Quando Rachel entrou na sala do Glee Club, e viu Quinn cuidando de Sam, que apresentava um enorme olho roxo, trocou um olhar significativo com ela. Com a briga dos garotos com Karofsky e a negação de Finn em ajudar, ela havia quase se esquecido da conversa que tivera com a garota mais cedo. Mas lembrou-se disso ao encarar a garota, e direcionou a ela um sorriso confiante. Queria estar com Quinn naquele momento tão importante da vida dela. Primeiro porque havia prometido isso a si mesma e a ela. E depois, por causa da fixação que sempre teve pela líder de torcida. Ver Quinn se abrindo com ela foi como uma demonstração de que a outra poderia demonstrar algum traço de humanidade em frente a ela. Se permitir um momento sem defesas. E, surpreendentemente, dessa vez, diferente de quando ela descobriu sobre a paternidade de Beth, Rachel não se sentiu vitoriosa, como se estivesse triunfando sobre a outra. Era um sentimento bom. Muito maior do que compaixão. Uma admiração e carinho que Rachel não entendia bem de onde haviam surgido.

Kurt também entrou, olhando para o casal. Quinn sorriu para ele, hesitante, mas Kurt retribuiu com um largo sorriso.

No fim da aula, o garoto veio procurá-la.

- Ei, Quinn. Obrigada por ter pedido ao Sam pra me defender. Eu fui meio estúpido esses dias com vocês, mas.. o que vocês todos fizeram por mim hoje.. eu não vou esquecer.

- Sabe qual é a parte mais surpreendente disso tudo, Kurt? – ela sorriu e o garoto a olhou, intrigado – eu nem cheguei a pedir ao Sam para fazer aquilo.

- Bom, Fabray, então eu acho que o seu garoto é realmente um bom partido. Você devia parar de enrolar ele..

- Ele me pediu em namoro, Kurt!

- ai, Deus! E você não me conta nada!

- E você deixa? Tem muito mais coisas pra te contar! Eu contei pra ele! Sobre.. minha sexualidade. E pra Rachel.

- Você.. é.. maluca?

- Ahh, calma.. Vamos pra algum lugar mais reservado? Eu tenho muita coisa pra te contar!

E Quinn acabou aceitando o pedido de Sam. E, para coroar o momento deles, ganharam o solo das seletivas. O que deixou Rachel extremamente irritada, a ponto de ofender o casal. Aliais, qualquer um que parasse para perceber o que estava acontecendo com Rachel Berry durante aqueles dias, veria o quão irritada a garota parecia estar. E, diferente de quando implicavam com ela ou a humilhavam, e ela apenas se isolava, agora a garota estava respondendo. Ela foi vista destratando vários membros do Glee Club, além de desafiar o Prof. Schuester e o responder.

Logicamente, as coisas só pioraram quando ela descobriu sobre o envolvimento de Finn com Santana no ano anterior. E foi a deixa para ela perder a cabeça e fazer um série de coisas que causariam muito arrependimento depois. Entre elas, a pior: ficar com Puck. O que levou Finn a terminar com ela. Depois disso, mesmo aparentando estar feliz enquanto cantavam juntos no Glee Club, ela foi vista cabisbaixa no corredor, enquanto o resto dos alunos deixava o colégio, tirando da porta do seu armário qualquer coisa que lembrasse Finn.

O armário de Quinn era próximo ao dela e, ao passar por ali, ela viu Rachel sozinha, e a garota parecia mal, apesar de não apresentar nenhum sinal de lágrimas. Ela respirou, forçando-se a esquecer tudo o que Rachel havia feito aquela semana. Já havia tentado se aproximar dela enquanto cantavam, e a garota pareceu estar bem, mas após a música, voltou a se fechar. Tomou coragem e se aproximou da garota, pondo uma mão no ombro dela.

- Rachel, você está bem?

Rachel lançou um olhar frio pra Quinn. Olhou para a mão que a garota tinha em seu ombro e novamente a fuzilou com o olhar, fazendo Quinn retirar a mão, mas sem se afastar.

