ambientais. É maravilhoso.

Mamãe é que estava no volante, implicando com Jeffe por não tirar os fones do Ipod enquanto ela falava com ele. Tentei ligar pro Átila, mas de novo a porcaria do celular estava desligado. Que merda era aquela? Ele tinha passado a semana inteira sumido, quando devia sem falta, passar na minha casa, toda tarde pra falarmos abobrinha, xingar nossos professores tiranos e assistir Harry Potter ou Senhor dos Anéis, sem nunca enjoar.

Mas obviamente ele tinha achado coisa melhor pra fazer, aquele huno. Isso que dá ser amiga de bárbaros.

Ia passar pra Alexandra, mas como via de regra, ela parece saber que vou telefonar ou mandar msg, e então o faz primeiro.

VC POR ACASO VIU

O HUNO ESSA CMANA?

JURO Q ELE FOI ABDUSIDO!

Eu respondi rindo:

ELE VAI APARECER.

ÁS VZS ELE FAZ ISSO,

LEMBRA?

Alê:

O Q ME LEMBRO,

É Q ELE FOI PARAR NA

DELEGACIA, NO NOSSO

ULTIMO ANO DE SCOLA

POR INVADIR PROPRIED

ADE PRIVADA.

Eu:

E NUNK SOUBMOS

PQ. TBM TEVE AQLA

VEZ Q ELE DXOU A

MÃE DELE LOKA,

QNDO SUMIU POR

UM FIM DE CMANA.

ELE DIC Q SÓ TINHA

DORMIDO NA KZA D

1 AMIGO.

Alê:

Q NUNK SOUBMOS

QM ERA. MAS FODA-SE.

EI, COMO VAI SUA MUDA

NÇA?

Eu:

OQ VC POD SPERAR D

UMA MUDANÇA? BAGUN

ÇA! E PRO JARDIM DAS FLO

RES! PAREC Q VOU P CEMIT

ERIO!

Alê:

AH, O BAIRRO Ñ É

TÃO RUIM. TÁ, É

MEIO PARADO, MAS

TM AQUELAS CASAS

LINDAS.ISSO É

OQ VALORIZA AQLE LU

GAR! SE ANIME, VC É

UMA FUTURA HISTORIA

DORA!

Eu:

PLO MENOS VAI TER ISSO.

FOI OQ DIC AO MEU PAI.

PQ EU NAUM QRIA MSMO

SAIR DO MEU CANTO.

Alê:

T ENTENDO. LEMBRA

QNDO MINHA MÃE LO

KA DCIDIU REFORMAR

A KZA? INCLUSIVE MEU

QRTO? PENSA, TIV Q DO

RMIR NA SALA! TERROR.

Eu:

GRAÇAS A DEUS VC EXIS

TE. KKKKKK.

TE LIGO + TARD.

BJ.

Alê:

BOA VIAGEM! BJUS.

O caminhão com a mudança ia nos seguir. Meu pai entrou no carro, no banco do carona e olhou pra trás.

  • Tudo bem, aí?

  • Tudo – respondemos eu e Jeffe.

  • Ótimo, coloquem os cintos. Estamos indo!

Acenei a cabeça, em seguida olhando pra fora. O carro começou a andar, e minha velha casa ficava pra trás, cada vez mais distante, até que eu não a via mais.

Suspirei, me encostando mais fundo no banco. Se era assim, então que fosse.

Eu mal sabia o que me aguardava. Se eu soubesse, será que teria me amarrado numa pilastra da varanda de casa e me recusado a sair de lá? Ou eu teria pulado dentro do carro e dito “Manda brasa no pedal mãe!”. Quem sabe?

A única coisa que eu descobri, foi que vinte minutos depois, eu estava na calçada em frente a meu novo lar – lindo, por sinal, e sem infiltrações, acredite – e que quando admirei as casas ao redor, descobri, no outro lado da rua, pulando mais duas residências à direita, a ex-Casa Vazia. Seus portões me encaravam altos e imponentes.

Fiz uma careta de tormento antes de entrar pra dentro. Que droga. O lugar já era supostamente um reino de paz e tédio, ainda tinha que ter vizinhos esquisitos?

Porque Jacques e os irmãos eram, em definitivo. Depois que ele tinha me salvado do meu ex – que felizmente aceitou o término de boa, pelo menos foi o que disse no telefone quando liguei – o cara mal tinha conversado comigo de novo. E diga-se de passagem com mais ninguém, a não ser talvez com Suzana, porque os dois tinham a mesma linha de projeto de pesquisa: A Guerra dos Cem Anos. E os vi algumas vezes na cantina, confabulando.

Mas tudo profissionalmente, como disse, Suze.

  • Ele tem um cérebro simplesmente bom demais pra ser verdade - ela se entusiasmou, mas não de um jeito interessado e ardente, era mais como se tivesse visto um livro muito bom na prateleira – E consegue lembrar de coisas que eu só, sei lá, minha cabeça não recorda, por mais que eu tente.

  • Não vai convidar ele pra sair? - sorriu, Alê, vendo ele e os irmãos do outro lado de onde estávamos.

Suze fez uma cara que era raro ela fazer. A de Você-está-chapada?

  • O que foi? - ergui as mãos, assim como Alexandra – Você estava bem interessada!

  • Mudei de ideia – ela encolheu os ombros, tomando o resto do seu Toddynho – Não sei, ele é muito sério. E tão educado. Acho que prefiro conservar a amizade, até porque ele não demonstrou o mínimo sinal de interesse.

  • Bom, espero que o irmão grande e alto dele demonstre – comentou Alê, se olhando num espelhinho – Porque ele é completamente meu tipo.

Suzana olhou pro irmão alto, como eu. Marc era um cara realmente bonito. E bem o tipo da Alexandra mesmo, fortão e alto. E ameaçador também. Hugo, o louro, era um rapaz tranquilo e de uma beleza gentil, afável.

Uma vez tinha derrubado meu café nele sem querer, quando nos esbarramos na porta da cantina. Na sua linda blusa de lã de caxemira. E ele rindo, disse que não havia problema, que tinha sido só um acidente e que eu não precisava pagar pela lavagem. Então, ele foi sentar com os irmãos. E toda vez que me via, cumprimentava com um tchauzinho. E pelo que pude notar no decorrer dos dias ele era amável com todo mundo.

Já não gostava muito do Marc, ele fazia um urso parecer uma formiguinha inocente. Tinha alguma coisa nele que me assustava, e não era só o tamanho. Uma coisa nos olhos, meio que … predadora. Jacques, bem, Jacques era o Jacques. Ou seja, esquisitos.

  • Então é melhor você se apressar, Alê – avisou Suze, balançando sua caixinha vazia de chocolate – Ouvi dizer que Carolina pretende convidar ele pra sair qualquer dia.

  • Veremos, veremos – Alê abanou seu garfinho cheio de empada de galinha na nossa direção.

Eu e Suzana rimos. Dificilmente Alexandra não conseguia o que queria. Marc que se cuidasse.

Ou Alexandra.


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