- Vamos lá, Rachel, eu estou aqui pra tentar ajudar.

- Ajudar? – ela riu, sarcástica – Não, Quinn, eu não estou bem.Eu não estou nada bem. E se você quisesse realmente me ajudar, teria feito isso antes.

- Rachel! Para! Eu estou tentando ser legal com você, porque sei exatamente pelo que você está passando, mas se você continuar sendo grossa comigo, eu vou me irritar. Eu não tenho culpa de nada, para de descontar em mim!

- Não tem culpa? Você ao menos pensou em me contar o que havia acontecido? Você sabia o tempo todo! Kurt sabia! Mercedes também! Toda a GayLesbAll sabia e ninguém se preocupou em me contar!

Quinn sentiu uma onda de calor percorrer seu corpo ao ouvir aquilo. Não podia acreditar que Rachel tinha acabado de ofendê-la daquela forma. Olhou ao redor. Graças a Deus o corredor já estava vazio, todos os estudantes já haviam ido embora.

- Rachel. Não se atreva a falar assim comigo. – ela falou, tentando manter a calma, mas sua voz tremia.

- Não se atreva você a falar assim comigo, Quinn Fabray. Eu já estou de saco cheio de você! De vocês todos! De você e Kurt que fingem uma linda amizade com todos, mas vivem escondendo coisinhas por ai. Da sua amiguinha que não consegue se satisfazer com a namoradinha dela e tem que agarrar todos os homens do colégio. Desses namorinhos de aparências por popularidade, de –

- CHEGA! Rachel, você está me ofendendo.

- Ah, agora você tem problemas com ofensas, Quinn? Na hora de dirigi-las a mim tudo bem, não?

- Rachel, você sabe muito bem que essas coisas.. – ela se aproximou da garota, diminuindo o tom de voz, apesar de falar com raiva. Rachel deu um passo pra trás, encostando-se nos armários atrás dela – você sabe que eu confiei em você. Você disse que eu podia confiar em você!

- E eu achei que podia confiar em você!

Ela empurrou Quinn para longe, mas a loira era um tanto quanto mais forte que ela, e se recuperou do empurrão, a empurrando de volta, fazendo as costas da garota mais baixa acertarem com força os armários atrás dela. Rachel segurou com força os ombros de Quinn, tentando empurrá-la, e Quinn, em resposta, a empurrou mais forte, a prendendo contra a estrutura metálica. Ficaram assim por um instante, medindo forças. A raiva estampada no rosto das duas, assim como a magoa. Rachel começava a perder as forças e, com isso, a vontade de ofender a outra só aumentou.

- Me larga, sapatão! – ela exclamou, em voz alta, cheia de maldade.

- CALA A BOCA, RACHEL!

Quinn a havia soltado. Mas só porque a raiva que sentiu foi tão grande, que ela socou os armários com as duas mãos, usando toda a força que tinha. Rachel deu um pulo de susto. O coração das duas disparava, enquanto se olhavam nos olhos. Quinn ofegava de raiva, enquanto Rachel a encarava temerosa. Ficaram assim por um segundo, que pareceu se arrastar por horas.

Quinn não entendeu muito bem o que aconteceu. A última coisa que teve consciência é do tremor que percorria o seu corpo, enquanto ela sentia o sangue ferver. Antes que entendessem bem o porque de estar fazendo aquilo, aquela mistura de sentimentos a cegou, e, quando deu por si, tinha selado seus lábios aos de Rachel Berry.

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Rachel também não entendeu muito bem o que aconteceu. A um segundo atrás estavam quase partindo pra agressão física, e agora, Quinn a imprensava com o seu corpo, a boca colada na dela, da forma mais gentil que a situação permitia.

Ao contrário da loira, Rachel tinha total consciência do que estava acontecendo. E, mesmo assim, não hesitou em entreabrir seus lábios para aprofundar o beijo. Não sabia muito bem porque, mas aquilo parecia.. a coisa certa a ser feita. E o beijo era bom.

Quinn se deixava levar pelo momento. A sensação era boa. Não sabia se era por causa da briga anterior, mas, naquele momento, todo o seu corpo pulsava. Seus sentidos estavam muito mais aguçados que o normal. Ela sentiu as mãos delicadas e femininas de Rachel em suas costas, puxando-a para mais perto. E Quinn pode sentir todo o corpo de Rachel contra o seu. E isso a despertou para a realidade.

Ela se afastou assustada. Rachel permaneceu estática. Aos poucos, abriu os olhos e soltou as mãos do corpo da outra, para depois encará-la. Quinn tremia.

- Quinn...

- QUE DROGA, RACHEL! – ela chutou o armário, novamente assustando Rachel, antes de sair correndo.

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Rachel procurou Quinn por toda a escola, até a achar no auditório. Só percebeu sua presença porque, ao passar pelo local, ouviu uma música saindo de lá de dentro, que ela reconheceu ser de um dos CDs que Mike usava pra treinar seus números de dança. Ela procurou melhor pelo lugar e encontrou Quinn sentada de um dos lados do backstage, encolhida. Ela parecia pensativa e parecia ter chorado um pouco.

A música que tocava tinha uma batida agressiva, que não agradava muito Rachel. Ela vasculhou o CD a procura de uma mais adequada ao seu gosto, denunciando assim a sua presença, mas Quinn a ignorou completamente.

Escolheu uma música, que invadiu o ambiente. Subiu no palco e foi até Quinn, sentando-se no chão, do lado dela.

You build me up

You knock me down

Provoke a smile

And make me frown

You are the queen of runaround

You know it's true

You chew me up

And spit me out

Enjoy the taste

I leave in your mouth

You look at me

I look at you

Neither of us know what to do

There may not

Be another way to your heart

So I guess I'd better find a new way in

I shiver when I hear your name

Think about you but it's not the same

I won't be satisfied 'till I'm under your skin

Immobilized by the thought of you

Paralyzed by the sight of you

Hypnotized by the words you say

Not true but I believe them anyway

So come to bed It's getting late

There's no more time for us to waste

Remember how my body tastes

You feel your heart begin to race

Quinn continuou a ignorando, então ela resolveu falar.

- O que deu em você, Quinn?

- Me deixa em paz, Rachel.

- Você.. você ta assim por causa das coisas que eu falei com você? Me desculpa, Quinn, eu estava nervosa.

- As coisas que você falou foram o de menos..

- Então.. foi o beijo? Porque eu devo te lembrar que foi você quem me beijou – Quinn olhou pra ela com raiva, e Rachel desviou o olhar rápido. – Quinn, eu não to te entendendo!

Quinn respirou fundo. Rachel Berry não era uma pessoa fácil de ser ignorada.

- Você não ta entendendo, Rachel. Você tem noção do quanto eu esperei por isso? Eu passei meses fantasiando esse momento, imaginando como seria meu primeiro beijo com uma garota – uma lágrima escorreu dos seus olhos – eu fantasiei a situação perfeita na minha cabeça.. – ela sorriu, recordando-se dos seus pensamentos – sei lá, eu gostava de imaginar uma líder de torcida de algum lugar bem legal, tipo San Francisco ou NY, que eu conhecia em alguma competição nacional.. e que ouviria tudo o que eu passei e seria compreensiva. E ai depois que eu contasse toda a minha história ela se comoveria e me beijaria e ai nós viveríamos um romance proibido enquanto durasse o campeonato.. coisas assim.

Rachel sorriu pra ela. Quer dizer que a líder de torcida malvada e sem sentimentos, apesar de tudo, sonhava com um príncipe encantado? Ok, nesse caso, uma princesa, mas mesmo assim.

- Quinn, me desculpa. Eu não sabia que significava tanto assim pra você, de verdade. Mas eu tenho que insistir que foi você quem me beijou.

- Eu sei. Eu não estou te culpando. Eu estou brava comigo mesma, não com você. Aliais, acho que sou eu quem te deve desculpas, né? Eu não sei o que me deu, Rachel, perdão.

- Ta tudo bem... – ela hesitou por um segundo, antes de perguntar – e foi tão ruim assim, a ponto de te fazer chorar?

- Eu.. não sei, eu tava transtornada demais pra ter consciência do que eu tava fazendo. Eu só queria que tivesse sido uma coisa mais planejada.. Ou pelo menos que fosse algo mais bonitinho, com carinho, e não.. do nada, no meio de uma briga. Nada pessoal.

Quinn limpou novas lágrimas que rolaram pelo seu rosto. Rachel se esforçou para ficar em silencio, respeitando o momento da outra garota. Além de tudo, ainda se sentia culpada por tudo que havia falado pra ela na hora da raiva.

- Você vai ficar ai olhando pra mim o dia inteiro, Berry?

- Eu to esperando você melhorar pra irmos embora. Mas não se preocupe, pode demorar o tempo que for. Eu vou tentar ficar quieta.

Quinn esboçou um pequeno sorriso e, secando as ultimas lágrimas que teimavam em escorrer, segurou a mão de Rachel para que as duas levantassem. Iam deixando o auditório em silencio. Quinn parou na entrada para desligar a aparelhagem de som, e quando o silencio tomou conta do ambiente, Rachel, que estava a uma pequena distancia, tomou coragem para se aproximar da loira novamente.

- Quinn?

- Oi?

Estava bem perto dela agora. Podia ver perfeitamente as marcas de choro nos olhos castanho-esverdeados, e aquilo causou outra pontada daquele sentimento que Rachel não sabia explicar bem qual era. Só sabia que, naquele instante, faria qualquer coisa pra compensar a outra garota e deixar ela um pouquinho mais feliz.

Segurou o rosto de Quinn com as duas mãos, acariciando suas bochechas com as pontas dos dedos. Sorriu levemente antes de erguer-se um pouco na ponta dos pés e juntar novamente seus lábios com os da outra garota, num selinho demorado.

Se afastou um pouco para olhar novamente para Quinn, que tinha os olhos fechados. Quando ela retribuiu o olhar de Rachel, esta sorriu, explicando.

- Eu sei que agora já foi, e que eu vou ser pra sempre o seu primeiro beijo com uma garota, mas.. Pensando por outro lado, você foi o meu primeiro beijo em uma garota também.. e já que não dá pra consertar isso, deveríamos pelo menos ter um beijo descente, que valesse a pena ser lembrado, não?

Quinn pareceu pensar sobre aquilo por um instante, antes de abrir um leve sorriso e concordar com um aceno de cabeça. Rachel novamente juntou seus lábios, mas dessa vez Quinn passou as mãos em torno da cintura dela, a puxando pra mais perto, enquanto entreabria os lábios e dava passagem para a língua de Rachel tocar a sua.

Quinn suspirou no meio do beijo. Então era essa a sensação de beijar uma garota. Era macio, delicado.. sedutor. Muito, muito melhor do que o beijo de qualquer garoto. Ela se sentia nas nuvens.

Rachel escorregou as mãos do rosto de Quinn para seus ombros, acariciando. Com certeza, estava sentindo as mesmas coisas que a líder de torcida. Eram sensações novas e incríveis pra ela também. Quinn puxou-a pela cintura para mais perto do próprio corpo, e foi a vez dela de suspirar.

Terminaram o beijo devagar, mas Quinn não deixou Rachel se afastar imediatamente. Deu um ultimo selinho na garota e continuou abraçando-a. Exatamente como ela planejara que fosse o seu primeiro beijo, Quinn pensou. As duas trocaram um pequeno sorriso constrangido.

- Então.. vamos? – Quinn perguntou, antes de se afastar da outra garota.

Saíram da escola em silencio absoluto. Na hora de se despedirem, Rachel aplicou um beijo demorado na bochecha de Quinn e saiu apressada, deixando a outra garota sozinha com milhões de pensamentos que invadiam a sua cabeça naquele momento.